por:Fernando engenheiro
Delas já nada existe, nem quaisquer vestígios testemunham as primitivas construções que, espalhadas aqui ou acolá, foram edificadas por toda aquela artéria que começou por ser designada por “RUA DO MAR”. (Livro de Escrituras de 1677/1680, fls. 15/16).
Foi a partir da construção da cinta de muralhas que lhe fica fronteira que o seu alinha mento se definiu. O seu desenhador, o Tenente Mestre de Campo Simão Mateus, poupou toda aquela zona, pois por pouco a rua não foi eliminada para dar lugar à muralha. E o Ministério da Defesa do Reino sancionou o que lhe foi proposto, possivelmente tomando em consideração o ângulo do Baluarte da Ponte. Os seus moradores conseguiram assim resistir sem que para isso tivessem sido sujeitos a sobras ou sido desalojados.
No primeiro arrolamento das contribuições para avaliação dos rendimentos municipais efectuado em 1618 (pouco tempo depois da elevação de Peniche a sede de Concelho), residiam ali famílias das mais diversas profissões, tais como: 2 de pescadores, 1 de marinheiros, 1 de calafates, 1 de carpinteiros, 1 proprietário de caravela e outro de fragata, 2 sanfoneiros, 1 bombardeiro e 1 serralheiro. Ali se situava também açougue da Irmandade Marítima do Corpo Santo.
Na época o aglomerado urbano de Peniche tinha cerca de 5000 habitantes, o que contribuiu para que merecesse o título de “VILA”.
Em meados do século XVII a Vila abrigava já cerca de 8000 habitantes. E no terceiro quartel do mesmo século ainda num alvará de D. Afonso VI se podia salientar que os moradores de Peniche estavam “muito opulentos e frequentados de negócios”.
Dentro de todo este desenvolvimento e com pretensões ao progresso de Peniche, Alexandre Ribeiro da Gama, natural desta Vila, homem de negócios, grande mercador, com visão para o futuro, adquiriu, por compra, todo o quarteirão entre a Travessa da Ponte (actual inicio da Rua Arquitecto Paulino Montez) e o Largo do Chafariz (actual Largo Dr. Figueiredo Fana), confrontando pelo Poente com a Rua do Casai (actual Rua D. Luis de Ataide) e uma viela que lhe ficava ao meio, considerado como terreno municipal. Tratava se de uma área devastada pelo terr maremoto ocasionado pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755. Ali promoveu a construção de um imóvel de dois pisos destinado a sua residência, fronteiro à rua principal e tornejando para a Travessa da Ponte, sendo o piso superior constituído por 8 vãos onde fixou os seus aposentos, sendo o rés do chão destinado a estabelecimento de mercearia, retrosaria e diversos armazéns contíguos de venda de alfaias agrícolas e cereais - noutras secções vendiam-se apetrechos marítimos da mais variada espécie, onde incluía a drogaria da época (tintas, alvaiades, breu e substâncias untuosas) e, ainda, todos os materiais destinados a construção.
No edificio principal foi criado o primeiro estabelecimento de um Correio Geral para esta terra, a cargo daquele mercador sem qualquer remuneração, ficando a seu cargo todas as despesas com o estafeta nas suas deslocações a Caldas todas as semanas.
Alexandre Ribeiro da Gama exerceu ainda outras actividades nesta Vila, tais como a cobrança das Rendas da imposição, administradas pelo Município, e a de Vice-Consul da Nação Britânica. Decorridos largos anos, apercebendo-se de que o seu fim estava próximo, não tendo herdeiros directos nem tendo nunca constituído familia, fez o seu testa- mento no dia 12/6/1793, a favor de sua sobrinha Maria de Jesus, casada com Matias José Ventura, e de seu caixeiro António de Almeida Coelho, ficando os dois herdeiros com partes iguais da herança.
Poucos meses depois, a 26/11/1793, estavam os seus restos mortais a serem recebidos pelo Guardião do Convento do Bom Jesus de Peniche a fim de serem inumados, a seu pedido, na Capela Mor da igreja daquela comunidade religiosa.
À frente dos seus negócios de comércio ficou, por algumas décadas, o seu herdeiro e antigo caixeiro. Também este não teve herdeiros directos pelo que, a 28/1/1831 , fez testamento a favor dos seus sobrinhos, com consentimento de sua esposa, a quai ficou como usufrutuária durante os poucos anos que, como viúva, lhe sobreviveu. Seus sobrinhos eram naturais e residentes no lugar da Fonte da Bica, da freguesia de Nossa Senhora da Conceição, do lugar de Rio Maior, ter- mo da Viia de Santarém. Peniche pouco ou nada lhes dizia e, ao que nos afigura, apressaram-se a transformar em dinheiro os bens imóveis herdados. Foi o que aconteceu apôs a morte de sua tia D. Ana Rita do Espirito Santo em 20/3/1840.
Alguns anos depois, mais propriamente a 3/10/1846, veio destacado para a Praça de Peniche o então Capitão da 6. Companhia do Regimento de Infantaria n.° 10, Sezinando Ribeiro Artur, com uma força de 61 praças, que aqui se manteve até 11 de Janeiro de 1848. Este militar terminou a sua carreira com o posto de Coronel. Seus familiares, com o aval de sua esposa D. Cândida de São José Ribeiro Artur, decidiram fixar em Peniche a sua residência permanente.
Em terreno adquirido aos herdeiros de António de Almeida Coelho promoveram a construção de um edificio de dois pisos, sendo o piso superior de seis vãos (que incluíam 2 sacadas). Para a época era um imóvel com algum destaque. Coube-lhe o numero de policia 68 e tinha serventia para uma viela pública com acesso pela Travessa da Ponte. Por morte de Sezinando Ribeiro Artur e de sua esposa herdaram este prédio o filho Generai Bartolomeu Sezinando Ribeiro Artur e sua esposa D. Maria da Costa Ribeiro Artur. Estes, por sua vez, deixam os bens a seu filho o Engenheiro Sezinando Ribeiro Artur, subdirector dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques que, não sendo casado, tem dois filhos perfilhados e reconhecidos por escritura pública Artur da Costa Ribeiro. naturai de Nelas e Berta da Costa Ribeiro Artur. nascida em Lisboa, freguesia da Pena (foi a esposa do antigo Presidente da República eleito em Julho de 1951, Francisco Higino Craveiro Lopes). O Engenheiro Sezinando, com 43 anos de idade, na cidade de Lourenço Marques, fez testamento em 27/9/1918. Faleceu no dia seguinte.
O usufruto do imóvel (então já a rua era designada por “Rua do Passeio’ foi atribuído a suas irmãs Sara Ribeiro Artur e Isabel Ribeiro Artur, enquanto vivas, ficando depois das suas mortes a pertencer inteiramente a sua filha Berta da Costa Ribeiro Artur, instituída unica e universal herdeira.
Faleceu D. Berta da Costa Ribeiro Artur Craveiro Lopes em Julho de 1958 e seu marido, o Marechal Francisco Higinio Craveiro Lopes, a 2/9/1964. Sua tia D. Isabel Ribeiro Artur Bonifácio da Silva, a última usufrutuária, faleceu anos depois a 14/6/1981 . A partir de então o imóvel, livre de quaisquer obrigações, entrou na posse dos herdeiros (os filhos do Marechal) que procederam à sua venda.
Os adquirentes, personalidades ligadas à Secção local do PSD, negociaram depois com o construtor civil João Manuel Garcia o aproveitamento do local. O velho edifício de dois pisos foi demolido e no seu espaço foi construído um edifício de 3 pisos, com um tratamento arquitectónico de linhas direitas e, talvez, pouco feliz. Foi vendido em propriedade horizontal tendo parte de um piso sido destinada à sede local do partido político “PPD/PSD - Partido Social Democrata”.
O prédio que se segue (para Sul), com o actual número de policia 72 foi mandado edificar por Carlos Filipe Freire de Andrade, Cirurgião Mor da Praça de Peniche, com a finalidade de ser oferecido a sua filha Maria da Graça Freire de Andrade como dote do seu casamento com o médico militar José Gomes Ribeiro. Estes, no entanto, fixaram residência em Lisboa e o prédio foi, ao longo de 50 anos, residência do Dr. João Baptista Frazão, figura de destaque em Peniche pela sua intervenção politica e com especial relevo no meio clinico local pelos seus dotes de simpatia e profissionalismo. Deixou viúva sua esposa aos 77 anos de idade, a 24/3/1953. Sua mulher sobreviveu até aos 93 anos, tendo falecido a 18/3/1977.
Porém já há longos anos que este imóvel tinha mudado de proprietário.
Maria da Graça, apôs a sua viuvez do Coronel Médico Gomes Ribeiro, deixou em testamento, em 29/7/1928, parte dos seus bens móveis e imóveis a seus afilhados: Sara de Jesus Henriques da Silva Guerra, Rosa da Ajuda Henriques e tenente do exército Amadeu Maria Henriques. Coube a este oficial o edifício em causa, que se manteve na familia até princípios da década de 80. Presentemente é seu proprietário um estranho a toda esta família que o adquiriu por compra quando se encontrava devoluto.
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