terça-feira, setembro 30, 2008

O Farol do Cabo Carvoeiro ao longo dos anos

Local Península de Peniche
Altura 27 m
construído em: 1790
Engenheiro: Castanheira das Neves
Alcance: 15 milhas
Coordenadas : Latitude 39° 21' 54” Norte
Longitude 9° 22' 45” Oeste
Automatização 1988
elevação/nível do mar 57m
Optica: Tambor de ópticas seladas Fresnel






O Farol do Cabo Carvoeiro faz parte do grupo de seis faróis mandados edificar pelo alvará pombalino de 1 de Fevereiro de 1758 que criou o Serviço de Faróis em Portugal. Entrou em funcionamento em 1790, sendo um dos mais antigos da costa portuguesa.
A sua torre original, de secção quadrada com 20,9 metros de altura, era constituída por três corpos, sendo o da base um tronco de pirâmide, encimado por dois paralelepípedos. No seu topo estava instalada um lanterna de oito faces com 8,2 metros de altura. Junto da torre existiam alguns edifícios e uma igreja que em 1865 se encontrava em ruínas e era identificada como sendo a Ermida de N. Sª. da Vitória, sobre a qual consta ter existido uma luz para guiar os navegantes.
Pouco se sabe do seu equipamento inicial embora se imagine que devia consistir de um conjunto de candeeiros de Argand com reflectores parabólicos, semelhante aos utilizados noutros faróis seus contemporâneos. Era precisamente uma árvore com 16 candeeiros de Argand que o equipavam, de acordo com uma descrição do Engº Hidrógarfo Pereira da Silva em 1865.
A “Comissão de Pharois e Balisas” incumbida em 1881 de elaborar um “Plano de Alumiamento das Costas, Portos e Barras do Continente e Ilhas Adjace ntes”, considerou o farol em muito mau estado e determina a sua reedificação .
Um Aviso aos Navegantes de 1 de Fevereiro de 1886 indicava que o novo farol estava pronto, com uma torre de 20,6 metros encimada por uma lanterna de 5 metros de altura por 2,5 de diâmetro, estava equipado com um aparelho óptico de 3ª Ordem, provido de um candeeiro a petróleo de três torcidas, apresentando uma luz fixa vermelha com cerca de 17 milhas de alcance, o que, não sendo elevado, era suficiente pois este apenas serve quem navega nas proximidades do canal entre as Berlengas e Peniche, residindo a necessidade de maior alcance na Berlenga, situada 5,5 milhas a oeste deste.
Em 1886 foi dotado de um sinal sonoro constituído por uma trombeta de palhetas, activado por ar comprimido armazenado em grandes reservatórios para onde era carregado através de um compressor a vapor de 4 cavalos. Este sinal era estabelecido pelos faroleiros em condições de visibilidade reduzida, sendo actualmente um sistema electroacústico activado por um detector automático de nevoeiro.
O aparelho lenticular de 3º Ordem foi substituído em 1923 por um girante de 4ª Ordem, passando a apresentar quatro relâmpagos em substituição da luz fixa, mas mantendo a cor vermelha. A fonte de energia do aparelho iluminante passou a ser o gás em 1947 e em 1952 foi instalada a lâmpada eléctrica.
No ano de 1949 foi montado no recinto, um radiofarol, que viria a ser extinto em 2001 por ter deixado de ser útil à navegação.
O farol foi automatizado, em 1988 com a instalação de um novo aparelho óptico/ /iluminante composto de um tambor com ópticas seladas. Este sistema consiste de um conjunto de ópticas seladas do tipo das utilizadas nos automóveis, fixas nas faces de um prisma hexagonal, apresentando uma baixa relação alcance/consumo.
O farol é guarnecido por oito faroleiros que, além de manterem o assinalamento marítimo da região, guarnecem desde 1975 o Farol da Berlenga, em grupos de dois e por períodos de uma semana.

Texto extraído do site: http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_jan2004/pag_35.html

terça-feira, setembro 23, 2008

Peniche Avenida do Mar Ontem & Hoje & Portinho Velho

1920
1920
25 DEZ 1949
Hoje

sábado, setembro 20, 2008

QUEM FOI FRANCISCO DE JESUS SALVADOR

Por: Fernando Engenheiro
Seu pai, MANUEL SALVADOR DA SILVA, nasceu em Peniche, na freguesia de Nossa Senhora da Ajuda a 6/4/1891 e faleceu a 4/6/1951. Era filho de Joaquim Salvador da Silva, marítimo e de Lúcia de Jesus Machado, doméstica.
Com ligação à vida marítima desde a sua infância, Manuel Salvador ao completar a idade própria para servir nas fileiras, passando ao lado das primeiras letras no ensino primário, teve a oportunidade de, a 13/6/1911, ingressar como tripulante do barco salva-vidas de Peniche de Baixo dando assim cumprimento aos deveres militares ao abrigo do Art° 14 - § único - do Decreto de 26/5/1911. A Estação de Socorros a Náufragos estava instalada num barracão construído em madeira em frente do bico nascente/norte da Fortaleza, no antigo Portinho de Revez.
Desamparado do calor materno, ainda de tenra idade ficou órfão. Seguindo os passos de seu pai, único ascendente que lhe restava, a sua vida foi o mar.
Com muito trabalho e protegido pelo factor sorte, foi mestre de caíques, depois de traineiras e, ainda muito novo, armador, o que o levou a ser considerado um dos mais bem conceituados e respeitados da praça de Peniche.
Manuel Salvador casou em 1912, com 21 anos de idade, no dia 24 de Julho (dia em que a Igreja Católica inclui no calendário litúrgico a celebração da festa de Santa Cristina, Virgem e Mártir), com Cristina Martins Salvador, de 19 anos de idade, nascida em Peniche a 21/3/1893, filha de Francisco Martins, calafate, e de Albertina de Jesus Martins.
Atendendo à sua situação militar, pois não tinha qual quer remuneração pelo serviço público que estava a cumprir, não lhe era possível ter casa própria. Seus sogros compartilharam consigo sua habitação na rua Elias Garcia, nasce o varão da familia, FRANCISCO DE JESUS SALVADOR. Poucos dias depois do seu nascimento foi baptizado na Igreja Paroquial de S. Pedro, tendo como padrinhos seus avôs maternos.
A sua mãe coube a tarefa de ajudar como rendeira (rendilheira) a suportar as despesas do seu lar e, como ainda hoje acontece em todo o ambiente marítimo, é à mãe que cabe ter o cuidado de encaminhar seus filhos para sítios apropriados à sua futura cultura, educação e bem estar. Na idade própria para aprender as primeiras letras, depois da catequese, frequentou a escola primária n°1 de Peniche (agora vulgarmente conhecida entre nós por “Escola Velha”), onde concluiu o exame de instrução primária do 2° grau (Quarta Classe) no dia 18/7/1928 com a aprovação de 15 valores, dada pelos examinadores D. Urbana Trindade (Presidente do Júri) e Francisco Maria Freire e D. Maria Angélica Martins (Vogais), sendo o mes tre que o preparou ao longo dos quatro anos lectivos (da 1° à 4° classe) Francisco Maria Freire.
Aos 19 anos de idade ao dar os primeiros passos no cumprimento dos deveres militares, na Câmara Municipal de Peniche, apresenta-se como empregado no comércio e tendo como habilitações literárias o 2° grau da Instrução Primária.
Na verdade no ano lectivo de 1936-37, com a média de 13 valores, concluiu o Curso de Comércio na Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro, em Caldas da Rainha.
No ano que se seguiu à conclusão do seu curso trabalhou, em 1937-39, como professor de Caligrafia, Contabilidade e Correspondência Comercial no Instituto D. Luís de Ataíde, em Peniche, estabelecimento de ensino que existiu na Rua Almirante Reis, actual Avenida do Mar.
Na mesma época, começou por se ligar aos interesses da Terra como membro da Comissão Municipal de Turismo, com grande êxito, nos anos que se seguiram 1937/39 e 1940/1949 (com alguns intervalos).
Seguindo os passos de seu pai, os seus bons conselhos e o seu exemplo, tornou-se armador de pesca com a traineira “Lilés” (a mão e o grande apoio de seu pai, explorando o seu saber, estava là). Foi, com êxito, proprietário de diversas traineiras ao longo dos tempos: “Campeão” e “Atleta” e coproprietário das traineiras “Sansão e “Desportista”. Foi também sócio gerente de uma firma de atuneiros sediada em Aveiro.
Em 21/8/1943, com 28 anos de idade, Francisco de Jesus Salvador celebrou o seu matrimónio, na Paroquial de S. Nicolau, na cidade de Santarém, com Carlota Maria da Silveira Pinto da França, de 23 anos de idade, nascida a 23/9/1919 na Vila de Mafra, filha de Bento da França Pinto de Oliveira e de Emilia Albertina Cristiano da Silveira. A familia de sua futura esposa vinha passar férias de veraneio a Peniche desde 1938. Justifica-se o casamento em Santarém dado que a sua noiva ali residia, desempenhando seu pai as funções de Comandante do Quartel de Cavalaria daquela cidade.
o distinto oficial seu sogro, na década de 50, com patente de Coronel, exerceu as funções de Chefe da Casa Militar do Presidente da Republica Portuguesa, Francisco Higinio Craveiro Lopes. Era descendente do l° Conde da Fonte Nova, Bento da França Pinto de Oliveira, nascido a 6/11/1793 e falecido a 14/12/1852, a quem sucedeu seu filho, com o titulo de 2° Conde, Luis Paulino de Oliveira Pinto da França, falecido a 9/5/1888, e outros que lhe sucederam.
Francisco Salvador, sempre tratado com muito carinho por aqueles que o rodeavam por “Senhor Chico Salvador”, após o casamento fixa residência numa casa, de arquitectura muito apreciada na época, mandada construir por seu pai, possivelmente como dote de casamento, nos novos arruamentos do Mercado Municipal (na actual Rua Arquitecto Paulino Montez).
Suas irmãs, que se seguiram ao seu nascimento, Ivone Salvador, Gisela Salvador e Madalena Salvador, também foram contempladas pelos seus pais com as suas habitações, aquando dos seus casamentos.
Do enlace matrimonial de Francisco Salvador e Carlota Bento da França nasceram, além do primeiro filho, Manuel Bento Pinto da França Salvador, falecido com apenas dois dias de vida: Helena Maria Pinto da França Salvador, nascida a 29/5/1944 - Maria Cristina Pinto da França Salvador, nascida a 28/3/1947 e Francisco Manuel Pinto da França Salvador, nascido a 17/11/1950.
A sua situação profissional, aliada ao facto de então em Peniche só serem possíveis estudos até ao 2° ano do Liceu, levou-o a optar por arranjar em Lisboa uma segunda habitação onde os filhos puderam completar os seus estudos desde 1959.
Ao longo da sua vida, sempre que lhe era possível, como grande amante que era da fotografia e do cinema, expôs diversas vezes e obteve um 2° prémio num Concurso promovido pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo) e diversas menções honrosas em vários outros concursos. Realizou uma curta-metragem de animação que foi projectada em primeira mão na Mostra de Cinema de Animação do Estoril. Igualmente se dedicou à pintura e aguarela, embora sem grande expressão. Filatelista de mérito, angariou vasta colecção de selos nos temas: mar e bancos, e generalista nacional.
Recordando o seu tempo de jovem é de referir que se dedicou com bastante sucesso à prática do ténis, modalidade onde obteve diversos prémios em concursos realizados em Peniche, nas Caldas da Rainha e outras localidades, e que praticou, embora com menos assiduidade nos últimos tempos, até aos seus sessenta anos.
Como membro da Comissão Municipal de Turismo em diversas ocasiões, participou na organização de numerosos concursos de pesca e outros eventos.
Aos 53 anos de idade estava em plena actividade desempenhando os cargos de Director do Grémio dos Armadores da Pesca da Sardinha; Vogal da Junta Disciplinar da Corporação da Pesca e Conservas; Representante da Corporação da Pesca e Conservas no Conselho Técnico das Escolas de Pesca e na Junta Central dos Portos. Isto no plano nacional. No plano local era Vice-Presidente do Clube Naval de Peniche e Presidente da Assembleia Geral do Grupo Desportivo de Peniche (duas colectividades de que foi fundador). E então convidado para o desempenho das funções de Presidente da Câmara Municipal de Peniche.
A 13/9/1969, em cerimónia oficial, procedeu-se à passagem do testemunho do anterior Presidente da Câmara Municipal, Victor João Albino de Almeida Baltazar para FRANCISCO DE JESUS SALVADOR.
Deslocou-se a Peniche o então Governador Civil do Distrito, Doutor José Damasceno de Campos que, no Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho lhe conferiu a posse do referido cargo, na presença de elevado número de representantes dos mais diversos sectores da sociedade local, como o atestam as 120 assinaturas que testemunham as presenças no referido acto.
Não foi muito longa a sua permanência à frente dos destinos do Concelho, em consequência da alteração politica resultante do 25 de Abril de 1974. A sua passagem pela direcção do Municipio ficou ligada à construção de um novo Bairro na Fonte Boa (o que permitiu a extinção das miseráveis e numerosas barracas então ali existentes). Igualmente foi importante a sua acção no arranjo dos acessos aos pesqueiros das marginais de Peniche, dos acessos e estacionamentos da praia do Molhe Leste, do arranjo da Praça Jacob Rodrigues Pereira, Jardim Público, etc.
O abandono das funções de Presidente da Câmara, por imposição da legislação criada pelo novo regime do País , não fez cessar a sua actividade a favor da terra que o viu nascer. Em Janeiro de 1979 foi eleito Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Peniche, cargo que desempenhou até ao fim da sua vida. O mesmo se passou também relativamente ao cargo de Presidente do Núcleo Local da Cruz Vermelha Portuguesa.
Na Santa Casa a sua actividade foi sobretudo assinalada pela salvaguarda do património construído da instituição (são disso exemplo os restauros da Capela do Senhor do Calvário e da Igreja da Santa Casa da Misericórdia). A gestão do ATL de Sant’Ana, reparações e reconstruções de alguns outros prédios marcaram também a sua passagem pela direcção da prestigiada instituição.
Aos 71 anos de idade, na sequência de prolongada doença, faleceu a 29 de Maio de 1987, no Montepio de Caldas da Rainha.
Foi a sepultar no Cemitério Municipal de Sant’Ana, em Peniche, junto de seu avô e padrinho (falecido com 82 anos de idade a 18/1/1953), a seu pedido.
A Câmara Municipal de Peniche, em reunião de 2/3/1993, aprovou uma homenagem a esta figura ilustre, perpetuando o seu nome numa das ruas da nossa cidade. Trata-se do primeiro arruamento que, para Norte, começa na Rua dos Dominguinhos, atravessando a Rua das Vinhas, e se prolonga para Norte, paralelo à Rua da Fonte de Nossa Senhora do Rosário, que lhe fica a nascente.
Alguns anos, depois a 10/1/2004, com 84 anos, faleceu na sua residência a viúva, D. Carlota Maria da Silveira Pinto da França Salvador. Foi a sepultar no Cemitério Municipal de Santana, junto de seu marido.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Bombeiros Voluntarios de Peniche Em Pleno Exercicio




Alguém conhece a data em que foram tiradas estas fotos?

quinta-feira, setembro 18, 2008

O sonho Americano em perigo EDUARD N LUTTWAK

Mais il est maintenant évident qu’il y a un défaut fatal dans le fonctionnement actuel du système : les banques d’affaires qui en sont les piliers n’ont objectivement aucun intérêt à faire des investissements (ou quoi que ce soit) sur le long terme. Leurs revenus ne proviennent pas de dividendes, d’intérêts ou de bénéfices liés à des activités productives, mais de commissions touchées à chaque transaction. Chaque fois qu’ils consentent un prêt, les banquiers touchent une commission. Il y a couramment des commissions de plusieurs millions de dollars, parfois plus. Dans l’OPA la plus fameuse à ce jour qui disposa de RJR Nabisco pour 25 milliards de dollars, Drexel Burnham Lambert reçut une commission de 227 millions de dollars pour avoir obtenu des banques commerciales un prêt-relais de 3,5 milliards et Merril Lynch en toucha une de 109 millions de dollars pour avoir arrangé un autre prêt-relais (afin de combler le trou entre la date de l’OPA et la cession, contre de l’argent frais, d’une partie de RJR Nabisco); un regroupement de deux cents banques, qui prêtait quant à lui 14,5 milliards de dollars, reçut une commission de 325 millions, tandis que Morgan Stanley et Wasserstein Pereira touchaient 25 millions de dollars chacun pour leurs conseils. De plus, Drexel Burnham Lambert gagna à côté une somme encore plus importante en rassemblant quelques milliards de liquidités supplémentaires pour l’OPA elle lança sur le marché ses « obligations pourries » à haut risque, aujourd’hui décriées, en les vendant à des financiers pris au piège (qui ne les achetèrent que parce qu’eux-mêmes avaient besoin d’« obligations pourries » pour leurs propres affaires) et à des organismes d’épargne et de prêt, ainsi qu’à
des caisses de retraite, qui n’auraient jamais dû investir leur argent dans du papier aussi douteux.
Même si la plupart des commissions sont moins importantes, elles représentent cependant des millions de dollars gagnés en quelques jours ou en quelques heures et cet argent est généreusement reversé aux banquiers d’affaires eux-mêmes, sous forme de salaires et de primes. L’argent réellement investi à des fins productives est, de leur point de vue, de l’argent qui dort et de l’argent inutile. Ce qu’ils veulent, ce sont des transactions, aussi nombreuses que possible. Dans l’idéal, il faut qu’il y ait une OPA contre une entreprise cotée en Bourse, de préférence une OPA hostile (ce qui engendre des commissions de part et d’autre). Puis le vainqueur devra rembourser les prêts à taux d’intérêt élevé dont il a eu besoin pour racheter l’entreprise, en vendant ses propres divisions, départements ou actifs (et en payant des commissions pour leur cession). Puis le vainqueur voudra émettre de nouvelles actions (en payant des commissions pour la souscription) afin de prendre rapidement son bénéfice sur le marché boursier, au lieu d’attendre des profits productifs (qui n’engendrent pas de commissions). Enfin, l’entreprise étant de nouveau cotée en Bourse, ses actions pourront être achetées à l’occasion d’une nouvelle OPA, et le cycle pourra recommencer.
Le résultat le plus évident de tout cela, c’est de détourner des milliards de dollars (qui auraient pu aller à des constructeurs, à des fabricants d’équipement, à des équipes de recherche) vers les comptes courants personnels des banquiers d’affaires qui les réinvestissent en partie de manière productive mais qui, pour une large part, les dépensent pour leur propre consommation, en biens luxueux.
Mais un résultat encore plus nocif, dès que le dernier krach et le dernier lot de scandales et de procès, de faillites et de banqueroutes seront bien oubliés, c’est l’infection du monde des affaires tout entier par la fièvre du « dollar vite gagné ». Car les banquiers d’affaires et leurs intermédiaires son propre compte, il avait été constamment sollicité et tenté par des banques d’affaires avides de commissions 6, Ils ne cessaient de lui répéter que ses jets Gulfstream, ses multiples résidences de fonction, ses fameux tournois de golf, son énorme salaire et sa retraite annuelle garantie de sept cent mille dollars (ou l’indemnité de quarante-neuf millions de dollars en cas de licenciement) n’étaient que de la roupie de sansonnet comparés à ce qu’il pourrait arracher à Nabisco s’il se débarrassait des actionnaires. Et Ross Johnson n’est pas une exception de fait, dans tout le pays, les dirigeants d’entreprises, qu’elles soient grandes ou petites, ont été fréquemment distraits de la marche de leurs affaires pendant la dernière saison flamboyante de Wall Street, et le seront à nouveau à la prochaine.

sexta-feira, setembro 12, 2008

PADRÕES COM REFERÊNCIAS AOS NAUFRÁGIOS DO GALEÃO “SAN PEDRO DE ALCANTARA” E DA BALANDRA “EL VENCEJO”, AMBOS DE ORIGEM ESPANHOLA, NAS COSTAS DE PENICHE

Por: Fernando Engenheiro
Na noite de 2 de Fevereiro de 1786 o galeão espanhol “San Pedro de Alcantara” teve o seu fim na costa Norte de Peniche, mais exactamente nos rochedos da Papoa onde, pela ignorância ou desinteligência de três pilotos que o dirigiam, veio perder-se com óptimo tempo e mar sereno.
Carregado com um valor imenso, quase tudo ah se perdeu e, com o seu precioso carregamento, foi perdida a vida de cerca de 300 pessoas que pereceram afogadas, salvando-se pouco mais de 170 vidas, entre soldados, tripulantes e passageiros.
Ainda o pesadelo que foi este naufrágio estava a ser sentido por todos - inclusive pela própria população de Peniche que ocorreu ao salvamento oferecendo agasalhos, comestíveis e as próprias casas aos sobreviventes — quando, 3 meses depois, a 28 de Abril, uma outra embarcação e a balandra “El Vencejo”, que viera propositada mente para trabalhar na recuperação dos salvados do “San Pedro de Alcantara”, já com algum carregamento aproveitado, não pôde vencer um impetuoso vendaval, rebentou as amarras e veio a destroçar-se na praia de Peniche de Baixo, apesar dos esforços da tripulação e dos socorros de terra. Perderam-se mais de 92 vidas, salvando-se apenas 12.

Entre os falecidos encontravam-se alguns sobreviventes do primeiro naufrágio que regressavam as suas origens. Nova fatalidade impediu assim que chegassem ao seu porto de destino.
Como é sabido, a população de Peniche, os religiosos da ordem franciscana que tinham perto o seu Convento (Bom Jesus de Peniche) e a guarnição militar aqui fixada na Forta leza de Peniche deram assistência aos feridos e enterraram os náufragos do “San Pedro de Alcantara” falecidos. Ali, muito perto do local do naufrágio, foi aberta uma vala comum, numa enseada deserta, denominada “Porto da Areia Norte”, onde foram inumados alguns corpos que, possivelmente por já se encontrarem em decomposição, não foi possível sepultar nas igrejas existentes, pelos perigos que daí poderiam advir para a saúde pública.
O Governo Espanhol quis perpetuar a sua memória encomendando um simples e humilde monumento, mas com muito significado, que consistia numa cruz de pedra, semelhante às de S. Tiago (com as pontas clavetadas ou chavetadas), para mandar colocar sobre o espaço ocupado pelos restos mortais daqueles infelizes náufragos.
Possivelmente por um dos náufragos ail inumados ser um dos oficiais de maior patente daquela guarnição flutuante, foi gravado na pedra o seguinte epitáfio:
“Aqui jase Don Vicente Vargas y Varaes,
Teniente de Fragata de la Real Armada
de S. M. Católica, que naufragó
en el navio de guerra Espanhol San
Pedro de Alcantara nel sitio de
la Papoa la noche del dia 2
de Feberero de 1786”
Era este monumento ali colocado a única recordação de tão desastroso acontecimento - de tanta celebridade que, entre os povos circunvizinhos de Peniche, ficou marcando uma época e que acabava por servir de ponto de partida para as suas recordações cronológicas.
O Governo Espanhol quis também perpetuar a memória do naufrágio da balandra “El Vencejo” com monumento seme hante, mandado colocar junto aos seus náufragos inumados numa zona hoje mal identificada pois a maldade ou incúria dos homens o destruiu para sempre, sem deixar qualquer rasto dos seus destroços.
Julgo que se situava numa pequena ilha de terra seca, nica na época, formada em todo o Murraçal de Peniche de Cima, fora das muralhas, mais propriamente no sitio onde hoje está implantado um posto de transformação de energia eléctrica, a Sul do antigo muro da já desaparecida fábrica “Benito Garcia” (que deu lugar às instalações do “Intermarché”).
No Livro de Actas da Câmara Municipal de Peniche de 1843/1 850, a fls. 122 v., (data ilegível), consta que um grupo de emigrados espanhóis, à guarda do Depósito de Presos na
Fortaleza de Peniche, adivinhando o que o futuro reservava para aqueles monumentos, apresentou um requerimento à Câmara Municipal nos seguintes termos:
“Requerimento dos Emigrados Hespanhóis residentes neste Depósito pedindo licença para trasladarem os restos inanimados de seus compatriotas que há coisa de uns sessenta anos se achão colocados debaixo de duas cruses no norte desta Península como attestão as inscripções lavradas nas bases das mesmas cruses para o Cemitério público desta Villa, e a Câmara tendo ponderado a este respeito acordou o seguinte: - Que obtida a licença da Junta de Parochia para a demolição dos monumentos que attestão a existência dos restos que annuncião em seu requerimento, se lhes concede a licença pedida’
Tudo ficou sem efeito na sessão seguinte, da qual a fls. 123 v. (data ilegível), se relata o seguinte:
“Foi presente um requerimento de vários habitantes desta Villa, mostrando a sua desaprovação à licença que esta Câmara tinha concedido aos Emigrantes Hespanhóis para introdusirem no Cemitério os restos de seus Compatriotas que há sessenta annos se achão enterrados junto de duas cruses’
Ao descrever estes episódios passados em meados do século dezanove, recordo aquilo que, pouco mais de cem anos depois, eu acabei por fazer com o cruzeiro do Porto de Areia do Norte.
Estava-se no último lustro da década de 50 do século passado e eu, que já há alguns anos era funcionário municipal, tinha conhecimento de que a Edilidade de então, administrada por António da Conceição Bento, tinha encomendado ao João dos Santos Fernandes Afra, mais tarde escultor, o levantamento topográfico daquela zona, bem como a elaboração de um “croquis” dando uma ideia para o seu ajardinamento, ficando o antigo cruzeiro em destaque sem que para isso fosse necessária qualquer remoção do monumento.
O tempo foi passando. A ideia era boa, mas a execução não passava da gaveta sem a devida autorização para avançar. Por diversas vezes ali passei e muito me custava ver a degradação que o monumento vinha apresentando. A base em que se assentava a peanha que em tempos ostentava a cruz estava no chão. Já tinha sido retirada uma das duas pedras gémeas onde assentava a referida peanha possivelmente para servir de poita a qualquer traineira dado o seu formato. Ao que me foi dado saber a grande destruição do monumento não era só resultado da mão do homem mas também do encosto da cabeça de uma vaca tresmalhada que embirrou com monumento provocando o que estava à vista.
Sem qualquer impedimento, pus mãos à obra e procurei preservar o que restava. Com o auxílio de dois trabalhadores eventuais do Município, procedi à remoção das peças existentes para o espaço vedado que circunda o depósito de água (conhecido por filtro de Peniche de Cima) que lhe ficava ali perto. Iria em breve cumprir o serviço militar no Ultramar e receei que quando voltasse já nada existisse, pois entretanto a Administração Municipal jé era outra.
Quatro anos depois, quando regressei, tudo estava como deixei. Pouco tempo depois promovi a remoção do monumento para um lugar de destaque no rés do chão do antigo edificio do Largo do Município que durante alguns anos serviu de sede da Biblioteca Municipal.
Tive o cuidado de o completar colocando-lhe uma cruz do modelo primitivo (o que sô foi possível por ter à minha guarda no Arquivo Municipal o desenho executado pelo já citado João Afra) embora com a pequena alteração por ter de considerar a altura do pé direito do piso onde foi colocado.
Tudo isto foi feito com a melhor das intenções e sujeito a contratempos.
Hoje ao ver este simbólico monumento em sítios mais destacados, sinto que contribuí para a preservação de valioso testemunho da brutal tragédia ocorrida nesta terra há 222 longos anos. Pena é que outros não tivessem feito o mesmo com o cruzeiro da balandra “El Vencejo”.
Peniche, Agosto de 2008.


quinta-feira, setembro 11, 2008

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA REPRESENTAÇÃO EM PENICHE DA CAIXA GERAL DE DEPOSITOS, CREDITO E PREVIDÊNCIA

Fernando Engenheiro:
Com a designação de Caixa Geral de Depósitos e Instituições de Previdência, esta instituição bancária foi criada no nosso Pars por Lei de 10 de Abril de 1876. Os seus serviços foram reorganizados e ampliados pelas Leis de 30 de Dezembro de 1892, 21 de Maio de 1896, 23 de Junho de 1897, 30 de Junho de 1898 e outras que se têm seguido ao longo da sua existência ao serviço do País.
A Lei de 21 de Maio ,de 1896 estabeleceu uma “Caixa de Reformados” para operários assalariados e um “Monte de Piedade” sob a administração da “Caixa Geral de Depósitos”, do que proveio a ampliação do respectivo titulo com a denominação de “Instituições de Previdência”. Porém estas instituições, ao que nos é dado conhecer, não terão passado da Lei.
Trata-se de um organismo autónomo do Estado Português que, ao longo dos anos, tem reforçado a sua posição, com alterações de funções que se desdobram em diversos serviços privativos, tais como: Caixa de Depósitos Obrigatórios, Caixa Económica Portuguesa, Casa de Crédito Popular, Repartição de Operações Financeiras e Bancárias, Repartição de Transferências e Cobranças, etc.
Também é de salientar nestes serviços anexos a Caixa Nacional de Crédito, Caixa Geral de Aposentações e Montepio dos Servidores do Estado.
Em Peniche, já com o seu vasto movimento comercial e industrial a partir da década de 1920, ligado à pesca, com a construção de fábricas de conservas e a exportação de peixe, sentia-se a necessidade de se criar uma delegação ou agência daquela Caixa Geral de Depósitos, atendendo a que em Peniche somente existia uma agência bancária, criada no primeiro lustre que se seguiu à implantação da República (5/10/1910), designada por “Viúva de António Trindade — Sucessor - Francisco de Freitas Trindade”, correspondente na época de 30 bancos das mais diversas origens (Portugal Continental, Insular, Ultramarino e outros países).
A Câmara Municipal da presidência de António Maria de Oliveira, nos princípios de 1929, interferiu no assunto, oferecendo, a titulo de cedência sem qualquer reembolso, ao Inspector da Caixa Geral de Depósitos, duas dependências do piso inferior do edificio dos Paços do Concelho, que se encontravam praticamente sem quai- quer aproveitamento desde a extinção da Administração do Concelho, ocorrida em 1926, cujos serviços haviam ocupado aquele espaço.
Inspeccionado o local, concordaram ambas as partes que a Câmara Municipal mandaria proceder, a suas expensas, a obras de adaptação não só de todo o seu interior mas também da fachada do edifício, com a substituição de uma janela por porta em ferro trabalhado, garantindo a necessária segurança para o fim a que se destinava.
Em reunião camarária de 25/3/1929, foi apresentado o oficio n° 21 13, do Inspector da Caixa Geral de Depósitos, onde se perguntava o seguinte:
“Se esta Câmara deseja fazer indicação do indivíduo que deve exercer as funções de Tesoureiro na agência da referida Caixa, a inaugurar brevemente nesta Vila”- Inteirada, foi resolvido “agradecer, deixando a escolha do Tesoureiro, livre, à dita Caixa.”
Com as alterações do poder, a 27-04-1928, assumin do o cargo de Ministro das Finanças o Doutor António de Oliveira Salazar, aguardou-se a reforma dos impostos e das pautas com a reorganização do crédito com alterações na Caixa Geral dos Depósitos, pelo que só foi possível a criação da Delegação de Peniche alguns anos depois, que tudo aponta para Setembro de 1935.
Entretanto, no rés-do-chão do edificio dos Paços do Concelho, funcionou o instituto D. Luís de Ataíde, estabelecimento de ensino secundário então criado e apoiado pelo Município. Terminado o ano lectivo e transferido o instituto para instalações situadas no primeiro piso de um edifício situado na Rua Almirante Reis (actual Avenida do Mar) foi para ali transferida a Tesouraria da Fazenda Pública, que vinha funcionando no rés do chão do edifício onde também funcionava a Repartição de Finanças (Largo do Municipio tornejando para a Travessa dos Mareantes).
Ficaram a partir de então a cargo da Repartição de Finanças e da Tesouraria da Fazenda Pública, por acumulação , os Serviços da Delegação da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, para servir Peniche e seu Concelho.
Assim, ao longo de mais de quatro décadas, em precárias condições de instalação, fomos servidos por aquelas Repartições.
Sentia-se a grande necessidade da criação de uma Delegação mais apropriada para o fim em vista, com condições adequadas ao movimento que lhe era exigido como estabelecimento bancário, com empréstimo de capitais àqueles que os solicitavam, para a transferência de capitais duma praça para outra, com o recebimento dos depósitos dos clientes, etc. etc.
Sabemos que as instituições de crédito e os seus estabelecimentos são importantes factores de desenvolvimento já que no crédito assenta a prosperidade comercial de um país.
Para as desejadas novas instalações foram os olhos postos num edificio de rés-do-chão da zona mais central de Peniche, em pleno “rocio”, frente ao Jardim Público. Foi nele que foi instalada a dependência n°146 da Caixa Geral de Depósitos.
O edifício em causa fora construído em 1950 pelo seu proprietário, Joaquim Lucas Cardoso Franqueira, que nele instalara um “Café - Pastelaria - Salão de Chá - Bilhares”, inaugurado a 13/9/1950. Anos depois o estabelecimento passou a ser explorado por António Cândido Parreira que procedeu a grandes remodelações com o seu alargamento para criação de uma sala de restaurante. Anos se seguiram com outros concessionários da sua exploração que terminou com a instalação ali de um “stand” de automóveis.
A Caixa Geral de Depósitos entrou em negociações com o então proprietário Francisco Alexandre Vidal Franqueira (herdeiro do anterior), com quem ajustou o aluguer do imóvel para instalação da sua nova Agência.
No 1 dia de Março de 1978, dispondo de espaços convenientemente adaptados, teve lugar a respectiva inauguração.
No acto estiveram presentes diversas entidades, quer locais quer representativas da Caixa, sendo de entre estas últimas de destacar a figura do Administrador-Geral Substituto, Dr. Julio Rodrigues.
Dirigindo-se aos convidados, quis esta entidade ter palavras de saudação à população de Peniche, a quem a instituição de Crédito em causa se dispunha, no âmbito da sua acção, a prestar os melhores serviços.
Ficou na época a responsabilidade pela administração da Agência a cargo do Sr. Joaquim Ferreira Duarte.
Ao longo destes 30 últimos anos, completados em Março de 2008, na sua nova sede, a Agência da Caixa tem sido um orgulho para Peniche contribuindo com o seu alto patrocinio para o bom desenvolvimento da nossa Terra.
Na sua gerência manteve-se, até há pouco tempo, o nosso conterrâneo Senhor Luis Tormenta, recentemente em situação de pré-reforma.

quarta-feira, setembro 10, 2008

terça-feira, setembro 09, 2008

Transporte de Passageiros para as Berlengas


2008 1938
Setenta anos separam estas duas fotografias, imagino o que seria na época, uma viagem para as Berlengas, com forte ondulação.

Peniche Fins Anos 60 Panoramica Paça J.Rodrigues

Montagem de 2 fotos

segunda-feira, setembro 08, 2008

Peniche, 9 MAIO 1952 - OBRAS: PORTO DE PESCA


Leonard Bernstein: West Side Story, studio-takes. (4)

Sem comentarios so qualidade

Peniche Antiga Ribeira anos 60 Provavelmente


Peniche : Remédios, Sirios 22 OUT 1951


QUEM FOI António MARIA DE OLIVEIRA

Por: Fernando Engenheiro
ANTÓNIO MARIA DE OLIVEIRA foi seu nome completo, filho de Manuel Duarte de Oliveira e de Teresa de Jesus Caeiro, natural da Paroquial de Santa Cruz da então Vila e Concelho do Barreiro, distrito de Setúbal, onde foi baptizado, a 5/4/1885, pouco tempo apôs o seu nascimento ocorrido a 12 de Janeiro daquele ano.
Oriundo de uma família modesta, seu pai, de profissão serralheiro, faleceu aos 42 anos de idade, a 29/5/1892, tendo deixado órfãos 4 filhos menores, sendo o António dos mais novos com 7 anos de idade.
Sua mãe, doméstica, desamparada, sem meios para os sustentar, auxiliada pelo Padre da sua freguesia, Rev. Francisco António Quintão, que intercede, perante a Administração da Real Casa Pia de Lisboa, como Estabelecimento Pio, onde seu filho António possa receber a educação e instrução por caridade. para assim poder dar um pouco de alivio à sua situação económica com elevada carência.
Depois de formar o processo burocrático com a documentação necessária para a sua admissão como aluno interno, gozava de perfeita saúde conforme atesta o facultativo municipal do Barreiro, num documento passado a 01/08/1882. Pela mão de sua mãe, dá entrada naquele Real Estabelecimento Pio a 21 de Fevereiro de 1893. Coube-Ihe o numero de matricula “21 89” que o acompanhou sempre durante o seu internato.
Começa por dar os primeiros passos na primeira classe da instrução Primária, admitido a 28 de Fevereiro, e no mesmo dia procedeu-se à inspecção Sanitária com bom resultado.
Aos 13 anos de idade começa a ter problemas de saúde. É lhe diagnosticado “embaraço gástrico”. Por falta de recursos médicos naquele Estabelecimento é entregue a sua mãe com o subsidio de 30$000 réis anuais por tempo indeterminado aguardando-se suas melhoras para readmissão, que foi satisfeita algum tempo depois.
A 20 de Julho de 1904, já com 19 anos de idade. foi informado pela instituição de o tempo do seu aprendizado tinha terminado e estava apto para ganhar os meios de vida.
Propôs o provedor que ao referido aluno se desse baixa na matricula daquela Casa e se lhe concedesse o respectivo subsidio na importância de 10$000 réis.
Trazia na sua bagagem habilitações que lhe davam grande esperança no futuro. Por razões desconhecidas fixa-se em Sobral de Monte Agraço como desenhador civil o que lhe deu grande prestígio ao longo da sua carreira. Não menos importante foi a pintura artística que lhe vinha dos bancos da escola, onde estudou com altas classificações .
Fez exposições individuais e colectivas com grande sucesso. São disso prova os prémios que na época lhe foram atribuídos. A sua acção artistica e intelectual manifestava-se sempre com o objectivo de lutar por aquilo em que acreditava com o seu saber, explorando o mais possível todo o intelecto desenvolvido durante o período do seu internamento no estabelecimento de ensino que frequentara.
Tinha grandes relações com poetas da época onde também a sua veia artística se manifestava. Além de outras qualidades já mencionadas era poeta, sendo também esplêndido conversador e orador.
Com todos estes predicados, o ambiente intelectual onde estava inserido deu-lhe oportunidade de desempenhar na Câmara Municipal de Lisboa o cargo politico de “Vereado ainda no primeiro quartel do século passado.
Aos 29 anos de idade casou-se com Próspera Magna Perfeita de Carvalho, com 18 anos de idade, natural de Alandroal, filha de um oficial da Guarda Fiscal que na época exercia a sua actividade na fronteira com Espanha (nascida prematuramente em viagem não considerava como sua a terra que a viu nascer).
Muito cedo começou a ter problemas de saúde do foro reumatológico pelo que, para seu tratamento, procurou residir em ambiente marítimo. Fixou residência por algum tempo na linha do Estoril (S. Pedro e Parede). Por conselho médico veio a fixar-se em S. Bernardino, no nosso Concelho, onde, durante a sua estadia por estas bandas, rapidamente foi reconhecido o seu valor e as suas qualidades pelos moradores e veraneantes.
Tendo conhecimento de que o sitio dos Remédios era afamado pelo seu clima na cura de doenças ósseas, aqui fixou residência, na companhia de sua esposa, ocupando a título de aluguer uma casa que pertenceu à familia Barnabé de Peniche.
Não tardou que a sua personalidade se tomasse notada pelas suas qualidades de trabalho. Era então Guarda-Livros de uma das fábricas de conservas de Peniche. (Refira-se que a sociedade penichense da época recebeu sempre muito bem a integração de todos os elementos que eram colocados na gerência ou nos escritórios nos das unidades fabris então aqui instaladas).
Pouco tempo depois, com a saída de Eduardo Helder Caldas Pereira da gestão da Câmara Municipal, de 21/7/1926 a 22/2/1929, foi convidado por politicos influentes de Peniche para presidir à Comissão Administrativa deste Municipio, convite que aceitou.
Esta Comissão Administrativa, em que se encontrava acompanhado pelos Vogais Joaquim Guilherme de Faria Júnior e Miguel Olavo Franco, tomou posse em 11/3/1929 e “arregaçando as mangas” desde logo se mostrou pronta para trabalhar activamente em prol de Peniche e seu Concelho.
No mês de Maio seguinte deram conhecimento ao Ministro do Interior das grandes necessidades deste Municipio apontando os problemas que urgia resolver.
Transcrevo na integra o teor da exposição apresentada:
“Não tem a vila de Peniche colectores nem obra alguma de saneamento, motivo porque as estrumeiras se contam às centenas, dentro das próprias casas, com risco iminente para a saúde pública e se não fosse a acção enérgica desta Comissão Administrativa, que algumas fossas tem obrigado a fazer, e uns pequenos ramais de colectores para o mar (que alguns proprietários têm feito em substituição das fossas, toda a gente manteria junto do quarto de dormir a arrecadação dos seus próprios dejectos. É por isso também que as ruas em Peniche têm sido verdadeiras estrumeiras, e os da Ribeira (local onde desembarca e se amanha o peixe) é qualquer coisa de nauseante que nos envergonha por ser indigno duma nação civilizada.
ÁGUA, também a não tem Peniche, ou antes temo-la a 7 quilómetros, que teremos de cobrir com um cano em cimento armado, de 20 cm. de diâmetro, e que está orçado em 400.000$00 pelo abalizado engenheiro em assuntos desta natureza.
LUZ, igualmente a não tem esta importante Vila, pois ainda hoje se vive em Peniche à luz de antiquados candeeiros de petróleo que nada iluminam, sendo perigosíssima, no inverno principalmente, junto ao cais, a faina dos serviços mar que são, como V. Ex. sabe, importantíssimos Além d isso uma grande parte da vida desta vila é feita de noite, devido às pescas, o que a falta de luz toma difícil, ocasionando por vezes graves desastres, perigando também a vida de quem tem de atravessar as ruas da vila em noites escuríssimas de inverno. O comércio e a pequena industria ressentem-se extraordinariamente desta falta e as lamentações são, por isso, bem justas e dignas da atenção dos poderes públicos.
Peniche não tem um mercado próprio; pelo que, a venda de todos os produtos se faz no seu Rocio, sendo as hortaliças, legumes, frutas, tudo enfim, vendido no chão sempre coberto de imundices por onde toda a gente passa, e onde toda a gente cospe, o que tudo constitui um grave perigo para a saúde publica.
Os serviços de limpeza são tudo o que há de mais rudimentar não havendo um carro capaz para o transporte de lixos, nem uma simples pipa para a rega das ruas.
Peniche, onde se consome uma média anual de 75.000 kilos de carne, não tem um matadouro sendo o serviço de matança feito pela forma mais antiquada e num pátio imundo e indigno do nome de matadouro. A carne abatida é transportada às costas de homens nem sempre asseados, em cima de panos imundos e esfarrapados.”
Era assim Peniche, de tão encantadoras belezas naturais, uma terra atrasadíssima e, por isso mesmo, como ainda hoje acontece, digna do auxílio dos Governos do País.
Muita coisa ainda foi feita durante o curto mandato de António Maria de Oliveira que decorreu de 11/3/1929 a 29/4/1930.
Foi possível , em sessão camarária de 4/6/1929, dar iniciativa à instalação em Peniche de um corpo de bombeiros e, assim, não tardou que naquele mesmo mês, no dia dezasseis, fosse criada oficialmente a Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche.
Era desejo de António Maria de Oliveira, que também acumulava as funções de Presidente da Comissão Municipal de Assistência, a extinção da mendicidade nas ruas.
Procedeu no curto espaço do seu mandato à ampliação do Cemitério para Sul, com uma área destinada ao enterramento de crianças - 2.736 m2 (exploração de pedra, construção de muros de vedação, etc.)
Mas a obra que mais o vinculou para sempre a Peniche foi a “iluminação pública por meio de electricidade na sede do Concelho”. Teve como principais colaboradores os Srs. Joaquim Guilherme de Faria Júnior, Vice-Presidente, Miguel Olavo Franco, Vereador, e Duarte Formoso Pinto, Administrador do Concelho, valiosos auxiliares e dedicados cooperadores em tal obra.
Contraiu-se para a execução da obra um empréstimo de 1.200.000$00 na Caixa Geral de Depósitos, por escritura lavrada a 24/3/1930.
Em tempo “record”, nos primeiros dias de Julho jé se estava nos preparativos para a sua inauguração, que se efectuou no dia 10 de Julho daquele ano.
Estavam presentes os Srs. Governador Civil do Distrito de Leiria e o Ministro do Interior e do Comércio, entre outras entidades civis e militares. O Senhor Vice- Presidente deu conhecimento aos presentes de que o Senhor Presidente não estava presente por se encontrar gravemente doente, a braços com longa enfermidade.
O adiantado estado da doença que atacava o seu frágil corpo - a “artrite reumatoide” - não lhe permitiu sair do seu leito para estar presente naquela cerimônia que tanto desejara.
Depois das cerimónias foi agraciado pelas entidades oficiais que se dirigiram à sua residência, situada na rua D. Luís de Ataíde, atenção que agradeceu da janela do seu quarto de dormir (situado no 1°. andar), já com grande dificuldade pela sua debilidade.
Poucos dias depois, a 16/7/1930, em resultado de uma tuberculose óssea, tendo como companhia no seu leito de morte sua inseparável esposa, faleceu na sua residência aos quarenta e cinco anos de idade.
Peniche viu assim partir António Maria de Oliveira, Presidente da Comissão Administrativa que tanto amou esta terra e que ao seu engrandecimento e progresso dispensou o maior esforço e uma grande parcela da sua vida, precisamente quando muito havia a esperar da sua grande inteligência e capacidade.
Seu corpo deu entrada no Cemitério Municipal de Peniche no dia 18 daquele mês, ficando depositado no jazigo particular da família “Freire de Andrade”, a título provisório, aguardando o seu depósito definitivo em mausoléu a mandar edificar.
Em sessão camarária de 29/7/1930, sob a Presidência de Armando de Sampaio Sena, ladeado pelos Vogais Francisco de Freitas Trindade e Miguel Olavo Franco, sendo Administrador do Concelho
e Vogal da mesma Comissão Joaquim Guilherme de Faria Júnior foi proposto que se lançasse na respectiva acta um voto de profundo sentimento pela morte do Presidente da Comissão Administrativa, Sr. António Maria de Oliveira e que, como reconhecimento da obra colossal que deixou feita, à frente da qual se encontrava a instalação da luz eléctrica, se desse o seu nome ao largo do município, o que não se concretizou.
Passado algum tempo, a 19/8/1931 , procedeu-se à trasladação dos restos mortais de António Maria de Oliveira. saudoso Presidente, para o mausoléu mandado erigir por um grupo de amigos. Nele foi gravada com a seguinte inscrição: “Antônio Maria de Oliveira - Falecido a 18-7-30 (sic) -Pelo grande impulso dado ao progresso de Peniche, como Presidente da Câmara desde Março de 1929 a Julho de 1930 - Reconhecimento eterno de um grupo de amigos e do Município de Peniche’
Mais tarde, prova de que Peniche nunca esqueceu a ilustre personalidade que serviu Peniche com todo o carinho e dedicação, em reunião camarária de 2 de Janeiro de 1962 (L. de actas n. 16, de 1961/1962), foi deliberado atribuir o seu nome, perpetuando a sua memória, a uma das artérias da então Vila de Peniche (a antiga Rua das Arieiras, situada entre a actual Rua Luís de Camões - anti- go caminho do Cemitério - e a Rua de São Marcos.
APONTAMENTOS DIVERSOS:
Neste número publicamos uma foto da casa na Rua D. Luís de Ataide onde residiu e faleceu António Maria de Oliveira. Esta casa, situada entre a Travessa do Bom Sucesso e a Travessa do Desembargador, foi há uns anos demolida para dar lugar a outra construção. Da sua janela António Maria de Oliveira podia então observar o andamento dos trabalhos de construção do edifício da nova Central Eléctrica e os operários que ali actuavam habituaram-se a ver o seu vulto a observá-los com um óculo. Quando a doença já não lhe permitia abeirar-se da janela, o Senhor Oliveira mandou colocar junto dela um manequim simulando a sua figura para que os operários, sentindo-se observados, não abrandassem o ritmo do seu trabalho...
Peniche, Julho de 2008.