terça-feira, março 11, 2014

Soldados da Paz com Sede Em Peniche VI ( Década de 1980 a 1989)

Autor: Fernando Engenheiro

Ainda nos fins da década de 70, os BVP realizaram um sorteio para a compra de uma ambulância que constituía, no momento, a mais premente necessidade, pois na época as constantes solicitações dos serviços exigiam um maior número destas viaturas. Tratava-se de uma necessidade que se impunha, dado o aumento, sempre crescente, da população e das exigências normais do concelho de Peniche. Dispunha então a corporação, em Maio de 1980, de três ambulâncias, das quais apenas duas se encontravam em condições do serem utilizadas, destinando-se a outra, em consequência do seu estado de degradação, a ser adaptada a outros serviços. Eram muitas as ocasiões em que no quartel não havia uma única ambulância, acontecendo, por vezes, ao ser solicitada outra espécie de socorros, haver a necessidade de recorrer a improvisação de outra viatura em ambulância.
Causou em parte grande admiração da Corporação do Bombeiros Voluntários, pouco tempo depois das comemorações das bodas de ouro daquela colectividade, o l° comandante a frente dos destinos daquela instituição humanitária desde Novembro de 1958, ter pedido a exoneração das atribuições do seu cargo, pondo-o à disposição de alguém que a direcção escolhesse para preencher a sua vaga, cujo conhecimento oficial teve lugar em reunião daquela colectividade no dia 28 de Março de 1980, embora o seu pedido de demissão bem como a acta em que a direcção delibera não aceitar o pedido, nada alterou a sua vontade de se afastar, por razoes varias. A Câmara Municipal ao ter conhecimento daquela grande perda não só para os bombeiros mas para Peniche em geral, de harmonia com o deliberado em sua reunião realizada no dia 23 de Abril de 1980, torna pública a deliberação municipal que conferiu a Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, um voto de louvor pela notável e dedicada actividade exercida no comando do corpo de BVP, em que, pelo seu inexcedível devotamento e incansável luta pelo engrandecimento da corporação, se tornou digno da admiração e agradecimento da comunidade que, desinteressadamente, serviu em tão espinhosa missão durante mais de 21 anos. Assim, assumiu o cargo do comando inteiramente, a 19 de Dezembro de 1980, o 2°. comandante Joaquim Barradas Leitão, que entregou o comando pouco tempo depois ao então presidente da direcção, Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, que tomou a posição de 1°Comandante.
A 18 de Dezembro de 1981, a Câmara Municipal de Peniche adquire a António Pafùncio da Silva Santos, residente no lugar da Coimbra, uma casa de rés-do-chão que lhe ficava contigua ao edifício da sede dos BVP, para ampliar o actual quartel, que lhe serviria de garagem para recolha de algumas das suas viaturas, Dois anos mais tarde, em 1983, foi aumentado o património da associação com mais uma ambulância Renault, viatura equipada com suspensão especial para transportes de dois sinistrados ou doentes e dois acompanhantes, bem como uma auto-escada Magirus, importada da Inglaterra. Procedeu-se a bênção das duas novas viaturas, as quais foram dadas os nomes de chefe Elísio Vieira Carriço e comandante Jacinto Teodósio Pedrosa, respectivamente. Não obstante toda a boa vontade e esforço despendido, estas aquisições só foram possíveis com forte apoio financeiro da autarquia, que se dignou a dar um subsidio de 3.893.000 escudos, que permitiu a associação adquirir a auto-escada. Trata-se de uma viatura equipada com uma escada extensível, totalmente hidráulica, com o comprimento de 30,5 metros, com movimento rotativo, elevatório, ascendente e descendente, equipada no seu topo com. um. canhão de agua para combater incêndios. A viatura tem cabine com capacidade para seis pessoas, dispondo de comunicação por interfone entre o operador do comando e o topo da escada.
Também no mesmo ano foi oferecida por Ernesto Luís Costa, vulgo ‘Ernesto Estrela' natural de Peniche e emigrante em Franca e que, tendo sido amigo bombeiro, assim provou de modo tão significativo e exemplar o amor e tão alto apreço em que tem a corporação que serviu e o nobre e humanitário papel que desempenha no seio da sociedade. Tratou-se da oferta de uma viatura Citroen AM4 (estilo boca de sapo), embora não sendo complemente nova, encontrava-se em excelente estado de conservação.
No seguimento das comemorações dos 55 anos de Vida daquela instituição humanitária, em 16 do Junho do 1984, destaco as novas promoções dos elementos que constituíam aquele corpo de voluntários: a subchefe, Joaquim Miguel Eustáquio Sousinha; a 1“. classe, José Ribeiro Jorge; a 2° classe, Carlos Manuel Vagos Ferreira e José António Bruno da Silva; a 3° classe, Paulo Nuno Ablum Santana, Alberto José Duarte Cordeiro, Adriano José da Silva Duarte, António Manuel da Silva Sousinha Brás, Américo António Ablum Esgaio, João de Almeida Monteiro, Artur Joaquim Ferreira Simões, Carlos Alberto Pinto Vale Nove, Joaquim Livio Franco Nobre, José Carlos Ferreira Silva e Alfredo Liberato Santos Henriques. No Quadro Auxiliar foram promovidos a 3° classe: António Garcia Couto, José Augusto Ribeiro Leiria, Humberto Manuel da Silva Santos, Vítor Manuel da Silva Rosendo e António Romão da Justina Canhoto. Com aproveitamento e a aguardar a idade para a 3“. classe: Paulo Jorge do Carmo Vitorino, Artur Jorge da Fonseca Ferreira e Vítor Manuel Martins dos Santos. Na passagem de Classe de cadete a aspirante foi promovido Américo António Ablum Esgaio. Quanto a passagem ao Quadro Honorário, ao posto imediato de subchefe, foi promovido Patrício dos Ramos, e a bombeiro de 1° classe, António Filipe Neves.
No ano seguinte, por deliberação camarária de 23 de Abril de 1985, foi concedida uma comparticipação para a obtenção de um auto pronto-socorro. Também no cumprimento do programa festivo das comemorações do 58° aniversario da associação humanitária, foram benzidas três novas viaturas: um auto-tanque pesado, uma ambulância de transportes e uma de pronto-socorro.
Todos estes meios de socorrismo vieram contribuir para melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços que aos bombeiros competem, exigindo também deles um maior grau de formação técnica. Como parte do programa deste mesmo dia, procedeu-se a inauguração de um monumento ao bombeiro, constituído por uma bela pega em bronze que foi colocada na fachada do quartel, da autoria de Carlos José Rosendo Chuvas, natural e residente em Peniche (actualmente encontra-se em lugar de destaque no hall na nova sede dos BVP).

Em 1986, mais um ano decorrido que não deixou de ser assinalado com um novo pronto-socorro com vários rolos de mangueiras para combate a incêndios de matérias combustíveis. Nesta data, foi também distinguida com a medalha de ouro de serviços distintos, da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, membro superior desta instituição que foi condecorado a 16 de Junho de 1986.
A Câmara Municipal, em sua reunião de 8 de Março de 1988, toma conhecimento de uma carta datada de 29 de Janeiro, da Pro-Comissão Instaladora da Terceira Secção dos Bombeiros Voluntários de Peniche em Serra de El-Rei, informando da realização, dentro de um curto espaço de tempo, da escritura definitiva da aquisição de um edifício destinado as referidas instalações e solicitando que sejam tomadas as medidas atempadas necessárias, nomeadamente as de natureza orçamental. Não tardou que a autarquia, meses depois desse conhecimento a Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, que já se encontra registado a favor da mesma Câmara na Conservatória do Registo Predial o prédio que» vai ser alienado aquela Associação Humanitária de harmonia com a deliberação tomada em 28 de Agosto de 1986. A Câmara deliberou, por unanimidade, confirmar a referida deliberação e celebrar a necessária escritura.
Um dos momentos altos das comemorações que decorreram na manha do dia 21 de Junho de 1987, foi a sessão solene que teve lugar no próprio quartel. Durante a sessão procedeu-se a atribuição de condecorações por assiduidade, tendo sido distinguidos: com medalha de ouro - 2° comandante Joaquim Barradas Leitão, bombeiro de 1° classe António Berto Martins Alfaiate e o motorista auxiliar Hernâni dos Santos do Carmo; com medalha de Prata: bombeiro de 1° classe, Vítor Pedro de Almeida Gonçalves Pereira, os bombeiros de 2°classe José Manuel dos Reis Salgado Pereira e José António Bruno da Silva o bombeiro de 3° classe, Joaquim Nicolau Cordeiro dos Santos. Com medalha de cobre, os bombeiros de 3° classe, Paulo Nuno Ablum Santana, Alberto José Duarte Cordeiro e Américo António Ablum Esgaio, os motoristas auxiliares Henrique Carvalho Fonseca Santos, Virgolino Delfim Pereira e Jorge Manuel do Nascimento Sarreira Pereira. A mesma ‘Ordem de Serviço’ incluía também um louvor ao chefe Joaquim Rogério "pela disponibilidade e dedicações evidenciadas nos 43 anos de serviço” prestados naquela corporação, o qual, deste modo, passou ao Quadro Honorário no posto de ajudante de comando.
A 16 de Junho de 1988 assinalaram-se os 59 anos do nascimento da associação, mas a data foi celebrada pelos BVP no domingo seguinte, no dia 19. Tal como em anos anteriores, esta foi uma ocasião festiva de entusiasmo para os então membros do corpo activo, direcção e fanfarra, bem corno para os respectivos familiares, para reflectir a acção meritória da corporação a população da cidade, concelho e não só, pois devemos ter também em conta o apoio prestado pela corporação as suas congéneres das zonas afectadas pelos fogos de Verão. Por estas e outras razoes se associou, com afecto e admiração, a população as cerimónias. Na sessão solene, realizada no quartel, foram distribuídas as seguintes medalhas a membros do corpo activo: medalha do ouro (30 anos de serviço) ao bombeiro de 1° classe, Fernando Luís Malheiros Lopes; medalha de prata (10 anos de serviço). aos bombeiros de 2° classe, Aníbal da Silva Ramos e Francisco Geraldes Alfaiate; 3° classe: António José Adão Cordeiro e Remigio Manuel Codinha Santos, auxiliares Pedro Manuel da Trindade Pinto Gomes e Francisco Manuel da Costa Zaragoza, e motorista auxiliar Artur Alberto Teixeira Gouveia. A medalha de cobre (5 anos de serviço) aos bombeiros de 3° classe Adriano José da Silva Trindade, António, Manuel da Si1va Sousinha Brás, Joaquim Livio Franco Nobre e Heitor Augusto da Silva Trindade.
Em meados de 1989 começaram os corpos gerentes desta instituição anotar que; mesmo com ampliações que se fizeram em terrenos confinantes com o quartel, adquiridos por compra pelo município, as instalações mostravam-se insuficientes para o grande movimento que os BVP registavam. Assim, a 24 de Agosto dey1989), a associação dirigiu uma carta a Câmara Municipal, apresentando alternativas previstas para a implantação de um novo quartel. Após reunião camarária realizada a 19 de Setembro de 1989, em satisfação a uma informação prestada pela Divisão de Habitação e Urbanismo, datada de 11 daquele mesmo mês, a Câmara Municipal deliberou concordar com a localização apontada pelos serviços para a implantação do novo quartel e equipamento de apoio, na zona da Prageira, a sul das instalações municipais.
Antes de encerrar a década de 80, com todo o seu trajecto das mais diversas ocorrências passadas durante aquele espaço de tempo, há que lamentar e incluir na mesma trajectória a perda de alguns elementos que serviram por longos anos as mais diversas atribuições neste organismo ‘do bem-fazer' que já não fazem parte do mundo em que vivemos: Quintino Augusto de Lemos (bombeiro fundador) nascido a 1 de Abril de 1907 e falecido a 5 de Junho de 1980; José Inácio Bandeira (bombeiro fundador) falecido a 8 de Novembro de 1980; José Augusto Leiria, vitima de acidente quando no pronto-socorro da corporação se dirigia ao local de mais um sinistro, veio a falecer no Hospital Ade São José, a 12 de Julho de 1984, com 40 anos. O desditoso bombeiro foi projectado do veiculo onde seguia quando este, junto da Escola Primária n°1 desta então vila, curvou da Avenida das Escolas para a Rua Doutor João de Matos Bilhau. Na sua queda José Leiria bateu com a cabeça no lancil. A vitima entrou para o Quadro deAuxi1iar do Corpo dos BVP em 1980, tinha feito em Maio o ultimo exame para bombeiro de 3° classe,- com bom aproveitamento, e havia pedido a sua passagem para o Quadro Activo, na altura do acidente, jaz sepultado no talhão dos BVP no Cemitério Municipal de Santana; Sebastião Maria das Neves, bombeiro de 1° classe, faleceu a 28 do Setembro de 1986, jaz ‘sepultado no Talhão dos BVP no mesmo cemitério, Hernâni dos Santos Carmo, motorista auxiliar, faleceu a 6 de Junho de 1987, jaz sepultado no mesmo Talhão; Carlos Alberto dos Santos, director, faleceu a 29 de Setembro de 1987, jaz sepultado no Talhão dos BVP. Para o mesmo talhão foi também a sepultar Manuel António Malheiros, depois de prolongada doença) falecido a 20 de Março de 1988. Foi fundador e bombeiro daquela corporação humanitária, pertencendo desde então ao corpo dos bombeiros, que sempre serviram com maior dedicação. Exerceu o cargo de comandante durante cerca de nove anos, até 1958, altura em que passou ao Quadro Honorário como 1°comandante. Aires Henriques Bolas falecido a 4 de Maio do 1988, a escassos dias do perfazer 90 anos de idade, também esta sepultado no mesmo talhão. O extinto, que se encontrava desde 1961, depois de 40 anos ao serviço do município, deixa o seu nome ligado e a diversas instituições locais a que devotamente se dedicou durante largas dezenas de anos, nomeadamente, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, de que foi fundador, e, posteriormente, director durante muitas gerências, até a Santa Casa da Misericórdia, à Associação recreativa Penichense e ao Grémio do Comércio do Concelho de Peniche. Manteve durante toda a sua vida o maior interesse por tudo quanto a Peniche e ao seu progresso dissesse respeito Foi a sepultar no Cemitério Municipal de Santana, no talhão privativo dos BVP, a seu pedido, sendo o seu desejo ficar junto dos soldados da paz que ali encontraram o descanso eterno na sua última morada.
Deixamos para trás a década de 80 e fizemos o possível e até o impossível de entrarmos na década quase segue com o pé direito, espaço de tempo que nos trouxe grandes recordações, bastantes alegrias, depois de grandes lutas e trabalho sem cessar, obtivemos a recompensa de se tornar realidade a construção da nova sede, o edifício agora na zona da Prageira, que ao longo deste período de tempo, com recuos e avanços, com a colaboração de todos, e em especial com a própria autarquia, foi possível levar avante a concretização daquela grandiosa obra, implantada em terreno cedido pelo município, pela importância simbólica de mil escudos. 

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