sábado, novembro 07, 2009

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PENICHE

Por: Fernado Engenheiro
Foi no reinado de D. João I, a 25 de Agosto de 1395, que se publicou a primeira Carta Régia visando o combate aos incêndios.
Determinava que, em caso de incêndio, todos os habitantes de Lisboa, homens e mulheres, tinham de acorrer em socorro, munidos de machados, cântaros, potes e outros instrumentos que facilitassem o combate ao fogo. É este documento considerado a primeira ordenação que estabelece regras empíricas para apagar incêndios.
Embora nele se determine a colaboração da população essa ordenação não é mais do que um apelo ao voluntariado e à solidariedade que deve estar presente nos momentos de tragédia.
Só mais tarde, porém, talvez no reinado do D. João V, foi introduzida uma prática de combates aos fogos, baseada em experiências realizadas em França com resultados satisfatórios.
Criada, então a Companhia de Incêndios, transformada mais tarde em Corpo de Bombeiros foi, no entanto, por iniciativa de Guilherme Cossoul (1828-1880), que se instituiu a primeira Associação de bombeiros que no voluntário tinha a sua razão de ser.
Foi assim que, de época para época, numa evolução permanente, com a força de vontade de alguns e o espírito de servir de muitos, que se foram criando os alicerces e consolidando as estruturas dessas heróicas Corporações de Voluntários. Constituem hoje o fulcro, o dinamismo e a força dessas altruísticas Associações de Bombeiros Voluntários, formadas por homens desinteressados e íntegros, que sabem dar-se na protecção e defesa do semelhante.
Em Peniche não se sabe ao certo a data em que se criou uma instituição visando a defesa dos haveres e vidas dos cidadãos, em caso de fogos. O documento mais antigo que me foi possível consultar data de 20 de Julho de 1873, quando a Câmara Municipal aprova a seguinte deliberação:
Um oficio do Governador da Praça, pedindo à Câmara lhe dispense, para guardar a Bombas de apagar incêndios, uma casa que esta Câmara possui na rua da Palha, por ser mais central e no interior da povoação. A Câmara, em vista das ponderações feitas pelo dito Governador, concedeu a casa pedida para o fim indicado".
Tratava-se de uma dependência na actual Rua 13 de Infantaria pertencente à antiga Casa da Fanga (celeiro municipal) vendida a Emídio Balbino em 1905,
Tudo leva a crer que o voluntariado não existia, mas que a imposição imperava.
Não se sabe quando deixou de exercer estas funções, assim como se desconhece também rigorosamente o seu começo.
Havia que tomar algumas previdências para que se criasse um corpo de bombeiros pois os incêndios eram frequentes. De salientar o deflagrado de 13 para 14 de Fevereiro de 1922, às 22 horas, no armazém de redes das Armações do Romina, construído em madeira e localizado no exterior da muralha onde está hoje colocada uma traineira adaptada a bar.
Num outro ocorrido, em 28/10/1926, na mercearia de José do Rosário, em Peniche de Cima, resultou perda total.
Em sessão camarária de 4/6/1929, presidida por António Maria de Oliveira, tendo como colaboradores os Vogais Joaquim Guilherme Faria Junior e Miguel Olavo Franco foi tomada a seguinte deliberação:
"O Sr. Presidente lamenta que não exista em Peniche uma corporação de bombeiros e reconhecendo também que a Câmara não possui rendimentos que lhe bastem para crear uma corporação de bombeiros municipais, propõe que a Comissão Administrativa desta Câmara tome a iniciativa da organização de tão útil quão benemérita instituição, de forma que ela seja um facto dentro de pouco tempo. Propõe mais que para esse fim a Comissão Administrativa nomeie uma Comissão Organizadora que ficará sob o seu patrocínio a quem serão entregues as verbas que Câmara for metendo nos seus ornamentos ajudando assim a criação deste corpo de bombeiros. Aprovado por unanimidade.”
Não tardou que naquele mesmo mês, no dia dezasseis, fosse criada oficialmente a Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche.
Foi a sua primeira sede instalada no edifício dos Paços do Concelho, no rés do chão, funcionando no andar superior o actual salão nobre. Foi a primeira direcção constituída por António Maria de Oliveira (Presidente) - Aires Henriques Bolas (Secretário) - José Júlio Cerdeira (Tesoureiro) - António Adelino Gomes da Silva e António Nunes Ribeiro (Vogais).
Havia necessidade de um comandante para a corporação. Pelo ofício camarário nº. 188, foi solicitada ao Ministro das Finanças autorização para que o 1º Cabo da Guarda Fiscal António Nunes Ribeiro, empossado como vogal da Direcção, possa aceitar o lugar de instrutor e comandante da corporação, em organização nesta Vila.
Entretanto ingressou como comandante António Adelino Gomes da Silva, que ficou a chefiar inicialmente os seguintes bombeiros:
Manuel António Malheiros - Inácio Luís Ceia - José Rosado do Rio – José Maria Cartaxo - Antonio Martins – Casimiro Costa - Antonio Diogo da Costa - Inácio Maria de Abreu – Mário Nobre Leitão - Joaquim Rodrigues Tormenta - José Inácio Bandeira – Jacinto Inácio de Sousa - Lino Filipe Franco – Raul Dias Loureiro – Reinaldo Gomes – Angelo Gaspar da Mata - Manuel dos Santos Correia - José de Carvalho e Silva - José Maria das Neves – Joaquim Miguel Sousinha Júnior Quintino Augusto de Lemos - José Maria de Abreu – Joaquim Leal Paulo - José Pedro Junior.
A Autarquia logo no começo da sua organização foi solidária em tudo aquilo que lhe foi possível e esteve ao alcance das suas possibilidades financeiras.
Também o Comando Militar da Praça de Peniche pôs à disposição as dependências da Cidadela, bem como os terraços para as instruções, formaturas e tudo aquilo que estivesse ao abrigo da sua competência militar.
Para poderem desempenhar cabalmente e com eficiência a sua elevada missão, havia que providenciar a aquisição de apetrechos, mas o dinheiro era escasso. No primeiro ano e outros que se seguiram, para angariar receitas realizam-se quermesses, verbenas, jogos de futebol, gincanas, bailes, cinema, apresentaram-se grupos dramáticos, organizam-se festas diversas, incluindo a da "Flor", e até vacadas.
Também todas as receitas em posse da Comissão Pró-Monumento a Jacob Rodrigues Pereira, por ter sido posta de parte a ideia da sua construção, reverteram a favor dos bombeiros.
Tiveram logo o cuidado de, no princípio de 1930, construírem a Casa-Escola, conhecida pelo "Esqueleto", destinada aos exercícios daquela corporação. Para isso tiveram o auxílio da Autarquia, autorizando a exploração de toda a pedra que necessitassem, no sítio da "Gravanha", que ficava perto do local de implantação daquele imóvel, bem como de todo o madeiramento necessário, a obter do pinhal municipal. O local escolhido era um terreno particular, pelo qual a sua proprietária, D. Raquel Monteiro Cabral, exigia o pagamento mensal de 100$00. Havia toda a conveniência na criação daquele imóvel. Com o incremento dado à criação do Corpo de Bombeiros, a formação era também um importante objectivo a prosseguir, verificando-se uma acentuada tendência para a construção das chamadas casas-escolas, onde era, e hoje ainda é, com exercícios práticos, ministrada a instrução a nível interno.
Em Abril do mesmo ano é feita a encomenda de um carro braçal de escadas por 6.130$00, não incluindo o despacho em caminho de ferro da cidade do Porto até a estação de S. Mamede (Oeste) na importância de 613$20. Este carro encontra-se hoje exposto na sala que serve de museu no novo edifício da Corporação.
Com a criação da Liga dos Bombeiros Portugueses, em 18 de Agosto de 1930, não tardou que, a 23 de Abril de 1932, fossem aprovados pelo Governador Civil deste Distrito, os Estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche.
Foram apresentados, a 8 de Setembro do mesmo ano, pela comissão organizadora constituída por: José Júlio Cerdeira - José do Nascimento Ginja - António Nunes Ribeiro - António Adelino Gomes da Silva e Aires Henriques Bolas.
Em Dezembro de 1934, a Câmara Municipal de Peniche é, pela primeira vez, objecto de uma manifestação pública de agradecimento da A. B. V. de Peniche, pela grande colaboração dada nas festividades de Agosto e Setembro daquele ano. Foi-lhe entregue pela Direcção o documento de reconhecimento assinado por Francisco de Freitas Trindade - Aires Henriques Bolas - José Júlio Cerdeira - e pelo Comandante António Adelino Gomes da Silva.
Não sendo possível o desempenho das suas funções sem o mínimo de condições, continuou a luta para a aquisição de mais material. Em 1935 já possuíam 3 carros de tracção braçal, que se distinguiam por "bomba braçal com deposito para água" (caldeira) – “carro escada” e “material diverso”. Em 1935 entram em negociações com a Firma Guérin, L.da, de Lisboa, para a compra de uma camioneta da marca "Fargo", com o fim de aproveitar o chassis adaptando-o a pronto socorro. Por deliberação camarária de 25/2/1935 foram concedidos plenos poderes ao Vice-Presidente da Câmara, António da Conceição Bento, que também desempenhava as funções de Tesoureiro daquela Corporação, para representar a Câmara junto da referida firma e da Alfândega de Lisboa para a aquisição do veículo. Ficou a despesa por 20.500$00, sendo pagos pela Autarquia 15.500$00 e ficando o restante a cargo da Corporação.
No mesmo ano, também a Câmara se responsabilizou pelo pagamento de uma moto bomba, tipo Liliput Magyrus, fornecida pela Firma H. Vaultier, pela importância de 22.500$00, sendo o maquinismo para lançar a água na extinção de incêndios por 15.000$00 e o restante em utensílios para adaptar na referida máquina. Foi na época uma aquisição de grande utilidade.
Ainda hoje são bombas aspirantes-prementes, accionadas sempre mecanicamente, que elevam a água de poços ou de tanques portáteis, alimentados pelas bocas de incêndios dos prédios ou dos passeios das ruas, em ligação com a rede de distribuição de água. Têm estas bombas anexos compressores de ar, que o motor dos carros acciona, os quais comprimem a água até à pressão suficiente para que, pelas mangueiras ligadas à bomba, possa a água jorrar à altura precisa.
Todas estas aquisições tinham o problema da sua recolha resolvido pois que aquela Corporação, a partir de Setembro de 1932, fez a sua transferência para o Largo D. Pedro V.
Tratava-se de um armazém pertencente a um edifício que o seu proprietário, Sr. António Andrade, industrial em Peniche, tinha alugado para sede da "Cooperativa Auxiliadora Penichense, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada”, constituída por escritura em 2 de Setembro de 1919, cujos destinos eram dirigidos pelo próprio proprietário do imóvel e por Miguel Olavo Franco, Mário José Gomes e José do Rosário Leitão.
Com consentimento do senhorio, foi aquele espaço subalugado à Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, cabendo a responsabilidade do aluguer àquela Cooperativa, por 90$00 mensais.
Só mais tarde, em Setembro de 1946, já sendo proprietário o Dr. Jaime Silva Sardinha Mota, residente em Baleizão (genro do Sr. António Andrade), foi feito o contrato de arrendamento, por 120$00 mensais, a favor daquela Corporação. Com a boa vontade do inquilino foram dispensadas, a partir de 5 de Abril de 1937, as dependências da parte de trás, que dava para a rua Tenente Valadim, ficando o quartel mais espaçoso. Era naquele espaço que a Cooperativa depositava a lenha para distribuir em épocas de crises pelos mais necessitados.
Em 1937 pairava já a ideia de um novo quartel, tendo sido o Arquitecto Paulino Montez convidado para a elaboração do projecto, mas tudo ficou na gaveta.
A luta por fazerem mais e melhor era constante e a acção dos bombeiros não se ficava só pelos incêndios. As grandes tarefas de socorro que se apresentavam no dia a dia, cada uma com o seu problema específico, fez sentir àqueles soldados da paz a necessidade de melhor se apetrecharem, confrontados muitas vezes com situações de perigo no combate a incêndios, ficando eles próprios sujeitos a traumatismos, queimaduras, asfixia e, em alguns casos, afogamentos. Assim, cedo se aperceberam das suas carências no campo da saúde.
Em 1940, quando o transporte de feridos e doentes era encarado como uma prioridade pela Associação, a Junta de Província da Estremadura cedeu-lhe, a título gratuito, um automóvel, com o fim de ser adaptado a auto-maca.
No que respeita à representação dos Bombeiros, logo após a aprovação dos estatutos, havia que pensar num “emblema” que distinguisse aquela Corporação. Com as sugestões de Afonso Dornellas, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, expressas, com exemplar propriedade no brasão adaptado pela Liga dos Bombeiros Portugueses, foi criado para esta Corporação o seguinte distintivo:
"Brasão da então Vila de Peniche, sobreposto a um trofeu, constituído por dois machados cruzados em aspa, e o conjunto suportado
por uma fénix, de asas soltadas. Sotoposto ao escudo, um listel com a legenda: "VIDA POR VIDA". Bandeira com o fundo esquartelado: o primeiro e o quarto a vermelho; o segundo e o terceiro a preto. Também para vincular a sua representação em cerimónias diversas, havia que mandar fazer um estandarte. Foi convidada a Ex.ma Sr.ª D. Isabel Ribeiro Artur a constituir uma comissão de Senhoras para colaborarem na obtenção de fundos para aquele efeito. Foi na devida altura encarregada da elaboração do trabalho a Ex.ma Sr.ª D. Beatriz de Sousa Tavares, natural de Peniche e residente em Lisboa, pessoa cujos méritos em trabalhos daquela natureza eram já sobejamente reconhecidos no nosso meio, autora que já era do estandarte municipal.
Em Novembro de 1940 é recebida com grande júbilo a notícia de que a Autarquia, da Presidência de Luís Pedroso da Silva Campos, resolvera mandar instalar um telefone naquela Associação, sem encargos para a colectividade.
Também em Maio de 1944 os consórcios Sr. Joaquim Guilherme Faria Júnior e Luís Correia Peixoto ofereceram para ser montada no telhado da sede uma "sirene”. Ficou assim dispensado o auxílio do sino grande das torres das Igrejas de S. Pedro e de Nª. Sª. da Ajuda, de que permanentemente pendiam cordas para o exterior, com a finalidade de serem usados para alarmes quando ocorriam situações carentes da intervenção dos bombeiros.
Depois de 30 anos de actividade, em que estiveram no Comando dos Bombeiros António Adelino Gomes da Silva, António Alves, Joaquim de Paiva, Alberto Monteiro de Proença e Manuel António Malheiros, entrou ao serviço da Corporação como seu Comandante, em Novembro de 1958, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, homem dinâmico, com os seus 30 anos de idade, cheio de boa vontade de servir e de acertar.
A Corporação sentiu desde logo o seu entusiasmo e a humanitária colectividade viveu um salutar remoçamento, promessa dum regresso aos tempos em que os Voluntários de Peniche lograram um crédito que os guindou a invejável altura, renovação que saltava aos olhos dos que de perto acompanhavam a vida da instituição. O interesse de então não somente se manteve mas foi avolumado, mercê de um querer forte, secundado por toda a Corporação.
A 23/7/1961, na presença do Ministro das Obras Públicas, Engenheiro Arantes e Oliveira, bem como de um representante do Ministro do Interior (actual Ministério da Administração Interna) e delegações de 10 corporações deste Distrito, fossem benzidas, em frente da Igreja de S. Pedro, 3 novas viaturas: um auto-tanque pronto socorro, uma ambulância e um “jeep”. Tiveram como madrinhas, respectivamente, as Sr.as D. Mariette Monteiro Dias Bento, menina Dulce Freire Vidal de Carvalho e D. Maria da Glória Salvador Henriques.
Também no mesmo dia foi inaugurada a Casa Escola no logradouro do futuro quartel, nas imediações da rua do Matinho. Foi dado àquela construção o nome de António da Conceição Bento, Presidente da Câmara Municipal na época.
Na década de 60, o Instituto de Socorros a Náufragos fez uma consulta à Corporação dos Bombeiros para saber se estava interessada e capacitada para colaborar com o Instituto na área do salvamento marítimo. Como já era do conhecimento geral, sempre que havia problemas de naufrágios, os Bombeiros Voluntários estavam de mãos dadas com aquela Entidade. Não faltavam boas informações. Desde Março de 1933 o Capitão do Porto de Peniche pôs à disposição dos Bombeiros o carro porta cabos daquela organização marítima.
Por tudo isto, a 17/5/1966, na Praça Jacob Rodrigues Pereira, foi entregue à Corporação, pelo Comandante do Porto de Peniche, então o Capitão Tenente Muñoz, na qualidade de Inspector do I. S. N., depois de benzida pelo Padre António da Silva d'Almeida, natural de Salreu, na altura ao serviço da Colónia Infantil de N.ª Sr.ª dos Remédios, a viatura Land Rower "Porta Cabos", material da maior utilidade para o salvamento de sinistrados no mar, pelo aumento das possibilidades de socorrer a quantos a tragédia bate à porta.
Por deliberação camarária de 19/6/1962, foi atribuído aos "Soldados da Paz" que formam a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, pelas acções desenvolvidas a bem de Peniche e Concelho, a "Medalha em Ouro de recompensa da Vila de Peniche".
Impunha-se a construção de um novo quartel. Já não era possível, com um corpo de bombeiros em plena forma e um grupo de 6 viaturas, sendo 4 para combate a incêndios, 1 para socorros a náufragos, com respectivo atrelado, uma outra para serviços de ambulância, 2 moto bombas para serviços de incêndios e outras tantas para serviço de esgotamento, manter-se a Corporação num pobre e modestíssimo quartel, em edifício de renda, incapaz para acomodar todo o pessoal e material. Assim, em 1969, para obtenção do necessário terreno junto da Casa-Escola da Travessa do Matinho, foi adquirido um armazém a Emídio Barradas, por 350.000$00. (Escritura de 16/12/1969, lavrada no Lº de Notas nº. 20 do Notário Privativo da C.M.P.). Meses antes, em Junho do mesmo ano, num terreno municipal contíguo havia já sido lançada a primeira pedra do novo Quartel, na presença do Inspector de Incêndios da Zona Sul, Coronel Rogério de Campos Cansado, acompanhado pelo então Presidente da Câmara, Vítor João Albino de Almeida Baltazar.
Aproveitando a cerimónia, foram benzidas pelo Pároco das Freguesias de Peniche as viaturas que tinham sido recentemente
adquiridas: uma "Citroen ID", a que foi dado o nome de "Vila de Peniche", tendo sido madrinha a esposa do Sr. Presidente da Câmara, Ex.ma Sra. D. Helena Baltazar, e um carro de nevoeiro (G.M.C.) - todo o terreno, baptizado com o nome do Comandante da Corporação, Sr. Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, tendo sido madrinha a esposa deste, Ex.ma Sra. D. Ruth Freire Vidal de Carvalho.
A 3/7/1969 está em bom andamento a concretização do novo quartel na Travessa do Matinho, sendo apresentado por aquela Associação Humanitária um ante-projecto da obra, da autoria do ex-Padre Sr. Alcides dos Santos Martins, filho que foi desta terra, que se dignou ofertar todos os trabalhos de gabinete.
Em 2/9/1970, a Edilidade aprova, por unanimidade, a alienação gratuita à Associação dos Bombeiros de 948 m2 de terreno para ali ser implantado o seu quartel/sede.
Em aditamento àquela cedência, a Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, impõe algumas cláusulas. É de salientar a alínea b): - "Se não for cumprido o prazo estipulado ou se ao terreno cedido for dado destino diferente daquele que justifique a cedência gratuita, reverterá o mesmo para o Município incluindo as benfeitorias nele efectuadas, sem direito a qualquer indemnização.”. Também o Governo Civil do Distrito se pronunciou sobre o assunto concordando com as deliberações camarárias de 2 de Setembro e 2 de Dezembro de 1970, bem como com as cláusulas propostas pela Direcção Geral de A. P. C. do Ministério do Interior. Todo este processo culminou com o despacho ministerial de aprovação de 12 de Julho de 1971.
Foi grande a labuta para se conseguir alcançar o objectivo desejado. Toda a Corporação se empenhou na construção do novo Quartel, tendo a trabalhar ao lado do seu Comandante Luís Filipe, o Presidente da Direcção Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa.
Em fins de Outubro de 1972 está concluída a 1ª. fase das obras do novo quartel dos bombeiros, começando nesta data a ser utilizado o respectivo parque de viaturas. Surgem as primeiras bandeiras na sua fachada inacabada. Resolveu a Direcção, com o acordo unanime do corpo activo, dar a este parque de viaturas o nome do seu Comandante.
Procedeu-se à transferencia das viaturas para a nova unidade e foi com uma ponta de saudade e comoção que se assistiu à passagem do primeiro pronto-socorro dos B.V.P. Foram bombeiros daqueles primeiros tempos que o conduziram: Manuel António Malheiros, António Belarmino Rodrigues, José do Rio e Luís Caseiro.
Em Maio de 1976, como já havia lugar para as viaturas, um grupo de bombeiros, constituindo-se em grupo de iniciativa a que deram o nome de "Movimento Pró-Bombeiros" adquiriu e ofereceu à própria Corporação uma nova ambulância, devidamente equipada, de marca "Peugeot 504".
Conforme lhes foi possível, continuaram a proceder a novas aquisições. Em fins do ano de 1978, foi adquirida uma nova viatura de combates a incêndios.
Durante o ano de 1983 foi aumentado o património da Associação com mais uma ambulância "Renault", viatura equipada com suspensão especial para transporte de 2 sinistrados, ou doentes, e 2 acompanhantes, bem como com uma auto-escada “Magirus" importada da Inglaterra.
Não obstante toda a boa vontade e esforço despendido, estas aquisições só foram possíveis com forte apoio financeiro da Autarquia.
Por deliberação camarária de 23/14/1985, foi concedida comparticipação para a obtenção de um auto-pronto socorro.
Também no cumprimento do programa festivo das comemorações do 58º aniversário da Associação Humanitária foram benzidas 3 novas viaturas: um auto-tanque pesado, uma ambulância de transporte e uma de pronto-socorro. Todos estes meios de socorrismo vieram concorrer para melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços que aos bombeiros competem, exigindo também deles maior grau de formação técnica.
Como parte do programa deste mesmo dia, procedeu-se à inauguração de um monumento ao bombeiro, constituído por uma bela peça em bronze que foi colocada na fachada do quartel.
Mais um ano decorrido que não deixou de ser assinalado com um novo pronto-socorro equipado com vários rolos de mangueiras para combate a incêndios de matérias combustíveis.
Em meados de 1989, começaram os Corpos Gerentes desta Instituição a notar que, mesmo com ampliações que se fizeram em terrenos confinantes com o quartel, adquiridos, por compra, pelo Município, as instalações se mostravam insuficientes para o grande movimento que os Bombeiros registavam.
Assim, em 24 de Agosto de 1989, a Associação dirigiu uma carta à Câmara Municipal apresentando alternativas previstas para a implantação de um novo quartel.
Na reunião camarária de 8/5/1990 estiveram presentes todos os representantes da Associação dos Bombeiros, recentemente eleitos. O Senhor Júlio Alberto São Bento Correia, Presidente da Direcção, referiu-se ao novo quartel dos Bombeiros informando a Edilidade de que a elaboração do projecto havia sido confiada a uma equipa de arquitectos, encontrando-se já concluído o estudo preliminar. Disse tratar-se de um
Quartel do tipo C, com parada do tipo D, dimensionado para o serviço de áreas com oitenta mil habitantes, e que ia ser dotado com um heliporto.
Como o terreno destinado à implantação do edifício já tinha sido escolhido, a Câmara, na mesma reunião, concedeu autorização para a colocação de uma placa informando o público das novas instalações.
Na sequência do já deliberado sobre o assunto, em reunião camarária de 26/6/1990, foi aprovada a localização do novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Peniche, na Prageira, no gaveto formado pela Avenida do Porto de Pesca e pela Rua da Ponte Velha, a nascente desta.
Por deliberação camarária de 9/10/1995, foi cedida a esta Associação, pelo valor simbólico de 5.000$00, a necessária parcela de terreno, com 12 800 m2, sita na Prageira, junto a Rua da Ponte Velha, com destino à construção do novo quartel.
Em pouco mais de 3 anos, a um Sábado, dia 13 de Março de 1999, é concretizado o grande sonho da Associação para a cidade de Peniche. Naquela tarde procedeu-se à cerimónia do arrear das bandeiras do antigo quartel, pelo Comandante em exercício Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, pelo graduado mais antigo Joaquim Rogério e pelo Presidente da Direcção Júlio Alberto São Bento Correia. Já pela tarde fora, com a presença de Sua Excelência o Sr. Presidente da Republica, Dr. Jorge Sampaio, acompanhado por altas personalidades civis e militares, entre as quais se encontrava o Secretário do Estado da Administração Interna, Armando Vara, foi inaugurado o Novo Quartel, acto a que se seguiu uma sessão solene.

APONTAMENTOS DIVERSOS:
- Em 21/7/1929, passado pouco mais de um mês da criação dos Bombeiros, o Governador Civil deste Distrito visitou Peniche, a fim de verificar as necessidades que aqui existiam. A guarda de honra foi feita pela nova Corporação dos Bombeiros Voluntários, que nesse dia tiveram a sua primeira formatura oficial, acompanhada pela Banda da Filarmónica Penichense.
- A fim de angariar fundos para auxiliar a manutenção dos serviços, os Bombeiros durante largos anos exploraram uma sala de bailes com bar. Tratava-se de um armazém propriedade de José Gago da Silva, onde havia funcionado uma fábrica da indústria de conservas de peixe, sito na Travessa de N.ª Sr.ª da Conceição. Era conhecido pelo baile do "Esfrega”.
- A actual Fanfarra teve o seu começo entre 1945/46, com poucos elementos que tocavam clarim. Estre eles destacaram-se José Matias, Joaquim Alves Bartolomeu e Renato Neves.
- A Associação dos Bombeiros, em 14/4/1969, prestou guarda de honra ao Chefe do Estado, Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, distinguindo esta personalidade com o mais alto galardão da colectividade, ou seja o grau de Sócio Honorário.
- No dia do 43º. aniversário da fundação da Corporação, fez parte do programa das comemorações o descerramento da lápide que designa por Rua dos Bombeiros Voluntários a antiga Travessa do Matinho.
- Aquando da passagem do 46º. Aniversário da Associação foi-lhe concedida pela Liga dos Bombeiros Portugueses a medalha de ouro de duas estrelas distinguindo assim este Corpo pelo seu serviço à causa do voluntariado.
- Em sua reunião de 13/6/1979, a Câmara Municipal de Peniche mandou exarar na respectiva acta um voto de público louvor e agradecimento àquela benemérita instituição, sua Direcção, Comando e Corpo Activo, pela sua abnegação, coragem e dedicação ao longo de cinquenta anos, devotados ao serviço de toda a população do nosso concelho.
- Na celebração destas bodas de ouro foi agraciado, pelo Conselho Administrativo e Técnico da Liga dos Bombeiros Portugueses, o Comandante Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, com a medalha de ouro, duas estrelas, pelos seus relevantes serviços.
- Nas comemorações do 58º aniversário da Associação um dos momentos altos das festividades foi, em 21 de Junho, a sessão solene com a atribuição de condecorações por assiduidade. De salientar, com a medalha de ouro: o 2º Comandante Joaquim Barradas Leitão, o Bombeiro de 1º classe António Berto Martins Alfaiate e o motorista auxiliar Hernani dos Santos do Carmo.
- Também ao 2º. Comandante Leitão, além das medalhas que já possuía, foi atribuída pelo Município, em reunião de 23/3/93, a Medalha de Prata de Mérito Municipal por Benemerência.
- Por escrutínio secreto e por unanimidade, foi atribuída a titulo póstumo medalha idêntica a José António da Lídia Belo, tendo-se associado a esta homenagem a Liga dos Bombeiros Portugueses com a atribuição da sua medalha de ouro. Para perpetuar a memória deste benemérito, que destinou à Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche um donativo de 30.000.000$00 para ser aplicado na construção do novo quartel, foi dado o seu nome ao novo parque de viaturas de incêndios.
- De referir algumas condecorações concedidas ao Comandante Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, pelos relevantes serviços prestados à nobre causa dos Bombeiros: 1 crachá de ouro, a 27/10/1996, em cerimónia realizada em Caldas da Rainha aquando do 36º Congresso Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses, bem como a Medalha de Honra do Município, cunhada a ouro, aprovada em reunião camarária de 4/11/1996, por proposta dos Vereadores do Partido Socialista.
- Seria aqui um nunca mais acabar com os reconhecimentos dados pelo Município, Liga dos Bombeiros Portugueses e pela própria Instituição aos seus Soldados da Paz que têm servido o nosso Concelho.
- Quiseram também os nossos Bombeiros seguir a antiquíssima tradição e praxe mundialmente difundida adoptando um orago ou padroeiro de cariz religioso. Talvez por na sua biografia estar incluída a fama de um milagre na extinção de um incêndio urbano e pelas curas do mal ardente, a escolha recaiu em "S. Marçal", Bispo da Igreja.
- Também aquela Corporação quis honrar os seus mortos inumando-os o mais próximo possível uns dos outros. A seu pedido, foi deliberado pela Câmara Municipal que fossem destinados a constituir o talhão privativo dos Bombeiros Voluntários, os covais números cinco a doze das filas um a três do talhão 10 do Cemitério Municipal de Peniche.
- O emblema da Associação colocado na fachada do novo Quartel dos Bombeiros Voluntários de Peniche é uma excelente peça de louça artística oferecida pelo seu autor, Sr. Álvaro José de Oliveira Mendes, de Caldas da Rainha, que assim, com a sua arte e o seu meritório gesto, quis homenagear a terra natal de sua esposa Sra. D. Maria José de Carvalho Nicolau.


SÓCIOS FUNDADORES DA ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PENICHE
Francisco Maria Freire
José Augusto Chaves
Francisco José Machado Júnior
António Maria de Sousa
Joviano Passos Coelho
Fernando A. Ferreira
João Henriques Bolas
Torquato de Jesus Leitão
José Pedro
Saul Gonçalves
José Ferreira Duarte Montez (ou Montes)
Manuel Joaquim Bento
Mário de Almeida Neves
Manuel do Nascimento Júnior
Afonso leitão Costa
José Franco Lobo
João Baptista Frazão (Dr.)
Antero de Ascenção Leitão
Augusto Veloso
José Acúrcio Vidal de Carvalho
José Manuel dos Santos Ginja
António Luís Pereira Montez
Acácio de Sousa Lacerda
Dionísio Rodrigues Marques
José Maria de Carvalho Oliveira
António Evaristo Miranda
Vasco da Gama Leitão
Cláudio Leitão
Francisco de Freitas Trindade
Joaquim Guilherme de Faria Júnior

PRESIDENTES DAS DIRECÇÕES DA ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PENICHE, DESDE A SUA FUNDAÇÃO
1929 – António Maria de Oliveira
1933 – Dr. João Baptista Frazão
1934 – Francisco de Freitas Trindade
1935/36 – João Mendes Madeira Sobrinho
1937 – Dr. João Baptista Frazão
1938/39 – João Mendes Madeira Sobrinho
1940/41 – Adelino Henriques Gaspar dos Santos
1942 – Dr. José Sales Gomes
1953/57 – Aires Henriques Bolas
1963 – Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho
1965 – Vítor João Albino de Almeida Baltazar
1966/68 – Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho
1976 – Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa
1977 – Pedro Manuel da Trindade Pinto Soares
1978/79 – António Agostinho Godinho Coelho e Silva
1980 – Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa
1981/83 – Nelson Rocha
1984/87 – Carlos Alberto dos Santos
1988/89 – Armando Faria da Silva Fandinga
1990/2000 – Júlio Alberto São Bento Correia
2001 – Evaristo da Silva Cavalheiro

COMANDANTES DA CORPORAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PENICHE, DESDE A SUA FUNDAÇÃO
27/11/1932 – Para 2º Comandante António Adelino Gomes da Silva (já vinha a exercer interinamente o comando desde a fundação)
04/01/1937 – 1º Comandante António Alves
06/05/1940 – 1º Comandante Joaquim de Paiva
31/10/1942 – 1º Comandante Alberto Monteiro de Proença
31/10/1942 – 2º Comandante Manuel António Malheiros
05/11/1958 – 1º Comandante Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho
1981 – 1º Comandante Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa
19/12/1980 – 2º Comandante Joaquim Barradas Leitão
1999 – 1º Comandante Carlos Alberto Remígio Garcia

Agradecimento a Nuno Miguel Leitão pelas fotos nmnleitao@gmail.com

1 comentário:

Anónimo disse...
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