sexta-feira, janeiro 26, 2007

A FREGUESIA DE SÃO PEDRO E OS SEUS ANTECEDENTES

Constata-se que, muito cedo, já no dealbar da fundação da nacionalidade portuguesa, se sentiu a necessidade de proceder a demarcações territoriais do nosso País, visando a sua organização e adequada administração.
o Rei sempre procurou conhecer com exactidão quais as terras possuídas pelos nobres feudais e, com a concessão de forais, foram sendo criadas divisões administrativas com limites que, em muitos casos, ainda hoje subsistem.
Também a Igreja Católica estabeleceu os seus vínculos com os fiéis em bases com incidência territorial estabelecendo Dioceses (área territorial confiada a um Bispo) e dividindo estas em Paróquias ou Freguesias (agrupamentos de fregueses ou paroquianos residindo num dado território onde um Sacerdote - o Pároco - exercia directamente o seu múnus espiritual junto dos fiéis que lhe eram confiados por mandado do seu Bispo. Estas tinham como sede a Igreja - Casa de Deus - que se fazia notar pelo seu campanário onde os sinos soavam recordando aos fiéis as suas obrigações e chamando-os para os actos religiosos colectivos. Á volta da Igreja eram edificadas as habitações e assim se formavam pequenas povoações que, em muitos casos, não cessavam de crescer.
Em Peniche foi precisamente o que se deu. Começaram por ser formados dois pequenos povoados - um na zona norte, conhecido por Peniche de Cima (ou Peniche de Riba) que recebeu a designação de freguesia da Virgem Maria da Ajuda (Nossa Senhora da Ajuda) e outro na zona sul, conhecido por Peniche de Baixo ou Ribeira (por vezes designado por Ribeira de Atouguia), este pertencente à freguesia do Espirito Santo (mais tarde freguesia de S. Pedro).
O limite destas duas freguesias era, mais ou menos, na zona da actual Praça Jacob Rodrigues Pereira, por ali existir uma vala direito ao mar.
Não é fácil determinar qual destas duas freguesias será a mais antiga embora a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda seja na boca do povo intitulada como Igreja Matriz.
Como freguesia podem existir dúvidas atendendo à edificação do primeiro templo que existiu junto da actual Igreja de São Pedro e que era dedicado ao “Espirito Santo”. Raro era o lugar que não tinha uma ermida em que o seu Orago era para os católicos a terceira pessoa da Santíssima Trindade, designado na Sagrada Escritura por Divino Paráclito e a que damos o nome de Divino Espírito Santo. Peniche não seria excepção pois além de lhe dedicar um templo comemorava as festividades em sua honra, introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel. A instituidora está ligada pela história a estas terras. D. Dinis, por carta de mercê datada de 1 9 de Outubro de 1307, doou a sua esposa a Vila de Atouguia, com sua alcaidaria e todos os seus direitos. Será que a freguesia está incluída, com a devida administração, a partir do século XIV? Faça cada um o juízo que quiser.
O documento mais antigo que chegou às minhas mãos data de 1553. Trata-se da primeira Bula concedida à Irmandade do Santíssimo Sacramento, que tinha a sua sede naquele antigo templo (doc. existente no Arquivo Paroquial).
Mas foi a partir de um documento de provisão de divisão de freguesias desta peninsula, datado de 1 de Setembro de 1603, que a área da freguesia de São Pedro ficou mais reduzida com a criação da freguesia de S. Sebastião (ou de Nossa Senhora da Conceição) que veio mais tarde a ter uma segunda versão.
Durante muitos séculos a Igreja Católica teve a seu cargo os registos dos nascimentos (baptizados), casamentos e óbitos e essa era uma das missões de cada uma das Paróquias.
É de referir que os termos “Paróquia”ou Freguesia” tiveram origem na denominação tradicional das circunscrições criadas pela Igreja Católica (eram o conjunto dos cristãos confiados à jurisdição de um Pároco) embora mais tarde se adoptassem as mesmas palavras para designar divisões administrativas criadas pelo poder civil, com órgãos de gestão próprias. O Liberalismo extinguiu muitas por deficiência populacional. O Decreto de 18/7/1835 deu às subsistentes um carácter novo. A sua gestão foi confiada a uma Junta de Paróquia, presidida pelo Pároco.
Em obediência à Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa, decretada e dada pelo Rei de Portugal e dos Algarves, D. Pedro, Imperador do Brasil, em 29/4/1826, passou o Governo Central a dispor de representantes em cada circunscrição administrativa ali prevista. No Distrito: o Governador Civil (cargo que ainda subsiste), no Concelho: o Administrador do Concelho e na Paróquia o “Regedor”, este dependente do Administrador do Concelho e com funções de natureza essencialmente policial.
Com a implantação da República a 5 de Outubro de 1910 é aprovado, em 18/2/1911 , o Código do Registo Civil, legislação que criou uma absoluta separação entre os registos e documentação da Igreja e os do Estado. Determinou o novo Código que “os factos essenciais ao endivido, à família e sociedade, nomeadamente, nascimentos, casamentos, óbitos” passassem a ser registados por Conservadores (nas capitais dos distritos e Bairros de Lisboa e Porto), Oficiais do Registo Civil (nos concelhos) e Ajudantes (nas freguesias). Estes serviços, que nas Paróquias eram realiza dos pelo Clero, ficaram na dependência do Ministério da Justiça.
A natureza das freguesias voltou a ser alterada pela Constituição Política de 1933 que as define como “o agregado de famílias que, dentro do território municipal, desenvolve uma acção social comum por intermédio de órgãos próprios”. Estes órgãos eram as Juntas de Freguesia, corpos administrativos constituídos por três membros - Presidente, Secretário e Tesoureiro - eleitos quadrienalmente pelos chefes de família residentes na circunscrição.
Em Peniche, nos primeiros anos, toda a sua actividade administrativa era desenvolvida a partir dos serviços municipais. Mais tarde, as três freguesias da sede do Concelho, já com um funcionário - que servia as três Juntas - passaram a dispor de uma Secretaria instalada em parte do primeiro andar de um edifício contíguo ao dos Paços do Concelho (e hoje integrado nestes). Era um espaço conhecido por “Casa das Senhas” por nele, durante de 2. Grande Guerra, haver funcionado a Comissão Reguladora, dependente do Ministério da Economia, que controlava e fiscalizava o comércio dos produtos objecto de racionamento (o pão, o açúcar o arroz, o azeite, etc.) controlo que era feito por meio de “senhas” distribuídas à população.
Em Maio de 1946 a Câmara Municipal assumiu a responsabilidade de alugar um espaço para sede da Comissão Municipal de Assistência (na rua José Estevão, tornejando para a Travessa António Feliciano de Castilho (actual Largo com o mesmo nome), a uma particular proprietária do edifício. Acabou por ser acordada a instalação ali, também, da Secretaria das três Juntas e da Subdelegação de Saúde. Refira-se que todo o trabalho administrativo das três Juntas, da Comissão Municipal de Assistência e da Subdelegação de Saúde era executado pelo mesmo funcionário.
A sede destes três serviços voltou a funcionar durante toda a década de 1950 no edifício contíguo aos Paços do Concelho onde a sede das Juntas já existira anteriormente. Ali se manteve até que as obras de ampliação e remodelação do edifício obrigaram à transferência de alguns serviços para um edifício alugado sito na Rua Marquês de Pombal, n°18 (onde actualmente funciona o Sindicato dos Pescadores). A secretaria das 3 Juntas de Freguesia foi um desses serviços.
Atendendo ao aumento do movimento e autonomia que as Juntas de Freguesia passaram a ter foi depois alugado para a sua sede um prédio na rua do Mercado (actual rua António da Conceição Bento) ao seu proprietário Domingos Paulino. Aí puderam as Juntas dispor de vastas salas e separação total, com
funcionários próprios no atendimento por cada uma delas.
Mas a Autarquia não quis ficar por aqui. Pretendia edificar casa própria para ali colocar todo ó expediente inerente às 3 freguesias, com os seus espaços separados e independentes, o que era também desejo das três Juntas.
Assim, aproveitando um programa governamental que apoiava a edificação de sedes para juntas de freguesia, a Câmara, para construção de sede própria para as três Juntas das Freguesias da sede do Concelho, por escritura lavrada a 20/11/1985, procedeu à venda, pela simbólica importância de mil escudos, de uma parcela de terreno com a área de duzentos e oitenta e oito metros quadrados, que ficou registada em nome da Freguesia da Conceição, embora destinada à construção de sede para as três freguesias. Até à sua edificação muitas ideias houve e muitas alterações surgiram.

Procedeu às obras de construção da I° fase do edificio a empresa Torres & Franca, Limitada, com a sede em Sanguinhal, Concelho do Bombarral, pela importância de 6.997.970$00 (seis milhões novecentos e noventa e sete mil novecentos e setenta escudos), conforme a sua proposta aprovada por deliberação camarária de 20/3/1990. Para a conclusão das referidas obras foi adjudicada uma segunda fase à firma Habipen - Sociedade de Construções, Lda, com sede em Atouguia da Baleia, pelo valor de 13.787.993$00 (treze milhões setecentos e oitenta e sete mil novecentos e noventa e três escudos), conforme deliberação camarária de 7/4/1992.
Já concluídas as obras, a Câmara Municipal tomou conhecimento, em sua reunião de 19/10/1993, de que, na sequência de sorteio, foram distribuídas a cada uma das 3 Juntas de Freguesia desta Cidade as dependências de que iriam dispor no seu novo edifício-sede.
Procedeu-se à sua inauguração a 6/11/1993, com a presença do Senhor Secretário de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território e do Senhor Director-Geral da Administração Local, bem como das autoridades civis e militares desta Cidade. É de salientar que a concretização desta obra é fruto do empenhamento conjunto do Estado, da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia.
Quis a Junta de Freguesia de São Pedro dispor de símbolos heráldicos aprovados oficialmente pelo que solicitou o parecer da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Assim foi publicada no Diário da Rep III Série, n.124, de 29 de Maio de 2002, a respectiva ordenação heráldica do seu brasão, bandeira e selo.
A sua descrição é a seguinte:
Brasão - Escudo de azul, farol de prata lavrado de negro, com lanterna de ouro, entre duas guaritas de fortaleza de prata, lavradas de negro em chefe e campanha diminuta de prata e ver- de de três tiras. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “PENICHE - S. PEDRO”.
Bandeira - branca. Cordão e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro.
Selo - nos termos da lei, com a legenda:
“JUNTA DE FREGUESIA DE PENICHE - S. PEDRO”.

RELAÇÃO DOS REGEDORES DA FREGUESIA DE S. PEDRO A PARTIR DE 1855
1855 - Bento da Costa Perdigão; 1856 - João Manuel e para substituto Francisco da Mota Junior
1858 - Joaquim José Tavares; 1870 - Francisco José da Mota;
1877 - Joaquim Dias; 1879 - Joaquim da Cruz e Silva; 1884 - Joaquim Dias e substituto Joaquim Pedro da Costa ; 1890 - Eduardo Leão Monteiro; 1892 - Joaquim Pedro da Costa e substituto Estevão José de Fana e Melo; 1 894 - Eduardo Leão Monteiro e substituto José Vicente Henriques; 1897 - Estevão José
de Fana e Melo; 1897 - Joaquim Dias; 1900 - João Henriques e substituto José Cândido de Azevedo Melo; 1901 - Joaquim Dias; 1904 - Joaquim Ramos da Silva Desidério e substituto Fernando Maria; 1 906 - Joào Verissimo dos Santos Costa; 1911 - Jerónimo Maria Machado; 1912 - Antero de Ascenção Leitão; 1914 - José do Nascimento Ginja; 1915 - Mariano Rodrigues Rasteiro; 1915 - José do Nascimento Ginja; 1918 - Jerónimo Maria Machado;
1921 - Jaime Vicente; 1922 - António Guilherme Correia; 1924 -José do Rosário Leitão; 1925 - António Guilherme Correia; 1926 - José do Rosário Leitão; -1935 - José do Nascimento Ginja - 1961 - José Manuel dos Santos Ginja

.- 1969/73 - Fernando Cos ta Santos; 1973 - José Júlio Cerdeira.
JUNTAS DE FREGUESIA DE S. PEDRO A PARTIR DE 1934
1934
- Presidente: Ricardo Costa - Secretário: Cláudio Guilhermino Leitão - Tesoureiro: António dos Santos Afra; Vogais: Francisco de Freitas Trindade - António Pedro da Costa e Acácio de Sousa Lacerda. 1935 - Presidente: António Luís Ceia - Secretário: Ricardo Costa - Tesoureiro: Ramiro Fernando da Conceição Leal Pessoa. 1936 - António Pedro da Costa
1942/45 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: António Pedro da Costa - Tesoureiro: Jacinto José Martinho - Vogais: Ilídio de Abreu e Jorge Domingos Júnior.
1946/49 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: Miguei Rocha Júnior - Tesoureiro: Gilberto Rosa Serafim - Vo- gais: Jacinto José Martinho - José Duarte Rodrigues - José Leitão.
1951/54 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: João de Deus Martins Vargas - Tesoureiro: Jorge Domingos Ji - Vogais: Miguel Rocha Júnior - José Leitão - Jorge Alberto Correia do Amarai Domingos.
1955/58 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: João de Deus Martins Vargas - Tesoureiro: Jorge Domingos Júnior - Vogais: António Henriques Bolas - Miguel Rocha Júnior
- Jorge Alberto Correia do Amaral Domingos.

1964/67 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja.
1968/71- Presidente: José Manuel dos Santos Ginja.
1972/1975 (Com alteração apôs o 25 de Abril de 1974) - Presidente: Carlos da Rosa Bulcão Avila - Secretário: António Henriques Bolas - Tesoureiro: João Custódio Rocha.
1974 - Comissão Administrativa:
Presidente: llidio de Abreu - Secretário - José Maria Leitão da Silva - Tesoureiro: José Henriques de Jesus Rosa.
1977/1979 - Presidente: António José Mendes do Carmo - Secretário: João Custódio Rocha - Tesoureiro: - José Anacleto Leitão Redondo.
1980/1982 - Presidente: Ilídio de Abreu - Secretário:António José Mendes do Carmo - Tesoureiro: José Maria Leitão da Silva.
1983/1985 - Presidente: Adelino Apar Sardinha - Secretário: Humberto Costa - Tesoureiro: João de Jesus Valdez.
1986/1989 - Presidente: Ilídio de Abreu - Secretário: Secretário: Saturnino José Velêz Pelerito - Tesoureiro: Rui Jorge Gonçalves Marques Cordeiro.
1990/1993 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Eugénio da Costa Clara -Tesoureiro – Ilídio d’Abreu.
1994/1997 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretario: Floriano Serrano Sabino - Tesoureiro: Francisco Ger mano Martins Santos.
1998/2001 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Cesaltino Eustáquilo Martins
Tesoureiro: Maria Manuela Franco Duarte.
2002/2005 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Floriano Serrano Sabino - Tesoureiro: Joaquim José Feliciano Silva.
2006/2009 - Presidente: Maria Manuela Trindade Farto Azevedo Filipe - Secretário: Floriano Serrano Sabino – Tesoureiro: José Isidro Coutinho.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Registos da arte Sacra

Exposição de Fernando engenheiro, que encerrou no dia 6 de janeiro 2007.
Foram expostas no total, 82 obras da autoria de: F. Engenheiro, aqui alguns exemplares que merecem uma maior Exposição mediatica, embora o autor seja bastante humilde, de qualquer forma, os meus parabéns.




quinta-feira, janeiro 18, 2007

Gil Teixeira Lopes

Entrevista realizada provavelmente em 1970, para o boletim da Escola Industrial e Comercial de Peniche. http://www.es-peniche.net/index.php?option=content&task=view&id=11
A propósito duma exposição
Quando, pela primeira vez, admirei alguns quadros do pintor Gil Teixeira L opes, numa exposição, integrada nas festas de Nossa Senhora da Boa Viagem, promovida pelo Núcleo de Artes Plásticas da nossa Escola, verifiquei que apresentavam algo de diferente em relação aos outros que até aí estava habituada a apreciar. A que se deveria essa diferença? Ao homem em si, ou à formação e experiência adquirida ao longo dos anos?
Quis então descobrir e compreender um pouco da obra e do carácter do Pintor.
Diplomado pelo Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, (onde exerce presentemente funções docentes), a sua ascensão como artista conhecido do público fez-se por etapas pontuadas, frequentemente, de muitos e variados prémios nacionais e estrangeiros dos quais destaco, por me parecerem mais representativos, o prémio Nacional de Pintura em 1969 e, mais recentemente, em Julho de 1970— em Gravura -a placa de prata da federação de artistas plásticos da Jugoslávia, na 88 Bienal de Florença,
Para melhor informação dos aspectos da vida e obra do artista, dada a inexistência de publicações que aos modernos artistas nacionais sejam consagradas, consegui entrevistá-lo no Centro de Gravura, situado na Escola de Belas Artes e af apresentei-lhe um questionário concebido após a leitura de algumas obras de iniciação estética.
-O que é essencial para se ser um bom pintor?
Creio que o essencial para ser um bom pintor é possuir dotes naturais, além de todo um enriquecimento conseguido através de uma prática constante.
Paralelamente a todo um aperfeiçoamento estético é fundamental, ainda, haver um repositório de conhecimentos em todas as actividades da vida, que o possam levar a expressar e a poder dar respostas aos estímulos que o pressionam dentro da sua época.
-Acha que no campo da pintura se está o voltar ao figurativo ou predomina ainda o abstracto?
Presentemente, o conhecimento que tenho da arte internacional, leva-me a afirmar que existem em determinados pontos geográficos culturas que ainda se expressam dentro da figuração e outras dentro da abstracção.
Assim, na Europa, nomeadamente em Itália, acontece uma nova figuração mas, por exemplo ainda na Europa parte da Arte Catalã, portanto da Arte de Barcelona, parte da expressão madrilena ainda se expressa através de formas abstractas. Subsistem realmente as duas correntes.
-Qual a relação entre o artista e a Natureza, ou entre Arte e Natureza?
Tenho para mim que a Natureza actua sobre o artista, estimulando-o, provocando-lhe reacções que irão acrescentar todo um repositório de novos conhecimentos ou emoções
à sua experiência anterior.
Deverei porém acentuar que, dentro da nossa época, as criações artísticas raramente são influenciadas pelos aspectos “visuais” da natureza.

-Existirá alguma relação entre o Arte e a Religião?
Sim, mas só para aqueles casos em que o artista está vinculado a uma determinada sociedade onde existe uma dominante religiosa.

-Sabendo-se que os três ciclos época-Geração-Indivíduo, exercem influência na Arte, qual considera o mais potente e porquê?

Considero-os de igual forma, ou sem grandes distinções entre elas. Porém considerados em profundidade histórica, verificamos que em determinadas épocas houve realmente predominância dum deles em relação aos outros, dependendo ainda essa predominância do factor geográfico.

-Existe alguma relação entre a sua pintura e a sua sensibilidade?
Claro que sim. A sensibilidade a que alude,. creio-a produto da minha formação como também é produto da região donde sou natural. Na realidade os seus aspectos paisagísticos e humanos marcaram-me profundamente, não obstante o enriquecimento emocional posteriormente adquirido noutros meios geográficos, ou sob novos ângulos de visão.
Creio que o caso do cor violenta e até dos contrastes dissonantes do minha pintura, estão em relação directa com o local geografico do meu nascimento.

-Quais as reacções do público e do crítica perante o sua obra?
É bastante difícil responder, porque na minha obra, existem já varias intenções. Assim, assinalarei o período em que tive a intenção de entrar em grande diálogo com o público, não apenas o nosso público, mas também o público internacional. Reportando-me a essas fases, creio que duma forma geral reagiu bem, aceitando e compreendendo ou tentando compreender. Depois houve de minha parte um afastamento progressivo por volta do ano de 1965. Uma das ultimas exposições onde estive presente foi, excepcionalmente, na Exposição de Artes Plasticas promovida pela Escola Industrial de Peniche, e a última no Salão Nacional de Arte, Salão onde me foi atribuído o prémio Nacional.
Mais recentemente é o público estrangeiro, que tem aderido à minha obra, mostrando muito interesse pelas exposições de gravura que realizei em França e em Barcelona.
Agora, pela primeira vez em Portugal, numa exposição internacional, apresento 5 gravuras e creio que o público gostou Espero, que numa nova exposição que estou a preparar, e que terá lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes, na Sala de Arte Moderna, ele venha de novo tomar conhecimento de um trabalho que tem sido feito mais ou menos no silêncio mas com muita sinceridade.
No que diz respeito á crítica creio que não possuímos um conjunto de indivíduos que critiquem pintura á altura das necessidades dos artistas portugueses. Alguns, limitam mesmo os seus juízos de valor, á um reduzido grupo de artistas que gravita á sua volta. Os outros, para além do olvido a que são votados, também - e isso é uma situação que deve ser revista – não têm oportunidade de apresentar as suas obras porque as galerias ou outras entidades só expõem trabalhos de alguns artistas com quem estabelecem contratos. Assim direi que não há uma abertura em leque, que não há oportunidades para todos. Assim os críticos limitam-se o criticar, a elogiar duma maneira em geral, sempre os seus protegidos.
Nao é, ainda, menos verdade, que a crítica portuguesa tenha pouca originalidade, pois vai beber a fontes estrangeiras os conhecimentos que enuncia. Mesmo, quando possuidores duma sólida formação são desprovidos, na sua quase totalidade, de capacidade de se libertarem de influências estranhas e “gozar” arte.
De momento só me recordo de dois verdadeiramente capazes de “sentirem” arte - Rocha de Sousa e Lima de Freitas. Neles existe uma capacidade de emotividade que a meu ver falta aos outros críticos. São mais abertos, emocionam-se, sentem arte, expressam-se em termos de arte.

-Que é para si bom retrato no sentido humanístico?
Um Retrato, como uma paisagem ou um qualquer elemento de configuração geométrica, acima de tudo, devem ser primeiro-pintura. Só depois e no caso particular que assinala, se deverá reter no retratado, atendendo, se possível as características da sua psiquê.
Nota-se porém que nem todos os artistas podem ou devem pintar retratos. Na realidade, deverão possuir uma capacidade ou dotes naturais que possibilitem intuir a parte psicológica do retratado, e plasmá-la na sua expressão plástica.


-Existem muitos pintores com valor em Portugal?
A meu ver e através do conhecimento que eu tenho da pintura e dos pintores estrangeiros, considero que em Portugal existem, potencialmente, muito bons pintores. Infelizmente as nossas estruturas, não permitem que esse potencial entre em desenvolvimento.
Assim, o jovem artista ao integrar-se na nossa sociedade verifica que ela não é evoluída esteticamente-quiçá por motivo duma falta de preparação que lhe deveria ser ministrada desde a primária - e, dessa forma, podemos dizer que, na esmagadora maioria acabado o curso acaba a sua carreira artística porque não há consumo das obras que produz e não possuindo bases económicas que lhe permitam uma criação livre estiolam, afastando-se, por uma questão de sobrevivência dos caminhos da Arte.


-Qual o pintor que mais aprecia?
Sempre que me têm feito esta pergunta eu respondo que são 100 ou 200. Quando assim falo, é pensando nos artistas de todas as épocas mas, como adivinho a sua próxima pergunta, sempre direi que, actualmente, nacionais os que mais aprecio são, entre vários Júlio Pomar (que muitos já consideram ultrapassado) e Noronha da Costa, Rocha de Sousa e António de Sena.

-Qual o significado para todos da Arte. e que lugar deverá ocupar na nossa organização social?
Todos temos necessidade de expressar sentimentos através de diversos veículos.
Porém verifica-se que todo o humano tem necessidade de se expressar em termos de Arte ou de viver a Arte. Mesmo os que consomem Arte, no fundo, vivem a Arte. A Arte uma forma de expressão do Homem.
-Tem-se feito alguma coisa em Portugal no sentido de iniciar e educar as crianças no campo de informação artística?
Tem. Determinadas individualidades e organismos, têm tido bastante interesse em educar os jovens e as crianças com .bases de educação estética desde a classe pré-infantil. Simplesmente não tem sido possível por diversas razões montar, manter ou desenvolver essa estrutura.
Nomes como os de Nikias Skapinakyss, José Júlio, Delfim Santos, Calvet de Magalhães encontram-se ligados à iniciação estética da criança. Outros poderia citar ligados a esta luta pelo desenvolvimento de estruturas que cobrem essa deficiência.
Mais recentemente podemos apreciar nos esquemas das escolas particulares que uma parte da sua programação é dedicada a esta matéria, o que parece estar a tornar-se extensivo aos estabelecimentos de ensino oficial.

-Acha que os jovens se interessam pela pintura?
Sem dúvida. Até porque os elementos de pintura, os elementos técnico-materiais de pintura - são aliciantes. O problema da cor é fundamental para o humano, sensibilizando-o. Cor e luz são bases de expressão da pintura como são bases de expressão da juventude.

-Na sua opinião o que se deve fazer, no campo da educação da criança e do jovem para lhe despertar o interesse pela pintura e pela Arte?
Continuar a obra já realizada. Não só a nível particular como a nível oficial, nos diversos ramos do ensino, julgando com justiça o lugar que a expressão estética ou artística deve ter para o jovem.

-O que pensa da juventude em geral?
Penso bem. é afinal, como as outras juventudes doutras épocas. No fundo há simplesmente uma diferença de tempo, circunstância e nada mais. No entanto a juventude dos nossos dias parece viver os seus sonhos, os seus admiráveis sonhos com um tão vasto potencial e força criativa que certamente permanecerão para além do estado transitório duma idade cronológica.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Gil Teixeira Lopes. Anos 70/ 70 Anos

Pergunta: o que é que o “Gil Teixeira Lopes. Anos 70/ 70 Anos” tem a ver com a memória de Peniche? Então esperem pelo próximo tema, que sera uma surpresa, sobretudo para os antigos alunos da escola Industrial.
http://cabo-carvoeiro-historico.blogspot.com/2006/11/implantao-do-edificio-da-actual-escola.html

Boletim da Escola Industrial e Comercial de Peniche :Edição de 1970


segunda-feira, janeiro 08, 2007

A ACTUAL AVENIDA 25 DE ABRIL E OS SEUS ANTECEDENTES

Por: Fernando Engenheiro
Em tempos antigos o trajecto que unia a povoação de “Peniche de Baixo” à de “Peniche de Cima” não era mais do que um estreito caminho vicinal. Tinha o seu inicio junto da Igreja da Virgem Maria da Ajuda e estendia-se até ao local que é hoje conhecido por “Alto do Vilas” (início da Rua D. Luis de Ataíde, então designada por “Rua do Casal”).
Foi depois da construção da cinta de muralhas de Peniche, no último quartel do século XVII, que a Câmara Municipal mandou lajear todo aquele espaço de circulação com uma largura que não ia além da que possui a maior parte das ruas da época.
Passou a ter a designação de estrada municipal de 2° classe, embora o povo lhe atribuísse como topónimo a designação de “Calçada de Nossa Senhora da Ajuda”.
Durante muitos anos, ao longo desta calçada, na época única via de ligação dos dois pôlos de povoamento desta península, poucas foram as edificações implantadas.
A Santa Casa da Misericórdia de Peniche, em 1739, mandou construir junto da muralha, próximo do topo sul da rua, uma pequena capela — um dos “Passos” que existiram ao longo do trajecto da tradicional Procissão de Domingo de Ramos.
Outras construções existiram junto do pequeno templo. Serviram de lagar e de arrecadações de alfaias agrícolas. Mais tarde foi ali criado um espaço destinado a resguardar uma pequena embarcação “salva-vidas” com que se pretendia acudir aos naufrágios que se verificassem quer nos mares do Norte quer nos do Sul da península.
Mais uma construção, com dois pisos, foi edificada no outro lado da rua - prédio que ainda existe. Todo o restante terreno envolvente da calçada foi ocupado com explorações agrícolas que chegaram até ao primeiro quartel do século vinte.
A passagem da artilharia trazida pelos franceses aquando das suas invasões durante as Guerras Peninsulares terá provocado danos naquele caminho. Coube ao Município o trabalho de reparação e colocação de novas hajes para substituir as destruídas por aqueles militares que se faziam acompanhar de carretas para transporte de canhões (documentos de despesa da Câmara Municipal de Peniche de 4/1/1811 e 10/3/1811 , respectivamente, de quatro mil quinhentos e vinte réis e cinco mil novecentos e cinquenta réis em metal pagos ao mestre pedreiro Joaquim Madeira, do acréscimo das sisas).
Ao Longo dos anos, dada a pouca elevação que tinha o pavimento desta via, os invernos chuvosos encarregaram-se da sua destruição sendo substituído o seu revestimento por “mac-adam”, que se manteve até 1882, data em que todo o seu piso foi substituído por calçada à portuguesa, calcetamento que se prolongava até às ruínas do extinto Convento do Bom Jesus de Peniche.
Porque até então todo o trânsito com ligação à estrada real n.° 65 (actual EN. 114) era encaminhado para a actual Rua da Alegria, com saída na Travessa da Horta, a Autarquia pretendeu mandar fazer uma variante, um ramal em linha recta até ao portão de Peniche de Cima. Foi esta pretensão apresentada ao Ministério da Guerra, sendo intermediário o Governador da Praça de Peniche, em virtude do terreno necessário, com a extensão de 540 metros, pertencer ao Estado. Em 4-4-1895 foi concedido o terreno em causa, que atravessava as propriedades da Coroa, ficando a cargo da Câmara a despesa da execução e conservação daquele troço de estrada e obrigando-se aquela a repor tudo no estado primitivo quando o Ministério da Guerra o julgasse indispensável, sem direito a indemnização alguma, continuando contudo propriedade do mesmo Ministério o terreno ocupado pela estrada naquela parte. A edilidade aceitou as condições e pôs mãos a obra, tendo ficado o ramal concluído no dealbar do século.

Na sequência de deliberação tomada de 7/3/1902 a Câmara resolveu interferir junto do Governo solicitando autorização para mandar rasgar a cortina da muralha alargando o portão de Peniche de Cima. Por motivos que não me foi possível apurar, a obra não foi então concretizada pois na sequência de outra deliberação camarária, em 7/1/1913, novo pedido é feito nesse sentido ao Comandante Militar desta Praça o qual intercedeu junto do Ministério da Guerra. A autorização foi concedida só podendo a obra ser levada a efeito depois de lavrado o respectivo termo e segundo as condições impostas peio referido Ministério.
Por essa época, atendendo a imposições do Ministério da Guerra, a Câmara Municipal deu prioridade à desobstrução do cimo do actual Largo do Loureiro tendo em vista poder o trânsito circular direito à Ribeira sem ter de utilizar a actual Rua D. Luis de Ataíde (antiga Rua do Casal). Procedeu-se à arrematação do alargamento a 27/5/1913, obra entregue por empreitada a Serafim Joaquim, morador no lugar da Matoeira, Concelho de Caldas da Rainha, pela quantia de duzentos noventa e nove mil réis.
Pouco tempo depois toda a Calçada de Nossa Senhora da Ajuda (muitas vezes referida como Calçada da Ajuda) passou a ter uma vida diferente com a construção de fábricas de conservas nos terrenos que até então serviam para a agricultura.
A Empresa “La Paloma” construiu uma fábrica de conservas com grande dimensão (no local onde hoje se encontra a Escola Secundária) e o Centro Comercial de Conservas, L.da também edificou outro imóvel em frente à igreja de Nossa Senhora da Ajuda com dimensões idênticas, também para a exploração da industria de conservas de peixe.
Antão da Silva Pires também procedeu ali à construção de um edifício de rés-do-chão (com duas água) também para fins industriais e residência.
Mais tarde a firma Manuel Patricio da Cruz & Filhos, L.da mandou construir no lado poente da Calçada uma garagem que servia o público disponibilizando espaço para recolha de automóveis, lavagens, lubrificações e venda de combustíveis.
A última fase de remodelação daquela artéria verificou-se na década de 50, em cumprimento do programa do Plano de Urbanização elaborado na mesma época e integrada numa obra grandiosa que remodelou todas as vias que vão do portão de Peniche de Cima à Ribeira.
Foram demolidos todos os edifícios situados no lado Norte da Travessa do Loureiro dando lugar ao actual Largo do Loureiro (aqui voltou a alargar-se mais a curva, rasgando-se um pouco do ângulo da muralha).
Também, por deliberação camarária de 21/8/1950, se procedeu à demolição de um imóvel de dois pisos, com estabelecimento no piso inferior, que pertenceu a Luis Joaquim Correia, o qual recebeu a indemnização amigável de dez mil escudos. Estava localizado na curva em frente da igreja de Nossa Senhora da Ajuda e era conhecido por a “casa do Carlos Vicente”, arrendatário que ali explorou um estabelecimento de taberna (ver foto).
Já em 1/4/1935, peia importância de quatro contos de réis, por expropriação amigável havia sido adquirido a D. Maria Amália de Carvalho Figueira, o antigo passo ou capelinha e outras dependências que existiam junto da muralha e que foram demolidas mas só na década de 50 foram limpos, ajardinados e arborizados os diversos recintos que a nascente desta rua integram a zona de protecção das muralhas militares.
o Baluarte da Calçada, removida toda a terra que, encostada à muralha, o preenchia parcialmente (e que foi usada para sanear o pântano em que se transformavam as suas zonas mais baixas nas épocas de chuva) foi arborizado e transformado num amplo recinto destinado à prática de desportos diversos foi hipódromo e hoje nele estão instalados campos de ténis).

Também o Baluarte de S. Vicente foi limpo, consolidado e arborizado.
Só foi possível proceder a trabalhos nestas áreas de terreno depois do protocolo celebrado entre o Estado a Câmara Municipal em auto de 15 de Outubro de 1949 pelo qual o Poder Central cedeu ao Município, a titulo precário e gratuito, para ajardinamento e arborização os “prédios militares” denominados “Murraçal do Baluarte da Calçada” e “Murraçal do Baluarte de S. Vicente”.
Em virtude da exígua largura (8 metros) que conservava a abertura existente na cortina de muralhas conhecida por “Portão de Peniche de Cima” - há quantos anos au deixou de haver qualquer “portão” mas o nome perpetuou-se!.. . - se tornar cada vez mais insuficiente e perigosa para o intenso trânsito de veículos que a utilizava (recorde-se que na época era praticamente a única entrada na Vila) a Câmara Municipal, entendendo que novo alargamento se impunha, obteve do poder central a devida autorização e procedeu ao necessário alargamento com a demolição de mais alguns metros de muralha. Para o efeito houve que diligenciar que fosse entregue ao Município, para demolição, o edificio do antigo Posto da Guarda Fiscal de Peniche de Cima que existia encostado à muralha. Foi também adquirido e demolido um outro edificio contíguo onde chegou a funcionar um
estabelecimento comercial.
Os cortes na muralha foram rematados com a colocação de dois pilastrões (projecto do Sr. Arquitecto Paulino Montez) onde duas lápides recordam a evolução desta abertura.
Atravessando o “portão” encontramo-nos no Largo dos Navegantes. Percorrendo a actual Avenida encontramos à nossa direita diversas habitações entre as quais é de destacar um primeiro andar particular que, até 1946, serviu de Escola Primária. Todo o espaço que se segue entre a Travessa do Lagar até à Travessa da Horta (onde hoje existem construções modernas, residências e estabelecimentos comerciais) foi terra de semeadura de jurisdição militar aforada a particulares. A maior parte deste área foi adquirida por Joaquim de Matos Bilhau, então armador e grande comerciante de pescado.

Encontramos depois o Largo da Ajuda, urbanizado e ajardinado pelo Município de acordo com projecto elaborado pelo Engenheiro Alberto dos Reis, projecto que obteve parecer favorável da Junta Nacional de Educação da Direcção do Ensino Superior e das Belas Artes. Neste pequeno jardim foi mais tarde colocada uma estátua evocando o ilustre filho de Peniche que foi D. António Ferreira Viçoso, Bispo da Diocese de Mariana, cidade que foi a primeira capital do estado de Minas Gerais, no Brasil.
Apôs uma curva para a esquerda (saindo do que foi o Ramal da Ajuda e entrando no troço da via que foi a Calçada da Ajuda) encontramos à nossa direita o edifício da Escola industriai e Comercial de Peniche (actual Escola Secundária) construído em 1956 no espaço onde, como já referi, existiu a fábrica “La Paloma” (também conhecida por “Fábrica do Alemão” ou “de San Martin”), a qual possuía na facha da um painel de azulejos coloridos com uma imagem de São Martinho dando a sua capa a um mendigo), painel que actualmente se conserva no Museu Municipal.
A garagem que, como atrás disse, foi edificada pela firma Manuel Patrício da Cruz & Filhos, L.da era constituída por dois pavilhões que hoje já não existem. O primeiro foi demolido para dar lugar à rua “Enfermeiro António Videira” e o segundo foi há muito pouco tempo objecto da mesma acção aguardando o seu espaço a construção de novos edifícios.
Também todos os prédios inicialmente criados na propriedade de Antão da Silva Pires foram nestes últimos anos demolidos dando lugar à construção de modernos edifícios.
Alguns anos depois da grande remodelação desta artéria a Câmara Municipal, dando execução ao que há muito se encontrava previsto no Plano de Urbanização de Peniche e apôs negociação com os herdeiros de José Pereira de Barros, ligou a esta Avenida a já existente Rua António da Conceição Bento, rasgando uma propriedade que pertencia aos referidos herdeiros, que se situava entre as duas vias, e onde existiam terras de cultivo e alguns armazéns.
Refira-se que, na citada época de 50, com excepção dos trabalhos de revestimento betuminoso que, por deliberação de 20/5/1957, foram adjudicados ao empreiteiro Artur do Rosário Dias, a Câmara Municipal executou por administração directa todas as demais obras de pavimentação e colocação de lancis em toda a extensão desta artéria, tendo elevado a sua cota nos pontos mais baixos e rebaixado nos mais altos, de modo a todo o seu pavimento ficasse sem declives acentuados.

Depois de concluídas as obras, foi deliberado pela Câmara Municipal, em reunião de 23/11/1959, que a via conhecida por Estrada da Ajuda e o seu prolongamento até ao portão de Peniche de Cima (conhecido por Ramal da Ajuda) passassem a denominar-se AVENIDA DOUTOR ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, o que foi aprovado por unanimidade.
Atendendo à vontade dos homens, depois da queda do “Estado Novo”, por deliberação camarária de 22/1/1975, esta via passou a ser designada por “AVENIDA 25 DE ABRIL”. Foi escolhida esta artéria para, na sua bifurcação com a Rua António da Conceição, ser colocado um monumento comemorativo da revolução ocorrida nessa data. A sua inauguração teve lugar às 0 horas da noite de 24 para 25 de Abril de 1988.
Trata-se de um monumento constituído fundamentalmente por uma ABERTURA- um espaço de TRANSIÇÃO, uma PASSAGEM, uma PORTA ABERTA — talhada em grandes blocos de mármore de Estremoz que lhe servem de esteios. E da autoria do escultor penichense João Fernandes Afra.
Peniche, Dezembro de 2006.