Por: Fernando Engenheiro
Como é sabido, a 1° Grande Guerre teve a sua origem no assassinato, a 28 de Junho de 1914, na cidade de Sarajevo, dos principes herdeiros da Áustria arquiduque Francisco Fernando e sua mulher, e duquesa Hohenberg”.
Foram autores deste crimes, o estudante sérvio Princip Carulo e um tipografo de nome Cambrinovich.
Este acontecimento iria ter graves repercussões nos Impérios Centrais e, como se verificou, não estava fora de causa, a curto ou longo prazo, o envolvimento das outras nações europeias.
Embora o nosso pais não estivesse ligado à tragédia bem podia sofrer as consequências dela,
Atendendo à nossa aliança com o império Britânico não deixaríamos, a seu tempo, de assumir responsabilidades no conflito. A situação geográfica de Portugal, então disperso pelo mundo, também nos punha em alerta.
Tinha-se acendido o barril de pólvora que conduziu à 1° Guerra Mundial.
Tendo e Austria rompido com e Sérvia, os acontecimentos em cadeia levaram ao estado de guerra entre a Grã-Bretanha e a Alemanha, no dia 4 de Agosto.
Logo e seguir, as hostilidades estenderam-se à França, que foi invadida pelas tropas alemãs,
Não perdemos pela demora por sermos cobiçados como aliados da Inglaterra, a quem a França pediu auxilio. Foram longas e sucessivas as conferências entra o exército português e as duas missões, uma inglesa e outra francesa, chefiadas respectivamente o general Bernardistou e pelo Coronel Paris.
Os Doutores Afonso Costa e Augusto Soares foram em missão a Paris e a Londres, para obter garantias quanto à nossa entrada oficial no conflito. O Ministério precisava de dinheiro para ocorrer aos encargos de guerra. Tal decisão punha graves compromissos de ordem financeira e militar.
O ministério britânico comprometeu-se a fazer os empréstimos necessários para e sua participação no conflito se efectuar no momento oportuno.
Demoraram-se aqueles estadistas estrangeiros, em Portugal, desde 30 de Agosto de 1916 até 3 de Janeiro do ano seguinte.
Só nesse último dia Portugal se decidiu a assinar as condições em que se realizaria a colaboração militar portuguesa.
O País estava e passar por uma crise financeira bastante avultada, pois que uma grande parte das suas economias já estavam e ser desviadas para as colónias.
Havia também que defender aqueles territórios com a presença de tropas do continente.
Os alemães não nos perdoavam por vivermos de boas relações diplomáticas e termos enveredado com uma linha que não correspondia aos interesses do seu Pais.
Por isso pagámos bem caro, com os ataques feitos às nossas Províncias Ultramarinas. em que foram ceifadas muitas vidas portuguesas.
Para dar cumprimento a todas as obrigações assumidas só havia uma alternativa: decretar a mobilização geral dos 18 aos 45 anos, incluindo as reinspecções. Alistaram-se milhares de jovens e chamaram-se os licenciados e outros reservistas.
Por Decreto de 17 de Ja neiro de 1917, foi ordenada a primeira expedição, a 26 do mesmo mês, com destino a Brest.
Antes de deixar as terras, as tropas destilavam no meio dos aplausos e lágrimas da população , a qual não podia deixar de sentir um orgulho maculado de tristeza pelo futuro incerto dos seus familiares.
Um mês depois partiu o segundo contingente.
Veio finalmente a constituir-se em França um Núcleo militar português de algumas dezenas de milhares de homens.
Atravessaram mil vicissitudes, derivadas, nos primeiros tempos, das deficiências de organização dum improvisado exército. Nos últimos, da latta dum adequado reforço de tropas frescas.
Afrontando trabalho e doenças; suportando as inclemências do clima e do desconforto, também sofreram as agruras morais e físicas próprias da guerra.
Peniche, e seu Concelho, não passou ao lado com os seus filhos, pois também os viu partir para longe, no cumprimento de um doloroso dever.
A troca de correspondência, com os seus familiares, futuras noivas e amigos, era animadora, embora a secção onde funcionava a censura estivesse sempre de olhos abertos.
Não reflectia aquilo que se estava a passar na realidade.
No fim de Julho de 1917, o boletim do general Tamagnini de Abreu registava 34 mortos na primeira quinzena do mês, com mais 185 feridos e 15 desaparecidos.
Em Lisboa continuava o embarque de tropas à média de 4.090 homens por mês, faltando ainda vários milhares para o cômputo dos 55.000 que deviam constituir o Corpo Expedicionário Português .
Nele estavam incluídos os nossos conterrâneos: tenente-médico Dr. José Bonifácio da Silva, os segundos sargentos, Francisco Ferreira da Silva - Francisco do Rosário Leitão - ,José da Costa Belo - José Casimiro José Franco Lobo — Luis Pedroso da Silva Campos — Virgilio Camiller Dias e João Martinho e os soldados Aldino Agostinho, António Maria de Abreu — António dos Santos Redondo — Carlos Joaquim da Cruz — Eduardo da Costa — Francisco Cordeiro — João Monteiro — Joaquim Duarte Barradas — Joaquim Loca — José do Nascimento Gorjão — José Alípio da Mata — José do Nascimento Fanha — José Vicente Henriques — Manuel do Nascimento Ginja — Manuel Porfirio dos Santos — Pedro Ximenes — Silvino Quaresma — Francisco da Silva — Avelino Martins e José Idefonso Ramos.
Para Africa seguiram o cabo-enfermeiro Dâmaso Luis Seia e os soldados Arnaldo dos Santos Polonio
-José Alípio da Mata (que prestou igualmente serviço em França) e Noé de Jesus Santos.
A 9 de Abril de 1918 o Pais foi sobressaltado com a terrível noticia de que uma parte do Corpo Expedicionário Português, sofrera uma violenta derrota na Batalha de La Lys.
Foi nas margens do rio Lys, na Flandre Francesa, que se deu a fatidica tragédia.
Com 60.000 obuses de guerra e 70.000 obuses de granadas caídos, durante très horas e meia, sobre as tropas portuguesas.
Foi um bombardeamento muito intenso realizado palo VI exército alemão (Von Quast), numa manhã de intenso nevoeiro.
A infantaria inimiga só podia ser vista a 30 metros das trincheiras onde estavam as tropas portuguesas.
Foi da maiores catastrofes desta guerre. Entre mortos, feridos e prisioneiros o Corpo Expedicionário
Português perdeu 11.000 homens.
Deixou de existir como Corpo autônomo. Os restos de artilharia e de infantaria foram incorporados no exército inglês. O que restava das tropas portuguesas, desmoralizadas, estava entregue à sua sorte.
Aperceberam-se, depois, que o seu esforço de guerra foi sabotado na retaguarda, pelo que para o bom andamento dos trabalhos nada valia o seu empanho.
Cobriram-se de luto muitas familias com esta jornada trágica.
Dois meses depois, publicava-se a impressionante lista de mortos, feridos e prisioneiros do 9 de Abril.
Aumentou o sentimento de pesar em muitos lares e envolveu a alma portuguesa de profunda consternação.
Para Peniche foi enviada pelo Regimento de infantaria n° 5, de Caldas de Rainha, a relação dos militares que tombaram no cumprimento dos seus deveres e a informação de que seus despojos ficavam para sempre fora de sua Mãe Pátria.
Foram eles: Mobilizados pelo Regimento de Infantaria n°5: João Martinho, 2,° Sargento, e os Soldados Francisco Silva, n. 692 - José do Nascimento Gorjão , 744 - Avelino Martins, 764 e Joaquim Ildefonso Ramos, 755.
Do Batalhão de Artilharia da Costa, de Oeiras: José do Nascimento Fanha, Arnaldo dos Santos Polonio e Noé de Jesus Santos foram mortos em Africa.
De todos estes militares só o Fanha era casado, mas não existiam filhos.
Peniche, ao contrario da maior parte du País, ainda está em divida para honrar dignamente os seus compatriotas mortos naquele conflito dado que, por enquanto, as suas memórias se mantém perpetuadas apenas com um pequeno obelisco.
Há por todo o Pais, avenidas, praças e ruas com o topónimo Combatentes de Grande Guerra’.
Até pequenas freguesias, com menos possibilidades financeiras, colocaram no adro da sua igreja, lápides contendo os nomes dos seus combatentes mortos em combate.
Por descargo de consciência e em complemento da deliberação camarária de 28 de Abril de 1932,
foi só dado cumprimento à cedência gratuita de 30 covais no Cemitério
Municipal à Liga dos Combatentes da Grande Guerra em 21/7/1949.
Abrange uma área de oitenta e cinco metros e trinta centímetros, com as seguintes medidas: Norte/Sul, dezoito metros e quinze centímetros - Nascente/Poente, quatro
métros e oitenta centímetros.
Também no dia 10/4/1921, a Câmara Municipal fez-se representar pelo Vereador Torcato de
Jesus Leitão e pelo cidadão Marcos Mendes Mello, na trasladação da estação de Leiria para o mosteiro da Batalha dos leretros dos dois soldados desconhecidos.
Foram eles dois militares que morreram em combate em Africa e França pela defesa e prestigio da
Pátria.
Desde aquele dia, na Sala do Capitolo do glorioso Mosteiro da Batalha. arde a chama voliva dos
soldados portugueses falecidos naquela trágica confrontação.
Estiveram presentes nesta cerimonia o então Chefe de Estado Dr. António José de Almeida e outras altas individualidades.
Em 1924 a Comissão Executiva dos Padrões du Grande Guerra solicita deste Municipio qualquer importância para os PADRÕES da Grande Guerra. Tratava-sa de monumentos a erguer em França e nas nossas províncias de Angola e Moçambique representando o esforço da raça pela nossa intervenção militar na Grande Guerra. Parece que nem resposta obtiveram.
No dia de S. Martinho de 1918 (11 de Novembro) deu-se o grande dia do armistício. para os sobreviventes, familiares e amigos. Passados pouco mais de 2 anos foi criada a Liga dos Combatentes du Grande Guerra. Foi fundada em 1921, por iniciativa de João Jaime de Faria Afonso. E uma organização de carácter civil, embora constituída por elementos miltares.
Dos estatutos, publicados em 1924, constam os fins seguintes: Protecção e auxilio por pensões e socorros a todas as vitimas da Grande Guerra e suas familias’, ‘defesa dos interesses patrióticos e “Programa du pais no estrangeiro’.
Este último, sobretudo pelo intercâmbio com as associações existentes nos diferentes países.
Peniche, embora com poucos elementos, também aderiu a esta fundação. Teve o seu Núcleo, com
sede na Rua Garrett 34. Como não era possível o seu sustento so com aqueles militares, foi alargado por todo o pais o seu leque sou expedicionários de Portugal Insular e Ultramarino.
Ainda nos está na memória, alguns dos seus últimos Presidentes do Núcleo de Peniche, tais como: a partir dos anos 50, Tenente Alonso Neves, Jose Franco Lobo, e, ultimamente, José Alípio da Mata, (Quanto aos anteriores, não me foi possível adquirir elementos).
Após o falecimento do último membro, este núcleo foi incluído no das Caldas du Rainha. Tem a sua sede nos Pavilhões do Parque D. Carlos I, naquela cidade. Em boa hora se realizou a integração pelo proveito que trouxe. Refira-se aqui o trabalho daquela instituição que tem a seu cargo a conservação do talhão dos combatentes, com o embelezamento de um padrão alusiso.
Os representantes da Liga nesta zona não esquecem a sua deslocação aquele este lugar sagrado, todos os anos, no dia 1 de Novembro (dia de finados), acompanhados por convidados civis e
militares.
Naquela data uma cerimonia religiosa é acompanhada também por uma militar, com a participação de elementos do Regimento de Infantaria n°5, de Caldas da Rainha.
quinta-feira, outubro 15, 2009
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