Por: Fernando Engenheiro
Esta planta aquática, da família das “algas”, é conhecida por todos os oceanos, próximo das praias, estuários e lagoas por todas as costas.
No nosso país o seu aproveitamento coma flora submarina, conquanto mais modesto do que a pesca e a caça, tem constituído através dos tempos uma forma típica de ocupação humana por todo o nosso litoral.
A apanha destas plantas marinhas em Portugal é conhecida por nomes diferentes consoante as regiões: como sargaço (no Minho), taborro (na Póvoa do Varzim), bodelha (no Tejo), moliço (na Beira Litoral). Sem qualquer alteração, na nossa região mantemos o seu suposto nome original.
Desde muito cedo a humanidade aprendeu que tais plantas podiam servir para fertilizar os campos. Esta foi numa grande parte do mundo a sua utilização predominante, embora se saiba, por estudos feitos ao longo dos tempos, existirem espécies utilizadas na alimentação em vários países do Extremo Oriente, nomeadamente no Japão. O alto teor em matérias azotadas e outras substâncias nutritivas parece desempenhar um papel importante na alimentação de animais e até de humanos. Torna-se até surpreendente a sua capacidade de introdução nas ementas macrobióticas, bem como o poder da extracção do liquido espesso e gomoso que contém, acompanhado do iodo que lhe é característico, utilizado em farmácias e também na alimentação e em cosmética.
Também são utilizadas em banhos medicinais, fazendo parte de tratamentos à beira-mar, com grande aceitação com resultados em que se reconhece o seu valor.
Dos elementos sobre a nossa área de circunscrição marítima que me foi possível consultar é de notar alguns registos em poder da Autarquia Local, que passo a mencionar:
No século XVII, em Peniche, encontramos pelo menos mencionado no livro das Vereações (tomo de 1683, fls. 15) uma referência alusiva à limpeza “e apanhamento das herbas marinhas da Alagoa” - o lago que se formava na antiga foz do rio da Atouguia, embora neste caso a vegetação fluviomarinha pudesse ser de outro género. E possível que desta se servissem já os camponeses e também os ervanários; o musgo branco e o carvalhinho-do-mar, por exemplo, eram, segundo parece, medicamentos em voga na farmacopeia peninsular daquela época.
E no tomo de 1730, fls. 12, fala-se das mulheres que iam “colher limos ao areal segundo lhe permitido”, parecendo, pela frase, que haveria mesmo uma postura concelhia a tal respeito.
No começo do século XIX a apanha de plantas marinhas tinha grande relevo. Assim o diz Pedro Cervantes de Carvalho Figueira no relatório que escreveu em 1853: “As algas e plantas marítimas, às quais em Peniche dão o nome de limo são, pelas marulhadas e águas vivas, arrancadas dos rochedos a que se fixam por uma base larga, porque não têm raízes, e arrojadas às praias, onde na baixa-mar são colhidas em grande quantidade pelos habitantes desta Vila e das povoações circunvizinhas que as empregam como estrume, para adubo na cultura dos cereais, batatas e hortaliças. E mais um tesouro que a Providência pôs ao alcance dos habitantes da costa que, quando tivermos estradas, há-de ser melhor aproveitado, e fecundar maior extensão de terreno; mesmo assim já aqui se vendem estas plantas a 200 réis a carrada, sendo verdes, ou a 2$000 réis depois de secas, e aproveitam-se anualmente alguns milhares de carradas (Indústria de Peniche, Lisboa, 1865, pág. 53).
A azáfama na corrida à apanha de limo em certas quadras do ano, principalmente apôs as tempestades e as marés do equinócio prolongou-se pela século XX. Grandes grupos de homens e mulheres se viam entretidos apanhar, com ancinhos de madeira, as algas que afloram na crista das ondas ou tombam no rolo da praia e que depois espalham par sobre a areia enxuta para secar e que mais tarde agregam em montículos, aqui e além, para facilitar o transporte. Este era feito a dorso de jerico, em pachorrentas burricadas.
Era um espectáculo colorido, em que os ares se impregnavam com um cheiro iodado característico. Apenas com um inconveniente: quando o calor apertava, as algas entravam em rápida putrefacção, atraindo mosquedo e pulgas-do-mar.
Ainda voltando aos fins do século XIX, mais propriamente em 1896: a afluência de vegetais na orla marítima de Peniche levou mesmo alguns indivíduos desta localidade a ensaiar novos processos de valorização de tal matéria. Destaco aqui o negociante José Franco que, entusiasmado com o que estavam fazendo os “goémoniers” franceses, pretendeu montar uma unidade industrial para do limo extrair produtos químicos (iodo, bromo, soda, etc.). Descorçoado, por mingua de apoio financeiro e, possivelmente, de mão-de-obra especializada, desistiu do intento. Embora a ideia não vingasse, bem merece ser lembrada com apreço, porque nenhuma fábrica do género chegou a existir entre nós, conquanto semelhante processo de exploração algológica se tenha tomado assaz vulgar em muitos pontos do globo.
Mais tarde, já na década de 40 (1940) um outro cidadão, natural de Peniche, Ramiro de Matos Bilhau, tentou o aproveitamento do limo desta costa, com vista ao fabrico de rações para gado, em bases modernas para a época.
No esquema fabril que chegou a concretizar as algas vinham da praia para a fabrica, no Quebrado (Peniche de Cima) onde ainda existem os barracões construídos para a sua laboração. Neles eram lavadas repetidamente com água doce e postas a secar ao ar livre em longos tabuleiros. Depois passavam por uma operação de moenda num triturador especial, com diversos calibres. O granulado assim obtido destinava-se à mistura com farinha e outros ingredientes, por forma a conseguir boas rações. Por razões que desconheço a iniciativa não foi explorada por muito tempo.
Mas a grande intensidade da exploração do limo, que a história não vai esquecer por diversas razões, verificou-se nas décadas de 60 e 70 do último século, por toda a costa que circundava esta zona e até à distância de algumas milhas pois, ao que nos apercebemos, ela era uma autêntica pradaria de algas em faixas que formavam verdadeiras plataformas flutuantes daquele precioso produto que, em poucos anos, ficou reduzido a nada.
Tratou-se da grande devastação pois o interesse mercantil da exploração levou a arrebanhar tudo o que podia ser arrebanhado.
Eram usados barcos motorizados, que se caracterizavam por serem pintados de amarelo, com uma legenda por cima do verdugo da embarcação: “Apanha Submarina de Algas”. Chegaram a actuar nesta safra 28 destas embarcações, que transportavam mergulhadores equipados com o mais moderno equipamento para a época.
O seu produto era vendido a peso com a presença das autoridades competentes, que cobravam os direitos devidos, efectuando-se a partir daqui transacções com os compradores interessados.
Pelo que hoje nos apercebemos, terá sido um autêntico desastre ecológico, partindo-se do principio de que as próprias algas suportam e protegem também, de forma considerável, uma rica e variada comunidade de animais marinhos.
Parece, porém, que nem tudo se torna vantajoso nas pradarias de fanerogâmicas no que respeita às algas, pois nelas têm o seu habitat diversos animais perfuradores que aproveitam qualquer matéria sólida para estabelecer os abrigos mediante a sua capacidade de furar, a que só muitas poucas substâncias escapam.
Estou a lembrar-me do grande desastre da invencível Armada, que o monarca Filipe II enviou às costas de Inglaterra. Pensa-se que, durante o tempo em que a invencível Armada esteve fundeada em Lisboa para preparar a expedição, os cascos dos navios teriam sido invadidos par moluscos perfuradores. Quando a grande tempestade surpreendeu a esquadra no mar do Norte, os cascos não puderam suportar o embate das ondas e perderam-se irremediavelmente.
Ainda falando dos moluscos bivalves perfuradores, lembro os conhecidos par “Teredo” que são capazes de digerir quase exclusivamente a madeira. Outra exemplo da sua acção devastadora deu-se na Holanda, em 1730, quando as diques e as comportas que defendem as costas dos Países Baixos (esburacados inúmeras vezes pelos moluscos que, mais uma vez, viviam juntamente com as plantas marinhas, não puderam resistir à pressão da massa de água do oceano e se desfizeram em mil pedaços, originando enormes prejuízos.
Muito mais haveria que dizer sobre estas plantas do foro da “Flora" Mar e que protegem membros do Reino Animal.
Esta planta aquática, da família das “algas”, é conhecida por todos os oceanos, próximo das praias, estuários e lagoas por todas as costas.
No nosso país o seu aproveitamento coma flora submarina, conquanto mais modesto do que a pesca e a caça, tem constituído através dos tempos uma forma típica de ocupação humana por todo o nosso litoral.
A apanha destas plantas marinhas em Portugal é conhecida por nomes diferentes consoante as regiões: como sargaço (no Minho), taborro (na Póvoa do Varzim), bodelha (no Tejo), moliço (na Beira Litoral). Sem qualquer alteração, na nossa região mantemos o seu suposto nome original.
Desde muito cedo a humanidade aprendeu que tais plantas podiam servir para fertilizar os campos. Esta foi numa grande parte do mundo a sua utilização predominante, embora se saiba, por estudos feitos ao longo dos tempos, existirem espécies utilizadas na alimentação em vários países do Extremo Oriente, nomeadamente no Japão. O alto teor em matérias azotadas e outras substâncias nutritivas parece desempenhar um papel importante na alimentação de animais e até de humanos. Torna-se até surpreendente a sua capacidade de introdução nas ementas macrobióticas, bem como o poder da extracção do liquido espesso e gomoso que contém, acompanhado do iodo que lhe é característico, utilizado em farmácias e também na alimentação e em cosmética.
Também são utilizadas em banhos medicinais, fazendo parte de tratamentos à beira-mar, com grande aceitação com resultados em que se reconhece o seu valor.
Dos elementos sobre a nossa área de circunscrição marítima que me foi possível consultar é de notar alguns registos em poder da Autarquia Local, que passo a mencionar:
No século XVII, em Peniche, encontramos pelo menos mencionado no livro das Vereações (tomo de 1683, fls. 15) uma referência alusiva à limpeza “e apanhamento das herbas marinhas da Alagoa” - o lago que se formava na antiga foz do rio da Atouguia, embora neste caso a vegetação fluviomarinha pudesse ser de outro género. E possível que desta se servissem já os camponeses e também os ervanários; o musgo branco e o carvalhinho-do-mar, por exemplo, eram, segundo parece, medicamentos em voga na farmacopeia peninsular daquela época.
E no tomo de 1730, fls. 12, fala-se das mulheres que iam “colher limos ao areal segundo lhe permitido”, parecendo, pela frase, que haveria mesmo uma postura concelhia a tal respeito.
No começo do século XIX a apanha de plantas marinhas tinha grande relevo. Assim o diz Pedro Cervantes de Carvalho Figueira no relatório que escreveu em 1853: “As algas e plantas marítimas, às quais em Peniche dão o nome de limo são, pelas marulhadas e águas vivas, arrancadas dos rochedos a que se fixam por uma base larga, porque não têm raízes, e arrojadas às praias, onde na baixa-mar são colhidas em grande quantidade pelos habitantes desta Vila e das povoações circunvizinhas que as empregam como estrume, para adubo na cultura dos cereais, batatas e hortaliças. E mais um tesouro que a Providência pôs ao alcance dos habitantes da costa que, quando tivermos estradas, há-de ser melhor aproveitado, e fecundar maior extensão de terreno; mesmo assim já aqui se vendem estas plantas a 200 réis a carrada, sendo verdes, ou a 2$000 réis depois de secas, e aproveitam-se anualmente alguns milhares de carradas (Indústria de Peniche, Lisboa, 1865, pág. 53).
A azáfama na corrida à apanha de limo em certas quadras do ano, principalmente apôs as tempestades e as marés do equinócio prolongou-se pela século XX. Grandes grupos de homens e mulheres se viam entretidos apanhar, com ancinhos de madeira, as algas que afloram na crista das ondas ou tombam no rolo da praia e que depois espalham par sobre a areia enxuta para secar e que mais tarde agregam em montículos, aqui e além, para facilitar o transporte. Este era feito a dorso de jerico, em pachorrentas burricadas.
Era um espectáculo colorido, em que os ares se impregnavam com um cheiro iodado característico. Apenas com um inconveniente: quando o calor apertava, as algas entravam em rápida putrefacção, atraindo mosquedo e pulgas-do-mar.
Ainda voltando aos fins do século XIX, mais propriamente em 1896: a afluência de vegetais na orla marítima de Peniche levou mesmo alguns indivíduos desta localidade a ensaiar novos processos de valorização de tal matéria. Destaco aqui o negociante José Franco que, entusiasmado com o que estavam fazendo os “goémoniers” franceses, pretendeu montar uma unidade industrial para do limo extrair produtos químicos (iodo, bromo, soda, etc.). Descorçoado, por mingua de apoio financeiro e, possivelmente, de mão-de-obra especializada, desistiu do intento. Embora a ideia não vingasse, bem merece ser lembrada com apreço, porque nenhuma fábrica do género chegou a existir entre nós, conquanto semelhante processo de exploração algológica se tenha tomado assaz vulgar em muitos pontos do globo.
Mais tarde, já na década de 40 (1940) um outro cidadão, natural de Peniche, Ramiro de Matos Bilhau, tentou o aproveitamento do limo desta costa, com vista ao fabrico de rações para gado, em bases modernas para a época.
No esquema fabril que chegou a concretizar as algas vinham da praia para a fabrica, no Quebrado (Peniche de Cima) onde ainda existem os barracões construídos para a sua laboração. Neles eram lavadas repetidamente com água doce e postas a secar ao ar livre em longos tabuleiros. Depois passavam por uma operação de moenda num triturador especial, com diversos calibres. O granulado assim obtido destinava-se à mistura com farinha e outros ingredientes, por forma a conseguir boas rações. Por razões que desconheço a iniciativa não foi explorada por muito tempo.
Mas a grande intensidade da exploração do limo, que a história não vai esquecer por diversas razões, verificou-se nas décadas de 60 e 70 do último século, por toda a costa que circundava esta zona e até à distância de algumas milhas pois, ao que nos apercebemos, ela era uma autêntica pradaria de algas em faixas que formavam verdadeiras plataformas flutuantes daquele precioso produto que, em poucos anos, ficou reduzido a nada.
Tratou-se da grande devastação pois o interesse mercantil da exploração levou a arrebanhar tudo o que podia ser arrebanhado.
Eram usados barcos motorizados, que se caracterizavam por serem pintados de amarelo, com uma legenda por cima do verdugo da embarcação: “Apanha Submarina de Algas”. Chegaram a actuar nesta safra 28 destas embarcações, que transportavam mergulhadores equipados com o mais moderno equipamento para a época.
O seu produto era vendido a peso com a presença das autoridades competentes, que cobravam os direitos devidos, efectuando-se a partir daqui transacções com os compradores interessados.
Pelo que hoje nos apercebemos, terá sido um autêntico desastre ecológico, partindo-se do principio de que as próprias algas suportam e protegem também, de forma considerável, uma rica e variada comunidade de animais marinhos.
Parece, porém, que nem tudo se torna vantajoso nas pradarias de fanerogâmicas no que respeita às algas, pois nelas têm o seu habitat diversos animais perfuradores que aproveitam qualquer matéria sólida para estabelecer os abrigos mediante a sua capacidade de furar, a que só muitas poucas substâncias escapam.
Estou a lembrar-me do grande desastre da invencível Armada, que o monarca Filipe II enviou às costas de Inglaterra. Pensa-se que, durante o tempo em que a invencível Armada esteve fundeada em Lisboa para preparar a expedição, os cascos dos navios teriam sido invadidos par moluscos perfuradores. Quando a grande tempestade surpreendeu a esquadra no mar do Norte, os cascos não puderam suportar o embate das ondas e perderam-se irremediavelmente.
Ainda falando dos moluscos bivalves perfuradores, lembro os conhecidos par “Teredo” que são capazes de digerir quase exclusivamente a madeira. Outra exemplo da sua acção devastadora deu-se na Holanda, em 1730, quando as diques e as comportas que defendem as costas dos Países Baixos (esburacados inúmeras vezes pelos moluscos que, mais uma vez, viviam juntamente com as plantas marinhas, não puderam resistir à pressão da massa de água do oceano e se desfizeram em mil pedaços, originando enormes prejuízos.
Muito mais haveria que dizer sobre estas plantas do foro da “Flora" Mar e que protegem membros do Reino Animal.
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