Texto: Fernando Engenheiro
No mesmo dia da inauguração da Casa
Escola foi promovida pela direcção daquela associação uma
homenagem ao senhor Aires Henriques Bolas, ex-presidente da direcção
e um dos lídimos pilares
robustecedores da vitalidade da prestigiosa e humanitária
colectividade. O acto teve lugar no salão de recreio da referida
associação, ao qual assistiram as individualidades de maior
destaque da então vila de Peniche, nomeadamente o presidente da
câmara, Vítor João Albino de Almeida Baltazar; o presidente da
assembleia-geral, António da Conceição Bento; o presidente da
direcção, Renato Pereira Fortes; o comandante da corporação, Luís
Filipe Jordão Vidal de Carvalho; o vice-presidente da autarquia,
José Acúrcio Vidal de Carvalho; e, além de outras
individualidades, os representantes da imprensa. Usou da palavra
Renato Fortes, que explanou a significação do acto e agradeceu a
presença de todas as entidades, inclusive a dos representantes da
imprensa, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho fez a apologia da
acção relevante de Aires Bolas, patenteada pelas seus 32 anos de
ininterrupta e diligente actividade na respectiva associação e,
finalmente, usou da palavra o homenageado que, comovidamente,
agradeceu a sensibilizante festa que lhe tributaram. Seguidamente
Aires Bolas recebeu das mãos do presidente da câmara uma salva de
prata e das mãos do comandante da corporação um pergaminho
contendo os nomes de todos os bombeiros que faziam parte do corpo da
filantrópica associação. Seguiu-se um Porto de Honra.
Ainda na década de 60, o Instituto de
Socorros a Náufragos fez uma consulta à Corporação dos Bombeiros
para saber se estava interessada e capacitada para colaborar na área
do salvamento marítimo. Como já era do conhecimento geral, sempre
que havia problemas de náufragos, os Bombeiros Voluntários estavam
de mãos dadas com a aquela entidade. Não faltaram boas informações.
Desde Março de 1933 o Capitão do Porto de Pen pôs à disposição
dos Bombeiros o carro porta cabos daquela organização marítima,
equipamento desaparecido há já longos e de que foi dada baixa ao
efectivo. Por tudo isto, a 17 de Maio de 1966, na Praça Jacob
Rodrigues Pereira, foi entregue à corporação, pelo então
comandante do Porto de Peniche, acumulando as funções de
administrador do Instituto de Socorros a Náufragos com sede em
Peniche, capitão tenente Munoz, na qualidade das suas funções
naquele instituto, depois de benzida pelo Pe. António da Silva
Almeida, natural de Salreu, capelão da Colónia Infantil de Nossa
Senhora dos Remédios em Peniche, a viatura Land Rover ‘Porta Cabos
material da maior utilidade para o salvamento de sinistrados no mar,
permitindo o aumento das possibilidades de socorrer a quantos a
tragédia batesse à porta.
Na mesma década, mais propriamente a
19 de Junho de 1962, por deliberação camarária naquela data, foi
atribuído aos ‘soldados da paz’ que formam a Corporação dos
Bombeiros Voluntários de Peniche, pelas acções desenvolvidas a bem
de Peniche e concelho, a medalha de ouro de recompensa da vila de
Peniche, Também pela governador civil do distrito de Leiria foi dada
conheciment à Associação dos Bombeiros Voluntários desta vila, de
um louvor do ministro do Interior, às entidades que mais
contribuíram para a prontidão e eficácia dos socorros prestados às
vitimas do lamentável acidente ocorrido no dia 15 de Fevereiro de
1963, com o elevador que liga a vila da Nazaré ao Sítio.
Nas referidas entidades, distinguiu o representante do Governo no
nosso distrito, a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche
pela sua activa participação nos referidos socorros.
Em 1964, nas comemorações do 350
aniversário da fundação daquele organismo de solidariedade humana,
foi celebrada missa campal no Largo Bispo de Mariana por alma dos
bombeiros falecidos e seus familiares, bem como uma romagem ao
cemitério com colocação de flores aos membros falecidos que
constituíra a instituição. Seguiu-se um simulacro de incêndios,
com demonstrações de materiais de combate a incêndios.
Em 1967 foi oferecido um auto com
capacidade para 6.000 litros de água e que se deve, sobretudo, a um
gesto altruísta da firma Manuel Mamede, L.da, e ao espírito de
colaboração da Câmara Municipal no que diz respeito às
necessárias obras de modificação daquela viatura, e ao Conselho
Nacional dos Serviços de Incêndios que contribuiu com o subsídio
de 20.000$00.
Impunha agora a construção de um
novo quartel, pais já não era possível, com um corpo de bombeiros
em plena forma e um grupo de 6 viaturas, sendo 4 para combate de
incêndios, 1 para socorros a náufragos, com respectivo atrelado,
uma outra para serviços de ambulância, 2 moto bombas para serviços
de incêndios e outras tantas para serviço de esgotamento, manter-se
a corporação num pobre e modestíssimo quartel, em edifício de
renda, incapaz para acomodar todo o pessoal e material. Assim, em
1969, para obtenção do necessário terreno junto da Casa-Escola da
Travessa do Matinho, foi adquirido um armazém a Emídio Barradas,
por 350.000$00: (escritura de 16 de Dezembro de 1969, lavrada 110
Livro de Notas n°. 20 do Notário Privativo da Câmara Municipal de
Peniche). Meses antes, em Junho do mesmo ano, num terreno municipal
contíguo, havia já sido lançada a primeira pedra do novo quartel,
na presença do inspector de incêndios da Zona Sul, coronel Rogério
de Campos Cansado, acompanhado pelo então presidente à frente dos
destinos do Município, Vítor João Albino da Almeida Baltazar.
Aproveitando a cerimónia, foram benzidas pelo pároco das freguesias
de Peniche, Pe. Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, as viaturas que
tinham sido recentemente adquiridas: uma Citroen ID, a que foi dado o
nome de ‘Vila de Peniche’,tendo sido madrinha que nos honrou com
a sua presença, a esposa do presidente da Câmara Municipal, Helena
Baltazar, e um carro de nevoeiro GMC, todo-o-terreno, baptizado com o
nome do comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de
Carvalho, tendo sido madrinha a sua esposa, que também nos honrou
com a sua presença, Ruth Freire Vidal de Carvalho. No mesmo dia em
acto solene, já em recinto fechado, foram distinguidos, durante as
cerimónias, com a medalha de cobre que corresponde a mais de 5 e
menos de 15 anos de actividade, o bombeiro de 2° classe n° 8 - Luís
Moreira das Neves, bem como o bombeiro de 3° classe n°11 Jacinto
dos Prazeres Santos. Com a medalha de prata, que corresponde a mais
de 15 e menos de 25 anos de actividade subchefe Albertino Jesus da
Silva, bombeiro de la Classe n°1 - Joaquim Miguel Eustáquio
Souzinha; bombeiro de l° Classe n° 2 — Patrício dos Ramos;
bombeiro de 2° Classe n°5 — Sebastião Maria das Neves, bombeiro
de 2° Classe n° 6 - José Alexandre e bombeiro de 2 Classe n° 7 -
Fernando Luís Malheiros Lopes. Com a medalha de ouro, que
corresponde a 25 ou mais anos de actividade, foi distinguido o chefe
do material — António da Graça e o Bombeiro de 2° Classe n° 4—
Joaquim Rogério Adão.
Na mesma década, mais propriamente em
1969, dado o êxito, a duração da improvisada fanfarra, resolveu a
direcção dos Bombeiros constituir cm definitivo uma fanfarra com o
número mínimo de 14 elementos e para isso adquiriu os respectivos
instrumentos: um bombo, duas caixas, dois tambores, oito clarins e
dois baixos, lembrando que o seu começo foi constituído por José
Matias, Joaquim Alves Bartolomeu e Renato Neves, figuras que
destacamos em primeiro plano. A 3 de Julho de 1969 está em bom
andamento a concretização do novo quartel na Travessa do Matinho,
sendo apresentado por aquela associação humanitária um
ante-protejo da obra, da autoria do ex-Pe. Alcides dos Santos
Martins, filho que foi desta terra, e que se dignou ofertar todo o
trabalho de gabinete técnico. Em Maio de 1969, durante a presidência
de Américo de Deus Rodrigues Tomás, numa das deslocações a
Peniche em visita oficial, a direcção e comando dos BVP recebendo o
Chefe de Estado nos Paços do Concelho, quiseram dar conhecimento ao
supremo da nação que, doravante, passaria a ser sócio daquela
instituição humanitária, conforme relata um pergaminho que lhe foi
entregue na altura e que recebeu com muita honra e agrado aquela
distinção de uma instituição que faz parte do nosso país e que
tanto tem contribuído para o bem-estar dos seus habitantes.
Decorria o ano de 1970, por altura do
41° aniversário encontrava-se de luto esta instituição, por ter
falecido recentemente de morte si o seu ajudante do comando e um
bombeiro em defesa da Pátria no Ultramar, foram por estes motivos
encerradas quaisquer manifestações usuais no decorrer daquele ano.
Tratou-se de João Francisco da Graça, nascido a 5 de Janeiro de
1913 e falecido aos 57 anos a 4 de Março de 1970. Deu entrada no
Corpo de Bombeiros de Peniche a 19 de Junho de 1932, como aspirante;
foi promovido em 1933 a bombeiro de 3a e em 1935 a 2° Classe. Em
Dezembro de 1944 voltou a ser promovido, desta vez a bombeiro de 1°
Classe. Dada a sua enorme dedicação e abnegação, em 9 de Junho de
1959 é elevado a subchefe da corporação. A sua ascensão não
termina aqui, pois a 30 de Junho de 1960 é nomeado chefe de material
e, por último, em 1968, por proposta do Comando e homologado pelo
inspector dos Serviços de Incêndios, ascendeu a ajudante do
Comando, O extinto era possuidor das medalhas de cobre (por
relevantes serviços prestados à Associação dos Bombeiros); prata
(por bom comportamento); e ouro (por 25 anos de serviço). Joaquim
Francisco Rodrigues da Silva, natural de Peniche, onde nasceu a 20 de
Agosto de 1947, faleceu em combate na Província de Moçambique a 30
de Outubro de 1970, alistou-se nesta corporação em Junho de 1966,
tendo alcançado a promoção a bombeiro de 3° classe com a
classificação de 18 valores, em Fevereiro de 1967. Antes de se
fazer a deposição dos restos mortais do heróico soldado no fundo
da campa, o presidente da Câmara, Francisco de Jesus Salvador, a
pedido dos elementos directivos dos BVP fez oferta à mãe daquele
defunto, duma medalha de prata, símbolo de gratidão e de homenagem
da parte de quantos servem a mesma corporação. Lembro aqui também
incluído no mesmo luto que afectou a corporação, António Delgado
Miranda, vulgo António Correeiro, falecido com 62 anos de idade a 20
de Março de 1970, que foi membro por longos anos ao serviço da
Corporação dos Bombeiros. Aquela instituição prestou-lhe a devida
homenagem de manifestação e pesar acompanhando-o à sua última
morada.
Com referência ao novo quartel para
os Bombeiros Voluntários de Peniche, em 27 de Setembro de 1970, a
edilidade aprova, por unanimidade, a alienação gratuita de terreno
de 948 metros quadrados à Associação dos Bombeiros, para ali ser
implantado o seu quartel/sede. Em aditamento àquela cedência, a
Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério
do Interior, impõe algumas clausulas, de salientar a alínea b): “Se
não for cumprido o prazo estipulado ou se o terreno cedido for dado
destino diferente daquele que justifique a cedência gratuita,
reverterá o mesmo para o Município, incluindo as benfeitorias nele
efectuadas, sem direito a qualquer indemnização Também o Governo
Civil do Distrito de Leiria se pronunciou sobre o assunto,
concordando com as deliberações camarárias de 2 de Setembro de
1970, bem como as cláusulas propostas pela Direcção Geral de
A.P.C. do Ministério do Interior. Todo este processo culminou com o
despacho ministerial de aprovação em 12 de Julho de 1971.
Foi grande a luta para se conseguir
alcançar o objectivo desejado. Toda a corporação se empenhou na
construção do novo quartel, tendo a trabalhar ao lado do seu
comandante Luís Filipe, o então presidente da direcção Jacinto
Teodósio Ribeiro Pedrosa, também grande impulsionador desta
importante obra para a época. Em fins de Outubro de 1972, está
concluída a primeira fase das obras do novo quartel dos bombeiros,
começando nesta data a ser utilizado o respectivo parque de
viaturas. Surgem as primeiras bandeiras que representam aquela
instituição a flutuar ao vento na fachada inacabada. Resolveu a
direcção, com o acordo unânime do corpo activo, data este parque
de viaturas o nome do seu comandante, mostrando assim o quanto
reconhecem o seu esforço a uma causa de tanto interesse para o bem
comum da nossa terra, ao mesmo tempo perpetuando o seu nome naquele
espaço.
Procedeu-se à transferência das
viaturas para a nova unidade e foi com uma ponta de saudade e comoção
que se assistiu à passagem na zona principal de Peniche no seu
trajecto da primeira viatura (carro braçal), que se destinava a
pronto socorro dos Bombeiros Voluntários de Peniche, A viatura em
causa foi conduzida pelos bombeiros daqueles primeiros tempos: Manuel
António Malheiros, António Belarmino Rodrigues, vulgo António
Serafim José do Rio e Luís da Costa, vulgo “Luís Caseiro”.
Um bom trabalho de pesquisa histórica. Obrigado
ResponderEliminar