domingo, dezembro 23, 2007

O Vinho e a Cultura da Vinha na Península de Peniche

Por:Fernando Engenheiro
A viticultura e a vinicultura, a cultura da vinha e o fabrico do vinho, são actividades que vêm de tempos muito recuados.
Extraordinária foi a importância de que se revestiu a vinha para os Hebreus, como uma das maiores riquezas da Terra Prometida, da qual os reis de Judá e de israel auferiram fartas receitas.
O clima do nosso país oferece para a cultura da videira excelentes condições de vegetação e, por isso, a vinha é das nossas culturas mais expandidas. Cobriria quase toda a superficie do país se a carestia da sua instalação e a saturação dos mercados a não limitassem.
Nos areais das costas marítimas, nos terrenos ubérrimos das lezírias do Tejo, nas planícies e nas encostas, no chuvoso Minho e na aridez de Alentejo, por toda a parte, a vinha encontra condições que lhe permitem a vegetação, e, até, uma cultura altamente remuneradora.

Mas se por toda a parte vegeta e é cultivada, nem sempre, nem em todas as regiões onde se implantou, é igualmente produtiva e remuneradora, nem idênticos são os processos culturais a que tem de submeter-se, nem são sempre as mesmas as castas adoptadas e as qualidades produzidas. Desta variação multipla resultam as diversas regiões que tão frisantemente acentuam os distintos tipos de vinho que a ecologia portuguesa define, a tradição enobreceu, os mercados confirmaram e a concorrência comercial, em grande parte, estragou.
Na província do Minho temos a região bem característica do originalissimo vinho verde.
o Douro, hoje delimitado oficialmente como região vinicola, produz o mais nobre e reputado vinho generoso vinho do mundo: o “Porto”, e, ainda excelentes vinhos de pasto, que o comércio conhece sob o nome de vinhos virgens do Douro.
Vem depois o Dão com o melhor vinho de lote que o país produz. A Bairrada é também região de vinhos de lote muito apreciados. Colares e Bucelas, o primeiro tinto e o segundo branco, têm sido dos melhores vinhos de pasto portugueses e tantos outros num nunca mais acabar por esse país fora.
Mas ainda com referência aos campos baixos do Mondego e em toda a vertente oceânica que se segue do Lis até abranger a parte norte do concelho de Torres Vedras, Lourinhã, Obidos, etc. esplana-se uma zona de vinhos delgados, considerados de baixa graduação em uma grande parte da sua produção.
Neste denominado “país das uvas” por toda a parte a vinha aparece, com vário êxito económico, mas denunciando sempre a manifesta e privilegiada aptidão vitícola dos nossos climas.
Em Peniche desde muito cedo que os seus habitantes se dedicaram à plantação de vinhas. Perde-se no tempo a memória da sua exploração. Dos elementos mais antigos que me foi possível consultar destaco uma provisão do Cardeal D. Henrique, Rei de Portugal, de 11/1/1567 - “A fim de fazer face às despesas da fortificação, cria-se uma imposição de 400.000 rs. sobre o pescado e o VINHO DE PENICHE.”
E mesmo ano, datado de 6 de Agosto, o “Alvará do Cardeal D. Henrique que estabelece para fazer face às despesas da fortificação, a contribuição de uma canada por almude no vinho que se vendesse atavernado em Peniche e Atouguia, para o que diminuíram proporcionalmente as medidas de canada até meio quartilho”
Ao que nos é dado a conhecer pelo que chegou até aos nossos dias, trata-se exclusivamente do apreciado VINHO BRANCO que, pelo clima e solos de areia onde eram cultivadas as vinhas ,atingia uma graduação muito apreciada.
O cultivo das vinhas que produziam o precioso liquido exigia cuidados especiais de tratamento e de defesa, bem visíveis ainda nos subúrbios da zona urbana de Peniche nos muros de pedra solta e nas divisões em caniços que serviam de resguardo aos ventos predominantes de Noroeste na maior parte do ano.
A atestar a importância da vinha e seu cultivo chegou até nôs a legislação especial que lhe dizia respeito. Estabelecia a Lei que qualquer podia penetrar em vinha alheia, colher a uva e comê-la. Em contrapartida era interdito que o furto fosse colhido e transportado em cestos. Quem destruía uma vinha ou nela causava qualquer prejuízo ficava sujeito a pagar uma indemnização ao proprietário prejudicado.
Na vindima, os cachos não colhidos por esquecimento destinavam-se aos pobres, sendo inteiramente vedado aos vindimadores voltarem atrás para colhê-los.
A Câmara Municipal de Peniche, desde a sua elevação a Concelho, sempre se preocupou com a vinicultura em Peniche, conforme se observa em diversas deliberações, tais como:
Vereação de 12/9/1629 - “Por grassar uma grave doença nas vinhas e haver perigo em dilatar a vindima foi dada licença geral para começar as vindimas, em Peniche, no dia 16 de Setembro. Quem assim não fizer ficará sujeito à pena de 500 rs. , para o concelho e o acusador”.
Vereação de 9/10/1630 - “Foi ordenado que ninguém podia vender vinho novo sem licença da Câmara; e foi estipulada a muita de 1.000 rs. Para quem o fizesse por cada vez que o fizesse”
Também todo o vinho atabernado, era vendido por tabela aprovada pelo Município (Vereação de 10 de Janeiro de 1637 e outras que se seguiram em diversos anos). Teve altos e baixos ao longo dos séculos esta cultura, na nossa Península.
Em 1853 nova moléstia afectou, com grande prejuízo, parte das vinhas. O Governo Central, por intermédio do Governo Civil de Lisboa, de que na época Peniche dependia, pediu ao Município para formar uma comissão para que foram convidados o Dr. António Pedrosa Barreto - José Diogo da Fonseca Pereira - Francisco Cordeiro da Silva Torres - Francisco António da Cunha - José Manuel da Silva Guizado e Antero da Costa Oliveira, a fim de examinarem e investigarem a natureza desta epidemia e o meio de a combater.
Como quase sempre, como diz o povo, não há duas sem três, em 1871 , começa-se a falar de nova doença das videiras em Portugal, mal que jé devastava as vinhas francesas desde 1863: ‘a FILOXERA”. E a partir do ano seguinte o nosso País volta a mergulhar em pânico e desespero, com esta moléstia. O próprio Governo novamente se apressa a nomear comissões para resolver o problema. A filoxera provocou por todo o País talvez a pior crise de que há memória, muito mais grave que a anterior designada por “Oidium”. Durou trinta anos a luta. Não foi possível evitar prejuízos incalculáveis mas, ao cabo de três décadas, os esforços dos cientistas portugueses foram coroados de pleno êxito. A filoxera foi banida do nosso país.
Foi necessário plantar novas castas de uvas mais resistentes e que pudessem corresponder às necessidades vinícolas do país. Para a nossa região veio o famoso “La brusco”. Esta famosa casta de uva cultivada na nossa península deu como resultado um precioso vinho branco a atingir 16 graus.
No principio do século vinte, mais propriamente em 1904, a produção do vinho branco na nossa praça atingiu 400.000 litros que foram dados ao manifesto.
A cultura persistiu ainda por mais de 3 quartos de século, sendo abundante a produção dos vinhos brancos, considerados de primeira qualidade.
Não há muitos anos encontravam-se com relativa facilidade em estabelecimentos de venda de vinho a copo, vinhos brancos com 14/15 graus.
Os tempos mudaram para a agricultura por estas bandas, esqueceu-se o campo, a dureza do cultivo da vinha, os trabalhos da preparação do vinho.
Veio a urbanização com construções a ocupar aqueles espaços e tudo foi alterado.
As vinhas que escaparam a esta triste sorte poucas foram e as que ainda hoje restam estão em vias de extinção.
APONTAMENTOS DI VERSOS
De acordo com a relação das actividades industriais e comerciais existentes em Peniche, em 1958, aqui existiam 83 estabelecimentos de venda de vinho a copo (tabernas).
Estes estabelecimentos eram identificados, em tempos, por um ramo de loureiro colocado por cima da porta principal.
Da acta da reunião da Câmara Municipal realizada em 27/2/1912 consta um ofício da Administração do Concelho para a policia municipal dar umas badaladas na sineta dos Paços do Concelho pelas 21 horas a fim de a esse sinal todas as tabernas e estabelecimentos similares fecharem.
Em 21 de Agosto de 1929 a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Peniche publicou um edital com uma Postura impondo que, a partir de 1 de Janeiro de 1930, os estabelecimentos de venda de vinho a copo, cervejarias, cafés, casas de pasto e restaurante, além dos preceitos higiénicos que lhes eram impostos pela inspecção de saúde nos termos do Decreto n 14.095, deviam observar disposições de conforto e estética como: tampos de pedra polida nos balcões e mesas destinadas aos clientes, recipientes privativos para lavagem de copos e outras vasilhas, com lavatórios separados para lavagem de mãos, paredes revestidas de azulejos, pavimentos de fácil lavagem e portas com guarda-ventos com molas que as obrigasse a fechar por si, apôs a entrada ou sarda de qualquer freguês.
A 29/1/1934, procedeu-se ao termo de posse, na Câmara Municipal, da Direcção do Grémio dos Vinicultores do Concelho de Peniche, constituída por Doutor José Bonifácio da Silva, José Maria de Oliveira e Joaquim Duarte Martins.
Estabelecimentos de venda de vinho a copo praticamente foram extintos em Peniche substituídos em grande parte por cafés e bares nocturnos.
Quem não se lembra das típicas tabernas, atapetadas em todo o seu espaço com areia da praia, da Constança, na rua António Cervantes; do Sortelha, na rua Pedro António Monteiro; do Manuel Capadinho, na Ribeira; do José Fadista, na rua Vasco da Gama; do Guilherme, na actual Avenida do Mar; da Rosa Mamede, na rua José Estevão; a do Caraça, na rua do Matinho, que dava apoio ao antigo cinema; do Sabe Sabe, na Travessa dos Remédios; e outras já mais sofisticadas como a do Possidónio da Cruz, na rua José Estevão; Joaquim da Júlia, na rua Tenente Valadim; Antero à Ponte, na rua Alexandre Herculano (no local do actual café “Nau”); Cândido João, na actual Avenida do Mar; e tantas outras, que era um nunca mais acabar.
Lembro aqui ainda a “Cova Funda”, em Peniche de Cima (por detrás da Igreja de Nossa Senhora de Ajuda) e, ultimamente, a taberna da “tia Eva” na Avenida do Mar.
Também não dà para esquecer os vinhos brancos do “Viola”, na zona do Bairro dos Pescadores de Peniche de Cima e do Jorge Guilherme, conhecido por “Cana do Noroeste” assim baptizada, na zona do Lapadusso.
No dealbar do século teve os seus últimos dias a bem conhecida tasca “As Cabacinhas”, na rua Primeiro de Dezembro.
Resta para finalizar a unica que ainda se mantém em plena actividade na rua das Amoreiras: ‘a taberna do Capilé”.

terça-feira, dezembro 11, 2007

terça-feira, dezembro 04, 2007

segunda-feira, outubro 08, 2007

sexta-feira, setembro 21, 2007

Largo de são pedro no principio do século XX

Princípios do século XX chegado do Círio

Abril 2004

segunda-feira, julho 16, 2007

O Actual “Bairro do Vale Verde”, em Peniche, Começou

Fernando Engenheiro
Em 1959 a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais concluíu grandes obras de remodelação do interior da Fortaleza de Peniche. Como é por todos sabido, a velha praça-forte que permitiu o nascimento o incremento do que é hoje a Cidade de Peniche, perdida a sua importância militar e não deixando de ser um, dos mais valiosos e imponentes monumentos do sou género existentes no nosso País foi, lamentavelmente, utilizada como prisão.
Das obras realizadas na década de 50 do último século tiveram especial relevância a construção de novas casernas para a GNR (que fazia a sua vigilância exterior), de um novo Parlatório na Parada e do um bloco prisional no local onde existiram as residências dos oficiais e sargentos da antiga praça de guerra, residências que foram então objecto de demolição.
Acontece que essas moradias, embora bastante degradadas, eram habitadas pelo Director e por alguns outros funcionários da cadeia. Havia, pois, que providenciar alojamentos para aqueles funcionários e para outros, em virtude do quadro do pessoal ter sido alargado e preenchido com elementos estranhos a Peniche. E não era novidade para ninguém a enorme carência de habitação que então se sentia nesta terra..
Para a construção das novas habitações destinadas ao pessoal que servia o estabelecimento prisional foi tomado em consideração um terreno de semeadura com casas de moradia dentro, com cómodos e cisterna, situado nos limites do burgo desta então Vila, no Caminho para o Cemitério Municipal (actual rua Luis de Camões), a confrontar do norte com, Caminho do Paiol actual rua Sacadura Cabral) e do poente com Custódio Inácio, Eduardo Domingos (vulgo Eduardo Caraça) e outros.
Seus proprietários, herdeiros de José de Jesus Leitão, proprietário e residente que foi em Peniche, eram a viúva Delmira da Conceição Leitão e os filhos Mário Leitão casado com Maria Júlia Laurentino, residentes em, Algés, e José Leitão, casado com Esmeralda Bruno, residentes em Peniche.
A aquisição do terreno escolhido foi efectuada em duas fases, Uma primeira parcela, com a área de 7.120 m2, com o valor venal de 786 096$00 foi objecto expropriação por utilidade pública a 9/11/1962.
A segunda parcela foi adquirida por compra feita pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e 29/11/1965 Pela sua área de 4.960 m2 foi paga a importância de 625 460$00.
Já então a Câmara Municipal em sua reunião de 17/4/1961, ao abrigo do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, tinha dado o seu parecer favorável, em colaboração com, os Arquitectos Urbanista o Consultor, ao anteprojecto do Bairro para os Funcionários da Cadeia do Forte de Peniche “a levar a efeito nesta Vila pelos Serviços de Obras de Edifícios de Cadeias, das Guardas Republicana e Fiscal e das Alfândegas.
Depois das terraplanagens o espaço destinado às construções foi vedado, com guaritas de elevação para vigilância a cargo de guardas prisionais É que a obra de construção dos blocos habitacionais foi executada por presos de delito comuns a cumprirem pena (com trabalho remunerado) no estabelecimento prisional de Peniche.
Muitos se lembrarão ainda de, na década de sessenta, ver passar pelas nossas ruas os pelotões de prisioneiros a caminho da obra, acompanhados por guardas com armas e tiracolo.
Nos fins de 1963 estava concluída a primeira fase de construção dos blocos. Havia agora que concluir os trabalhos respeitantes a terraplanagens, assentamento de lancis e canalização de esgotos, obras a cargo do Município.
Atendendo a que não havia capacidade financeira por parte do Município para levar a efeito, num futuro próximo, as obras em causa, a Câmara não viu inconveniente em que os mesmos fossem executados pelos Serviços de Obras acima referidos, conforme sua oferta. Só assim seria possível efectuar-se com brevidade a ocupação do aludido Bairro.
Pouco tempo depois, a 5/9/1964, a Delegação da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais nas Obras de Edifícios de Cadeias, das Guardas Republicana e Fiscal e das Alfândegas deu conhecimento à Câmara Municipal desejo do Ministério da Justiça de ampliar o “Bairro para os funcionários da cadeia do Forte de Peniche.
Foi na mesma data, em anexo, enviada uma planta com um estudo preliminar da referida ampliação no qual era solicitado que os terrenos anexos ao bairro já existente e indicados na referida planta constituíssem uma reserva, de forma a permitir a desejada ampliação.
A Câmara, por sua deliberação de 23/9/1964, apreciou os projectos apresentados para a construção de valetas, passeios, ga e anexos e construir e! em face da informação prestada pelos Serviços Técnicos Municipais, deliberou, par unanimidade, aprová-los nos termos do artigo décimo quarto do Regulamento Geral das Edificações Urbanas
Em 1968 começaram os trabalhos de ampliação do Bairro nos terrenos que já haviam sido adquiridos a 29/11/1965 aos herdeiros de José Jesus Leitão e noutros adjacentes adquiridos aos herdeiros de José Gago da Silva.
Aquando da alteração política do País ocorrida a 25/4/1974 estavam em construção mais alguns blocos habitacionais, obras que a partir de então ficaram paralisadas por alguns anos.
O Poder Central fez questão de confiar à Autarquia a administração de todo o património inerente ao Bairro da cadeia do Forte de Peniche até nova resolução.
Encontrando-se devolutos alguns fogos, e Câmara Municipal manifestou interesse na sua ocupação por funcionários municipais, já que a construção de um bairro destinado aos servidores da autarquia ers uma velha aspiração sua.
Depois de reuniões havidas entre a Câmara Municipal e a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, foi acordado que o bloco constituído pela antiga residência do Director da Cadeia do Forte se destinaria à instalação do Cartório Notarial de Peniche e que dois blocos ainda não concluídos (os n°s. 9 e 10) seriam entregues à Guarda Fiscal! sendo dois dos seus fogos destinados a funcionários do Cartório Notarial.
Em reunião camarária de 8/6/1977 foi aprovado o Regulamento para atribuição das casas do bairro dos Funcionários Municipais constituído por 16 artigos (ex. bairro dos funcionários do forte de Peniche).
Mas foi a partir da visita oficial a Peniche, a 6/10/1979 da Senhora Primeiro Ministro Engenheira Maria de Lourdes Pintassilgo, que se inteirou de situação daquele Bairro, que os problemas burocráticos envolvidos se resolveram.
Por portaria de 21/8/1980 do Secretário de Estado das Finanças, em face da solicitação da Câmara Municipal de Peniche da cessão de parte do antigo bairro habitacional afecto à ex-Cadeia de Peniche, a fim de a destinar a pessoal camarária em regime de renda económica, foi determinado:
Assim, dado o fim, de interesse público e que os imoveis se destinam:
Manda o Governo de República Portuguesa, pelo Secretário de Estado das Finanças, que, nos termos Decreto-Lei n°97/70, de 13 do Março, sejam cedidos, a titulo definitivo e mediante a retribuição de obras de infra-estruturas urbanísticas, designadamente a construção de ruas e as redes de água, saneamento e electricidade e ainda a oferta ao Estado de terreno municipal para a implantação da Casa de Justiça e terrenos necessários para que a Guarda Nacional Republicana construa as habitações que pretender, até so limite de dois blocos”
Também pela mesma portaria foi cedido ao Município o edificio onde actualmente funciona a Biblioteca Municipal - ‘Casa de dois andares destinada a habitação, no caminho do cemitério (agora Rua de Luis de Camões ) com a área coberta de 167,10 m2, com seis divisões no primeiro andar e quatro no segundo andar, com catorze vãos, confrontando de todos os lados com o proprietário, inscrita na matriz predial urbana da freguesia da Conceição sob o artigo 329”.
Em 1989 a Câmara Municipal, num terreno a poento daquele Bairro mas que fazia parte do mesmo, mandou edificar 8 blocos com un total de 48 fogos destinados a habitação social. Foi seu construtor Firma Construção Jorge Milar, Lda. Esta obra só foi possível com recurso a empréstimos concedidos polo instituto Nacional da Habitação.
A toda esta zona, que inclui o antigo Bairro conhecido par Bairro dos Funcionários da Cadeia do Forte de Peniche, Bairro dos Funcionários ou Bairro dos Funcionários Municipais e os quarenta e oito fogos de habitação social, foi por deliberação camarária de 23/4/1991, atribuída a designação de BAIRRO DO VALE VERDE.
Por último foram incluídas no mesmo bairro as mais recentes construções (24 fogos) a confrontar pelo Sul e Poente, respectivamente, com a rua Luís de Camões e a antiga rua do Paiol actual rua Sacadura Cabral).
Trata-se do terreno adquirido aos herdeiros de Custódio Inácio, que foi residente no lugar de Zambujeira do Mar, freguesia e Concelho da Lourinhã, coma área de 4.117 m2, e casas de habitação e dependências com a área de 259 m2, polo preço do seiscentos e cinquenta mil escudos, cuja escritura foi lavrada a l8/10/1980.
Resta referir que a designação de ‘Vale Verde” provém da antiga designação de “Caminho do Valverde” que correspondia ao que foi mais tarde a “Rua do Paiol” e hoje é, como disse, a Rua Sacadura Cabral.
PENICHE, Junho de 2007

terça-feira, julho 10, 2007

terça-feira, abril 24, 2007

O Bairro Senhor do Calvario e as suas Ampliações

Por:Fernando Engenheiro
Foi a partir da década de 40 do século transacto que a Câmara Municipal de Peniche, então sob a presidência de José da Motta Coutinho Garrido, funções que acumulou com as de Capitão do Porto de Peniche e, por inerência, com as de Presidente da Casa dos Pescadores, reconheceu, por casos com que deparava no dia a dia, a grave crise habitacional que afectava a Vila de Peniche, facto que muito contribuíra para os atrasos sentidos no desenvolvimento das suas actividades comerciais e industriais.
Esta crise era sentida principalmente pelas classes menos abastadas que, por falta de meios, não podiam fazer face às rendas das poucas casas existentes para arrendamento com um mínimo de condições indispensáveis de conforto e higiene. Muitas famílias, nomeadamente as constituídas por operários/as trazidos/as para Peniche quando da implementação aqui da indústria conserveira no início do século XX, eram obrigados a viver, em muitos dos casos, em verdadeiros cubículos construídos em madeira onde a chuva e o vento entravam implacavelmente e forçando-as a uma vida de forte promiscuidade.
A edilidade de então foi impulsionada por um sentimento humanitário e filantrópico e, ao que nos é dado conhecer, pelas facilidades que o Governo da Nação, na sua obra de ressurgimento nacional, dava aos Corpos Administrativos para debelarem tão grave problema.
Foi a partir da deliberação camarária de 12/2/1948 que se pôs mãos à obra com a aquisição de terrenos particulares no sitio escolhido para a implantação de um bairro com 60 casas para alojamento de famílias pobres.
Atendendo a que a Câmara Municipal não poderia por si só custear uma iniciativa desta natureza, devido ao seu elevado custo, houve que recorrer a um empréstimo a contrair na Caixa Geral de Depósitos Crédito e Previdência.
Cumpridas as formalidades legais, foi possível adquirir amigavelmente os terrenos aos respectivos proprietários:
Ao Doutor José Bonifácio da Silva, 6.200 m2 por 14.000$OO, 5.300 m2 por 26.500$OO, 2.600 m2 1 3.500$OO; a Nicolau Romão, 4.600 m2 por 23.000$OO, 2.800 m2 por 14.000$OO; a Joaquim de Matos Bilhau, 8.100 m2 por 40.500$OO.
Já com os terrenos em poder do Município, em 2/5/1949 foi celebrado o contrato de empreitada para construção de “Um bairro de 60 casas de habitação para as classes pobres de Peniche” entre Francisco Vieira Romão, residente em Torre, freguesia de Reguengo do Fetal, concelho da Batalha, e Albano Tomé Feteira, residente em Vieira de Leiria e o Municipio de Peniche, sendo a obra adjudicada pelo preço de um milhão trezentos e sessenta e nove mil escudos.
Acompanharam esta obra exercendo funções de apontador ao serviço do Comissariado do Desemprego Paulino Patrício e Mário José Gomes, residentes em Peniche.
Tudo estava encaminhado para a inauguração se realizar no período de 27 de Abril a 28 de Maio, o que não foi possível por falta de cumprimento dos prazos de entrega das importâncias a pagar aos empreiteiros.
Concluída a obra foi feito o balanço das despesas. Para tanto fez-se um estudo económico relativo ao custo das construções e encargos inerentes e, bem assim, entregar aos empreiteiros.
A precária situação financeira com que a Câmara Municipal se debatia impunha solução imediata, inadiável, e, atendendo à impossibilidade de se obter com urgência um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos Crédito e Previdência dado o seu cerceamento na concessão de créditos, houve que obter um empréstimo do próprio empreiteiro, Albano Temê Feteira, no valor de trezentos e setenta mil escudos, combinado ao juro de quatro e meio por cento ao ano, amortizável em cinco prestações anuais, com início em mil novecentos e cinquenta e dois, a liquidar no mês de Julho de cada ano. A respectiva escritura foi lavrada pelo Notário Privativo do Município a 5/7/1951 , já na presidência de António da Conceição Bento.
Comparticiparam a construção do Bairro o Estado (por Portaria de 15/2/48) e o Fundo de Desemprego (por Portaria de 22 do mesmo mês e ano). ao nível de vida das classes a que o mesmo bairro se destinava.
Nessa analise apurou-se que foram despendidas as seguintes verbas:
Custo da construção das moradias (excluídas as comparticipações): novecentos e oitenta e nove mil quatrocentos e oitenta e seis escudos e trinta centavos.
Aquisição dos terrenos para a edificação: cento e sessenta e dois mil e quinhentos escudos.
Urbanização (excluída a comparticipação): duzentos e sessenta mil escudos.
Electrificação: cinquenta mil escudos.
Tudo perfazendo um total de um milhão, quatrocentos e sessenta e um mil, novecentos e oitenta e seis escudos e trinta centavos.
Como acima referi, porque o erário municipal não com portava tão elevadas despesas, houve que recorrer a operações de crédito. Contraiu-se na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, em 9/4/1946, um empréstimo de seiscentos mil escudos, além do contraído ao empreiteiro. Foram encargos suportados por um período de 20 anos com verbas a retirar das receitas próprias do município.
Para a avaliação da situação económica das famílias a instalar no bairro foram tomadas em consideração as fichas preenchidas pelos interessados. Verificou-se que a média das rendas pagas na época oscilava entre oitenta e cento e oitenta escudos e que os salários diários dos chefes de família variavam entre vinte e trinta escudos. Estes elementos conduziram à fixação das rendas do bairro. Assim, por deliberação camarária de 10/9/1951 , dado que ah existiam dois tipos de fogos, com diferentes dimensões (designados por A e B), foi atribuído o valor de noventa escudos mensais para a renda dos fogos do tipo A e o de cento e vinte escudos mensais para os do tipo B. Estes valores foram aprovados por despacho do Subsecretário de Estado do Tesouro de 17/7/51 conforme ofício do Governo Civil de Leiria L. 5 0/5, de 24/10/51.
Para reger o bairro e para boa orientação e disciplina dos seus ocupantes, a Câmara Municipal, em sua reunião 8/10/1951 , aprovou o “Regulamento para a ocupação das habitações no BAIRRO SENHOR DO CALVARIO”. Era constituído por 9 artigos. Como curiosidade, transcrevo o artigo 5
“Os logradouros das frentes principais das habitações devem ser ajardinados sendo anualmente atribuído um prémio de 150$OO ao morador que mais cuidada e artisticamente apresentar, no dia 28 de Maio de cada ano o seu logradouro”.
Concluídas as obras da primeira fase (construção das habitações) e da segunda fase (obras de urbanização - executadas por administração directa) procedeu-se à sua inauguração. Esta ocorreu, no dia 8 de Novembro de 1951 , com a presença do Senhor Ministro das Obras Publicas, Governador Civil do Distrito, Presidente da Câmara Municipal e mais entidades oficiais. A inauguração foi precedida de uma sessão solene de boas vindas no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com a simbólica entrega das chaves das casas aos respectivos moradores. A festiva inauguração do Bairro foi assinalada com o descerramento duma placa toponímica numa pequena praceta existente no interior do novo aglomerado habitacional. Os festejos foram abrilhantados pela Banda Musical de Serra de El-Rei tendo colaborado na recepção organizada no Largo de Nossa Senhora da Ajuda as crianças da Escola Primária e os três ranchos folclóricos de Peniche. Refira-se que na mesma data foi inaugurada a Estrada Municipal de Geraldes aos Casais do Julio e o Campo de Jogos do Atlético Clube de Geraldes. No dia 4 do mesmo mês, em Atouguia da Baleia, com a presença dos Senhores Ministro da Economia, Subsecretário de Estado da Educação Nacional e Governador Civil do Distrito, haviam sido inaugurados dois edifícios escolares, melhoramentos no Centro de Assistência Social e ligada a iluminação eléctrica na sede da freguesia.
Novos terrenos foram adquiridos para abertura de acessos ao bairro e para a sua ampliação com novas construções. Em sessão camarária de 14/2/1952 foi deliberado adquirir para abertura de uma rua mil trezentos vinte e sete metros quadrados e vinte e dois centímetros, por oito mil novecentos e cinquenta e quatro escudos e vinte centavos, à Sociedade de Madeiras Lena, L da. Na mesma reunião, para efeitos de urbanização, foi deliberado adquirir-se, ao Doutor José Bonifácio da Silva, um terreno com a área de mil e novecentos metros quadrados, pelo preço de doze mil escudos. Dias de- pois, a 25 do mesmo mês, foi adquirido a Dona Amélia da Piedade Bilhau, para ampliação do bairro, uma parcela de terreno com a área de mil metros quadrados, pelo preço de cinco mil escudos.
A primeira ampliação do bairro concretizou-se com a construção de mais vinte moradias, agrupadas em dez blocos. A obra foi entregue, por contrato de empreitada, à firma Sousa & Caetano, L.da, com sede em Caldas da Rainha. A adjudicação foi feita pelo preço de trezentos e oitenta e nove mil oitocentos e noventa e cinco escudos, sendo a respectiva escritura lavrada pelo Notário Privativo da Câmara Municipal em 13/7/1953.
Por deliberação camarária de 10/8/1953, mais uma parcela de terreno com a área de dois mil metros quadrados, pelo preço de dez mil escudos, foi adquirida ao Doutor José Bonifacio da Silva, para ampliação do mesmo bairro. A Câmara Municipal tinha todo o interesse em continuar a adquirir ter- renos naquela zona, não sô porque enriquecia o património municipal mas também porque essa aquisição viabilizava a execução do plano de urbanização. Assim, pouco tempo depois, foi resolvido adquirir também ao Doutor José Bonifácio da Silva, pelo preço global de doze mil e quinhentos escudos, duas parcelas de terreno com a área de dois mil e quinhentos metros quadrados, tendo uma oitocentos metros quadrados e a outra mil e setecentos metros quadrados.
Pretendia agora a Câmara Municipal, nestes últimos terrenos adquiridos, mandar edificar mais 60 fogos, distribuídos por 7 blocos com 28 fogos e 8 blocos com 32 fogos.
Foi este assunto apresentado na reunião camarária de 5/12/1960 sendo que com estas novas construções se visava o realojamento das famílias que se mantinham no antigo bairro dos trabalhadores da fábrica “do Alemão” num bloco que deseja va demolir pelas péssimas condições que oferecia e por se encontrar encravado no logradouro da Escola Industrial e Comercial de Peniche.
A empreitada para a construção de mais estes 60 fogos no bairro Senhor do Calvário foi entregue ao empreiteiro Luís Costa, construtor Civil, residente em Lisboa, pela importância de dois milhões duzentos e vinte e cinco mil escudos, sen- do lavrada a respectiva escritura de adjudicação pelo Notário Privativo da Câmara, a 15/3/1962, na presença do novo Presidente Senhor Victor João Albino de Almeida Baltazar.
Findo os trabalhos, procedeu-se ao arranjo dos arruamentos, obra a cargo de Alexandre Genovevo Moreira, agente técnico de engenharia, trabalhos que foram adjudicados pela quantia de seiscentos e setenta mil setecentos e dezoito escudos, conforme sua proposta aprovada por deliberação camarária de 6/1/1967. Foi lavrada a escritura de adjudicação pelo Notário Privativo da Câmara a 27/2/1967.
Ainda em 1967 se procedeu à distribuição destas novas casas e, pouco tempo depois, alguns blocos que não foram desde logo ocupados foram utilizados para o realojamento das famílias vítimas do incêndio que então destruiu no Alto do Visconde um velho bloco habitacional de uma antiga fábrica de conservas que ali havia existido.
Ao longo dos anos, a Câmara Municipal, proprietária de todos os fogos do bairro, tem realizado ali, por administração directa, muitas obras de conservação periódica e de beneficiação. Em 1977, por as despesas de conservação serem mais avultadas, recorreu para o efeito a um empréstimo do Fundo de Fomento da Habitação no valor de um milhão e quinhentos mil escudos.
E de referir ainda que terrenos disponíveis existentes entre as casas do bairro foram cedidos pelo Município à Fundação Salazar que ali construiu cinco blocos habitacionais com um total de 40 fogos.

segunda-feira, março 26, 2007

O Bairro dos Pescadores Junto ao Porto da Areia Norte em Peniche

Por:fernando engenheiro
Quando, ainda no primeiro quartel do século vinte, grande quantidade de pescado era descarregada na praia da Gambôa (ou Cambôa), ao norte desta Vila, alguns negociantes de peixe construíram próximo da mesma praia, à entrada da vila, em terrenos da jurisdição do Ministério da Guerra confinantes com a Estrada Nacional, pequenas barracas de madeira que se destinavam à sua actividade.
Pouco a pouco, porque o movimento de pescado na- quela praia se foi tornando praticamente nulo, passaram aquelas barracas a servir de habitação a famílias dos mais pobres pescadores.
Porque o negócio era rendoso, alguns indivíduos pouco escrupulosos mas que dispunham de algum dinheiro, começaram também a construir ali outras barracas, umas apôs outras, acanhadas, defeituosas e inestéticas, que alugavam, por boas rendas na época, para habitação, embora sem quaisquer condições para tal fim.
Assim se constituiu um aglomerado de barracas de miserável aspecto que se encontrava à entrada desta então Vila e que causava, especialmente ao visitante (hoje designado por turista....), a mais desagradável impressão.
E certo que, durante alguns anos, aquelas precárias habitações supriram, parcialmente, a falta de moradias que se sentia em Peniche no princípio do século XX, por força do considerável aumento da população local resultante do grande desenvolvimento da pesca proporcionado pela implantação de uma forte indústria de conservas.
Pelo seu péssimo aspecto e pelas más condições de habitabilidade que proporcionavam, a Câmara Municipal tinha todo o interesse em fazer desaparecer tais barracas, cuja existência era, sob todos os aspectos, condenável.
Foi durante a presidência de Luís Pedroso da Silva Campos que foi tomada a primeira iniciativa nesse sentido. Em 18/12/1940 foi feito pedido à Direcção da Arma da Engenharia, entidade que superintendia quanto ao terreno ocupado, para que fosse determinado que, à maneira que fossem terminando os períodos de arrendamento do terreno ocupado (que nunca iam além do prazo de três anos) eles não fossem renovados.
Mais se solicitava que fossem suspensas as praças para novos arrendamentos, porventura já anunciados, e que se intimassem os respectivos proprietários a procederem à demolição das barracas conforme fossem expirando os seus arrendamentos.

Era a forma encontrada para começar a fazer desaparecer aquele inestético, anti-humano e miserável aglomerado de velhas e podres barracas que constituíam uma vergonha para esta terra.
As Câmara que se seguiram tiveram, ao longo de muitos anos, que assumir grandes responsabilidades para a resolução dos problemas habitacionais dos ocupantes destas barracas e de muitas outras famílias trazidas para esta terra, especialmente para trabalharem na indústria de conservas de peixe, a quem não foi então proporcionada habitação com o mínimo de condições e dignidade.
Em reunião camarária de 29 de Junho de 1939 (L.°de actas de 1937/39) já a autarquia tinha deliberado promover a aquisição de dois pedaços de terreno situados em Peniche, na freguesia de Nossa Senhora da Ajuda, sendo um com a área de 3.471 m2 e outro com 1 856 m2, pertencentes, respectivamente, a Joaquim Bernardo Petinga e a Joaquim Petinga Júnior, situados junto ao Porto de Areia Norte, ao preço de dois escudos o metro quadrado, o que perfez a importância de 10.654$00. Na acta da reunião seguinte, realizada a 6/7/1939, foi deliberado ceder gratuitamente à Junta Central das Casas dos Pescadores todo aquele terreno, a fim de nele ser construído um bairro para pescadores.
Era, assim, a maneira mais eficaz que a Câmara Municipal tinha de contribuir para a resolução do problema que eram as inestéticas barracas existentes à entrada da Vila.
Outra aquisição de terreno foi efectuada a um dos anteriores vendedores, Joaquim Petinga Júnior. Por deliberação camarária de 21/8/1941, pela importância de 40.000$00, foi-lhe adquirida a área de 20.000 m2 no sítio designado por “dos Moinhos” ou Casal Viola, para ser cedida, a título gratuito, à Junta Central da Casa dos Pescadores.
Poucos anos depois, mais propriamente em 10/2/1947, por auto de vistoria para habitabilidade, assinado pelo Sub-Delegado de Saúde Armindo Simões Serra e pelo funcionário dos Serviços Técnicos Municipais José Afonso Roxo Neves, foi reconhecido que um grupo de 16 casas do referido bairro, com 32 moradias, se encontrava pronto para habitar.

Ficaram a cargo do Município todas as tarefas de construção dos arruamentos, assentamento de esgotos domésticos e pluviais, bem como a iluminação pública e as canalizações do abastecimento de água ao domicílio
As despesas a cargo do Município continuaram. Em execução do Plano de Urbanização, foi resolvido, em reunião camarária de 8/10/1951 , proceder à abertura da rua de acesso ao Bairro dos Pescadores, em Peniche de Cima. Para tanto foi deliberado adquirir, pelo preço de 20.000$00, ao Senhor Adelino Leitão, para demolir, o seu prédio assim delimitado e confrontado:
“Uma casa com um andar, seis divisões e cinco vãos. Superfície coberta: sessenta e um metros quadrados e cinquenta centímetros - Confrontando do Norte, Rua da Piedade; Su!, Rua da Alegria; Nascente, Salomão Dias; Poente Travessa - Inscrito na matriz predial da Freguesia da Ajuda sob o número duzentos e sessenta e seis.”
Todas estas cedências de terreno da Câmara à Junta Central das Casas dos Pescadores só tiveram a sua legalização definitiva já sob a presidência de António da Conceição Bento, por escritura lavrada a 24/2/1 953 pelo notário privativo da Câmara Municipal, José Acúrcio Vidal de Carvalho, representando a junta Central das casas dos Pescadores António Pereira de Torres Fevereiro, Vogal Director da referida Junta.
A Câmara Municipal acabou por ceder, a título de doação pura, àquela Junta Central, a área coberta e respectivos Logradouros, o que perfaz nove mil quatrocentos e cinco metros quadrados, com a edificação de 60 casas e mais 10 a nascente daquele Bairro, edificadas em 1955 na sequência de empreitada, anunciada no jornal “Diário de Noticias” de 21/11/1954, com uma base de licitação de 303.857$92.

Era designada toda aquela área por sítio do Alto dos Moinhos ou Porto de Areia, na freguesia de Ajuda, e tinha como limites as seguintes confrontações: De Norte com caminho, do Sul com herdeiros de Joaquim de Matos Bilhau e outros, de Nascente com rua de São João e viúva de Joaquim Bernardo Petinga e de Poente com caminho do Casal da Boa Vista.
O restante terreno ficou na posse do Município para arruamentos e abertura da marginal Norte, bem como para a implantação do edifício escolar de Peniche de Cima com o respectivo logradouro.
Foi este Bairro administrado desde a primeira hora pela Direcção da Casa dos Pescadores de Peniche até o Poder Central resolver proceder à venda dos imóveis aos inquilinos.
A estrutura dos seus primitivos prédios tem sido, pouco a pouco, alterada. Também a sua ocupação actual já pouco tem a ver com a classe profissional para quem foi construído.

sexta-feira, março 23, 2007

segunda-feira, março 19, 2007

Cabo Avelar Pessoa provavelmente nos anos 70....?


Tantas lembranças dos velhos tempos, que desapareceram ao mesmo tempo que este barco, so nos restam estas fotografias, para matar saudades.
PS. Em 1994 encontrei este Cabo Avelar em total descomposição, na praia sul da Areia-Branca, penso que os barcos devem ter uma alma e podia ter sido aproveitado nem que fosse para servir de museu, ah! a cultura no nosso país...........se o barco jogasse a bola talvez......

terça-feira, março 13, 2007

sábado, fevereiro 24, 2007

IGREJA de SAO PEDRO

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

sexta-feira, janeiro 26, 2007

A FREGUESIA DE SÃO PEDRO E OS SEUS ANTECEDENTES

Constata-se que, muito cedo, já no dealbar da fundação da nacionalidade portuguesa, se sentiu a necessidade de proceder a demarcações territoriais do nosso País, visando a sua organização e adequada administração.
o Rei sempre procurou conhecer com exactidão quais as terras possuídas pelos nobres feudais e, com a concessão de forais, foram sendo criadas divisões administrativas com limites que, em muitos casos, ainda hoje subsistem.
Também a Igreja Católica estabeleceu os seus vínculos com os fiéis em bases com incidência territorial estabelecendo Dioceses (área territorial confiada a um Bispo) e dividindo estas em Paróquias ou Freguesias (agrupamentos de fregueses ou paroquianos residindo num dado território onde um Sacerdote - o Pároco - exercia directamente o seu múnus espiritual junto dos fiéis que lhe eram confiados por mandado do seu Bispo. Estas tinham como sede a Igreja - Casa de Deus - que se fazia notar pelo seu campanário onde os sinos soavam recordando aos fiéis as suas obrigações e chamando-os para os actos religiosos colectivos. Á volta da Igreja eram edificadas as habitações e assim se formavam pequenas povoações que, em muitos casos, não cessavam de crescer.
Em Peniche foi precisamente o que se deu. Começaram por ser formados dois pequenos povoados - um na zona norte, conhecido por Peniche de Cima (ou Peniche de Riba) que recebeu a designação de freguesia da Virgem Maria da Ajuda (Nossa Senhora da Ajuda) e outro na zona sul, conhecido por Peniche de Baixo ou Ribeira (por vezes designado por Ribeira de Atouguia), este pertencente à freguesia do Espirito Santo (mais tarde freguesia de S. Pedro).
O limite destas duas freguesias era, mais ou menos, na zona da actual Praça Jacob Rodrigues Pereira, por ali existir uma vala direito ao mar.
Não é fácil determinar qual destas duas freguesias será a mais antiga embora a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda seja na boca do povo intitulada como Igreja Matriz.
Como freguesia podem existir dúvidas atendendo à edificação do primeiro templo que existiu junto da actual Igreja de São Pedro e que era dedicado ao “Espirito Santo”. Raro era o lugar que não tinha uma ermida em que o seu Orago era para os católicos a terceira pessoa da Santíssima Trindade, designado na Sagrada Escritura por Divino Paráclito e a que damos o nome de Divino Espírito Santo. Peniche não seria excepção pois além de lhe dedicar um templo comemorava as festividades em sua honra, introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel. A instituidora está ligada pela história a estas terras. D. Dinis, por carta de mercê datada de 1 9 de Outubro de 1307, doou a sua esposa a Vila de Atouguia, com sua alcaidaria e todos os seus direitos. Será que a freguesia está incluída, com a devida administração, a partir do século XIV? Faça cada um o juízo que quiser.
O documento mais antigo que chegou às minhas mãos data de 1553. Trata-se da primeira Bula concedida à Irmandade do Santíssimo Sacramento, que tinha a sua sede naquele antigo templo (doc. existente no Arquivo Paroquial).
Mas foi a partir de um documento de provisão de divisão de freguesias desta peninsula, datado de 1 de Setembro de 1603, que a área da freguesia de São Pedro ficou mais reduzida com a criação da freguesia de S. Sebastião (ou de Nossa Senhora da Conceição) que veio mais tarde a ter uma segunda versão.
Durante muitos séculos a Igreja Católica teve a seu cargo os registos dos nascimentos (baptizados), casamentos e óbitos e essa era uma das missões de cada uma das Paróquias.
É de referir que os termos “Paróquia”ou Freguesia” tiveram origem na denominação tradicional das circunscrições criadas pela Igreja Católica (eram o conjunto dos cristãos confiados à jurisdição de um Pároco) embora mais tarde se adoptassem as mesmas palavras para designar divisões administrativas criadas pelo poder civil, com órgãos de gestão próprias. O Liberalismo extinguiu muitas por deficiência populacional. O Decreto de 18/7/1835 deu às subsistentes um carácter novo. A sua gestão foi confiada a uma Junta de Paróquia, presidida pelo Pároco.
Em obediência à Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa, decretada e dada pelo Rei de Portugal e dos Algarves, D. Pedro, Imperador do Brasil, em 29/4/1826, passou o Governo Central a dispor de representantes em cada circunscrição administrativa ali prevista. No Distrito: o Governador Civil (cargo que ainda subsiste), no Concelho: o Administrador do Concelho e na Paróquia o “Regedor”, este dependente do Administrador do Concelho e com funções de natureza essencialmente policial.
Com a implantação da República a 5 de Outubro de 1910 é aprovado, em 18/2/1911 , o Código do Registo Civil, legislação que criou uma absoluta separação entre os registos e documentação da Igreja e os do Estado. Determinou o novo Código que “os factos essenciais ao endivido, à família e sociedade, nomeadamente, nascimentos, casamentos, óbitos” passassem a ser registados por Conservadores (nas capitais dos distritos e Bairros de Lisboa e Porto), Oficiais do Registo Civil (nos concelhos) e Ajudantes (nas freguesias). Estes serviços, que nas Paróquias eram realiza dos pelo Clero, ficaram na dependência do Ministério da Justiça.
A natureza das freguesias voltou a ser alterada pela Constituição Política de 1933 que as define como “o agregado de famílias que, dentro do território municipal, desenvolve uma acção social comum por intermédio de órgãos próprios”. Estes órgãos eram as Juntas de Freguesia, corpos administrativos constituídos por três membros - Presidente, Secretário e Tesoureiro - eleitos quadrienalmente pelos chefes de família residentes na circunscrição.
Em Peniche, nos primeiros anos, toda a sua actividade administrativa era desenvolvida a partir dos serviços municipais. Mais tarde, as três freguesias da sede do Concelho, já com um funcionário - que servia as três Juntas - passaram a dispor de uma Secretaria instalada em parte do primeiro andar de um edifício contíguo ao dos Paços do Concelho (e hoje integrado nestes). Era um espaço conhecido por “Casa das Senhas” por nele, durante de 2. Grande Guerra, haver funcionado a Comissão Reguladora, dependente do Ministério da Economia, que controlava e fiscalizava o comércio dos produtos objecto de racionamento (o pão, o açúcar o arroz, o azeite, etc.) controlo que era feito por meio de “senhas” distribuídas à população.
Em Maio de 1946 a Câmara Municipal assumiu a responsabilidade de alugar um espaço para sede da Comissão Municipal de Assistência (na rua José Estevão, tornejando para a Travessa António Feliciano de Castilho (actual Largo com o mesmo nome), a uma particular proprietária do edifício. Acabou por ser acordada a instalação ali, também, da Secretaria das três Juntas e da Subdelegação de Saúde. Refira-se que todo o trabalho administrativo das três Juntas, da Comissão Municipal de Assistência e da Subdelegação de Saúde era executado pelo mesmo funcionário.
A sede destes três serviços voltou a funcionar durante toda a década de 1950 no edifício contíguo aos Paços do Concelho onde a sede das Juntas já existira anteriormente. Ali se manteve até que as obras de ampliação e remodelação do edifício obrigaram à transferência de alguns serviços para um edifício alugado sito na Rua Marquês de Pombal, n°18 (onde actualmente funciona o Sindicato dos Pescadores). A secretaria das 3 Juntas de Freguesia foi um desses serviços.
Atendendo ao aumento do movimento e autonomia que as Juntas de Freguesia passaram a ter foi depois alugado para a sua sede um prédio na rua do Mercado (actual rua António da Conceição Bento) ao seu proprietário Domingos Paulino. Aí puderam as Juntas dispor de vastas salas e separação total, com
funcionários próprios no atendimento por cada uma delas.
Mas a Autarquia não quis ficar por aqui. Pretendia edificar casa própria para ali colocar todo ó expediente inerente às 3 freguesias, com os seus espaços separados e independentes, o que era também desejo das três Juntas.
Assim, aproveitando um programa governamental que apoiava a edificação de sedes para juntas de freguesia, a Câmara, para construção de sede própria para as três Juntas das Freguesias da sede do Concelho, por escritura lavrada a 20/11/1985, procedeu à venda, pela simbólica importância de mil escudos, de uma parcela de terreno com a área de duzentos e oitenta e oito metros quadrados, que ficou registada em nome da Freguesia da Conceição, embora destinada à construção de sede para as três freguesias. Até à sua edificação muitas ideias houve e muitas alterações surgiram.

Procedeu às obras de construção da I° fase do edificio a empresa Torres & Franca, Limitada, com a sede em Sanguinhal, Concelho do Bombarral, pela importância de 6.997.970$00 (seis milhões novecentos e noventa e sete mil novecentos e setenta escudos), conforme a sua proposta aprovada por deliberação camarária de 20/3/1990. Para a conclusão das referidas obras foi adjudicada uma segunda fase à firma Habipen - Sociedade de Construções, Lda, com sede em Atouguia da Baleia, pelo valor de 13.787.993$00 (treze milhões setecentos e oitenta e sete mil novecentos e noventa e três escudos), conforme deliberação camarária de 7/4/1992.
Já concluídas as obras, a Câmara Municipal tomou conhecimento, em sua reunião de 19/10/1993, de que, na sequência de sorteio, foram distribuídas a cada uma das 3 Juntas de Freguesia desta Cidade as dependências de que iriam dispor no seu novo edifício-sede.
Procedeu-se à sua inauguração a 6/11/1993, com a presença do Senhor Secretário de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território e do Senhor Director-Geral da Administração Local, bem como das autoridades civis e militares desta Cidade. É de salientar que a concretização desta obra é fruto do empenhamento conjunto do Estado, da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia.
Quis a Junta de Freguesia de São Pedro dispor de símbolos heráldicos aprovados oficialmente pelo que solicitou o parecer da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Assim foi publicada no Diário da Rep III Série, n.124, de 29 de Maio de 2002, a respectiva ordenação heráldica do seu brasão, bandeira e selo.
A sua descrição é a seguinte:
Brasão - Escudo de azul, farol de prata lavrado de negro, com lanterna de ouro, entre duas guaritas de fortaleza de prata, lavradas de negro em chefe e campanha diminuta de prata e ver- de de três tiras. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “PENICHE - S. PEDRO”.
Bandeira - branca. Cordão e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro.
Selo - nos termos da lei, com a legenda:
“JUNTA DE FREGUESIA DE PENICHE - S. PEDRO”.

RELAÇÃO DOS REGEDORES DA FREGUESIA DE S. PEDRO A PARTIR DE 1855
1855 - Bento da Costa Perdigão; 1856 - João Manuel e para substituto Francisco da Mota Junior
1858 - Joaquim José Tavares; 1870 - Francisco José da Mota;
1877 - Joaquim Dias; 1879 - Joaquim da Cruz e Silva; 1884 - Joaquim Dias e substituto Joaquim Pedro da Costa ; 1890 - Eduardo Leão Monteiro; 1892 - Joaquim Pedro da Costa e substituto Estevão José de Fana e Melo; 1 894 - Eduardo Leão Monteiro e substituto José Vicente Henriques; 1897 - Estevão José
de Fana e Melo; 1897 - Joaquim Dias; 1900 - João Henriques e substituto José Cândido de Azevedo Melo; 1901 - Joaquim Dias; 1904 - Joaquim Ramos da Silva Desidério e substituto Fernando Maria; 1 906 - Joào Verissimo dos Santos Costa; 1911 - Jerónimo Maria Machado; 1912 - Antero de Ascenção Leitão; 1914 - José do Nascimento Ginja; 1915 - Mariano Rodrigues Rasteiro; 1915 - José do Nascimento Ginja; 1918 - Jerónimo Maria Machado;
1921 - Jaime Vicente; 1922 - António Guilherme Correia; 1924 -José do Rosário Leitão; 1925 - António Guilherme Correia; 1926 - José do Rosário Leitão; -1935 - José do Nascimento Ginja - 1961 - José Manuel dos Santos Ginja

.- 1969/73 - Fernando Cos ta Santos; 1973 - José Júlio Cerdeira.
JUNTAS DE FREGUESIA DE S. PEDRO A PARTIR DE 1934
1934
- Presidente: Ricardo Costa - Secretário: Cláudio Guilhermino Leitão - Tesoureiro: António dos Santos Afra; Vogais: Francisco de Freitas Trindade - António Pedro da Costa e Acácio de Sousa Lacerda. 1935 - Presidente: António Luís Ceia - Secretário: Ricardo Costa - Tesoureiro: Ramiro Fernando da Conceição Leal Pessoa. 1936 - António Pedro da Costa
1942/45 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: António Pedro da Costa - Tesoureiro: Jacinto José Martinho - Vogais: Ilídio de Abreu e Jorge Domingos Júnior.
1946/49 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: Miguei Rocha Júnior - Tesoureiro: Gilberto Rosa Serafim - Vo- gais: Jacinto José Martinho - José Duarte Rodrigues - José Leitão.
1951/54 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: João de Deus Martins Vargas - Tesoureiro: Jorge Domingos Ji - Vogais: Miguel Rocha Júnior - José Leitão - Jorge Alberto Correia do Amarai Domingos.
1955/58 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja - Secretário: João de Deus Martins Vargas - Tesoureiro: Jorge Domingos Júnior - Vogais: António Henriques Bolas - Miguel Rocha Júnior
- Jorge Alberto Correia do Amaral Domingos.

1964/67 - Presidente: José Manuel dos Santos Ginja.
1968/71- Presidente: José Manuel dos Santos Ginja.
1972/1975 (Com alteração apôs o 25 de Abril de 1974) - Presidente: Carlos da Rosa Bulcão Avila - Secretário: António Henriques Bolas - Tesoureiro: João Custódio Rocha.
1974 - Comissão Administrativa:
Presidente: llidio de Abreu - Secretário - José Maria Leitão da Silva - Tesoureiro: José Henriques de Jesus Rosa.
1977/1979 - Presidente: António José Mendes do Carmo - Secretário: João Custódio Rocha - Tesoureiro: - José Anacleto Leitão Redondo.
1980/1982 - Presidente: Ilídio de Abreu - Secretário:António José Mendes do Carmo - Tesoureiro: José Maria Leitão da Silva.
1983/1985 - Presidente: Adelino Apar Sardinha - Secretário: Humberto Costa - Tesoureiro: João de Jesus Valdez.
1986/1989 - Presidente: Ilídio de Abreu - Secretário: Secretário: Saturnino José Velêz Pelerito - Tesoureiro: Rui Jorge Gonçalves Marques Cordeiro.
1990/1993 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Eugénio da Costa Clara -Tesoureiro – Ilídio d’Abreu.
1994/1997 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretario: Floriano Serrano Sabino - Tesoureiro: Francisco Ger mano Martins Santos.
1998/2001 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Cesaltino Eustáquilo Martins
Tesoureiro: Maria Manuela Franco Duarte.
2002/2005 - Presidente: Abel José Carvalho de Campos - Secretário: Floriano Serrano Sabino - Tesoureiro: Joaquim José Feliciano Silva.
2006/2009 - Presidente: Maria Manuela Trindade Farto Azevedo Filipe - Secretário: Floriano Serrano Sabino – Tesoureiro: José Isidro Coutinho.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Registos da arte Sacra

Exposição de Fernando engenheiro, que encerrou no dia 6 de janeiro 2007.
Foram expostas no total, 82 obras da autoria de: F. Engenheiro, aqui alguns exemplares que merecem uma maior Exposição mediatica, embora o autor seja bastante humilde, de qualquer forma, os meus parabéns.




quinta-feira, janeiro 18, 2007

Gil Teixeira Lopes

Entrevista realizada provavelmente em 1970, para o boletim da Escola Industrial e Comercial de Peniche. http://www.es-peniche.net/index.php?option=content&task=view&id=11
A propósito duma exposição
Quando, pela primeira vez, admirei alguns quadros do pintor Gil Teixeira L opes, numa exposição, integrada nas festas de Nossa Senhora da Boa Viagem, promovida pelo Núcleo de Artes Plásticas da nossa Escola, verifiquei que apresentavam algo de diferente em relação aos outros que até aí estava habituada a apreciar. A que se deveria essa diferença? Ao homem em si, ou à formação e experiência adquirida ao longo dos anos?
Quis então descobrir e compreender um pouco da obra e do carácter do Pintor.
Diplomado pelo Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, (onde exerce presentemente funções docentes), a sua ascensão como artista conhecido do público fez-se por etapas pontuadas, frequentemente, de muitos e variados prémios nacionais e estrangeiros dos quais destaco, por me parecerem mais representativos, o prémio Nacional de Pintura em 1969 e, mais recentemente, em Julho de 1970— em Gravura -a placa de prata da federação de artistas plásticos da Jugoslávia, na 88 Bienal de Florença,
Para melhor informação dos aspectos da vida e obra do artista, dada a inexistência de publicações que aos modernos artistas nacionais sejam consagradas, consegui entrevistá-lo no Centro de Gravura, situado na Escola de Belas Artes e af apresentei-lhe um questionário concebido após a leitura de algumas obras de iniciação estética.
-O que é essencial para se ser um bom pintor?
Creio que o essencial para ser um bom pintor é possuir dotes naturais, além de todo um enriquecimento conseguido através de uma prática constante.
Paralelamente a todo um aperfeiçoamento estético é fundamental, ainda, haver um repositório de conhecimentos em todas as actividades da vida, que o possam levar a expressar e a poder dar respostas aos estímulos que o pressionam dentro da sua época.
-Acha que no campo da pintura se está o voltar ao figurativo ou predomina ainda o abstracto?
Presentemente, o conhecimento que tenho da arte internacional, leva-me a afirmar que existem em determinados pontos geográficos culturas que ainda se expressam dentro da figuração e outras dentro da abstracção.
Assim, na Europa, nomeadamente em Itália, acontece uma nova figuração mas, por exemplo ainda na Europa parte da Arte Catalã, portanto da Arte de Barcelona, parte da expressão madrilena ainda se expressa através de formas abstractas. Subsistem realmente as duas correntes.
-Qual a relação entre o artista e a Natureza, ou entre Arte e Natureza?
Tenho para mim que a Natureza actua sobre o artista, estimulando-o, provocando-lhe reacções que irão acrescentar todo um repositório de novos conhecimentos ou emoções
à sua experiência anterior.
Deverei porém acentuar que, dentro da nossa época, as criações artísticas raramente são influenciadas pelos aspectos “visuais” da natureza.

-Existirá alguma relação entre o Arte e a Religião?
Sim, mas só para aqueles casos em que o artista está vinculado a uma determinada sociedade onde existe uma dominante religiosa.

-Sabendo-se que os três ciclos época-Geração-Indivíduo, exercem influência na Arte, qual considera o mais potente e porquê?

Considero-os de igual forma, ou sem grandes distinções entre elas. Porém considerados em profundidade histórica, verificamos que em determinadas épocas houve realmente predominância dum deles em relação aos outros, dependendo ainda essa predominância do factor geográfico.

-Existe alguma relação entre a sua pintura e a sua sensibilidade?
Claro que sim. A sensibilidade a que alude,. creio-a produto da minha formação como também é produto da região donde sou natural. Na realidade os seus aspectos paisagísticos e humanos marcaram-me profundamente, não obstante o enriquecimento emocional posteriormente adquirido noutros meios geográficos, ou sob novos ângulos de visão.
Creio que o caso do cor violenta e até dos contrastes dissonantes do minha pintura, estão em relação directa com o local geografico do meu nascimento.

-Quais as reacções do público e do crítica perante o sua obra?
É bastante difícil responder, porque na minha obra, existem já varias intenções. Assim, assinalarei o período em que tive a intenção de entrar em grande diálogo com o público, não apenas o nosso público, mas também o público internacional. Reportando-me a essas fases, creio que duma forma geral reagiu bem, aceitando e compreendendo ou tentando compreender. Depois houve de minha parte um afastamento progressivo por volta do ano de 1965. Uma das ultimas exposições onde estive presente foi, excepcionalmente, na Exposição de Artes Plasticas promovida pela Escola Industrial de Peniche, e a última no Salão Nacional de Arte, Salão onde me foi atribuído o prémio Nacional.
Mais recentemente é o público estrangeiro, que tem aderido à minha obra, mostrando muito interesse pelas exposições de gravura que realizei em França e em Barcelona.
Agora, pela primeira vez em Portugal, numa exposição internacional, apresento 5 gravuras e creio que o público gostou Espero, que numa nova exposição que estou a preparar, e que terá lugar na Sociedade Nacional de Belas Artes, na Sala de Arte Moderna, ele venha de novo tomar conhecimento de um trabalho que tem sido feito mais ou menos no silêncio mas com muita sinceridade.
No que diz respeito á crítica creio que não possuímos um conjunto de indivíduos que critiquem pintura á altura das necessidades dos artistas portugueses. Alguns, limitam mesmo os seus juízos de valor, á um reduzido grupo de artistas que gravita á sua volta. Os outros, para além do olvido a que são votados, também - e isso é uma situação que deve ser revista – não têm oportunidade de apresentar as suas obras porque as galerias ou outras entidades só expõem trabalhos de alguns artistas com quem estabelecem contratos. Assim direi que não há uma abertura em leque, que não há oportunidades para todos. Assim os críticos limitam-se o criticar, a elogiar duma maneira em geral, sempre os seus protegidos.
Nao é, ainda, menos verdade, que a crítica portuguesa tenha pouca originalidade, pois vai beber a fontes estrangeiras os conhecimentos que enuncia. Mesmo, quando possuidores duma sólida formação são desprovidos, na sua quase totalidade, de capacidade de se libertarem de influências estranhas e “gozar” arte.
De momento só me recordo de dois verdadeiramente capazes de “sentirem” arte - Rocha de Sousa e Lima de Freitas. Neles existe uma capacidade de emotividade que a meu ver falta aos outros críticos. São mais abertos, emocionam-se, sentem arte, expressam-se em termos de arte.

-Que é para si bom retrato no sentido humanístico?
Um Retrato, como uma paisagem ou um qualquer elemento de configuração geométrica, acima de tudo, devem ser primeiro-pintura. Só depois e no caso particular que assinala, se deverá reter no retratado, atendendo, se possível as características da sua psiquê.
Nota-se porém que nem todos os artistas podem ou devem pintar retratos. Na realidade, deverão possuir uma capacidade ou dotes naturais que possibilitem intuir a parte psicológica do retratado, e plasmá-la na sua expressão plástica.


-Existem muitos pintores com valor em Portugal?
A meu ver e através do conhecimento que eu tenho da pintura e dos pintores estrangeiros, considero que em Portugal existem, potencialmente, muito bons pintores. Infelizmente as nossas estruturas, não permitem que esse potencial entre em desenvolvimento.
Assim, o jovem artista ao integrar-se na nossa sociedade verifica que ela não é evoluída esteticamente-quiçá por motivo duma falta de preparação que lhe deveria ser ministrada desde a primária - e, dessa forma, podemos dizer que, na esmagadora maioria acabado o curso acaba a sua carreira artística porque não há consumo das obras que produz e não possuindo bases económicas que lhe permitam uma criação livre estiolam, afastando-se, por uma questão de sobrevivência dos caminhos da Arte.


-Qual o pintor que mais aprecia?
Sempre que me têm feito esta pergunta eu respondo que são 100 ou 200. Quando assim falo, é pensando nos artistas de todas as épocas mas, como adivinho a sua próxima pergunta, sempre direi que, actualmente, nacionais os que mais aprecio são, entre vários Júlio Pomar (que muitos já consideram ultrapassado) e Noronha da Costa, Rocha de Sousa e António de Sena.

-Qual o significado para todos da Arte. e que lugar deverá ocupar na nossa organização social?
Todos temos necessidade de expressar sentimentos através de diversos veículos.
Porém verifica-se que todo o humano tem necessidade de se expressar em termos de Arte ou de viver a Arte. Mesmo os que consomem Arte, no fundo, vivem a Arte. A Arte uma forma de expressão do Homem.
-Tem-se feito alguma coisa em Portugal no sentido de iniciar e educar as crianças no campo de informação artística?
Tem. Determinadas individualidades e organismos, têm tido bastante interesse em educar os jovens e as crianças com .bases de educação estética desde a classe pré-infantil. Simplesmente não tem sido possível por diversas razões montar, manter ou desenvolver essa estrutura.
Nomes como os de Nikias Skapinakyss, José Júlio, Delfim Santos, Calvet de Magalhães encontram-se ligados à iniciação estética da criança. Outros poderia citar ligados a esta luta pelo desenvolvimento de estruturas que cobrem essa deficiência.
Mais recentemente podemos apreciar nos esquemas das escolas particulares que uma parte da sua programação é dedicada a esta matéria, o que parece estar a tornar-se extensivo aos estabelecimentos de ensino oficial.

-Acha que os jovens se interessam pela pintura?
Sem dúvida. Até porque os elementos de pintura, os elementos técnico-materiais de pintura - são aliciantes. O problema da cor é fundamental para o humano, sensibilizando-o. Cor e luz são bases de expressão da pintura como são bases de expressão da juventude.

-Na sua opinião o que se deve fazer, no campo da educação da criança e do jovem para lhe despertar o interesse pela pintura e pela Arte?
Continuar a obra já realizada. Não só a nível particular como a nível oficial, nos diversos ramos do ensino, julgando com justiça o lugar que a expressão estética ou artística deve ter para o jovem.

-O que pensa da juventude em geral?
Penso bem. é afinal, como as outras juventudes doutras épocas. No fundo há simplesmente uma diferença de tempo, circunstância e nada mais. No entanto a juventude dos nossos dias parece viver os seus sonhos, os seus admiráveis sonhos com um tão vasto potencial e força criativa que certamente permanecerão para além do estado transitório duma idade cronológica.