quinta-feira, fevereiro 07, 2008

OS TRANSPORTES URBANOS EM PENICHE

por:Fernando Engenheiro
Na década de 1960 era considerada como principal praia de banhos de Peniche a da costa sul que, como actualmente, em consequência das obras do porto de pesca, se encontrava bastante afastada da Vila. A uma distância, por estrada, de 3,5 quilômetros do centro do aglomerado urbano.
O Pinhal da Lagoa, cerca de 500 metros antes da praia, mercê das ideais condições naturais que oferecia e de alguns ligeiros melhoramentos introduzidos pelo Município vinha a servir a prática de campismo. Dele se utilizavam, em grande número, nacionais e estrangeiros que, para se abastecerem de géneros alimentícios e de quanto mais necessitavam, tinham que se deslocar até Peniche.
Um quilometro aquém localiza-se uma outra praia que, na época já bastante procurada, tinha uma utilização mais diminuta. Trata-se da praia da Camboa, popularmente conhecida por praia de Peniche de Cima.

Na acta da reunião camarária de 25/4/1960 foi escrito o seguinte: “A considerável distância que, por virtude do traçado das vias que lhes dão acesso, há que percorrer entre a Vila e qualquer dos locais referidos, cujo interesse é bem evidente, justifica, por si só, a necessidade e grande vantagem que para o desenvolvimento local e conforto do público em particular dos banhistas, traria a existência de um serviço de transporte colectivo que permitisse melhores facilidades de deslocação até à beira-mar”
No Verão de 1961 já Peniche dispunha de um meio de transporte para satisfazer os residentes e visitantes, com ligação à sua principal praia de banhos, situada junto ao molhe leste do Porto de Pesca.
A viagem iniciava-se no Largo da Ribeira, passando pela Avenida Engenheiro José Frederico Ulrich (actual Avenida do Mar), Largo do Município, Rua 13 de Infantaria, Praça Jacob Rodrigues Pereira, Rua Alexandre Herculano, Avenida Dr. António Oliveira Salazar (actual Avenida 25 de Abril), Portão de Peniche de Cima, Pinhal da Lagoa (actual Parque de Campismo) indo até à praia de banhos, mantendo na volta em sentido inverso o mesmo trajecto.
Tinha as seguintes tarifas: pela totalidade do percurso num só sentido: 1$50. Por parte do percurso, abrangendo mais de uma zona: 1$50. Por parte do percurso, abrangendo uma só zona: 1$00. Tratava-se de um conjunto automóvel, composto por um tractor e um atrelado, que comportava 30 passageiros em magnificas condições de conforto.
Pouco tempo depois, atendendo ao seu grande movimento, passou a dispor de duas carruagens, isto é, de mais um atrelado, pelo que ficou com a lotação de 60 passageiros.
Por deliberação camarária de 21/11/1960, foi adjudicada a concessão da exploração do Serviço Público de Transportes Colectivos pelo prazo de 12 anos a Manuel Patrício da Cruz Júnior industrial de transportes em automóvel. Foi lavrada a escritura de concessão, a 26/10/1961, pelo Notário Privativo da Câmara Municipal, na presença do então Presidente Antônio da Conceição Bento. Ficou acordada, de acordo com a proposta do concessionário, a entrega à Câmara Municipal da importância correspondente a onze por cento da receita bruta que o serviço arrecadasse.
A inauguração, no dia 8/7/1961, resumiu-se a um passeio, com a presença do Presidente da Câmara, António da Conceição Bento, e outras individualidades de destaque da vida social penichense, entre os limites do trajecto que, ordinariamente, passou a ser feito a partir do dia seguinte, dia 9.
Foi um Verão em que os “Transportes Colectivos Urbanos de Peniche” não tiveram mãos a medir.
Não tardou muito que o povo de Peniche “baptizasse” o seu novo meio de transporte: “CHORA” foi o nome que lhe foi dado, possivelmente por analogia com o nome dado em Lisboa, nos fins do século XIX e princípios do XX, a uma viatura, esta de tracção animal, usada nos transportes colectivos da capital.
Terminado o contrato da concessão entre a Câmara Municipal e o primeiro concessionário do serviço, deixámos de nos regalar com a utilização daquele tão característico meio de transporte, “O Chora”, que tantas alegrias nos deu mesmo nas suas curtas viagens.
Novo contrato de adjudicação da concessão do serviço público de transportes colectivos é celebrado com Guilherme Isidro Neves Clara, na qualidade de Administrador da Sociedade Claras, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, sócia gerente da Sociedade Henriques, Limitada, e em nome da qual outorgou.
A escritura foi lavrada pelo Notário Privativo da Câmara Municipal, em 6/4/1974, entre o representante da firma a quem foi concedida a adjudicação (Sociedade Henriques, Limitada) e o Presidente do Município Francisco de Jesus Salvador, pelo prazo de 10 anos a contar de 1/5/1974. Outras concessões houve a partir de 1974 e até 1999.
O ano 2000 trouxe outras novidades mais alegres com novo transporte à disposição da população e dos turistas durante as épocas balneares, a funcionar todos os dias com quatro circuitos turísticos alternativos, que vão desde um percurso pela península a deslocações às praias mais procuradas ou ainda um circuito alargado à cidade, praias e costa de Peniche.
Trata-se de um transporte do modelo de um comboio, com a chamada locomotiva puxando três atrelados, adquirido pela Câmara Municipal à firma “LOCAPOR” - Companhia Portuguesa de Locação Financeira Mobiliária - da marca Deltrain, mod. Delgado, pelo preço de 12.375.890$00, com lotação de 24 lugares sentados por carruagem.

O novo “comboio” permite aos seus utilizadores, turistas ou amantes deste tipo de transporte, viajarem com os olhos postos na beleza da paisagem, que o mesmo é dizer passear pelo concelho de Peniche e ter oportunidade de observar as inúmeras riquezas da nossa costa.

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