segunda-feira, maio 08, 2006

O Convento do Bom Jesus em Peniche

Fernando engenheiro
Já depois de ter sido nomeado por D. Sebastião, em Abril de 1566, como Vice-Rei da India, D. Luís de Ataíde mandou edificar um convento em Peniche. Estava o 3.° Conde de Atouguia muito ligado a esta zona par laços familiares, sendo bisneto do 2° conde, D. Martinho de Ataide, de quem herdou a titula par carta régia de 4 de Setembro de 1577.
Destinava-se aquele imóvel a acolher elementos da Ordem de S. Francisco de Assis para servir a povo desta região.
Teve esta Ordem muitas conventos, o primeiro dos quais foi o de Bragança, levantado pela próprio Apóstolo, na ano de 1214. Dividia-se em Franciscanos Descalços e Franciscanos Calçados. Estes últimos eram os de Terceira Ordem da Penitência, vulgarmente chamados Borras. Os Franciscanos Descalços dividiam-se ainda em Menores Observantes e Capuchos, ou Menores Reformados.
Os Menores Observantes ainda se subdividiam em quatro famílias: os de S. Francisco da Cidade, com hábito prata e cordão branco; as Xabreganos, com hábito preto e cordão amarelo, os Recoletos e as Missionários Apostólicos do Varatojo.
O Convento do Bom Jesus de Peniche era construído par irmãos Recoletos. obedeciam a uma reforma introduzida per Frei Estevão de Malina e Frei Martinho de Gusmão, aprovada pelo Papa Clemente VII.
Tinham como indumentária, hábito pardo claro, sapato aberto e sem talão, contas ao pescoço e um crucifixo ao peito.
Nesta Casa de Oração teve lugar a primeira missa a 28 de Outubro de 1573.
Foi baptizada com o nome de “Bom Jesus” por ali perto, junto as arribas, existir na época a capela da Bom Jesus de Abalo, que e mar se encarregou de destruir.
Esta comunidade religiosa, talhada conforme as limites da pobreza, nunca excedeu a baliza estipulada pela sua crença.
A Igreja, de uma só nave, de abóbada com seus arcos entremeados, que a faziam mais segura, era suficientemente larga, comprida e com bastante luz.
Também seguia o uso da época: a divisão do cruzeiro da corpo de templo por uma grade rm ferro. O retábulo de altar-mor era constituído por vários santos da Ordem. Era de salientar o Tabernáculo, ou Sacrário de Santissimo Sacramento, em lugar de destaque, junto à área destinada ao santo sacrificio da missa.
Na parte superior, na boca da tribuna, um Santo Cristo Crucificado com as imagens de Maria e São João Evangelista.
Ne meio do lado direito possuía urna formosa imagem de Jesus, com a estatura de três palmos, delicadamente estufada, com sua capa tomada no braço direito, em acção de abençoar. (Orago do Convento).
No nicho da parte esquerda tinha a imagem de S. Francisco de Assis, respeitado como Seráfico Patriarca.
No chamado cruzeiro três Capelas completavam toda a parte do Evangelho, o que também acontecia no lado da Epístola, com imagens em terracota, policromadas e roca.
Também era de notar nos mesmos espaços um painel grande das chagas de S. Francisco, de excelente pintura em tábua bem como um de Nossa Senhora de Monserrate, com o Menino na mão esquerda e uma nau na direita, e um também com dimensões bastante elevadas de Nossa Senhora da Encarnação.
Junto a um destes altares existia uma pequena e excelente cruz que o Secretario do Estado Diogo de Mendonça trazia nas mãos quando veio a sepultar a este Convento.
Possuía esta mesma clausura um claustro com cinco pequenas divisões de colunas por banda e no meio um poço de muita água.
Duas pequenas escadas de pedra davam acesso aos 2 dormitórios que ocupavam o espaço com 15 celas.
Estava bem servido por uma boa e bem ornada casa de livraria, obra do Guardião Frei Salvador do Sacramento.
Dentro do mesmo aglomerado existia uma pequena Sala do Capítulo, com um oratório onde era venerado um bom painel em tábua representando o Nascimento do Filho de Deus.
Todo o pavimento era revestido com sepulturas dos Religiosos que honraram aquela Casa.
Cá fora, junto ao edifício, num talhão destinado a inumações de cadáveres, salientavam-se os seguintes covais, cobertos com pedras tumulares:
— Agostinho Fernandes, e sua mulher e herdeiros, ano de 1595.
— Gaspar Jorge, Irmão dos Padres de S. Francisco, e herdeiros
— 1598. Filipe da Silva, Cavaleiro Fidalgo da Casa de Sua Majestade, e da sua mulher Maria da Fonseca, e herdeiros.
— Capitão Luis Teixeira Franco, familiar do Santo Oficio, e de Brites de Matos, sua mulher, e de todos os seus herdeiros, morreu em o ano de 1665, e Brites de Matos a 5 de Outubro.
— Baltazar Fernandes, barbeiro e cirurgião, Irmão dos Frades de S. Francisco.
Faleceu a 12 de Fevereiro de 1576.
A coxia da Igreja também tinha algumas pedras tumulares, sendo a mais notável a de Francisco Vanda, capitão de mar-e-guerra, e cidadão que foi do Senado de Lisboa, e de sua mulher Maria Ana da Silva. Ele faleceu em Peniche a 2/5/1666.
Chamava a atenção, distintamente, na parede do lado do Evangelho, no presbitério, o sepulcro onde se encontravam os restos mortais do fundador daquele Mosteiro (o Conde de Atouguia D. Luís de Ataíde). Falecido a 9 de Março de 1581, em Goa, foi inumado na Capela-Mor dos Reis Magos.
Mais tarde, depois da consumição do corpo, foi exumado e transladados os seus despojos para este lugar. Tratava-se de um desejo manifestado por aquele Diplomata.
No sentido oposto, estavam do mesmo modo os restos mortais de Frei Francisco de Faro, Pregador, que morreu na peste de 1575 na capela de Nossa Senhora da Vitória (junto ao Cabo Carvoeiro).
A Igreja tinha meias paredes de azulejaria, e todo o tecto em abóbada revestido da mesma cerâmica. As varandas eram cobertas com uma janela/sacada em cada lado, que perfaziam 4.

A porta principal do templo tinha um pequeno alpendre de abóbada que sustentava uma coluna de pedra, para melhor segurança do coro.
O adro era amplo e ao meio era ostentada uma cruz de pedra com o seu calvário. Nela foi esculpido:
“Avé Maria anno de 1674”. (a peanha onde estava colocada a cruz está depositada no Museu Municipal).
A cerca grande ocupava todo o espaço do ado sul, em linha recta à Praia do Abalo, seguia toda a rocha até uns 50 metros antes de chegar ao actual depósito de égua (conhecido por “Filtro”) e seguia, em linha norte/sul, até onde hoje está implantado o Bairro Senhor do Calvário e daí direito ao Mosteiro.
Houve o cuidado de Câmara impor à Ordem Religiosa que a Capela do Bom Jesus do Abalo (junto às arribas do mar) ficasse fora dos muros para ficar ao serviço do povoado.
No seu interior existiam, junto às rochas, 2 pequenas ermidas que ser viam de retiro espiritual, sendo uma delas da invocação de Nossa Senhora da Conceição, fundadas pelo Guardião Padre Frei João de S. Pedro.
Tudo correu bem para as instituições Religiosas até ao dia 27 de Maio de 1834. Um decreto assinado a 29/5/1834 por D. Pedro e pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça, Joaquim António de Aguiar, altera toda a vida da igreja Católica, que enfraqueceu na Sociedade Portuguesa.
Foram incorporados na Fazenda Nacional “os bens dos Conventos, Mosteiros, Colégios, Hospícios e quais quer Casas de Religiosos das Ordens Regulares”. Foram assim extintas todas as ordens religiosas masculinas. Os conventos de freiras permaneceram, mas a sua população toma-se cada vez mais reduzida, porque não é autorizada a admissão de novos membros.
Também nos bateu à porta, no nosso concelho, esta decisão emanada da autoridade soberana.
Poucos dias depois são entregues os bans móveis e imóveis ao Juiz de Fora de Peniche, Gaspar Correia de Lacerda.
Como não lhes interessavam as alfaias religiosas e os restantes ornatos, fizeram deles entrega ao Pároco da Igreja Matriz (Ajuda), para serem distribuídos pelos diversos templos da Vila.
Pelos avaliadores, António Bernardino, Frutuoso Ferreira Viçoso, António da Silva e José Pedro Ribeiro, foi avaliada a Igreja em 600$000 réis — os anexos em 800$000 réis e a cerca em 50$000 réis.
Em 13/3/1842, o Dr. António Pedrosa Barreto, Guarda-Mor de Saúde pede aquele imóvel para servir de cemitério, casa mortuária, lazareto, bem como estação de saúde deste porto.
Mais tarde entrou na posse de particulares e te ve diversas utilidades, sen- do talvez a menos própria fábrica de guanos, nos anos 40 (1940) explorada por Antão da Silva Pires. Actualmente pertence a uma firma de comércio de peixe.
Peniche, Março de 2001.

2 comentários:

Anónimo disse...

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