sexta-feira, maio 26, 2006

A BIBLIOTECA PÚBLICA DE PENICHE E A SUA FORMAÇÃO AO LONGO DOS ANOS

Por: Fernando engenheiro
As BIBLIOTECAS são para o adulto o que a escola primária é para a criança.
A escola primária desenvolve a criança sob o triplice ponto de vista fisico, intelectual e moral e torna-a capaz de poder arrostar com as maiores dificuldades da vida. A biblioteca não so lhe continua o desenvolvimento do espírito como também, abrindo-lhe maiores e mais vastos horizontes, a torna capaz de grandes empreendimentos.
A escola primária é, pois, o primeiro degrau da grandiose escada do progresso, a biblioteca a continuação dessa escada.
A escola, ministrando conhecimentos rudimentares, prepara o espírito, a biblioteca, concentrando em si todos os ramos dos conhecimentos humanos, encaminha-o pela aurifulgente estrada da ciência que conduz ao progresso.
Não é, portanto, nos bancos das escolas, dos liceus, ou mesmo das universidades, que o homem aprende tudo o que necessita para se aproximar do fim a que a natureza o destinou. O complemento desta instrução reside unica e exclusivamente na leitura que depende dos livros.
Foram precisos muitos anos para que a maioria das autarquias entendesse que para o desenvolvimento cultural das suas terras havia necessidade de centros culturais onde o livro fosse a base principal da civilização.
Em Peniche fala-se pela primeira vez numa biblioteca publica apôs a morte do Dr. Pedro António Monteiro, ocorrida a 11 de Abril de 1928. Nas disposições contidas no seu testamento, na parte referente à Câmara Municipal lê-se o seguinte:
“Lego à Câmara Municipal do Peniche todos os livros de meu uso, para princípio de uma biblioteca pública. se lhos não tiver dado em vida”.

Por seus herdeiros, respeitando em parte as obrigações impostas no referido testamento, foi entregue à Câmara Municipal o espólio da livraria que possivelmente entenderam dar, pois que o testador usou da boa fé e não inventariou os volumes a serem entregues ao Municipio. Ouso pensar assim considerando a pequenez da livraria e a pouca importância dos seus volumes. Como não se justificava a criação de uma biblioteca com tão pouco espólio, os livros mantiveram-se depositados em lugar seguro, aguardando destino mais adequado.
Por largos anos Peniche e seu concelho continuaram privados de um espaço público onde os munícipes tivessem acesso à leitura pois que só nas colectividades recreativas existiam salas de leitura e pequenas bibliotecas para uso dos seus sócios.
Só a partir da década de 50, por disposições testamentárias de 18/6/1953, foi criada a FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN,
http://www.gulbenkian.pt/main.asp que tantos serviços tem prestada ao nosso Pais. Trata-se de uma instituição particular de reconhecida utilidade publica, com sede em Lisboa, pois o seu instituidor escolheu Portugal para instalar a sede da Fundação. Os seus fins são caritativos, artísticos, educativos e científicos, prestando assistência nos mais variados campos. Foram grandes, e continuam a sé-lo, os benefícios
dados por ela à cultura no nosso Pais. Um deles foi a criação pelo respectivo Conselho de Administração de uma rede de bibliotecas itinerantes que muito contribuíram para a difusão da cultura popular.

Eram servidas por umas carrinhas altas, fechadas, com a entrada pelas traseiras acedendo a um corredor central. Todo o espaço lateral era ocupado por estantes repletas de os livros para todas as idades. Foi com as visitas destas carrinhas que começou a grande campanha pela leitura infantil já que as crianças aderiram em massa. Peniche, bem como o seu concelho, a partir de então foi contemplado com a visita semanal da Biblioteca que emprestava livros com prazos marcados para a sua devolução.
Anos depois, atendendo à grande afluência de leitores, justificava-se plenamente uma biblioteca fixa, com atendimento diário e até com horários destacados dos de trabalho.
A sua criação contou com a colaboração do Municipio e da Direcção da Associação de Educação Fisica, Cultural e Recreativa Penichense que disponibilizou para o efeito uma sala da sua nova sede para aquele efeito. A inauguração realizou-se no dia 30/4/1 970. Ao acta presidiram, par parte da Fundação, o Dr. António Quadros, Director-Adjunto da Secção de Bibliotecas, e o Dr. Armando Terramoto, Chefe de Secção dos Serviços de Bibliotecas Fixas. Em representação da então Vila de Peniche estava o Presidente da Câmara, Francisco de Jesus Salvador, e membros da Vereação. Presente também toda a direcção da colectividade, orgãos de informação e muitos associados. Seguiu se, no salão de festas, um bebere te a que assistiram cerca de 50 pessoas. A Câmara Municipal ficou com o encargo anual de 6.000$00 a entregar àquela colectividade, verba destinada ao pagamento de gratificação ao encarregado da Biblioteca.
Ali funcionou até princípios de 1978, data em que aquela Colectividade necessitou do espaço ocupado. A Fundação solicitou da Câmara Municipal que assumisse o encargo de obter as instalações necessárias para a transferência, pois so assim seria possível continuar a dispensar a sua colaboração. Depois de alguns contratempos, já que havia várias opiniões quanta à sua localização, efectuou-se a transferência para o primeiro andar de um edificio camarário situado no Largo do Municipio que se encontrava desocupado pela saída da Repartição de Finanças para outro local.
Foi ali instalada, além da Biblioteca Calouste Gulbenkian, uma sala com todo património que a Câmara Municipal já possuía relativo a livros de consulta. A este espaço foi dado o nome do benemérita Dt Pedro Monteiro: “Sala Biblioteca Dr. Pedro Monteiro”. Numa outra sala do mesmo edificio foram expostos ao público objectos destinados a um futuro museu, incluindo velhos documentas e peças de vária ordem com interesse histórico local. Esta sala foi o embrião do actual Museu de Peniche.
As novas instalações foram inauguradas, em 1/3/1979, com a presença do Director das Bibliotecas Fixas da Fundação, Dr António Quadros Ferro, do Presidente da Câmara Municipal de Peniche, António Assalino Alves, do Prior das Freguesias de Peniche, Padre Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, do Director do Jornal “A Voz do Mar, Prof. António Alves Seara, e de elementos camarários ligados à Fundação e funcionamento da instituição. Seguiu-se um almoço no restaurante “Nau dos Corvos” oferecido aos convidados.
Por deliberação camarária, a Biblioteca passou a dispor de um funcionário, transferido dos serviços da Secretaria Municipal, para atendimento a tempo inteiro ficando a superintender os serviços o encarregado do Arquivo Municipal.
A Câmara Municipal, tomando em consideração a necessidade que se fazia sentir de um funcionário com habilitações adequadas para o eficaz funcionamento da Biblioteca, por deliberação de 22/10/1980, aprovou o alargamento do seu quadro de pessoal com a criação de um lugar de auxiliar técnico de bibliotecas, o que a Assembleia Municipal sancionou a 12 de Dezembro do mesmo ano.
Em 22/2/1984 tomou posse uma e unica Auxiliar B.A.D. de 2. classe com o curso de bibliotecas. Ao longo dos anos este espaço cultural continuou o seu desenvolvimento justificando que na sua direcção fosse colocado um funcionário com conhecimentos mais profundos e específicos e, assim, a orientação da Biblioteca foi mais tarde confiada e uma funcionária licenciada em ciências da comunicação/ramo comunicação aplicada. Tomou posse a 3/11/1997.
Mais tarde, considerando insuficiente para as necessidades desta cidade e seu concelho o espaço ocupado pela Biblioteca, a Câmara Municipal entrou em negociações corn o Ministério da Justiça para que seja disponibilizado para o efeito o edificio construído em Peniche para residência do Director da antiga Cadeia do Forte de Peniche, situado na Rua Luis de Camões, n. 2 e 4, onde, até à sua transferência para o Palácio da Justiça desta cidade, funcionou o Cartório Notarial. É onde hoje se encontre a funcionar a Biblioteca. Trata-se de um espaço com boas condições para a leitura, estudo e lazer, situado em local aprazível.

Não era ainda o espaça ideal sendo, no entanto, para o momento, o melhor possível. Havia que ser melhorado e dinamizado, tanto pela aquisição de mais títulos como pela formação do pessoal e desenvolvimento de novas iniciativas. Depois de 2 meses de funcionamento, as novas instalações da Biblioteca Municipal e Calouste Gulbenkian foram inauguradas em cerimónia oficial a 2 de Abril de 1998. Contou este acto com a presença do Inspector Coordenador do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação, Dr. Francisco Armanda Fernandes, do Presidente da Câmara Municipal, Jorge Gonçalves, do Prior das Freguesias de Peniche, Monsenhor Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, bem como de diversas outras autoridades civis.
A actual gestão da Câmara Municipal continua a apostar na cultura e pretende, ainda dentro do seu mandato, dar o arranque para a construção de novas instalações para a Biblioteca, estas com maior amplitude e estudadas especificamente para o fim em vista.
Assim, obteve para o efeito a aprovação de uma candidatura de contrato-programa para a recuperação e adaptação do edificio da antiga Central Eléctrica de Peniche. O valor do investimento será de cerca de 498.797,90 euros (100 mil contos). A Administração Central comparticipa a obra com 50 par cento do seu custo, sendo o restante suportada pela Município.
A Câmara Municipal vai criar naquele espaço a nova Biblioteca Municipal, integrada na Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, e nela ficará, certamente, incluída a Calouste Gulbenkian, já que esta entidade é o seu maior apoio para a aquisição de livros.
Aguardemos até que se tome realidade.
Peniche, Julho de 2004. Voz do Mar

quarta-feira, maio 17, 2006

A Tuberculose Em Peniche ao Longo dos Anos

Por: Fernando Engenheiro
Embora o grande desenvolvimento desta doença seja conhecido a partir dos princípios do século XIX, a verdade é que parece ser tão velha como o Mundo.
A sua existência está demonstrada em alguns ossos pré-históricos e em múmias egípcias. Mas dois factos principais balizam a sua história trágica: a descoberta do estetoscópio por Laennec e a do bacilo de Koch, em 1882, por Roberto Koch.
Não quer isto dizer, porém, que a doença não tivesse sido bem conhecida e descrita em épocas muito anteriores.
A tuberculose era em 1880 o ‘mal do século” por todo o mundo, com percentagem elevadíssimas.
Angustiado por estes factos Roberto Koch, nascido em 1843, em Lausthal, dedica-se, primeiro mesmo como médico da aldeia, depois como investigador, com os meios da época, a identificar o agente da tuberculose, partindo do principio de que era uma doença infecciosa.
A 24/3/1882, na Sociedade Fisiológica de Berlim, comunica os resultados das suas investigações. A descoberta do bacilo da tuberculose foi o primeiro passo para o combate contra o tremendo flagelo. Trata-se de um “ser” extremamente pequeno, que invade o homem, vivendo como parasita à custa do organismo que por fim mata. Este micróbio vive unicamente nas pessoas ou animais atacados pela tuberculose, em especial do aparelho respiratório.
Ao longo dos anos grande epidemia de tuberculose assolou o nosso País. Nunca denunciaremos suficientemente o terrível inimigo que, em segredo, se foi assenhoreando dos organismos humanos para os ceifar, de ordinário quando eles eram a esperança do lar e da sociedade.
Também em Peniche, e seu concelho, este grande flagelo vitimou largas centenas de seres humanos.
Por maiores investigações que se possam tentar fazer nunca se chegará a saber ao certo o número de vitimas causadas em Peniche por esta terrível enfermidade. No entanto, em Peniche, houve o cuidado de, a partir de 1941, no livro de registo dos enterramentos no cemitério municipal, se indicar a causa da morte na coluna de observações.
E assim que podemos verificar que, de 1941 a 1961, foram sepultados no Cemitério Municipal de Santana, desta Cidade, 251 indivíduos de ambos os sexos e idades diversas vitimas de tuberculose, sendo 100 do sexo feminino e 151 do masculino.
Nestes apontamentos não estão incluídos os doentes que tentaram fazer as suas curas por diversos estabelecimentos hospitalares de outras localidades e que, por não conseguirem atingir os seus objectivos, por lá ficaram para sempre. Estou a lembrar-me por exemplo do Sanatório do Barro, no concelho de Torres Vedras, do Sanatório do Caramulo e de muitos outros. Por là ficaram sepultados por as suas famílias não terem possibilidades económicas para os trasladarem para Peniche.
A luta contra a tuberculose foi grande preocupação das autoridades sanitárias, dos médicos particulares de então e de muitas outras entidades.
Deve-se a Sousa Martins o inicio da campanha a favor da construção de sanatórios, a qual começou pela organização, par ele sugerida à Sociedade de Geografia, de uma expedição cientifica à Serra da Estrela, para o estudo do seu clima e demais condições naturais propicias ao tratamento da doença.
Instalou-se ali um observatório e foi là tratado com êxito um seu cliente que se tornou um apóstolo das virtudes do clima.
Em 1889 a princesa D. Amélia, futura rainha, com D. Maria Emilia Brandão Palha planearam a fundação de um hospital para tuberculosas, inspiradas num hospital criado em França, em 1884. Começou a Rainha, em 1893, por criar o primeiro dispensário português, em Alcântara, bairro próximo do Palácio Real.
Esse dispensário, destinado a crianças, foi dirigido pelo prestigiado clinico e futuro Mestre da História da Medicina, Augusto da Silva Carvalho.
Nele e nas casas das famílias dos que o frequentavam praticou a Rainha, com as suas damas, autêntico e excelente Serviço Social.
No mesmo ano a Duquesa de Palmela criou a primeira Cozinha Económica, a que outras se seguiram, também da sua iniciativa.
Muitas obras de grande vulto se empreenderam naquela época. Destaco aqui, por curiosidade, uma de grande importância social: a inauguração, em 1899, na Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde do Sanatório da Covilhã “Hotel dos Hermínios” — da iniciativa de Alfredo César Henriques, de Almeirim, o primeiro doente que, por conselho de Sousa Martins, se curara na Serra.
No mesmo ano foi criada, por iniciativa e acção persistente, enérgica e inteligente da Rainha D. Amélia, a Assistência Nacional aos Tuberculosos.
É notável o seu programa que incluía colónias de férias, sanatórios marítimos e de altitude, dispensários, cantinas, serviço social, educação sanitária, hospitais de isolamento de incuráveis, etc.
Também, meses depois, orientada por Miguel Bombarda, foi criada a Liga Nacional contra a Tuberculose.
Foi um nunca mais parar com instituições de toda a natureza em prol do combate contra este flagelo. Tomam-se precauções a todos os níveis: a Assembleia Nacional decretou a proibição do matrimónio aos militares tuberculosos do Exercito e da Armada, internados em sanatórios, ou em estâncias climatéricas. Deu-se enorme incremento às obras de captação e canalização de água e à construção de redes de esgoto, beneficiaram-se todos os serviços de Saúde Pública.
Em 1927, com o apoio do Estado, é criada a Assistência aos Funcionários Civis Tuberculosos.
A tuberculose só pôde ser combatida com mais eficiência quando se encarou a doença como qualquer outra contagiosa, atendendo às suas características especiais.
Assim foi considerada na Lei n 2044 de 20/7/1950, prescrevendo a intensificação terapêutica médica e cirúrgica, promovendo a recuperação, mas dando importância fundamental à Medicina Preventiva.
Para isso foram criando centros de diagnóstico e profilaxia, pondo à disposição destes os elementos para permitirem o diagnóstico precoce (provas da tuberculina, rádio-rastreio, análises clínicas e exames médicos).
Logo apôs a publicação daquela Lei o nosso concelho foi contemplado com um edificio de modelo igual a outros que se foram espalhando pelo País, fornecidos pelos Serviços do Ministério da Saúde e Assistência. Para isso foi imposto pelo Estado que a Autarquia pusesse à sua disposição o terreno para a respectiva implantação. Em reunião camarária de 10/8/1953, a Câmara Municipal resolveu adquirir, a José Gago da Silva, uma parcela de terreno com a área de 1.800 metros quadrados ao preço de 10$00 o metro quadrado, perfazendo um total de 18.000$00, em frente ao antigo Paiol da Pólvora, local também conhecido pela área da Lagoinha.

Foi lavrada a escritura no Notário Privativo da C.M.P. entre o comprador, representado pelo seu Presidente, António da Conceição Bento, e o representante do vendedor, com a exibição de procuração, a 5/12/1953.
Sentia-se grande necessidade desta edificação e a Autarquia tomou todas as providências que estavam ao seu alcance. A 27/8/1953, muito antes do terreno estar legalizado, já se estavam a começar as obras, as quais foram concluídas em Fevereiro de 1955.

Também a doação ao Estado do referido terreno só foi formalizada a 12/5/1956, já com o Dispensário em funcionamento.
Concorreu para o lugar de Médico-Director do já Dispensário Antituberculoso (concurso anunciado no Diário de Noticias a 9/5/1955) Renato Pereira Fortes, a exercer funções clínicas em Peniche e que ocupou aquele cargo por largos anos.
Funcionou aquele estabelecimento, exercendo as suas atribuições com regularidade, perto de 20 anos, sendo os seus resultados satisfatórios ao longo daquele periodo.
Quando já não se justificava o seu funcionamento, por falta de doentes com aquela moléstia, para evitar o seu encerramento total, toram transferidos para aquele local, em 1975, os serviços oftalmológicos (Posto Antitracomatoso) que funcionaram na Rua Marechal Gomes Freire de Andrade em Peniche.
Em 1992 a Autarquia adaptou o edificio, depois de uma grande ampliação, a Escola Pré-Primária, sendo esta a sua actual utilização.
APONTAMENTOS diversos
• No Hospital da Misericórdia de Peniche prestaram-se nalguns casos uma restrita assistência a doentes tuberculosos. Fez-se, porém, tal assistência em péssimas condições, dada a promiscuidade daqueles com outros doentes, o que se verificava pela circunstância daquele hospital não ter condições suficientes.
• A aprovação do lugar de Director do Posto Antituberculoso de Peniche, foi homologado por despacho de 1l de Novembro de 1955, publicado no Diário do Governo, II série, n° 280 de 3 de Dezembro do mesmo ano.
• A Assistência Nacional aos Tuberculosos teve isenção de franquia postal, pelo que emitiu, em 1904, selos privativos, com desenho de Domingos Alves do Rego. São dois selos, que diferem na cor, com a legenda “Assistência Nacional aos Tuberculosos”.
• Foi criado em Lisboa, no principio o século, o Instituto D. Amélia, sede da Assistência Nacional aos Tuberculosos.
• Também o Dia da Luta contra a Tuberculose não foi esquecido. Celebrava-se a 24 de Março de cada ano, data em que era costume realizarem-se peditórios a favor da instituição.
• Já no fim deste trabalho veio-me à ideia a colaboração que havia nos hospitais, repartições publicas, teatros, e muito outros lugares públicos, com a colocação naqueles lugares de “escarradores” em esmalte, com liquida desinfectante, para evitarem o péssimo hábito das pessoas, saudáveis ou tisicas, escarrarem no chão, nos pavimentos das habitações e outros locais, com graves riscos de contágio. Era usual, com a mesma finalidade, a colocação nas barbearias de um caixote pequeno em madeira com areia da praia.
Existiam até legendas, de tamanhos variados, espalhada das pelas mais diversos sítios, alertando para o facto de que “escarrar no chão é atentar contra a vida alheia”.
E sobre tudo isto muito mais havia para escrever...
A VOZ DO MAR 1 7 de Dezembro de 2002

Dever de memória

Visto a importância que foi atribuída recentemente pela comunicação social a gripe das aves, penso que é sempre útil de refrescar a nossa memória, e lembrar o que aconteceu não há muitos anos, e que infelizmente pode-se reproduzir novamente talvez com consequencias bastante semelhantes as da tuberculose, para quem tem duvidas é so consultar as estatísticas sobre o numero de mortos derivados à SIDA.

segunda-feira, maio 08, 2006

O Convento do Bom Jesus em Peniche

Fernando engenheiro
Já depois de ter sido nomeado por D. Sebastião, em Abril de 1566, como Vice-Rei da India, D. Luís de Ataíde mandou edificar um convento em Peniche. Estava o 3.° Conde de Atouguia muito ligado a esta zona par laços familiares, sendo bisneto do 2° conde, D. Martinho de Ataide, de quem herdou a titula par carta régia de 4 de Setembro de 1577.
Destinava-se aquele imóvel a acolher elementos da Ordem de S. Francisco de Assis para servir a povo desta região.
Teve esta Ordem muitas conventos, o primeiro dos quais foi o de Bragança, levantado pela próprio Apóstolo, na ano de 1214. Dividia-se em Franciscanos Descalços e Franciscanos Calçados. Estes últimos eram os de Terceira Ordem da Penitência, vulgarmente chamados Borras. Os Franciscanos Descalços dividiam-se ainda em Menores Observantes e Capuchos, ou Menores Reformados.
Os Menores Observantes ainda se subdividiam em quatro famílias: os de S. Francisco da Cidade, com hábito prata e cordão branco; as Xabreganos, com hábito preto e cordão amarelo, os Recoletos e as Missionários Apostólicos do Varatojo.
O Convento do Bom Jesus de Peniche era construído par irmãos Recoletos. obedeciam a uma reforma introduzida per Frei Estevão de Malina e Frei Martinho de Gusmão, aprovada pelo Papa Clemente VII.
Tinham como indumentária, hábito pardo claro, sapato aberto e sem talão, contas ao pescoço e um crucifixo ao peito.
Nesta Casa de Oração teve lugar a primeira missa a 28 de Outubro de 1573.
Foi baptizada com o nome de “Bom Jesus” por ali perto, junto as arribas, existir na época a capela da Bom Jesus de Abalo, que e mar se encarregou de destruir.
Esta comunidade religiosa, talhada conforme as limites da pobreza, nunca excedeu a baliza estipulada pela sua crença.
A Igreja, de uma só nave, de abóbada com seus arcos entremeados, que a faziam mais segura, era suficientemente larga, comprida e com bastante luz.
Também seguia o uso da época: a divisão do cruzeiro da corpo de templo por uma grade rm ferro. O retábulo de altar-mor era constituído por vários santos da Ordem. Era de salientar o Tabernáculo, ou Sacrário de Santissimo Sacramento, em lugar de destaque, junto à área destinada ao santo sacrificio da missa.
Na parte superior, na boca da tribuna, um Santo Cristo Crucificado com as imagens de Maria e São João Evangelista.
Ne meio do lado direito possuía urna formosa imagem de Jesus, com a estatura de três palmos, delicadamente estufada, com sua capa tomada no braço direito, em acção de abençoar. (Orago do Convento).
No nicho da parte esquerda tinha a imagem de S. Francisco de Assis, respeitado como Seráfico Patriarca.
No chamado cruzeiro três Capelas completavam toda a parte do Evangelho, o que também acontecia no lado da Epístola, com imagens em terracota, policromadas e roca.
Também era de notar nos mesmos espaços um painel grande das chagas de S. Francisco, de excelente pintura em tábua bem como um de Nossa Senhora de Monserrate, com o Menino na mão esquerda e uma nau na direita, e um também com dimensões bastante elevadas de Nossa Senhora da Encarnação.
Junto a um destes altares existia uma pequena e excelente cruz que o Secretario do Estado Diogo de Mendonça trazia nas mãos quando veio a sepultar a este Convento.
Possuía esta mesma clausura um claustro com cinco pequenas divisões de colunas por banda e no meio um poço de muita água.
Duas pequenas escadas de pedra davam acesso aos 2 dormitórios que ocupavam o espaço com 15 celas.
Estava bem servido por uma boa e bem ornada casa de livraria, obra do Guardião Frei Salvador do Sacramento.
Dentro do mesmo aglomerado existia uma pequena Sala do Capítulo, com um oratório onde era venerado um bom painel em tábua representando o Nascimento do Filho de Deus.
Todo o pavimento era revestido com sepulturas dos Religiosos que honraram aquela Casa.
Cá fora, junto ao edifício, num talhão destinado a inumações de cadáveres, salientavam-se os seguintes covais, cobertos com pedras tumulares:
— Agostinho Fernandes, e sua mulher e herdeiros, ano de 1595.
— Gaspar Jorge, Irmão dos Padres de S. Francisco, e herdeiros
— 1598. Filipe da Silva, Cavaleiro Fidalgo da Casa de Sua Majestade, e da sua mulher Maria da Fonseca, e herdeiros.
— Capitão Luis Teixeira Franco, familiar do Santo Oficio, e de Brites de Matos, sua mulher, e de todos os seus herdeiros, morreu em o ano de 1665, e Brites de Matos a 5 de Outubro.
— Baltazar Fernandes, barbeiro e cirurgião, Irmão dos Frades de S. Francisco.
Faleceu a 12 de Fevereiro de 1576.
A coxia da Igreja também tinha algumas pedras tumulares, sendo a mais notável a de Francisco Vanda, capitão de mar-e-guerra, e cidadão que foi do Senado de Lisboa, e de sua mulher Maria Ana da Silva. Ele faleceu em Peniche a 2/5/1666.
Chamava a atenção, distintamente, na parede do lado do Evangelho, no presbitério, o sepulcro onde se encontravam os restos mortais do fundador daquele Mosteiro (o Conde de Atouguia D. Luís de Ataíde). Falecido a 9 de Março de 1581, em Goa, foi inumado na Capela-Mor dos Reis Magos.
Mais tarde, depois da consumição do corpo, foi exumado e transladados os seus despojos para este lugar. Tratava-se de um desejo manifestado por aquele Diplomata.
No sentido oposto, estavam do mesmo modo os restos mortais de Frei Francisco de Faro, Pregador, que morreu na peste de 1575 na capela de Nossa Senhora da Vitória (junto ao Cabo Carvoeiro).
A Igreja tinha meias paredes de azulejaria, e todo o tecto em abóbada revestido da mesma cerâmica. As varandas eram cobertas com uma janela/sacada em cada lado, que perfaziam 4.

A porta principal do templo tinha um pequeno alpendre de abóbada que sustentava uma coluna de pedra, para melhor segurança do coro.
O adro era amplo e ao meio era ostentada uma cruz de pedra com o seu calvário. Nela foi esculpido:
“Avé Maria anno de 1674”. (a peanha onde estava colocada a cruz está depositada no Museu Municipal).
A cerca grande ocupava todo o espaço do ado sul, em linha recta à Praia do Abalo, seguia toda a rocha até uns 50 metros antes de chegar ao actual depósito de égua (conhecido por “Filtro”) e seguia, em linha norte/sul, até onde hoje está implantado o Bairro Senhor do Calvário e daí direito ao Mosteiro.
Houve o cuidado de Câmara impor à Ordem Religiosa que a Capela do Bom Jesus do Abalo (junto às arribas do mar) ficasse fora dos muros para ficar ao serviço do povoado.
No seu interior existiam, junto às rochas, 2 pequenas ermidas que ser viam de retiro espiritual, sendo uma delas da invocação de Nossa Senhora da Conceição, fundadas pelo Guardião Padre Frei João de S. Pedro.
Tudo correu bem para as instituições Religiosas até ao dia 27 de Maio de 1834. Um decreto assinado a 29/5/1834 por D. Pedro e pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça, Joaquim António de Aguiar, altera toda a vida da igreja Católica, que enfraqueceu na Sociedade Portuguesa.
Foram incorporados na Fazenda Nacional “os bens dos Conventos, Mosteiros, Colégios, Hospícios e quais quer Casas de Religiosos das Ordens Regulares”. Foram assim extintas todas as ordens religiosas masculinas. Os conventos de freiras permaneceram, mas a sua população toma-se cada vez mais reduzida, porque não é autorizada a admissão de novos membros.
Também nos bateu à porta, no nosso concelho, esta decisão emanada da autoridade soberana.
Poucos dias depois são entregues os bans móveis e imóveis ao Juiz de Fora de Peniche, Gaspar Correia de Lacerda.
Como não lhes interessavam as alfaias religiosas e os restantes ornatos, fizeram deles entrega ao Pároco da Igreja Matriz (Ajuda), para serem distribuídos pelos diversos templos da Vila.
Pelos avaliadores, António Bernardino, Frutuoso Ferreira Viçoso, António da Silva e José Pedro Ribeiro, foi avaliada a Igreja em 600$000 réis — os anexos em 800$000 réis e a cerca em 50$000 réis.
Em 13/3/1842, o Dr. António Pedrosa Barreto, Guarda-Mor de Saúde pede aquele imóvel para servir de cemitério, casa mortuária, lazareto, bem como estação de saúde deste porto.
Mais tarde entrou na posse de particulares e te ve diversas utilidades, sen- do talvez a menos própria fábrica de guanos, nos anos 40 (1940) explorada por Antão da Silva Pires. Actualmente pertence a uma firma de comércio de peixe.
Peniche, Março de 2001.

O Autor Fernando Engenheiro

Transmitir a historia de Peniche não é uma tarefa fácil , todos os habitantes têm a sua própria história, por isso pensei que a pessoa mais indicada para esta tarefa, era certamente o nosso amigo, FERNANDO ENGENHEIRO, a sua competência na matéria é, provavelmente uma das melhores em Peniche.
Agradeço imenso por ter autorizado a publicação de alguns dos seus artigos publicados ao longo dos anos na” Voz do Mar.
Penso e espero, que muitos de nós, depois da leitura de alguns dos seus artigos, terão uma ideia e talvez um certo orgulho em conhecer Peniche e o seu conselho.

domingo, maio 07, 2006

Tema

Complemento do http://cabo-carvoeiro.blogspot.com/ este espaço é exclusivamente dedicado a memoria de Peniche e do seu conselho.