Em tempos antigos o trajecto que unia a povoação de “Peniche de Baixo” à de “Peniche de Cima” não era mais do que um estreito caminho vicinal. Tinha o seu inicio junto da Igreja da Virgem Maria da Ajuda e estendia-se até ao local que é hoje conhecido por “Alto do Vilas” (início da Rua D. Luis de Ataíde, então designada por “Rua do Casal”).
Foi depois da construção da cinta de muralhas de Peniche, no último quartel do século XVII, que a Câmara Municipal mandou lajear todo aquele espaço de circulação com uma largura que não ia além da que possui a maior parte das ruas da época.
Passou a ter a designação de estrada municipal de 2° classe, embora o povo lhe atribuísse como topónimo a designação de “Calçada de Nossa Senhora da Ajuda”.
Durante muitos anos, ao longo desta calçada, na época única via de ligação dos dois pôlos de povoamento desta península, poucas foram as edificações implantadas.
A Santa Casa da Misericórdia de Peniche, em 1739, mandou construir junto da muralha, próximo do topo sul da rua, uma pequena capela — um dos “Passos” que existiram ao longo do trajecto da tradicional Procissão de Domingo de Ramos.
Outras construções existiram junto do pequeno templo. Serviram de lagar e de arrecadações de alfaias agrícolas. Mais tarde foi ali criado um espaço destinado a resguardar uma pequena embarcação “salva-vidas” com que se pretendia acudir aos naufrágios que se verificassem quer nos mares do Norte quer nos do Sul da península.
Mais uma construção, com dois pisos, foi edificada no outro lado da rua - prédio que ainda existe. Todo o restante terreno envolvente da calçada foi ocupado com explorações agrícolas que chegaram até ao primeiro quartel do século vinte.
A passagem da artilharia trazida pelos franceses aquando das suas invasões durante as Guerras Peninsulares terá provocado danos naquele caminho. Coube ao Município o trabalho de reparação e colocação de novas hajes para substituir as destruídas por aqueles militares que se faziam acompanhar de carretas para transporte de canhões (documentos de despesa da Câmara Municipal de Peniche de 4/1/1811 e 10/3/1811 , respectivamente, de quatro mil quinhentos e vinte réis e cinco mil novecentos e cinquenta réis em metal pagos ao mestre pedreiro Joaquim Madeira, do acréscimo das sisas).
Ao Longo dos anos, dada a pouca elevação que tinha o pavimento desta via, os invernos chuvosos encarregaram-se da sua destruição sendo substituído o seu revestimento por “mac-adam”, que se manteve até 1882, data em que todo o seu piso foi substituído por calçada à portuguesa, calcetamento que se prolongava até às ruínas do extinto Convento do Bom Jesus de Peniche.
Porque até então todo o trânsito com ligação à estrada real n.° 65 (actual EN. 114) era encaminhado para a actual Rua da Alegria, com saída na Travessa da Horta, a Autarquia pretendeu mandar fazer uma variante, um ramal em linha recta até ao portão de Peniche de Cima. Foi esta pretensão apresentada ao Ministério da Guerra, sendo intermediário o Governador da Praça de Peniche, em virtude do terreno necessário, com a extensão de 540 metros, pertencer ao Estado. Em 4-4-1895 foi concedido o terreno em causa, que atravessava as propriedades da Coroa, ficando a cargo da Câmara a despesa da execução e conservação daquele troço de estrada e obrigando-se aquela a repor tudo no estado primitivo quando o Ministério da Guerra o julgasse indispensável, sem direito a indemnização alguma, continuando contudo propriedade do mesmo Ministério o terreno ocupado pela estrada naquela parte. A edilidade aceitou as condições e pôs mãos a obra, tendo ficado o ramal concluído no dealbar do século.
Na sequência de deliberação tomada de 7/3/1902 a Câmara resolveu interferir junto do Governo solicitando autorização para mandar rasgar a cortina da muralha alargando o portão de Peniche de Cima. Por motivos que não me foi possível apurar, a obra não foi então concretizada pois na sequência de outra deliberação camarária, em 7/1/1913, novo pedido é feito nesse sentido ao Comandante Militar desta Praça o qual intercedeu junto do Ministério da Guerra. A autorização foi concedida só podendo a obra ser levada a efeito depois de lavrado o respectivo termo e segundo as condições impostas peio referido Ministério.
Por essa época, atendendo a imposições do Ministério da Guerra, a Câmara Municipal deu prioridade à desobstrução do cimo do actual Largo do Loureiro tendo em vista poder o trânsito circular direito à Ribeira sem ter de utilizar a actual Rua D. Luis de Ataíde (antiga Rua do Casal). Procedeu-se à arrematação do alargamento a 27/5/1913, obra entregue por empreitada a Serafim Joaquim, morador no lugar da Matoeira, Concelho de Caldas da Rainha, pela quantia de duzentos noventa e nove mil réis.
Pouco tempo depois toda a Calçada de Nossa Senhora da Ajuda (muitas vezes referida como Calçada da Ajuda) passou a ter uma vida diferente com a construção de fábricas de conservas nos terrenos que até então serviam para a agricultura.
A Empresa “La Paloma” construiu uma fábrica de conservas com grande dimensão (no local onde hoje se encontra a Escola Secundária) e o Centro Comercial de Conservas, L.da também edificou outro imóvel em frente à igreja de Nossa Senhora da Ajuda com dimensões idênticas, também para a exploração da industria de conservas de peixe.
Antão da Silva Pires também procedeu ali à construção de um edifício de rés-do-chão (com duas água) também para fins industriais e residência.
Mais tarde a firma Manuel Patricio da Cruz & Filhos, L.da mandou construir no lado poente da Calçada uma garagem que servia o público disponibilizando espaço para recolha de automóveis, lavagens, lubrificações e venda de combustíveis.
A última fase de remodelação daquela artéria verificou-se na década de 50, em cumprimento do programa do Plano de Urbanização elaborado na mesma época e integrada numa obra grandiosa que remodelou todas as vias que vão do portão de Peniche de Cima à Ribeira.
Foram demolidos todos os edifícios situados no lado Norte da Travessa do Loureiro dando lugar ao actual Largo do Loureiro (aqui voltou a alargar-se mais a curva, rasgando-se um pouco do ângulo da muralha).
Também, por deliberação camarária de 21/8/1950, se procedeu à demolição de um imóvel de dois pisos, com estabelecimento no piso inferior, que pertenceu a Luis Joaquim Correia, o qual recebeu a indemnização amigável de dez mil escudos. Estava localizado na curva em frente da igreja de Nossa Senhora da Ajuda e era conhecido por a “casa do Carlos Vicente”, arrendatário que ali explorou um estabelecimento de taberna (ver foto).
Já em 1/4/1935, peia importância de quatro contos de réis, por expropriação amigável havia sido adquirido a D. Maria Amália de Carvalho Figueira, o antigo passo ou capelinha e outras dependências que existiam junto da muralha e que foram demolidas mas só na década de 50 foram limpos, ajardinados e arborizados os diversos recintos que a nascente desta rua integram a zona de protecção das muralhas militares.
o Baluarte da Calçada, removida toda a terra que, encostada à muralha, o preenchia parcialmente (e que foi usada para sanear o pântano em que se transformavam as suas zonas mais baixas nas épocas de chuva) foi arborizado e transformado num amplo recinto destinado à prática de desportos diversos foi hipódromo e hoje nele estão instalados campos de ténis).
Também o Baluarte de S. Vicente foi limpo, consolidado e arborizado.
Só foi possível proceder a trabalhos nestas áreas de terreno depois do protocolo celebrado entre o Estado a Câmara Municipal em auto de 15 de Outubro de 1949 pelo qual o Poder Central cedeu ao Município, a titulo precário e gratuito, para ajardinamento e arborização os “prédios militares” denominados “Murraçal do Baluarte da Calçada” e “Murraçal do Baluarte de S. Vicente”.
Em virtude da exígua largura (8 metros) que conservava a abertura existente na cortina de muralhas conhecida por “Portão de Peniche de Cima” - há quantos anos au deixou de haver qualquer “portão” mas o nome perpetuou-se!.. . - se tornar cada vez mais insuficiente e perigosa para o intenso trânsito de veículos que a utilizava (recorde-se que na época era praticamente a única entrada na Vila) a Câmara Municipal, entendendo que novo alargamento se impunha, obteve do poder central a devida autorização e procedeu ao necessário alargamento com a demolição de mais alguns metros de muralha. Para o efeito houve que diligenciar que fosse entregue ao Município, para demolição, o edificio do antigo Posto da Guarda Fiscal de Peniche de Cima que existia encostado à muralha. Foi também adquirido e demolido um outro edificio contíguo onde chegou a funcionar um
estabelecimento comercial.
Os cortes na muralha foram rematados com a colocação de dois pilastrões (projecto do Sr. Arquitecto Paulino Montez) onde duas lápides recordam a evolução desta abertura.
Atravessando o “portão” encontramo-nos no Largo dos Navegantes. Percorrendo a actual Avenida encontramos à nossa direita diversas habitações entre as quais é de destacar um primeiro andar particular que, até 1946, serviu de Escola Primária. Todo o espaço que se segue entre a Travessa do Lagar até à Travessa da Horta (onde hoje existem construções modernas, residências e estabelecimentos comerciais) foi terra de semeadura de jurisdição militar aforada a particulares. A maior parte deste área foi adquirida por Joaquim de Matos Bilhau, então armador e grande comerciante de pescado.
Encontramos depois o Largo da Ajuda, urbanizado e ajardinado pelo Município de acordo com projecto elaborado pelo Engenheiro Alberto dos Reis, projecto que obteve parecer favorável da Junta Nacional de Educação da Direcção do Ensino Superior e das Belas Artes. Neste pequeno jardim foi mais tarde colocada uma estátua evocando o ilustre filho de Peniche que foi D. António Ferreira Viçoso, Bispo da Diocese de Mariana, cidade que foi a primeira capital do estado de Minas Gerais, no Brasil.
Apôs uma curva para a esquerda (saindo do que foi o Ramal da Ajuda e entrando no troço da via que foi a Calçada da Ajuda) encontramos à nossa direita o edifício da Escola industriai e Comercial de Peniche (actual Escola Secundária) construído em 1956 no espaço onde, como já referi, existiu a fábrica “La Paloma” (também conhecida por “Fábrica do Alemão” ou “de San Martin”), a qual possuía na facha da um painel de azulejos coloridos com uma imagem de São Martinho dando a sua capa a um mendigo), painel que actualmente se conserva no Museu Municipal.
A garagem que, como atrás disse, foi edificada pela firma Manuel Patrício da Cruz & Filhos, L.da era constituída por dois pavilhões que hoje já não existem. O primeiro foi demolido para dar lugar à rua “Enfermeiro António Videira” e o segundo foi há muito pouco tempo objecto da mesma acção aguardando o seu espaço a construção de novos edifícios.
Também todos os prédios inicialmente criados na propriedade de Antão da Silva Pires foram nestes últimos anos demolidos dando lugar à construção de modernos edifícios.
Alguns anos depois da grande remodelação desta artéria a Câmara Municipal, dando execução ao que há muito se encontrava previsto no Plano de Urbanização de Peniche e apôs negociação com os herdeiros de José Pereira de Barros, ligou a esta Avenida a já existente Rua António da Conceição Bento, rasgando uma propriedade que pertencia aos referidos herdeiros, que se situava entre as duas vias, e onde existiam terras de cultivo e alguns armazéns.
Refira-se que, na citada época de 50, com excepção dos trabalhos de revestimento betuminoso que, por deliberação de 20/5/1957, foram adjudicados ao empreiteiro Artur do Rosário Dias, a Câmara Municipal executou por administração directa todas as demais obras de pavimentação e colocação de lancis em toda a extensão desta artéria, tendo elevado a sua cota nos pontos mais baixos e rebaixado nos mais altos, de modo a todo o seu pavimento ficasse sem declives acentuados.
Depois de concluídas as obras, foi deliberado pela Câmara Municipal, em reunião de 23/11/1959, que a via conhecida por Estrada da Ajuda e o seu prolongamento até ao portão de Peniche de Cima (conhecido por Ramal da Ajuda) passassem a denominar-se AVENIDA DOUTOR ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, o que foi aprovado por unanimidade.
Atendendo à vontade dos homens, depois da queda do “Estado Novo”, por deliberação camarária de 22/1/1975, esta via passou a ser designada por “AVENIDA 25 DE ABRIL”. Foi escolhida esta artéria para, na sua bifurcação com a Rua António da Conceição, ser colocado um monumento comemorativo da revolução ocorrida nessa data. A sua inauguração teve lugar às 0 horas da noite de 24 para 25 de Abril de 1988.
Trata-se de um monumento constituído fundamentalmente por uma ABERTURA- um espaço de TRANSIÇÃO, uma PASSAGEM, uma PORTA ABERTA — talhada em grandes blocos de mármore de Estremoz que lhe servem de esteios. E da autoria do escultor penichense João Fernandes Afra.
Peniche, Dezembro de 2006.
Foi depois da construção da cinta de muralhas de Peniche, no último quartel do século XVII, que a Câmara Municipal mandou lajear todo aquele espaço de circulação com uma largura que não ia além da que possui a maior parte das ruas da época.
Passou a ter a designação de estrada municipal de 2° classe, embora o povo lhe atribuísse como topónimo a designação de “Calçada de Nossa Senhora da Ajuda”.
Durante muitos anos, ao longo desta calçada, na época única via de ligação dos dois pôlos de povoamento desta península, poucas foram as edificações implantadas.
A Santa Casa da Misericórdia de Peniche, em 1739, mandou construir junto da muralha, próximo do topo sul da rua, uma pequena capela — um dos “Passos” que existiram ao longo do trajecto da tradicional Procissão de Domingo de Ramos.
Outras construções existiram junto do pequeno templo. Serviram de lagar e de arrecadações de alfaias agrícolas. Mais tarde foi ali criado um espaço destinado a resguardar uma pequena embarcação “salva-vidas” com que se pretendia acudir aos naufrágios que se verificassem quer nos mares do Norte quer nos do Sul da península.
Mais uma construção, com dois pisos, foi edificada no outro lado da rua - prédio que ainda existe. Todo o restante terreno envolvente da calçada foi ocupado com explorações agrícolas que chegaram até ao primeiro quartel do século vinte.
A passagem da artilharia trazida pelos franceses aquando das suas invasões durante as Guerras Peninsulares terá provocado danos naquele caminho. Coube ao Município o trabalho de reparação e colocação de novas hajes para substituir as destruídas por aqueles militares que se faziam acompanhar de carretas para transporte de canhões (documentos de despesa da Câmara Municipal de Peniche de 4/1/1811 e 10/3/1811 , respectivamente, de quatro mil quinhentos e vinte réis e cinco mil novecentos e cinquenta réis em metal pagos ao mestre pedreiro Joaquim Madeira, do acréscimo das sisas).
Ao Longo dos anos, dada a pouca elevação que tinha o pavimento desta via, os invernos chuvosos encarregaram-se da sua destruição sendo substituído o seu revestimento por “mac-adam”, que se manteve até 1882, data em que todo o seu piso foi substituído por calçada à portuguesa, calcetamento que se prolongava até às ruínas do extinto Convento do Bom Jesus de Peniche.
Porque até então todo o trânsito com ligação à estrada real n.° 65 (actual EN. 114) era encaminhado para a actual Rua da Alegria, com saída na Travessa da Horta, a Autarquia pretendeu mandar fazer uma variante, um ramal em linha recta até ao portão de Peniche de Cima. Foi esta pretensão apresentada ao Ministério da Guerra, sendo intermediário o Governador da Praça de Peniche, em virtude do terreno necessário, com a extensão de 540 metros, pertencer ao Estado. Em 4-4-1895 foi concedido o terreno em causa, que atravessava as propriedades da Coroa, ficando a cargo da Câmara a despesa da execução e conservação daquele troço de estrada e obrigando-se aquela a repor tudo no estado primitivo quando o Ministério da Guerra o julgasse indispensável, sem direito a indemnização alguma, continuando contudo propriedade do mesmo Ministério o terreno ocupado pela estrada naquela parte. A edilidade aceitou as condições e pôs mãos a obra, tendo ficado o ramal concluído no dealbar do século.
Na sequência de deliberação tomada de 7/3/1902 a Câmara resolveu interferir junto do Governo solicitando autorização para mandar rasgar a cortina da muralha alargando o portão de Peniche de Cima. Por motivos que não me foi possível apurar, a obra não foi então concretizada pois na sequência de outra deliberação camarária, em 7/1/1913, novo pedido é feito nesse sentido ao Comandante Militar desta Praça o qual intercedeu junto do Ministério da Guerra. A autorização foi concedida só podendo a obra ser levada a efeito depois de lavrado o respectivo termo e segundo as condições impostas peio referido Ministério.
Por essa época, atendendo a imposições do Ministério da Guerra, a Câmara Municipal deu prioridade à desobstrução do cimo do actual Largo do Loureiro tendo em vista poder o trânsito circular direito à Ribeira sem ter de utilizar a actual Rua D. Luis de Ataíde (antiga Rua do Casal). Procedeu-se à arrematação do alargamento a 27/5/1913, obra entregue por empreitada a Serafim Joaquim, morador no lugar da Matoeira, Concelho de Caldas da Rainha, pela quantia de duzentos noventa e nove mil réis.
Pouco tempo depois toda a Calçada de Nossa Senhora da Ajuda (muitas vezes referida como Calçada da Ajuda) passou a ter uma vida diferente com a construção de fábricas de conservas nos terrenos que até então serviam para a agricultura.
A Empresa “La Paloma” construiu uma fábrica de conservas com grande dimensão (no local onde hoje se encontra a Escola Secundária) e o Centro Comercial de Conservas, L.da também edificou outro imóvel em frente à igreja de Nossa Senhora da Ajuda com dimensões idênticas, também para a exploração da industria de conservas de peixe.
Antão da Silva Pires também procedeu ali à construção de um edifício de rés-do-chão (com duas água) também para fins industriais e residência.
Mais tarde a firma Manuel Patricio da Cruz & Filhos, L.da mandou construir no lado poente da Calçada uma garagem que servia o público disponibilizando espaço para recolha de automóveis, lavagens, lubrificações e venda de combustíveis.
A última fase de remodelação daquela artéria verificou-se na década de 50, em cumprimento do programa do Plano de Urbanização elaborado na mesma época e integrada numa obra grandiosa que remodelou todas as vias que vão do portão de Peniche de Cima à Ribeira.
Foram demolidos todos os edifícios situados no lado Norte da Travessa do Loureiro dando lugar ao actual Largo do Loureiro (aqui voltou a alargar-se mais a curva, rasgando-se um pouco do ângulo da muralha).
Também, por deliberação camarária de 21/8/1950, se procedeu à demolição de um imóvel de dois pisos, com estabelecimento no piso inferior, que pertenceu a Luis Joaquim Correia, o qual recebeu a indemnização amigável de dez mil escudos. Estava localizado na curva em frente da igreja de Nossa Senhora da Ajuda e era conhecido por a “casa do Carlos Vicente”, arrendatário que ali explorou um estabelecimento de taberna (ver foto).
Já em 1/4/1935, peia importância de quatro contos de réis, por expropriação amigável havia sido adquirido a D. Maria Amália de Carvalho Figueira, o antigo passo ou capelinha e outras dependências que existiam junto da muralha e que foram demolidas mas só na década de 50 foram limpos, ajardinados e arborizados os diversos recintos que a nascente desta rua integram a zona de protecção das muralhas militares.
o Baluarte da Calçada, removida toda a terra que, encostada à muralha, o preenchia parcialmente (e que foi usada para sanear o pântano em que se transformavam as suas zonas mais baixas nas épocas de chuva) foi arborizado e transformado num amplo recinto destinado à prática de desportos diversos foi hipódromo e hoje nele estão instalados campos de ténis).
Também o Baluarte de S. Vicente foi limpo, consolidado e arborizado.
Só foi possível proceder a trabalhos nestas áreas de terreno depois do protocolo celebrado entre o Estado a Câmara Municipal em auto de 15 de Outubro de 1949 pelo qual o Poder Central cedeu ao Município, a titulo precário e gratuito, para ajardinamento e arborização os “prédios militares” denominados “Murraçal do Baluarte da Calçada” e “Murraçal do Baluarte de S. Vicente”.
Em virtude da exígua largura (8 metros) que conservava a abertura existente na cortina de muralhas conhecida por “Portão de Peniche de Cima” - há quantos anos au deixou de haver qualquer “portão” mas o nome perpetuou-se!.. . - se tornar cada vez mais insuficiente e perigosa para o intenso trânsito de veículos que a utilizava (recorde-se que na época era praticamente a única entrada na Vila) a Câmara Municipal, entendendo que novo alargamento se impunha, obteve do poder central a devida autorização e procedeu ao necessário alargamento com a demolição de mais alguns metros de muralha. Para o efeito houve que diligenciar que fosse entregue ao Município, para demolição, o edificio do antigo Posto da Guarda Fiscal de Peniche de Cima que existia encostado à muralha. Foi também adquirido e demolido um outro edificio contíguo onde chegou a funcionar um
estabelecimento comercial.
Os cortes na muralha foram rematados com a colocação de dois pilastrões (projecto do Sr. Arquitecto Paulino Montez) onde duas lápides recordam a evolução desta abertura.
Atravessando o “portão” encontramo-nos no Largo dos Navegantes. Percorrendo a actual Avenida encontramos à nossa direita diversas habitações entre as quais é de destacar um primeiro andar particular que, até 1946, serviu de Escola Primária. Todo o espaço que se segue entre a Travessa do Lagar até à Travessa da Horta (onde hoje existem construções modernas, residências e estabelecimentos comerciais) foi terra de semeadura de jurisdição militar aforada a particulares. A maior parte deste área foi adquirida por Joaquim de Matos Bilhau, então armador e grande comerciante de pescado.
Encontramos depois o Largo da Ajuda, urbanizado e ajardinado pelo Município de acordo com projecto elaborado pelo Engenheiro Alberto dos Reis, projecto que obteve parecer favorável da Junta Nacional de Educação da Direcção do Ensino Superior e das Belas Artes. Neste pequeno jardim foi mais tarde colocada uma estátua evocando o ilustre filho de Peniche que foi D. António Ferreira Viçoso, Bispo da Diocese de Mariana, cidade que foi a primeira capital do estado de Minas Gerais, no Brasil.
Apôs uma curva para a esquerda (saindo do que foi o Ramal da Ajuda e entrando no troço da via que foi a Calçada da Ajuda) encontramos à nossa direita o edifício da Escola industriai e Comercial de Peniche (actual Escola Secundária) construído em 1956 no espaço onde, como já referi, existiu a fábrica “La Paloma” (também conhecida por “Fábrica do Alemão” ou “de San Martin”), a qual possuía na facha da um painel de azulejos coloridos com uma imagem de São Martinho dando a sua capa a um mendigo), painel que actualmente se conserva no Museu Municipal.
A garagem que, como atrás disse, foi edificada pela firma Manuel Patrício da Cruz & Filhos, L.da era constituída por dois pavilhões que hoje já não existem. O primeiro foi demolido para dar lugar à rua “Enfermeiro António Videira” e o segundo foi há muito pouco tempo objecto da mesma acção aguardando o seu espaço a construção de novos edifícios.
Também todos os prédios inicialmente criados na propriedade de Antão da Silva Pires foram nestes últimos anos demolidos dando lugar à construção de modernos edifícios.
Alguns anos depois da grande remodelação desta artéria a Câmara Municipal, dando execução ao que há muito se encontrava previsto no Plano de Urbanização de Peniche e apôs negociação com os herdeiros de José Pereira de Barros, ligou a esta Avenida a já existente Rua António da Conceição Bento, rasgando uma propriedade que pertencia aos referidos herdeiros, que se situava entre as duas vias, e onde existiam terras de cultivo e alguns armazéns.
Refira-se que, na citada época de 50, com excepção dos trabalhos de revestimento betuminoso que, por deliberação de 20/5/1957, foram adjudicados ao empreiteiro Artur do Rosário Dias, a Câmara Municipal executou por administração directa todas as demais obras de pavimentação e colocação de lancis em toda a extensão desta artéria, tendo elevado a sua cota nos pontos mais baixos e rebaixado nos mais altos, de modo a todo o seu pavimento ficasse sem declives acentuados.
Depois de concluídas as obras, foi deliberado pela Câmara Municipal, em reunião de 23/11/1959, que a via conhecida por Estrada da Ajuda e o seu prolongamento até ao portão de Peniche de Cima (conhecido por Ramal da Ajuda) passassem a denominar-se AVENIDA DOUTOR ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR, o que foi aprovado por unanimidade.
Atendendo à vontade dos homens, depois da queda do “Estado Novo”, por deliberação camarária de 22/1/1975, esta via passou a ser designada por “AVENIDA 25 DE ABRIL”. Foi escolhida esta artéria para, na sua bifurcação com a Rua António da Conceição, ser colocado um monumento comemorativo da revolução ocorrida nessa data. A sua inauguração teve lugar às 0 horas da noite de 24 para 25 de Abril de 1988.
Trata-se de um monumento constituído fundamentalmente por uma ABERTURA- um espaço de TRANSIÇÃO, uma PASSAGEM, uma PORTA ABERTA — talhada em grandes blocos de mármore de Estremoz que lhe servem de esteios. E da autoria do escultor penichense João Fernandes Afra.
Peniche, Dezembro de 2006.
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