domingo, novembro 26, 2006

A IMPLANTAÇÃO DO EDIFICIO DA ACTUAL ESCOLA SECUNDARIA NA ZONA ONDE SE ENCONTRA E O ENSINO TÉCNICO EM PENICHE

Por : Fernando Engenheiro
Foi nos finals do século dezanove, mais propriamente em 1886, que se procedeu no nosso País à organização do ensino industrial e comercial.
Até essa data as artes aplicadas não tinham, em Portugal, quem as cultivasse e, muito menos, quem as ensinasse.
A princípio, o ensino técnico foi frouxo, hesitante, quase nulo; havia um certo retraimento na frequência das aulas, por não estar bem evidente o que dali adviria de útil para a prosperidade da Nação que por essa época não se via a braços com a crise económica. Esta, porém, no final do século estendeu os seus tentáculos empobrecendo os nossos mercados, tornando mais áspera a vida, encarecendo todos os géneros, dificultando o acesso a todas as profissões.
Neste calamitoso período o ensino e as escolas industriais começaram a ressentir-se; a frequência tornou-se maior, a afluência dos alunos obrigou os governos a olhar com mais atenção para esta área de ensino; mandou-se vir do estrangeiro os melhores professores.
Pouco tempo depois o ensino industrial tomou uma feição prática e verdadeiramente útil com a criação em diversos pontos do País de escolas industriais que incluíam o ensino de desenho industrial.
E neste período que Peniche, por carta de Lei de 30 de Junho de 1887, foi contemplada com a criação de uma escola de desenho inaugurada, em 26 de Setembro do mesmo ano, pelo Inspector Fonseca Benevides em representação do Governo. Foi designada por “Escola de Desenho Dona Maria Pia”.
Na escola seria ministrado o ensino do desenho elementar e do desenho industrial do ramo ornamental a alunos dos dois sexos e o ensino profissional de rendas a alunas.
Teve como sua primeira directora D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro. Figura das mais notáveis da sociedade portuguesa do século dezanove, nascida a 14/11/1841 e falecida em 22/10/1915, esta lustre dama foi pintora e desenhista
- sobretudo de flores - e essas qualidades, de entre outras, levaram-na a interessar-se pelas obras das rendilheiras da beira-mar, obras em que viu o embrião de uma arte susceptível de largos voos.
, instalou-se a ministrar a sua actividade no vasto edifício onde anos antes havia funcionado o “Seminário das Orfâs Desamparadas”, sito na antiga Rua Direita ao Terreiro da Fortaleza, actual Rua Marquês de Pombal, n° 69, cedido a título de aluguer pelo então seu proprietário João Batista Ribeiro Guizado (hoje conhecido pelo solar da Família Guisado).
Fruto do seu esforço e da sua dedicação, dois anos de- pois a Oficina de Rendas da referida escola conquistou a medalha de ouro da Exposição Internacional de Paris (1889) e anos depois, mais propriamente em 1 895, novo galardão em Belém (Brasil).
Atendendo ao grande desenvolvimento da escola e oficina havia um grande interesse em dotá-las de edificio próprio, o que até constituiu grande ambição do Município. Ainda chegou a ser escolhido local para a sua implantação mas o sonho que não se concretizou. Mais ou menos no local escolhido, no que vina a ser o Jardim P veio a ser construído o edifício-sede do Clube Recreativo Penichense.
Anos depois, continuando sem casa própria, a escola, com a classificação de “Escola de Artes e Ofícios” , com a designação de “Escola de Rendas” , e passando, pela reforma de 1 de Dezembro de 1918 (Decreto n. 5029), a admitir só alunos do sexo feminino, é transferida para um prédio situado na mesma rua, tornejando para a rua Latino Coelho, ocupando o primeiro e segundo andares.
Tratava-se de um edifício mais central, que havia sido construído com a finalidade de nele ser explorado um hotel mas que, desde o falecimento do seu anterior proprietário ocorrido a 22 de Novembro de 1909, se encontrava devoluto sem nunca ter tido qualquer tipo de actividade.
Pela reorganização de 1930-31 (Decretos 18.420 e 20.420) passou a ter a designação de ‘Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos”, mantendo-se a frequência exclusivamente feminina, distribuída por dois cursos: rendilheiras e costura e bordados.
Posteriormente o plano de estudos atribuído à Escola de Peniche pelo Estatuto do Ensino Profissional Industrial e Comercial incluiu o Ciclo Preparatório, cuja frequência é faculta da a alunos de ambos os sexos.
Continuando no mesmo edifício das ruas Marquês de Pombal/Latino Coelho é também criado ah, pela Portaria n°14.065, de 28/8/1952, o Curso Complementar de Aprendizagem do Comércio.
Este espaço já não suportava o movimento atingido pela escola e havia que colocar à disposição dos alunos e professores instalações adequadas até ao previsível aumento de frequência, que na realidade se verificou.
Refira-se que a Câmara Municipal muitos anos antes, em reunião de 7 de Maio de 1942, deliberara oficiar ao Governa dor Civil do distrito de Leiria informando que era uma aspiração da Autarquia e da População do Concelho que na reorganização do Ensino Técnico, esta Escola se tomasse numa Escola Industrial e Comercial semelhante à Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro, de Caldas da Rainha. e João Vaz de Setúbal, com uma secção de serralharia civil ou mecânica e carpintaria, sem deixar contudo de existir a secção de rendas.
A 8/2/1951 foi contactada a Câmara Municipal de Peniche pela Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência inquirindo sobre o interesse que poderia ter em possuir a título de compra uma propriedade sita em Peniche, na então Estrada da Ajuda, que consistia numa antiga fábrica de conservas de peixe, desactivada e entregue àquela Caixa, por falta de pagamento dentro dos prazos acordados para créditos con- cedidos, pela Sociedade de Conservas “La Paloma, L. da” Tratava-se de um prédio murado com mais de 15.000 m2 ocupando a área coberta 4.485 m2 e tendo o terreno livre 9.412 m2. Compreendia o edifício da antiga fábrica e anexos, um bairro operário e casas de habitação.
Aquele estabelecimento conserveiro era também conhecido por “Fábrica do Alemão”, designação que tinha origem na nacionalidade do seu proprietário o Sr. M. Stichaner Rotth”. Também era conhecida por “Fábrica de S. Martin” dado o painel de azulejo existente na fachada edifício principal.
A Câmara Municipal interessou-se pela aquisição daquela vasta propriedade visando em especial poder oferecer ao Estado o terreno necessário à edificação de uma escola industrial e comercial. A Administração da Caixa Geral de Depósitos, pelo seu oficio n° 2153, de 25/11/1953, ainda antes de concretizada a aquisição, deu ao Município autorização para que no edifício principal da fábrica pudessem provisoriamente funcionar desde logo algumas salas de aula, dado que o edifício onde aquela Escola se encontrava já não comportava o elevado número de alunos matriculados.
Por deliberação camarária de 31/1/1955 foi aceite o valor de novecentos mil escudos para a compra, feita mediante a concessão pela mesma Caixa de um empréstimo do mesmo valor, amortizável em vinte anos, ao juro anual de quatro por cento, ficando caucionado pelas receitas ordinárias do Município e, em especial, pelos adicionais às contribuições do Estado a arrecadar pela autarquia.
A escritura de compra e venda foi lavrada a 23/5/1956 nos Serviços Notariais da Caixa Geral de Depósitos, sendo o Município de Peniche representado pelo seu Presidente, Senhor António da Conceição Bento.
Cedido ao Estado o terreno necessário à edificação da Escola, procedeu depois o Ministério das Obras Publicas, pela Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário, à abertura de concurso público para arrematação da empreitada de “Construção da Escola Industrial e Comercial de Peniche” (denominação adquirida pelo Decreto-Lei n. 39 264, de 4/7/1953).
Foi na sede da Junta, na Rua Garda de Orta, n. 68 - 1 .°, em Lisboa, que se procedeu, em 5/9/1956, à abertura das propostas deste concurso cuja base de licitação foi de 6.885.424$00.
Houve dois concorrentes, sendo a proposta mais baixa de 6.743.000$00, apresentada pelo empreiteiro Fernando Pires Coelho, de Lisboa, a quem a obra foi adjudicada.
As obras tiveram inicio em 17/12/1956 e a sua conclusão verificou-se em 29/12/1958. 0 custo total das instalações foi de 12.655.000$00.
De salientar que a área coberta é de 3.602 m2, a área do terreno 6.500 m2 e a superfície dos pavimento é de 6.680 m2. Em 5/12/1959, em sessão solene, foi feita a entrega das instalações na presença dos Ministros das Obras Públicas e da Educação Nacional. O dia 13 do mesmo mês, foi dia de grande festa em Peniche com a inauguração da Escola Industrial e Comercial de Peniche, acto que registou a presença dos Senhores Ministro das Obras P e Subsecretário de Estado da Educação Nacional. Na mesma data também se inauguraram as obras de remodelação das Avenidas Dou tor António de Oliveira Salazar (actual Avenida 25 de Abril) e Engenheiro José Frederico Ulrich (actual Avenida do Mar), além de novas escolas do Plano dos Centenários e da electrificação de diversas localidades do Concelho.
Na época de novas instalações, a Escola Industrial e Comercial de Peniche foi a trigésima escola concluída no âmbito do 1 .° Plano de Fomento.
o novo estabelecimento de ensino começou por servir uma população escolar mista de 1 .000 alunos, com os cursos do Ciclo Preparatório, Geral de Comércio, de Serralheiro, de Electricidade e de Costura e Bordados com oficina anexa de Rendilheiras.
Justificava-se, atendendo não só à imponência e grandeza dos edifícios sob o aspecto urban mas também sob o aspecto pedagógico, que se estabelecesse uma zona de protecção daqueles, a quai, simultaneamente, permitiria maior desafogo aos respectivos logradouros e a criação de campos de jogos. Para tanto era necessária a demolição do inestético edifício, situado a Norte e Poente, onde se localizava o bairro que fora residência dos antigos operários da extinta Fábrica de Conservas de Peixe “La Paloma”, adquirida no seu todo, como já foi dito, pela Câmara Municipal de Peniche. A Câmara Municipal aceitou a responsabilidade de realojar aquelas 60 famílias procedendo à ampliação do Bairro Senhor do Calvário e deliberou, em sessão camarária de 31/8/1 960, aceitar a proposta de 500.000$00 feita pela Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário para aquisição do terreno destinado à ampliação do logradouro da Escola, valor que cobria parte da despesa a fazer com a criação de novas residências para as famílias dos antigos operários. Assim nasce ram no referido Bairro Senhor do Calvário mais 30 blocos de casas geminadas.
Depois de cumpridas todas as formalidades legais, procedeu-se à escritura de compra e venda a 6/12/1962 no Notário Privativo da Câmara Municipal representada esta pelo seu Presidente, já então o Senhor Victor João Albino de Almeida da Baltazar, e sendo a Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário do Ministério das Obras Publicas re presentada pelo Engenheiro Civil Manuel Joaquim Pinto de Sá Costa Reis.
A partir da Portaria n. 608/79, de 22 de Novembro, tendo em consideração o disposto no artigo 3Y do Decreto-Lei n° 219, de 17 de Julho do mesmo ano, a Escola passou a usar a designação de “ESCOLA SECUNDARIA DE PENICHE”.
No presente ano lectivo mantém cursos nocturnos com 133 alunos de ambos os sexos e cursos diurnos com 258 alunos do sexo masculino e 351 do feminino.
Peniche, Agosto de 2006. http://www.es-peniche.net/

sábado, novembro 25, 2006

COMO NASCEU E EVOLUIU A ACTUAL RUA ALEXANDRE HERCULANO CONSIDERADA HOJE ARTÉRIA NOBRE DA CIDADE DE PENICHE

por:Fernando engenheiro
Delas já nada existe, nem quaisquer vestígios testemunham as primitivas construções que, espalhadas aqui ou acolá, foram edificadas por toda aquela artéria que começou por ser designada por “RUA DO MAR”. (Livro de Escrituras de 1677/1680, fls. 15/16).
Foi a partir da construção da cinta de muralhas que lhe fica fronteira que o seu alinha mento se definiu. O seu desenhador, o Tenente Mestre de Campo Simão Mateus, poupou toda aquela zona, pois por pouco a rua não foi eliminada para dar lugar à muralha. E o Ministério da Defesa do Reino sancionou o que lhe foi proposto, possivelmente tomando em consideração o ângulo do Baluarte da Ponte. Os seus moradores conseguiram assim resistir sem que para isso tivessem sido sujeitos a sobras ou sido desalojados.
No primeiro arrolamento das contribuições para avaliação dos rendimentos municipais efectuado em 1618 (pouco tempo depois da elevação de Peniche a sede de Concelho), residiam ali famílias das mais diversas profissões, tais como: 2 de pescadores, 1 de marinheiros, 1 de calafates, 1 de carpinteiros, 1 proprietário de caravela e outro de fragata, 2 sanfoneiros, 1 bombardeiro e 1 serralheiro. Ali se situava também açougue da Irmandade Marítima do Corpo Santo.
Na época o aglomerado urbano de Peniche tinha cerca de 5000 habitantes, o que contribuiu para que merecesse o título de “VILA”.
Em meados do século XVII a Vila abrigava já cerca de 8000 habitantes. E no terceiro quartel do mesmo século ainda num alvará de D. Afonso VI se podia salientar que os moradores de Peniche estavam “muito opulentos e frequentados de negócios”.
Dentro de todo este desenvolvimento e com pretensões ao progresso de Peniche, Alexandre Ribeiro da Gama, natural desta Vila, homem de negócios, grande mercador, com visão para o futuro, adquiriu, por compra, todo o quarteirão entre a Travessa da Ponte (actual inicio da Rua Arquitecto Paulino Montez) e o Largo do Chafariz (actual Largo Dr. Figueiredo Fana), confrontando pelo Poente com a Rua do Casai (actual Rua D. Luis de Ataide) e uma viela que lhe ficava ao meio, considerado como terreno municipal. Tratava se de uma área devastada pelo terr maremoto ocasionado pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. Ali promoveu a construção de um imóvel de dois pisos destinado a sua residência, fronteiro à rua principal e tornejando para a Travessa da Ponte, sendo o piso superior constituído por 8 vãos onde fixou os seus aposentos, sendo o rés do chão destinado a estabelecimento de mercearia, retrosaria e diversos armazéns contíguos de venda de alfaias agrícolas e cereais - noutras secções vendiam-se apetrechos marítimos da mais variada espécie, onde incluía a drogaria da época (tintas, alvaiades, breu e substâncias untuosas) e, ainda, todos os materiais destinados a construção.

No edificio principal foi criado o primeiro estabelecimento de um Correio Geral para esta terra, a cargo daquele mercador sem qualquer remuneração, ficando a seu cargo todas as despesas com o estafeta nas suas deslocações a Caldas todas as semanas.
Alexandre Ribeiro da Gama exerceu ainda outras actividades nesta Vila, tais como a cobrança das Rendas da imposição, administradas pelo Município, e a de Vice-Consul da Nação Britânica. Decorridos largos anos, apercebendo-se de que o seu fim estava próximo, não tendo herdeiros directos nem tendo nunca constituído familia, fez o seu testa- mento no dia 12/6/1793, a favor de sua sobrinha Maria de Jesus, casada com Matias José Ventura, e de seu caixeiro António de Almeida Coelho, ficando os dois herdeiros com partes iguais da herança.
Poucos meses depois, a 26/11/1793, estavam os seus restos mortais a serem recebidos pelo Guardião do Convento do Bom Jesus de Peniche a fim de serem inumados, a seu pedido, na Capela Mor da igreja daquela comunidade religiosa.
À frente dos seus negócios de comércio ficou, por algumas décadas, o seu herdeiro e antigo caixeiro. Também este não teve herdeiros directos pelo que, a 28/1/1831 , fez testamento a favor dos seus sobrinhos, com consentimento de sua esposa, a quai ficou como usufrutuária durante os poucos anos que, como viúva, lhe sobreviveu. Seus sobrinhos eram naturais e residentes no lugar da Fonte da Bica, da freguesia de Nossa Senhora da Conceição, do lugar de Rio Maior, ter- mo da Viia de Santarém. Peniche pouco ou nada lhes dizia e, ao que nos afigura, apressaram-se a transformar em dinheiro os bens imóveis herdados. Foi o que aconteceu apôs a morte de sua tia D. Ana Rita do Espirito Santo em 20/3/1840.
Alguns anos depois, mais propriamente a 3/10/1846, veio destacado para a Praça de Peniche o então Capitão da 6. Companhia do Regimento de Infantaria n.° 10, Sezinando Ribeiro Artur, com uma força de 61 praças, que aqui se manteve até 11 de Janeiro de 1848. Este militar terminou a sua carreira com o posto de Coronel. Seus familiares, com o aval de sua esposa D. Cândida de São José Ribeiro Artur, decidiram fixar em Peniche a sua residência permanente.
Em terreno adquirido aos herdeiros de António de Almeida Coelho promoveram a construção de um edificio de dois pisos, sendo o piso superior de seis vãos (que incluíam 2 sacadas). Para a época era um imóvel com algum destaque. Coube-lhe o numero de policia 68 e tinha serventia para uma viela pública com acesso pela Travessa da Ponte. Por morte de Sezinando Ribeiro Artur e de sua esposa herdaram este prédio o filho Generai Bartolomeu Sezinando Ribeiro Artur e sua esposa D. Maria da Costa Ribeiro Artur. Estes, por sua vez, deixam os bens a seu filho o Engenheiro Sezinando Ribeiro Artur, subdirector dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques que, não sendo casado, tem dois filhos perfilhados e reconhecidos por escritura pública Artur da Costa Ribeiro. naturai de Nelas e Berta da Costa Ribeiro Artur. nascida em Lisboa, freguesia da Pena (foi a esposa do antigo Presidente da República eleito em Julho de 1951, Francisco Higino Craveiro Lopes). O Engenheiro Sezinando, com 43 anos de idade, na cidade de Lourenço Marques, fez testamento em 27/9/1918. Faleceu no dia seguinte.
O usufruto do imóvel (então já a rua era designada por “Rua do Passeio’ foi atribuído a suas irmãs Sara Ribeiro Artur e Isabel Ribeiro Artur, enquanto vivas, ficando depois das suas mortes a pertencer inteiramente a sua filha Berta da Costa Ribeiro Artur, instituída unica e universal herdeira.

Faleceu D. Berta da Costa Ribeiro Artur Craveiro Lopes em Julho de 1958 e seu marido, o Marechal Francisco Higinio Craveiro Lopes, a 2/9/1964. Sua tia D. Isabel Ribeiro Artur Bonifácio da Silva, a última usufrutuária, faleceu anos depois a 14/6/1981 . A partir de então o imóvel, livre de quaisquer obrigações, entrou na posse dos herdeiros (os filhos do Marechal) que procederam à sua venda.
Os adquirentes, personalidades ligadas à Secção local do PSD, negociaram depois com o construtor civil João Manuel Garcia o aproveitamento do local. O velho edifício de dois pisos foi demolido e no seu espaço foi construído um edifício de 3 pisos, com um tratamento arquitectónico de linhas direitas e, talvez, pouco feliz. Foi vendido em propriedade horizontal tendo parte de um piso sido destinada à sede local do partido político “PPD/PSD - Partido Social Democrata”.
O prédio que se segue (para Sul), com o actual número de policia 72 foi mandado edificar por Carlos Filipe Freire de Andrade, Cirurgião Mor da Praça de Peniche, com a finalidade de ser oferecido a sua filha Maria da Graça Freire de Andrade como dote do seu casamento com o médico militar José Gomes Ribeiro. Estes, no entanto, fixaram residência em Lisboa e o prédio foi, ao longo de 50 anos, residência do Dr. João Baptista Frazão, figura de destaque em Peniche pela sua intervenção politica e com especial relevo no meio clinico local pelos seus dotes de simpatia e profissionalismo. Deixou viúva sua esposa aos 77 anos de idade, a 24/3/1953. Sua mulher sobreviveu até aos 93 anos, tendo falecido a 18/3/1977.
Porém já há longos anos que este imóvel tinha mudado de proprietário.
Maria da Graça, apôs a sua viuvez do Coronel Médico Gomes Ribeiro, deixou em testamento, em 29/7/1928, parte dos seus bens móveis e imóveis a seus afilhados: Sara de Jesus Henriques da Silva Guerra, Rosa da Ajuda Henriques e tenente do exército Amadeu Maria Henriques. Coube a este oficial o edifício em causa, que se manteve na familia até princípios da década de 80. Presentemente é seu proprietário um estranho a toda esta família que o adquiriu por compra quando se encontrava devoluto.

domingo, novembro 12, 2006

O PADRE CRUZ PERMANECEU EM PENICHE AMIUDADAS VEZES

Por: Fernando Engenheiro
Francisco Rodrigues da Cruz era o nome completo daquela figura singular que a fé e a memória dos homens melhor conhece pela designação de Santo Padre Cruz.
Nasceu em Alcochete no dia 29 de Julho de 1859 e era o quarto filho de Manuel da Cruz, homem abastado, justo e generoso, bom cristão, cumpridor da Lei de Deus, e de D. Catarina de Oliveira Cruz.
Seu pai, dizia quem o conhecia, gabava-se de na sua casa, mandada construir por ele, nem um inicio prego ter sido pregado ao domingo. E nos anos de más colheitas, quando os caseiros não po diam pagar a renda inteira, perdoava-lhes tão liberalmente que havia quem o censurasse. Mas ele respondia que nunca tinha sentido a falta do que por caridade deixava de receber. Era homem de caracter e de vontade forte, que foi alguém graças ao esforço do seu trabalho tenaz e honesto. Aprendeu a ler já em plena mocidade mas soube orientar a sua vida e a família como se tivesse grandes estudos.
Seus filhos terão passado os seus primeiros anos, aqueles que mais marcam o espírito e o coração, num ambiente profundamente cristão.
Francisco partiu para Lisboa, aos 9 anos de idade, com Manuel, o irmão mais velho, e não recebeu nenhuma formação religiosa nos colégios e escolas que frequentou.
Mas a fé que de pequenino lhe acenderam na alma e os bons hábitos adquiridos ajudaram-no a conservar-se fiel às tradições ca t de muito novo entregue a si mesmo e desamparado
espiritualmente
Aos 16 anos, tendo terminado os preparatórios, nos quais deu provas de ser aluno muito aplicado, era chegado o momento de escolher a carreira da sua vida. Para os familiares e para os que o rodeavam não foi novidade a sua vontade ser Padre, o que também era o desejo dos seus pais, embora nunca o tivessem manifestado. Seu pai, para lhe deixar inteira liberdade na escolha, aconselhou-o a matricular-se na Faculdade de Teologia de Coimbra.

Terminada a formatura em Teologia, aprovado com a maior classificação, já doutorado, sentiu o chamamento de Deus para a vida religiosa na Companhia de Jesus “em “virtude das práticas que ouvia”.
Concluídos estudos universitários, o Dr. Francisco da Cruz foi convidado para professor de filosofia no Seminário de Santarém, aguardando a idade de se poder ordenar, pois contava ainda apenas 20 anos.
Só passados dois anos, no dia 3 de Junho de 1882, recebeu a Ordem de Presbítero.
Permaneceu no Seminário de Santarém, com a mesma actividade de professor, até Outubro de 1886, dali saindo para ocupar o lugar de Director do Colégio dos órfãos, em Braga.
Anos depois, o Servo de Deus de Braga passou para o Seminário de Farrobo, próximo de Vila Franca de Xira. Em 1896 este Seminário mudou-se para S. Vicente de Fora, em Lisboa, onde o
Padre Cruz continuou a ser Director espiritual. Em 1905, o Seminário Menor passou de S. Vicente para Santarém. Francisco permaneceu em Lisboa, continuando a residir no Paço de S. Vicente de Fora. A sua vida tomou, então, em absoluto, o carácter missionário que o marcou até ao fim dos seus dias na terra.

Mas foi a partir da primeira peregrinação a Roma, no dia 9 de Maio de 1909, onde foi recebido por Sua Santidade o Papa Pio X no dia 18 daquele mês, que não mais parou de pregar a palavra do evangelho por todos os sítios onde lhe foi possível chegar. Um encontro de dois santos, numa encruzilhada dos caminhos da vida, é sempre um acontecimento que à distância nos impressiona, embora no momento possa passar desapercebido no mistério e segredo de Deus.
Implantada a Republica em 5 de Outubro de 1910, já a sua fama de santidade, que o acompanhou a vida inteira, era largamente conhecida. Não teve qualquer problema com a perseguição sofrida então por muitos ministros da Igreja Católica pois foi sempre mui to respeitado. Por essa altura passou a dividir o seu tempo entre o Limoeiro e Caxias, as duas prisões onde se encontravam a maior parte dos Jesuítas dos Colégios do Bairro, de Campolide e da residência do Quelhas.
Foi a partir e durante as décadas de 30 e 40 que se fez sentir por amiudadas vezes a sua presença em Peniche pela grande ligação que tinha com D. Maria Herculana da Silva Rodrigues, senhora de grandes virtudes e devoção católica, que escolheu aquele servo de Deus para seu padrinho de casamento com Ezequiel dos Santos.
Era hospede de sua casa sempre que se deslocava a Peniche, onde era reconhecido por onde passava, quase sempre a caminho da Igreja de S. Pedro para celebrar a missa diária.
Ficou na memória de muitos a sua participação no Congresso Eucarístico realizado em Peniche a 8 de Junho de 1941 , acontecimento que muito honrou o povo desta terra.
Em 1940 o Rev. Padre Cruz, satisfazendo assim o desejo que acalentava havia 60 anos, ingressou na Companhia de Jesus, criada por Santo Inácio de Loyola.

Aos 89 anos de idade faleceu em santidade na casa das Senhoras Caldas Machado, no Largo do Caldas, em Lisboa, onde residia. Entregou a alma ao Criador no dia I de Outubro de 1948.
A notícia da morte do Padre Cruz foi dada pela Emissora Nacional no noticiário das 13 horas e retransmitida de boca em boca por todos os que deste ou doutro modo dela tiveram conhecimento.
Por sua vontade, conforme documento escrito e assinado em 22/5/1945, foi o seu corpo depositado no jazigo da família religiosa a que, fazendo os santos votos, se uniu a 3 de Dezembro de 1940 – à Companhia de Jesus.
A sua alma vivia de intenso amor a Deus e ao próximo. Sensível a todas as misérias humanas, o seu ministério predilecto era exercido junto dos humildes, dos presos nas cadeias, dos doentes, dos pobres, dos necessitados e dos pecadores. O Processo Informativo da sua

beatificação começou em Lisboa a 10 de Março de 1951 e foi entregue à Santa Sé em 17/9/1965.
Apôs a sua morte uma romaria é notada todos os dias no Cemitério de Benfica, em Lisboa, onde seu corpo está depositado. Nos dias do aniversário do seu nascimento, da sua morte e no dia de finados quase não se pode passar em frente do seu jazigo que, nestes dias, mantém a sua porta aberta.
A Câmara Municipal de Alcochete prestou-lhe diversas homenagens mas o País inteiro perpetuou o seu nome em diversas ruas e até bairros têm o seu nome como topónimo.

Também em Peniche, por deliberação camarária de 29 de Outubro de 1987, a pedido dos habitantes de um arruamento do Bairro de Santana a que inicialmente fora atribuída a designação de “Travessa Escondida”, o nome do Padre Cruz figura na toponímica local.

quinta-feira, novembro 09, 2006

O ORGÃO FIXO COLOCADO NA IGREJA DE S. PEDRO NO século XVIII

Por : Fernando Engenheiro
A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constituí parte necessária ou integrante da Literatura solene.
Não cessam de a exaltar, quer a Sagrada Escritura, quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices a partir do Santo Padre Pio X (1 903/1 914), que vincaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino.
Sempre a Igreja Católica e também outras confissões religiosas - mormente as saídas da Reforma -, utilizaram o canto como elemento importantíssimo da Liturgia... e o orgão surge no primeiro plano.
E, pois, de grande apreço na igreja Católica o orgão de tubos, instrumento musical tradicional cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e de elevar poderosamente o espírito para Deus.
Porque todo ele se revela como elemento preponderante na Liturgia da igreja e porque a sua existência fez “nasce entre nós artistas músicos que deixaram composições maravilhosas que hoje nos deleitam, é importante em Portugal o património organistico existente.
Também a Cidade de Peniche, na majestosa Igreja de S. Pedro, desde os fins do século XVIII, mais propriamente na sua última década, passou a ser possuidora de um grande orgão - instrumento musical de tec1 com sons por tubos construídos em estanho.
No interior daquele templo, ao levantarmos a vista para a altura do coro, na época também designado por coreto, os nossos olhos prendem-se, no seu velho orgão que, pela imponência, nos maravilha com a sua caixa, ensamblamento e toda a composição onde encerra os tubos e a sua maquinaria.

Ao admirarmos aquele belo exemplar, que a muitos frequenta dores daquela Casa de Deus poderá passar despercebido, mais nos orgulhamos do nosso passado, do legado que nos deixaram e mais sentimos o imperioso dever de o conservar e, se possível , de lhe dar nova vida para nos poder deliciar os ouvidos com o sopro musical saído dos seus tubos...
Foi a partir da construção do referido coro (Livro de receita e despesa da Irmandade do Santissimo Sacramento de S. Pedro, de 1749/1805, fls. 78v.) com capacidade para os capitulares tomarem assento no lugar que lhes competia para em coro rezarem o oficio canónico: constante de salmos, leituras da Sagrada Escritura e orações e distribuído pelas diversas horas d Matinas, Laudes, Prima, Tércia, Sexta, Nona, Vésperas e Completas, o que possível mente nunca teve essa actividade, que se colocou numa parte daquele espaço o Orgão de que falamos, em lugar escolhido como o mais eficaz para obtenção dos melhores resultados act
Não se conhecem as suas origens nem como foi adquirido, nem tão pouco a sua classificação, embora as suas características apontem para que seja classificado como “Orgão Ibérico” ou, simples- mente, como “Orgão Português”.
Também não se pode dar como certo o seu construtor, embora na época, entre 1756-1828, tenha existido em Lisboa o célebre e famoso organeiro António Xavier Machado e Cerveira, que construiu mais de uma centena de orgãos, colocados em diversos pontos do país e até do Brasil. Machado e Cerveira construiu orgãos por encomenda própria, enviando todas as peças para os locais onde seriam montados por um dos seus oficiais ou por alguém do local, embora talvez não tão habilitado.
Não me foi poss fazer a identificação própria destes casos já que, quase sempre,todas as peças vinham numeradas, classificadas e até com instruções de montagem escritas a tinta preta na própria peça. Para tornar o seu custo mais acessível não perdendo porém as qualidades próprias da sua construção, até peças eram aprove de outros órgãos.

- Com o mestre que fez o orgão_____________________________________________________223.200
- Com um homem que serviu ao dito mestre___________________________________________ 1.980
- Com um oficial do dito que se lhe deu de luvas _______________________________________1.200
- Com o pintor que dourou os canudos, e frontaria do

orgão e ouro para a dita obra__________________________________________________________4 820
- Com o entalhador que fez a caixa do dito orgão _______________________________________3.900
-Com madeira para a dita caixa, e coreto que se fez ___________________________________19.075
- Com jornais de oficiais que fizeram a dita caixa e coreto_______________________________26.760
- Com ferragens para a dita caixa e pre para o coreto____________________________________6.885
TOTAL ______________________________________________________________________________287.820

Com a colaboração dada pelas Confrarias das almas e de Nossa Senhora do Rosário, aprovadas pelos seus Juízes, Oficiais e Mordo mos, com assento na Igreja de S. Pedro, foi possível ajudar a com partilhar nas despesas da aquisição daquele instrumento musical,
a cargo da irmandade”do Santíssimo Sacramento da Igreja de S. Pedro, iniciativa em que se despenderam as seguintes importâncias:
Com a informação destes preciosos elementos, concluímos que só o miolo foi importado e que todo o resto foi feito no próprio espaço onde actualmente se encontra.
Teve a sua solene inauguração na festa anual que se fazia naquele templo em louvor de Nossa Senhora do Rosário, a cargo da sua Confraria (de Brancos e Pretos), cuja imagem se venerava no altar onde hoje se rende culto a Nossa Senhora da Boa Viagem.
A partir de então e até à abolição das Ordens Religiosas (que ocorreu a partir de 1834)foi a manutenção do orgão entregue aos cuidados do Convento do Bom Jesus de Peniche até porque ali existiam elementos competentes para o desempenho de funções de organista.
Não é difícil imaginar o grande interesse dos amantes da musica sacra por aquele instrumento musical.
Na época aqui vivia José Leal Moreira, mestre da musica desta então Vila de Peniche, com o partido de quarenta mil réis em cada um ano pagos pelo “Cofre dos Sobejos das Sisas” da mesma Vila havendo-os, sendo o dito mestre da música obrigado a ensinar de graça os moradores da referida vila;por provisão da Rainha D. Maria I de 5 de Dezembro de 1778.Talvez a ideia da aquisição do orgão se deva ainda que de uma forma indirecta aquele professor de musica que teria todo o interesse em formar alunos organistas.
É exemplo disto seu filho Eleutério Leal Moreira, seu aluno, que foi mestre da Capela da Sé Patriarcal, organista e professor de piano, durante os últimos anos do século XVIII e princípios do XIX. Escreveu somente musica religiosa com acompanhamento ao orgão. A maior parte das suas composições encontra-se na Biblioteca Nacional, na Biblioteca da Ajuda e no Arquivo da Sé de Lisboa. Muitas das suas obras terão sido tocadas pelo seu autor no orgão da Igreja de S. Pedro. Faleceu em Peniche, de onde era natural, depois de 1839, solteiro e sem geração.
Por longos anos ecoaram naquele templo os sons do velho orgão, “enchendo a alma” acompanhando solenes “Te Deum Laudamos” - acções de graças a Deus - especialmente cantados quando em Peniche eram recebidos membros da realeza, altos eclesiásticos e militares de alta patente.
Outros organistas exploraram as capacidades do majestoso orgão mas não há memórias da sua actuação até aos primeiros anos do século XX aquando das solenidades litúrgicas que assinalavam os dias do corpo de Deus; de S. Pedro, Orago do templo; da Cadeira de S. Pedro; de Nossa Senhora do Rosário; o Domingo de Páscoa e o Natal.
E já depois da Implantação da Republica, pela mão do mestre José Cândido de Azevedo Mello, continuou o velho orgão a encher de sonoridade musical a Igreja de São Pedro.
José Cândido, figura ímpar na arte musical em Peniche, fez realçar aquele instrumento em momentos litúrgicos de grande esplendor. Alguns alunos seus também o usaram, como os organistas Joaquim Desidério Júnior e sua nora D. Romana Ester Caldas Pereira Fausto de Mello.
Alguns anos antes da morte do mestre José Cândido, ocorrida a 1/9/1950, mergulhou aquele grande instrumento musical num silêncio profundo, que pela minhas contas já lá vai com 60 anos, sem que ninguém tentasse a sua recuperação do estado de abandono em que se encontra uma das jóias do nosso património local.