Foi em 28 de Outubro de 1856 que o nosso País viu pela primeira vez um meio de transporte sobre carris.
Tratava-se da locomotiva que por carris com a extensão de 36 km, entre Lisboa e o Carregado, estava destinada a rebocar carruagens de passageiros e de carga. Logo de seguida a linha continuou até Santarém e mais tarde até à fronteira, “com o desígnio de ligar Portugal com o resto do mundo de que se achava isolado”.
Na época discutia-se se o mais urgente seria ligar Lisboa à Europa se ao Porto. O Ministério das Obras Publicas, criado em 1852, tendo a frente dos seus destinos o então Ministro Fontes Pereira de Melo, encarregou uma comissão de estudar a possibilidade de fazer entroncar uma linha vinda do Porto com a linha do Leste.
Como era de crer, a cerimónia da inauguração da quele primeiro troço realizou-se com grande brilho e despertou a maior curiosidade popular.
A composição era formada por dezasseis carruagens e os seus primeiros utilizadores na viagem que os levou até ao Carregado foram o Rei D. Pedro V, o Cardeal Patriarca de Lisboa e o Cabido Patriarcal além de numerosos convidados.
Apôs a inauguração, ao longo de 50 anos, a um ritmo que nada ficava a dever ao praticado noutros países, prosseguiu em Portugal a construção duma rede ferroviária que iria finalmente dotar o País dum poderoso factor de desenvolvimento geográfico no extremo da Península.
Estavam os olhos postos nos caminhos de ferro mas quanto a estradas pouco ou nada se fazia. Naquele tempo as estradas de acesso a Peniche - como aliás sucedia a quase todas do País encontravam-se praticamente intransitáveis, num estado de abandono que arruinava a economia regional. Impediam o intercâmbio das populações e atrofiavam de forma muito sensível as actividades económicas da zona litoral da Estremadura.
Peniche, lesada desde sempre quanto a meios de transporte para o exterior, tinha que se valer da via marítima para resolver grande parte dos seus problemas de comunicação. Surgia agora uma oportunidade: “a via férrea”.
Resolveu a Câmara Municipal de então, em sessão ordinária de 15/12/1904, representar a Sua Majestade rogando-lhe o seu alto apoio para o deferimento de um pedido da construção de uma linha férrea de tracção eléctrica ou a vapor, sem dano algum para o Estado, que partindo da linha de Oeste, entre as estações de Pero Negro e Dois Portos, seguiria pelo Vale da Tourrinha, Azoeira, S. Mamede, Torres Vedras, Ponte de Rol, Lourinhã e Atouguia da Baleia, terminando em Peniche.
Entretanto, a 17/4/1905, a Edilidade resolveu pedir ao Director Geral da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses “para que seja creado no lugar da Dagorda, Concelho de Obidos, um apiadeiro, pois que esse melhoramento era de grande utilidade para os povos deste Concelho trazendo-lhes inúmeras vantagens”.
Novas alterações, com novos projectos, são apresentadas a par- tir de 1909. Desta vez a Câmara resolveu representar ao Governo de Sua Majestade pedindo a construção da linha de Setil a Peniche, natural prolongamento da linha de Vendas Novas.
Não faltaram concelhos interessados e favor des- ta obra tais como: Alenquer, Cartaxo, Santarém, Rio Maior, Bombarral e até Obidos. Dado o enorme desenvolvimento do comercio de pescarias em Peniche seria grande melhoramento para toda a região, tornando tudo mais fácil.
Os seus representantes junto do Governo lutaram para que o assunto tivesse êxito, esforços que se prolongaram em todo este processo até 1915, sem qualquer resolução. Os tempos eram difíceis, dadas as grandes alterações políticas verificadas no País: tinha-se dado a implantação da Republica a 5/10/1910.
Depois de alguns anos de silêncio, a partir de Março de 1926, foi constituída uma comissão, composta pelas mais cotadas individualidades de Peniche e da região, a fim de se avistar com a Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses a quem foram apresentar a ideia da construção duma linha férrea, que ligasse a Vila de Peniche à povoação da Dagorda, alegando a referida comissão o péssimo estado das estradas, o que muito vinha contribuindo para que Peniche não pudesse progredir.
Desta comissão faziam parte, entre outros: Frederico Pinto Basto, Dr. João Batista Frazão, Luis da Gama Marques Leal, José António Judice Fialho, Dr. Tiago Sales, Coronel Amílcar Mota, Arquitecto Paulino Montez, António Andrade, Dr. Francisco Seia, Pedro Monteiro, Coronel Costa Pereira, Hermínio Prazeres, António Luís Pereira Montez, Benito Garcia, Ramiro de Matos Bilhau, Carlos de Oliveira e Tavares de Almeida. Este pequeno troço Peniche/Dagorda era o mais viável e a única alternativa que lhes dava confiança, sendo a única orientação a tomar para conseguirem aquele tão almejado melhoramento, atendendo a que, devido à fraca situação do Pais, também não nada havia a esperar do Estado.
Pairava então nos espírito dos membros da Comissão a ideia de um empréstimo e de um contrato de construção e exploração feito com a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Possivelmente a grande contribuição vinha das firmas conserveiras que se haviam instalado em Peniche e que estavam bastante interessadas no assunto.
Isolados como nos encontrávamos pelas péssimas vias de comunicação de que sempre dispusemos, entenderam na época que qualquer dos traçados em projecto deveria interessar igualmente ao desenvolvimento industrial e comercial desta vila e concelho e constituiria importante enriquecimento desta tão desprezada região.
Por outro ado havia uma luz ao fundo do túnel. Depois de uma reunião para o efeito realizada na Câmara Municipal do Bombarral e para o qual a Autarquia foi convidada a assistir, organizou-se a Federação das Câmaras de Alenquer, Cadaval, Bombarral, Lourinhã e Peniche que, do Parlamento, já tinha conseguido a necessária autorização para a construção da linha férrea Carregado-Peniche, ou Vila Franca Peniche, não tendo sido possível até então levar a efeito este melhoramento por as condições económicas do País não permitirem ainda a formação de empresas que se abalançassem à sua exploração.
Mais um fracasso. Nada se adiantou e o País entrou numa nova era governamental na sequência da revolução militar de 28 e Maio chefiada por Gomes da Costa. O Dr. António de Oliveira Salazar aceitou a pasta de Ministro das Finanças e do ministério defraudado que recebeu pouco já se podia esperar. Aguardaram-se novas oportunidades.
E digna de notar a perseverança e a coragem dos homens que tiveram tal sonho. Lembro aqui: Joaquim de Barros Vala, José Gonçalves dos Santos, Torquato de Jesus Leitão, Manuel Rodrigues Coelho, António Mateus Dias, Hermano dos Santos e António Fortunato Gomes que, ainda a 27/6/1929 (3 anos depois), compareceram na Estação do Rossio a fim de, com as forças vivas de outros concelhos lesados com as medidas tomadas quanto a vias de comunicação, apresentar ao Governo o seu veemente protesto.
Nova luta pelo comboio se fez sentir em Abril de 1948, que não passou ao ado em toda a região,
com novo pedido ao Ministério das Obras Públicas a quem foi entregue uma representação pedindo a construção da via férrea Rio Maior-Peniche.
Até hoje estamos a aguardar a satisfação de uma petição com 60 anos.
Peniche, Dezembro de 2007.
Tratava-se da locomotiva que por carris com a extensão de 36 km, entre Lisboa e o Carregado, estava destinada a rebocar carruagens de passageiros e de carga. Logo de seguida a linha continuou até Santarém e mais tarde até à fronteira, “com o desígnio de ligar Portugal com o resto do mundo de que se achava isolado”.
Na época discutia-se se o mais urgente seria ligar Lisboa à Europa se ao Porto. O Ministério das Obras Publicas, criado em 1852, tendo a frente dos seus destinos o então Ministro Fontes Pereira de Melo, encarregou uma comissão de estudar a possibilidade de fazer entroncar uma linha vinda do Porto com a linha do Leste.
Como era de crer, a cerimónia da inauguração da quele primeiro troço realizou-se com grande brilho e despertou a maior curiosidade popular.
A composição era formada por dezasseis carruagens e os seus primeiros utilizadores na viagem que os levou até ao Carregado foram o Rei D. Pedro V, o Cardeal Patriarca de Lisboa e o Cabido Patriarcal além de numerosos convidados.
Apôs a inauguração, ao longo de 50 anos, a um ritmo que nada ficava a dever ao praticado noutros países, prosseguiu em Portugal a construção duma rede ferroviária que iria finalmente dotar o País dum poderoso factor de desenvolvimento geográfico no extremo da Península.
Estavam os olhos postos nos caminhos de ferro mas quanto a estradas pouco ou nada se fazia. Naquele tempo as estradas de acesso a Peniche - como aliás sucedia a quase todas do País encontravam-se praticamente intransitáveis, num estado de abandono que arruinava a economia regional. Impediam o intercâmbio das populações e atrofiavam de forma muito sensível as actividades económicas da zona litoral da Estremadura.
Peniche, lesada desde sempre quanto a meios de transporte para o exterior, tinha que se valer da via marítima para resolver grande parte dos seus problemas de comunicação. Surgia agora uma oportunidade: “a via férrea”.
Resolveu a Câmara Municipal de então, em sessão ordinária de 15/12/1904, representar a Sua Majestade rogando-lhe o seu alto apoio para o deferimento de um pedido da construção de uma linha férrea de tracção eléctrica ou a vapor, sem dano algum para o Estado, que partindo da linha de Oeste, entre as estações de Pero Negro e Dois Portos, seguiria pelo Vale da Tourrinha, Azoeira, S. Mamede, Torres Vedras, Ponte de Rol, Lourinhã e Atouguia da Baleia, terminando em Peniche.
Entretanto, a 17/4/1905, a Edilidade resolveu pedir ao Director Geral da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses “para que seja creado no lugar da Dagorda, Concelho de Obidos, um apiadeiro, pois que esse melhoramento era de grande utilidade para os povos deste Concelho trazendo-lhes inúmeras vantagens”.
Novas alterações, com novos projectos, são apresentadas a par- tir de 1909. Desta vez a Câmara resolveu representar ao Governo de Sua Majestade pedindo a construção da linha de Setil a Peniche, natural prolongamento da linha de Vendas Novas.
Não faltaram concelhos interessados e favor des- ta obra tais como: Alenquer, Cartaxo, Santarém, Rio Maior, Bombarral e até Obidos. Dado o enorme desenvolvimento do comercio de pescarias em Peniche seria grande melhoramento para toda a região, tornando tudo mais fácil.
Os seus representantes junto do Governo lutaram para que o assunto tivesse êxito, esforços que se prolongaram em todo este processo até 1915, sem qualquer resolução. Os tempos eram difíceis, dadas as grandes alterações políticas verificadas no País: tinha-se dado a implantação da Republica a 5/10/1910.
Depois de alguns anos de silêncio, a partir de Março de 1926, foi constituída uma comissão, composta pelas mais cotadas individualidades de Peniche e da região, a fim de se avistar com a Administração da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses a quem foram apresentar a ideia da construção duma linha férrea, que ligasse a Vila de Peniche à povoação da Dagorda, alegando a referida comissão o péssimo estado das estradas, o que muito vinha contribuindo para que Peniche não pudesse progredir.
Desta comissão faziam parte, entre outros: Frederico Pinto Basto, Dr. João Batista Frazão, Luis da Gama Marques Leal, José António Judice Fialho, Dr. Tiago Sales, Coronel Amílcar Mota, Arquitecto Paulino Montez, António Andrade, Dr. Francisco Seia, Pedro Monteiro, Coronel Costa Pereira, Hermínio Prazeres, António Luís Pereira Montez, Benito Garcia, Ramiro de Matos Bilhau, Carlos de Oliveira e Tavares de Almeida. Este pequeno troço Peniche/Dagorda era o mais viável e a única alternativa que lhes dava confiança, sendo a única orientação a tomar para conseguirem aquele tão almejado melhoramento, atendendo a que, devido à fraca situação do Pais, também não nada havia a esperar do Estado.
Pairava então nos espírito dos membros da Comissão a ideia de um empréstimo e de um contrato de construção e exploração feito com a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Possivelmente a grande contribuição vinha das firmas conserveiras que se haviam instalado em Peniche e que estavam bastante interessadas no assunto.
Isolados como nos encontrávamos pelas péssimas vias de comunicação de que sempre dispusemos, entenderam na época que qualquer dos traçados em projecto deveria interessar igualmente ao desenvolvimento industrial e comercial desta vila e concelho e constituiria importante enriquecimento desta tão desprezada região.
Por outro ado havia uma luz ao fundo do túnel. Depois de uma reunião para o efeito realizada na Câmara Municipal do Bombarral e para o qual a Autarquia foi convidada a assistir, organizou-se a Federação das Câmaras de Alenquer, Cadaval, Bombarral, Lourinhã e Peniche que, do Parlamento, já tinha conseguido a necessária autorização para a construção da linha férrea Carregado-Peniche, ou Vila Franca Peniche, não tendo sido possível até então levar a efeito este melhoramento por as condições económicas do País não permitirem ainda a formação de empresas que se abalançassem à sua exploração.
Mais um fracasso. Nada se adiantou e o País entrou numa nova era governamental na sequência da revolução militar de 28 e Maio chefiada por Gomes da Costa. O Dr. António de Oliveira Salazar aceitou a pasta de Ministro das Finanças e do ministério defraudado que recebeu pouco já se podia esperar. Aguardaram-se novas oportunidades.
E digna de notar a perseverança e a coragem dos homens que tiveram tal sonho. Lembro aqui: Joaquim de Barros Vala, José Gonçalves dos Santos, Torquato de Jesus Leitão, Manuel Rodrigues Coelho, António Mateus Dias, Hermano dos Santos e António Fortunato Gomes que, ainda a 27/6/1929 (3 anos depois), compareceram na Estação do Rossio a fim de, com as forças vivas de outros concelhos lesados com as medidas tomadas quanto a vias de comunicação, apresentar ao Governo o seu veemente protesto.
Nova luta pelo comboio se fez sentir em Abril de 1948, que não passou ao ado em toda a região,
com novo pedido ao Ministério das Obras Públicas a quem foi entregue uma representação pedindo a construção da via férrea Rio Maior-Peniche.
Até hoje estamos a aguardar a satisfação de uma petição com 60 anos.
Peniche, Dezembro de 2007.
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