domingo, janeiro 20, 2008

Os Meios de transporte ao Longo dos Séculos e a Partir de Peniche

Fernand Engenheiro
Durante muitos milhares de anos o homem não conheceu outro meio de transporte e locomoção para além das próprias pernas. Levando vida nómada deslocava-se constantemente de um lugar para outro em busca de alimentos; seus poucos pertences - armas e ferramentas - conduzia-os sobre os ombros ou atados às costas
Até que um dia o homem descobriu a tracção animal. Aos poucos, aprendeu a capturar e domar animais fortes, utilizando-os para transportar-se e a seus objectos.
Durante séculos a evolução dos meios de Locomoção foi lenta. Por alturas da fundação da nossa nacionalidade e até fins da Idade Média quase todas as viagens se faziam já sobre o dorso de animais. Homens e mulheres viajavam a cavalo. Estava-se na época de ouro da sela.
Rodeada e cuidada com o maior dos enlevos, era o meio de transporte por excelência. Surgiu sob diversas formas, todas apostadas em proporcionar a maior comodidade. As chamadas sela galega e sela mourisca eram as mais utilizadas e à segunda se refere o rei D. Duarte no seu Livro da Ensinança de Cavalgar Toda a Sela.
Todavia, para o homem forte e jovem tal maneira de viajar podia ser extremamente agradável, já para as mulheres, velhos e crianças, a sela tornava-se perigosa e incômoda, apesar de todos os cuidados postos na sua confecção.
De experiência em experiência, acabaram por surgir a entrar em moda as portuguesíssimas “andas”, meio de locomoção preferido pelas damas durante muito tempo e sempre utilizado nas viagens mais longas até ao reinado de D. Sebastião. Consistia este imaginoso meio de transporte numa espécie de leito adaptado a dois cavalos caminhando a par e armado entre sólidos varais que lhes assentavam sobre o dorso. Entre fofas e ricas almofadas, foi assim que passou a deslocar-se a fina flor da fidalguia do século XVI.
Depois das pitorescas andas surgiu a “liteira”. Com o seu tejadilho abaulado e dispondo de duas portas, esta espécie de caixa ambulante assentava em dois varais possantes e compridos que, por sua vez, se apoiavam em dois muares, um à frente e outro à retaguarda; atravessou os tempos e assistiu imperturbável ao aparecimento e morte de vários outros meios de transporte.
Com a dominação filipina vieram as estradas e caminhos de Portugal a conhecer os primeiros coches, mais propriamente chamados, nessa época, carrões ou estufas. O primeiro a entrar no país foi trazido por Filipe II em 1581. A época faustosa de D. João V conheceu os mais ricos e opulentos meios de locomoção, tendo as berlindas e coches do rei “Magnânimo” alcançado fama além-fronteiras mercê das suas talhas douradas e formas caprichosas.
Durante os últimos anos do século XVIII e primeiros do século XIX foram vários os meios de transporte que fizeram triunfalmente a sua aparição. A “malaposta”, que surgiu em 1789, foi como que o grande “expresso” da época para as viagens de longo curso. A “sege”, empoleirada sobre duas grandes rodas, foi o ‘ dos velhos tempos do romantismo.
As classes menos abastadas utilizavam a afrancesada “caleche” e havia ainda a particular “traquitana”. E também a “galera”, que mais não era do que uma “sege” de maiores dimensões, assente não em duas mas em quatro rodas, bem como o “trem”, pelo que se podem considerar estes dois meios de transporte os precursores dos trans portes colectivos urbanos.
Debruçando-me ainda no último quartel do século XIX sobre a situação geográfica da Península de Peniche, ao que nos é dado a conhecer não só por documentos (mapas) e relatos pessoais deixados por elementos que nos visitaram, verifico que são bem patentes as dificuldades sentidas para alcançarem o seu interior. A ser-se trans portado por ve de tracção animal entrar ou sair de Peniche era quase uma aventura. Quem os possuía sô os utilizava para uso interno. As suas deslocações para o exterior eram quase sempre com cavalga duras, sobre o dorso dos animais.
Para bem compreendermos o que era difícil entrar em Peniche, a seguir transcrevo uma descrição de Júlio Cesar Machado sobre as viagens no Oeste, publicada em 1996 em livro editado pelo “Pelouro da Cultura” da Câmara Municipal do Bombarral:
“Não é uma coisa fácil, ao chegar a Peniche, atravessar a praia por causa da areia; e é menos fácil ainda ter a certeza de poder entrar na vila por causa da água. . . Vai um pobre homem perfeitamente sossegado da sua vida, sem a menor aspiração a aventuras de jornada, e, quando a sorte o quer, hei-lo em frente de Peniche a dizer adeus para a praça, a fazer perguntas e dar respostas, que nunca são em concordância, por que a bulha do mar leva as palavras, e sem poder entrar por forma alguma na península que em marés cheias se toma perfeitamente em ilha, deixando refrescar os seus muros pelas ondas que lhos cobrem
No livro de lançamentos da décima da vila de Peniche no ano de 1830 foi lançado o novo importo ordinário das cavalgaduras, que perfazem naquele ano 26 com o imposto anual de 1$000 réis por unidade.
Face à necessidade dos seus habitantes terem comunicação com o exterior, com a construção dum troço de estrada na zona designada pelo istmo, direito à ponte, então de madeira, que atravessa o rio da Alagoa (hoje designado por Rio de São Domingos), já era possível a circulação de veículos de tracção animal.
Nos finais do século XIX já funcionava como meio de transporte a “Diligência”, com os seguintes preços: Para Óbidos (servindo os comboios correios): 400 réis. - Para Atouguia da Baleia: 100 réis. - Para Serra de El-Rei: 200 réis. - Para Amoreira: 300 réis. - Para Caldas da Rainha: 500 réis. Tinha partida, da Praça Jacob Rodrigues Pereira, duas ou três vezes por semana. Os embarques eram para os viajantes momentos muito emotivos, não faltando nas despedidas os choros, os abraços e os desejos de feliz jornada.
Na época ainda se viviam muito os medos da vadiagem, os crimes e os roubos pelos trajectos que seguiam de umas povoações para as outras.
Mas foi nos princípios do passado século XX que se iniciou uma profunda transformação nos meios de transporte com a incorporação da máquina de vapor ao caminho-de-ferro e ao barco. E desde então até aos nossos dias o progresso dos meios de transporte foi constante. Em especial, cabe destacar o aparecimento do automóvel (que incorpora o motor de combustão interna) e o dos aviões.
O grande impulso que os transportes registaram na primeira metade do século XX permitiu a ampliação dos mercados, solucionou o abastecimento de matérias-primas à indústria e, portanto, contribuiu para a expansão da produção mercantil. Com isto se confirmou o marco de grande desenvolvimento que experimentariam os intercâmbios internacionais.
Foi a partir da década de 20 (primeiro lustre) que Peniche viu pela. primeira vez os transportes motorizados a substituírem os transportes de veículos de tracção animal.
Foram tempos heróicos. Derrubando as mentalidades, apareceu um José Nabéu a criar a primeira carreira de que Peniche dispôs para Caldas da Rainha tendo, por sua vez, a firma Jacinto & Baltazar assegurado a ligação de Peniche a S. Mamede, com destino à estação de comboio. As camionetas de passageiros eram, tal como as de carga, de carroçaria aberta.
Mas foi também nesta década, mais propriamente em 1924/25, que se formou em Peniche uma das primeiras empresas de transportes públicos do nosso País - a EMPRESA DE TRANSPORTES DE PENICHE, LDA, com um número considerável de sócios. Entre eles:
João Maria da Conceição (João Barnabé), José Bruno (José Fadista), Jacinto Gabriel (Jacinto Cocheiro), José Marques Júnior, Joaquim Duarte Martins e José Júlio Cerdeira. E para assegurar a boa gestão da empresa até foi contratado na Alemanha um técnico competente.
Não havia meios de transporte que resistissem às péssimas condições em que se encontravam as estradas portuguesas, mesmo apôs a criação do Ministério das Obras Públicas, em 1852, onde o então ministro Fontes Pereira de Melo ao tomar conta dessa pasta deu grande incremento à construção e reparação de estradas, cujos percursos macadamizados ainda na época não atingiam as três centenas de quilômetros.
Houve ainda a ideia lançada por Hermínio Prazeres na sessão ordinária de 29/11/1926 da Comissão de Iniciativa de Turismo (Livro de actas da C.I.T., 1926/33) que ‘lembrou a conveniência de se arranjar um vapor para fazer carreira entre esta vila e Lisboa, cujo escritório podia ser o seu. Nada ficou resolvido sobre o assunto’ (Lembro aqui que a via marítima foi o meio de transporte de mercadorias e passageiros utilizado entre Peniche e todo o litoral português, se onde incluíam ilhas adjacentes e províncias ultramarinas com inclusão, na época, do próprio Brasil, com carreiras próprias, comandadas por capitães naturais de Peniche).
Mas foi a partir da década de 30, nos seus últimos anos que, novas empresas surgiram em Peniche em substituição da anterior empresa de camionagem: a “CAPRISTANO E FERREIRA”, com os seus, para a época, luxuosos carros pintados de amarelo escuro com frisos a vermelho, tendo como ponto de partida e chegada a Praça Jacob Rodrigues Pereira, frente a agência de apoio, instalada em dependência no rés do chão de um prédio que o seu proprietário, José Maria de Oliveira, dispensou a titulo de aluguer. Proporcionava deslocações para Caldas da Rainha, onde se situava a sede da empresa, com ramificações para Nazaré, Figueira da Foz, Leiria, Rio Maior e Santarém, tendo uma deslocação diária de Peniche/Lisboa.
Em simultâneo também aqui se fixa, para exploração da linha Sul, a empresa “JOÃO HENRIQUES DOS SANTOS”, com partidas e chegadas no Largo 5 de Outubro, em transportes não inferiores aos da empresa anterior, pintados de cinzento com frisos a vermelho, ligando a Torres Vedras, sede da empresa, com ramificações diversas, tendo como destino principal Lisboa, com chegada no Largo da Anunciada e mais tarde na Rua da Palma (Garagem Navarro).
Novas alterações surgem em meados da década de 50 com a empresa “Capristano e Ferreira” a transformar-se na empresa “CAPRISTANOS” e mais tarde, em 1971 , a empresa “CLARAS”, com a sede em Torres Novas, a tornar-se proprietária das duas anteriores (Capristanos e João Henriques dos Santos), esta última já há algum tempo adquirida por compra pela primeira. Continuou a existir a empresa “Capristanos Turismo”.
Tinham terminal da zona Sul em Lisboa na Rua Cidade de Liverpool , transferido na década de 70 para a Avenida Casai Ribeiro, excepto o “SOL EXPRESSO” que fazia parte do Grupo de Empresas Transportadoras Privadas que tinha o seu terminal na rua de Entre- campos (junto à Praça do Campo Pequeno) e, mais tarde, na Avenida Duque de Avila, 12 (Arco do Cego).
Com as alterações politicas do País verificadas a partir de 1974 as empresas de transportes colectivos foram em grande parte nacionalizadas, mediante indemnizações aos seus proprietários. A empresa CLARAS foi abrangida pela nacionalização e integrada na empresa estatal designada por “RODOVIÁRIA NACIONAL”.
Sentia-se em Peniche necessidade de substituir a acanhada e velha estação que servia os transportes colectivos (um velho armazém situado no Largo Bispo de Mariana) criando condições de conforto e dignidade que servissem utentes e trabalhadores e ao mesmo tempo aliviassem o centro da cidade da circulação dos autocarros.
Começou a Câmara Municipal por proceder, por escritura lavrada a 13/2/1985, à adjudicação à Firma Projectoplano, Consultores Económicos, com sede em Lisboa na Avenida Fontes Pereira de Melo, à elaboração de um projecto destinado ao “CENTRO DE COORDENAÇÃO DE TRANSPORTES DE PENICHE” pelo preço de um milhão trezentos e sessenta mil escudos. Este projecto vina a ser abandonado e substituído por outro mais modesto elaborado pelos Serviços Técnicos Município, em face dos elevados custos da obra prevista e reduzido valor da comparticipação estatal que era possível obter para a sua concretização.
Em reunião realizada no dia 7/8/1991 a Câmara Municipal procedeu à adjudicação definitiva, pelo valor de 39.518.022$00, à Firma Jorge Milar, L.da, com sede na freguesia e Concelho de Pombal, no lugar de Charneca, à empreitada da construção da nova estação rodoviária, a construir na PRAGEIRA, cuja escritura foi lavrada a 9/10/1991 , entre o então Presidente do Município, João Augusto Tavares Barradas e o sócio gerente daquela Firma Manuel Jorge Gonçalves Fernandes.
Em 29/6/1993 procedeu-se à inauguração do “CENTRO COORDENADOR DE TRANSPORTES DE PENICHE”, designação da nova estação rodoviária, com cerimónia simples que consistiu no descerramento duma placa a assinalar o acto ocorrido praticamente ao mesmo tempo em que o Centro entrava ao serviço público. Entre as entidades que ali se encontravam recordamos a presença dos senhores Secretário de Estado das Obras Públicas, Governador Civil do Distrito, Director-Geral da Rodoviária do Tejo, Presidente da Câmara Municipal e Presidente da Assembleia Municipal de Peniche.
A Central permite nos seus oito cais a partida simultânea de outras tantas camionetas e está equipada com diversos serviços de apoio do público. Desafogou-se assim o trânsito e estacionamento na sensível zona da Escola Primária n˚1 e do Mercado Municipal.
Em reunião ordinária de 23/3/1993 a Câmara Municipal de Peniche deliberou adjudicar à Sociedade Anónima “RODOVIÁRIA DO TEJO, SA” a concessão de exploração daquela Central de Camionagem de Peniche, pelo prazo de dez anos, prorrogáveis por iguais períodos de tempo, pelo preço anual de 1.000.000$00 (um milhão de escudos). E da responsabilidade da concessionária a conservação de todas as instalações objecto de concessão, ou seja edifícios, cais de embarque, zonas de parqueamento e respectiva vedação. O respectivo contrato foi objecto de escritura lavrada pelo Notário Privativo da Câmara Municipal em 11/5/1993, outorgando em representação do Município o seu Presidente, João Augusto Tavares Barradas, e em representação da sociedade anónima “Rodoviária do Tejo, SA.” António Marcelino Ferreira Arat e Borges Francisco Justo dos Santos, respectivamente, Presidente e Vogal do respectivo Conselho de Administração

domingo, janeiro 06, 2008

O Comboio para Peniche que nunca chegou a aparecer

Fernando Engenheiro
Foi em 28 de Outubro de 1856 que o nosso País viu pela primeira vez um meio de transporte sobre carris.
Tratava-se da locomotiva que por carris com a extensão de 36 km, entre Lisboa e o Carregado, estava destinada a rebocar carruagens de passageiros e de carga. Logo de seguida a linha continuou até Santarém e mais tarde até à fronteira, “com o desígnio de ligar Portugal com o resto do mundo de que se achava isolado”.
Na época discutia-se se o mais urgente seria ligar Lisboa à Europa se ao Porto. O Ministério das Obras Publicas, criado em 1852, tendo a frente dos seus destinos o então Ministro Fontes Pereira de Melo, encarregou uma comissão de estudar a possibilidade de fazer entroncar uma linha vinda do Porto com a linha do Leste.
Como era de crer, a cerimónia da inauguração da quele primeiro troço realizou-se com grande brilho e despertou a maior curiosidade popular.
A composição era formada por dezasseis carruagens e os seus primeiros utilizadores na viagem que os levou até ao Carregado foram o Rei D. Pedro V, o Cardeal Patriarca de Lisboa e o Cabido Patriarcal além de numerosos convidados.
Apôs a inauguração, ao longo de 50 anos, a um ritmo que nada ficava a dever ao praticado noutros países, prosseguiu em Portugal a construção duma rede ferroviária que iria finalmente dotar o País dum poderoso factor de desenvolvimento geográfico no extremo da Península.
Estavam os olhos postos nos caminhos de ferro mas quanto a estradas pouco ou nada se fazia. Naquele tempo as estradas de acesso a Peniche - como aliás sucedia a quase todas do País encontravam-se praticamente intransitáveis, num estado de abandono que arruinava a economia regional. Impediam o intercâmbio das populações e atrofiavam de forma muito sensível as actividades económicas da zona litoral da Estremadura.
Peniche, lesada desde sempre quanto a meios de transporte para o exterior, tinha que se valer da via marítima para resolver grande parte dos seus problemas de comunicação. Surgia agora uma oportunidade: “a via férrea”.
Resolveu a Câmara Municipal de então, em sessão ordinária de 15/12/1904, representar a Sua Majestade rogando-lhe o seu alto apoio para o deferimento de um pedido da construção de uma linha férrea de tracção eléctrica ou a vapor, sem dano algum para o Estado, que partindo da linha de Oeste, entre as estações de Pero Negro e Dois Portos, seguiria pelo Vale da Tourrinha, Azoeira, S. Mamede, Torres Vedras, Ponte de Rol, Lourinhã e Atouguia da Baleia, terminando em Peniche.
Entretanto, a 17/4/1905, a Edilidade resolveu pedir ao Director Geral da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses “para que seja creado no lugar da Dagorda, Concelho de Obidos, um apiadeiro, pois que esse melhoramento era de grande utilidade para os povos deste Concelho trazendo-lhes inúmeras vantagens”.
Novas alterações, com novos projectos, são apresentadas a par- tir de 1909. Desta vez a Câmara resolveu representar ao Governo de Sua Majestade pedindo a construção da linha de Setil a Peniche, natural prolongamento da linha de Vendas Novas.
Não faltaram concelhos interessados e favor des- ta obra tais como: Alenquer, Cartaxo, Santarém, Rio Maior, Bombarral e até Obidos. Dado o enorme desenvolvimento do comercio de pescarias em Peniche seria grande melhoramento para toda a região, tornando tudo mais fácil.
Os seus representantes junto do Governo lutaram para que o assunto tivesse êxito, esforços que se prolongaram em todo este processo até 1915, sem qualquer resolução. Os tempos eram difíceis, dadas as grandes alterações políticas verificadas no País: tinha-se dado a implantação da Republica a 5/10/1910.
Depois de alguns anos de silêncio, a partir de Março de 1926, foi constituída uma comissão, composta pelas mais cotadas individualidades de Peniche e da região, a fim de se avistar com a Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses a quem foram apresentar a ideia da construção duma linha férrea, que ligasse a Vila de Peniche à povoação da Dagorda, alegando a referida comissão o péssimo estado das estradas, o que muito vinha contribuindo para que Peniche não pudesse progredir.
Desta comissão faziam parte, entre outros: Frederico Pinto Basto, Dr. João Batista Frazão, Luis da Gama Marques Leal, José António Judice Fialho, Dr. Tiago Sales, Coronel Amílcar Mota, Arquitecto Paulino Montez, António Andrade, Dr. Francisco Seia, Pedro Monteiro, Coronel Costa Pereira, Hermínio Prazeres, António Luís Pereira Montez, Benito Garcia, Ramiro de Matos Bilhau, Carlos de Oliveira e Tavares de Almeida. Este pequeno troço Peniche/Dagorda era o mais viável e a única alternativa que lhes dava confiança, sendo a única orientação a tomar para conseguirem aquele tão almejado melhoramento, atendendo a que, devido à fraca situação do Pais, também não nada havia a esperar do Estado.
Pairava então nos espírito dos membros da Comissão a ideia de um empréstimo e de um contrato de construção e exploração feito com a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Possivelmente a grande contribuição vinha das firmas conserveiras que se haviam instalado em Peniche e que estavam bastante interessadas no assunto.
Isolados como nos encontrávamos pelas péssimas vias de comunicação de que sempre dispusemos, entenderam na época que qualquer dos traçados em projecto deveria interessar igualmente ao desenvolvimento industrial e comercial desta vila e concelho e constituiria importante enriquecimento desta tão desprezada região.
Por outro ado havia uma luz ao fundo do túnel. Depois de uma reunião para o efeito realizada na Câmara Municipal do Bombarral e para o qual a Autarquia foi convidada a assistir, organizou-se a Federação das Câmaras de Alenquer, Cadaval, Bombarral, Lourinhã e Peniche que, do Parlamento, já tinha conseguido a necessária autorização para a construção da linha férrea Carregado-Peniche, ou Vila Franca Peniche, não tendo sido possível até então levar a efeito este melhoramento por as condições económicas do País não permitirem ainda a formação de empresas que se abalançassem à sua exploração.
Mais um fracasso. Nada se adiantou e o País entrou numa nova era governamental na sequência da revolução militar de 28 e Maio chefiada por Gomes da Costa. O Dr. António de Oliveira Salazar aceitou a pasta de Ministro das Finanças e do ministério defraudado que recebeu pouco já se podia esperar. Aguardaram-se novas oportunidades.
E digna de notar a perseverança e a coragem dos homens que tiveram tal sonho. Lembro aqui: Joaquim de Barros Vala, José Gonçalves dos Santos, Torquato de Jesus Leitão, Manuel Rodrigues Coelho, António Mateus Dias, Hermano dos Santos e António Fortunato Gomes que, ainda a 27/6/1929 (3 anos depois), compareceram na Estação do Rossio a fim de, com as forças vivas de outros concelhos lesados com as medidas tomadas quanto a vias de comunicação, apresentar ao Governo o seu veemente protesto.
Nova luta pelo comboio se fez sentir em Abril de 1948, que não passou ao ado em toda a região,
com novo pedido ao Ministério das Obras Públicas a quem foi entregue uma representação pedindo a construção da via férrea Rio Maior-Peniche.
Até hoje estamos a aguardar a satisfação de uma petição com 60 anos.
Peniche, Dezembro de 2007.