sexta-feira, novembro 01, 2013

SOLDADOS DA PAZ COM SEDE EM PENICHE PARTE II

Texto: Fernando Engenheiro
   No início de 1930 começou a ser construída a Casa-Escola, conhecida por “Esqueleto’ uma obra
a cargo do construtor civil mestre Serafim António Rodrigues, que foi residente em Peniche, e que se destinava aos exercícios daquela corporação. Para isso, mais uma vez tiveram o auxilio da autarquia, autorizando a exploração de toda a pedia que necessitassem, no sitio da “Gravanha’ propriedade do Município, adquirida havia pouco tempo a Da Maria da Glória Sobral Cervantes, que ficava perto do local de implantação daquele imóvel,bem como de todo o madeiramento necessário, a obter do pinhal municipal do Vale Grande, limite de Ferrel O local escolhido era um terreno particular, pela qual a sua proprietária D Raquel Monteiro Cabral Mateus Dias, exigia o pagamento mensal de 100$00 toda a conveniência na criação daquele imóvel, cuja inauguração teve lugar no dia do segundo aniversário da fundação daquela colectividade. Com o incremento dado à criação do Corpo de Bombeiros, a formação dos soldados da paz era também um importante objectivo a prosseguir, verificando-se uma acentuada tendência para a construção das chamadas - casas-escolas, onde era, e hoje ainda é, com exercícios práticos, ministrada a instrução a nível interna.
   Em Abril do mesmo ano é feita a encomenda de um carro de tracção braçal com escadas, adquirido pela importância de 6.130$00 não incluindo o despacho em caminho de ferro da cidade do Porto até a estação de São Mamede (Oeste) na importância de 613$20. Este carro, tudo leva a crer ser o que se encontra hoje exposto no espaço que. serve de museu no novo edifício da corporação e outros que se seguiram também de tracção braçal que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira) e outro transporte para diversos materiais de incêndios.
Com a criação da Liga dos Bombeiros Portugueses, em 18 de Agosto de 1930, não tardou que, a 23 de Abril de 1932, fossem aprovados pelo governador civil deste distrito, os estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de
Peniche, que comportam 46 artigos. Os novos
estatutos foram apresentados a 8 de Setembro do mesmo ano, pela comissão organizadora constituída por: José Júlio Cerdeira, José do Nascimento Ginja, António Nunes Ribeiro, António Adelino Gomes da Silva e Aires Henriques Bolas.
   Para comemorar o segundo aniversário da fundação dos Bombeiros Voluntários de Peniche e prestar homenagem póstuma ao seu fundador, António Maria de Oliveira, realizou-se no dia 21 de Julho de 1931, uma sessão solene com a assistência da Comissão Administrativa, administrador do concelho e mais entidades a quem foi dirigido convite. Foi descerrada uma fotografia daquele ilustre fundador a perpetuar naquela sede a sua presença, lembrando para sempre os seus mais nobres actos em prol do seu semelhante.
   A partir de Setembro de 1932, o Quartel do Corpo de Bombeiros fez a sua transferência para o Largo D. Pedro V. Tratava-se de um armazém pertencente a um edifício que o seu proprietário, António Andrade, industrial em Peniche, tinha alugado para sede da Cooperativa Auxiliadora Penichense, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, constituída por escritura em 2 de Setembro de 1919, cujos destinas eram dirigidos pela próprio proprietário do imóvel e por Miguel Olavo Franco, Mário José Gomes e José do Rosário Leitão. Com consentimento do senhorio, foi aquele espaço subalugado à Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, cabendo a responsabilidade do aluguer àquela cooperativa por 90$00 mensais. A Câmara Municipal, em Outubro de 1932, tomou conhecimento que estava desocupada a casa que então serviu de Quartel do Corpo de Bombeiros, numa das dependências no piso inferior do edifício dos Paços do Concelho, pais o quartel havia sida transferido para o Largo D. Pedro V.
   Só mais tarde, em Setembro de 1946, já sendo proprietário o Dr. Jaime Silva Sardinha Mata, residente em Baleizão (genro de Antónia Andrade), foi feito o contrato de arrendamento, par 120$00 mensais, a favor daquela corporação. Com a boa vontade do inquilino foram dispensadas, a partir de 5 de Abri! de 1937, as dependências da parte de três, que dava para a Rua Tenente Valentim. Era naquele espaço que a cooperativa depositava a lenha para distribuir em épocas de crises pelas mais necessitadas.
  Mesma assim, lutava-se com as escassos espaços na desempenha das funções daquela instituição, pela aquisição de mais e mais material para o desempenho no serviço contra os incêndios Em 1935, os Bombeiros Voluntários de Peniche já possuíam três carros de braçal, que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira), “carro escada’ e “material diverso” e na mesma ano entram em negociações com a firma Guérin, Lda, de Lisboa, para a compra de uma camioneta de marca “Fargo’ com o fim de aproveitar o chassis, adaptando-o a pronto-socorro. Por deliberação camarária de 25 de Fevereiro de 1935, foram concedidos plenos poderes ao vice-presidente da Câmara, António da Conceição Bento, que também desempenhava as funções de tesoureiro daquela corporação, para representar a Câmara junto da referida firma e da Alfândega de Lisboa para a aquisição do veiculo. Ficou a despesa por 20.500$00, sendo pagos pela autarquia 15.500$00 e ficando o restante a cargo da corporação.

  No mesmo ano, também a Câmara Municipal se responsabilizou pelo pagamento de uma moto-bomba, tipo “Liliput Magyrus fornecida pela firma H. Vaultier, tom actividade em Lisboa, pela importância 22.500$00, sendo este maquinismo para lançar a água na extinção de incêndios, pela importância de 15.000$00 e o restante em utensílios para adaptar na referida máquina. Foi na época uma aquisição de grande utilidade. Ainda hoje são bombas aspirantes-prementes, accionadas sempre mecanicamente que elevam a água de poços ou de tanques portáteis, alimentados pelas bocas de incêndios dos prédios ou dos passeios das ruas, em ligação com a rede de distribuição de água. Têm estas bombas anexos compressores de ar, que o motor dos carros acciona os quais comprimem a água até à pressão suficiente para que, pelas mangueiras ligadas à bomba, possa a água jorrar à altura precisa. Houve na época a grande necessidade de adquirir todo este conjunto de material de modo a que a corporação tivesse mais salvaguardada em futuros acidentes, pois não estava esquecido o grande incêndio ocorrido a 6 de Setembro de 1932, no edifício onde funcionava a drogaria de Luís do Patrocínio David Chave substituído por um imóvel de três pisos onde ainda nos fins da década de 80 do século passado funcionou a Estação dos Correios Telégrafos e Telefones no Largo Dr. Figueiredo Fana em Peniche. Do edifício ficaram apenas as paredes. O incêndio, que pareceu ter tido origem num curto-circuito, ameaçou propagar-se aos prédios contíguos e até as chamas estavam prestes a ultrapassar o largo para as outras construções. Em face de todo este perigo, foram solicitados os socorros dos bombeiros das Caldas da Rainha e Lourinhã, que pouco puderam fazer com as suas tão desejáveis presenças. De salientar que a grande falta de água foi o pior inimigo do sinistro. No começo dos trabalhos de extinção, tornou-se necessário cortar a corrente eléctrica, que toda ela era derivações aéreas. O povo alarmado, precipitadamente supôs que toda a vila iria ser pasto das chamas. Os habitantes abandonaram as suas residências, de súbito em trajos menores, correndo a buscar paradeiro sem perigo, na praia e nas rochas. Este ?acidente motivou prejuízos avaliados em 100 contos na drogaria e no prédio destruído, e em algumas dezenas de milhares de escudos nos edifícios contíguos.
 À frente deste lutador incêndio contra o homem, estava a comandar os trabalhos o primeiro comandante-interino, desde a fundação da corporação, António Adelino Gomes da Silva, natural da cidade do Porto e residente em Peniche desde 1923, exercendo a profissão de mecânico numa das empresas de motores ligadas à pesca. Não se sabe as razões que o levou pouco mais de dois meses e meio após aquele pavoroso incêndio, a 27 de Novembro de 1932, passar a exercer naquela instituição o desempenho de segundo comandante, dando o lugar de primeiro comandante a favor do tenente Rosa Mendes, com autorização superior do comandante-geral da Guarda Fiscal.
(continua no próximo número)

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