Por: Fernando Engenheiro
Pela primeira vez o
benemérito e brioso corpo activo da Associação dos Bombeiros
Voluntários de Peniche quis agradecer ao segundo- comandante dos
Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e comandante da Corporação
de Peniche, Paulino Pereira, atribuindo a medalha de ouro como
reconhecimento de todo o esforço desempenhado na conduta de
instrutor desta corporação, sem qualquer remuneração nas suas
presenças e deslocações a esta então vila, durante dois anos,
deixando todos os soldados da paz aptos no desempenho das suas
atribuições. Assim, foi deliberado em acta da sessão ordinária de
5 de Novembro de 1933 o seguinte: propunha que, a exemplo do que
fizeram outras associações que dele receberam igual favor da sua
valiosa instrução, se mandasse cunhar uma medalha de ouro com o
escudo desta associação, tende no reverso a legenda “Honra do
valor” da qual se lhe faria entrega naquele dia, acompanhada do
respectivo diploma. A direcção aprovou por unanimidade o alvitre,
que partiu também do nosso segundo comandante, vogal António
Adelino Gomes da Silva, que se encarregou de mandar cunhar a referida
medalha e desenhar o aludido diploma.
A luta por fazerem mais e
melhor era constante e a acção dos bombeiros não se ficava só
pelos incêndios, As grandes tarefas de socorro que se apresentavam
no dia-a-dia, cada uma com o seu
problema especifico, fez
sentir àqueles soldados da paz a necessidade de melhor se
apetrecharem, confrontados muitas vezes com situações de perigo no
combate a incêndios, ficando eles próprios sujeitos a traumatismos,
queimaduras, asfixia e, em alguns casos, afogamentos. Assim, cedo se
aperceberam das suas carências no campo da saúde. Mas não são só
os incêndios que clamavam a sua presença. O naufrágio conta com
eles para salvar a vida; o ferido confia na sua assistência; o
doente vê nele alivio para os seus males; o invalido considera-o o
seu complemento.
Têm sido muitos os
naufrágios ao longe dos tempos ocorridos na nossa costa, auxiliados
por este grupo de voluntariado. Lembro aqui o navio inglês “Ingland
Hope’ da empresa Nelson Laine, ocorrido no Farilhão
a 19 de Novembro de 1930, embora com poucos recursos não deixaram de
prestar auxilio em receberem os náufragos e
dando-lhes a devida
assistência; o navio espanhol “Fernando Ibarra” naufragado em
Vale de Janelas a 20 de Dezembro de 1943, que fez a oferta a esta
colectividade humanitária de 1.500$00 pelos serviços prestados; o
vapor francês “Henry Mory” abicado na Papôa a 6 de Outubro de
1931, deram o seu contributo possível no auxilio aos tripulantes;
“João Diogo’ navio português encalhado na Papôa a 8 de Janeiro
de 1963, também lhes prestaram todo o auxílio ao seu alcance; e
tantos outros que o tempo apagou mas que na memória dos membros que
contribuíram nestas façanhas nunca estão esquecidos, recheados das
mais diversas histórias.
Mas não é só nos
reveses da vida que a sua acção se faz sentir. A sua participação
em manifestações de carácter cultural e social é também digna de
menção e reconhecimento de todos nós. Em 1940, quando o transporte
de feridos e doentes era encarado como uma prioridade por aquela
associação humanitária, a Junta de Provincial da Estremadura
cedeu-lhe, a título gratuito, um automóvel, com o fim de ser
adaptado a auto-maca.
No que respeita à
representação dos Bombeiros, logo apôs a aprovação dos
estatutos, havia que pensar num “emblema” que distinguisse aquela
corporação. Com as sugestões de Afonso Dornelas, da Associação
dos Arqueólogos Portugueses, expressas, com o exemplar propriedade
no brasão adaptado pela Liga dos Bombeiros Portugueses, foi criado
para esta corporação o seguinte distintivo: “Brasão da então
Vila de Peniche, sobreposto a um troféu, constituído por dois
machados cruzados em aspa, e o conjunto suportado por uma fénix, de
usas soltadas. Sotoposto ao escudo, um listel com uma legenda: ‘VIDA
POR VIDA’ Bandeira com o fundo esquartejado: o primeiro e o quarto
a vermelho; o segundo e o terceiro a preto.”
Também para vincular a
sua representação cm cerimónias diversas, havia que mandar fazer
um estandarte, Assim, foi convidada Isabel Ribeiro Artur a constituir
urna comissão de senhoras para colaborarem na obtenção de fundos
para aquele efeito. Foi na devida altura encarregada da elaboração
do trabalho Beatriz de Sousa Tavares, natural de Peniche e residente
cm Lisboa, pessoa cujos méritos em trabalhos daquela natureza eram
sobejamente reconhecidos no nosso meio, autora que já era do
estandarte municipal. Em Novembro de 1940 é recebido com grande
júbilo a notícia de que a autarquia, da presidência de Luís
Pedroso da Silva Campos, resolvera mandar instalar um telefone fixo,
naquela associação, sem encargos para a colectividade.
Continuava-se por todos os
meios e acções a adquirir verbas para satisfazer as despesas
correntes em especial com fornecedores. A direcção, em sessão
ordinária de 6 de Janeiro de 1941, propôs para se entrar em
negociações de arrendamento do armazém com o seu proprietário
José Gago da Silva, que possuía na Travessa de Nossa Senhora da
Conceição, onde foi a sua fábrica de conservas.
Pretendia esta entidade
explorar aquele espaço com bailes no Carnaval, cuja época festiva
se aproximava, em virtude de já se ter aceitado a proposta do Grupo
de Jazz “Os Luziados” de Peniche, por tempo indeterminado. Foram
longos os anos que esta colectividade ali teve os seus divertimentos
com recinto para bailes com bar. Chegou aos nossos dias aquele espaço
de divertimentos público com a designação de “os bailes do
Esfrega’.
Em 1943, coma devida
autorização do proprietário do imóvel, António Andrade, onde
funcionava a Sede dos Bombeiros, foi possível alterar a fachada,
rasgando o portão da entrada principal, para poderem entrar os meios
de transporte, de modo a ficarem mais bem acondicionados e ao mesmo
tempo resguardados das intempéries. Também em Maio de 1944 os
consórcios Joaquim Guilherme Fana Júnior e Luís Gonzaga Ferreira
Correia Peixoto, ambos industriais de pescarias, ofereceram para ser
montada no telhado da sede uma sirene, Ficou assim dispensado o
auxílio do sino grande das torres das Igrejas de São Pedro, Nossa
Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição, de que
permanentemente pendiam cordas para o exterior, com a finalidade de
serem usados para alarmes quando ocorriam situações carentes da
intervenção dos bombeiros.
Recordo aqui e presto a
minha devida homenagem a Salvador das Neves, por exercer as funções
de contínuo da sede, a partir de Setembro de 1948, que se prolongou
por mais de três décadas, em substituição de Gabriel Pinto
Vitorino, que foi um servidor exemplar, que la além das funções
para que foi destinado, sempre pronto a servir e estimado por todos
os elementos que constituíam aquela Casa Humanitária. A 11 de
Dezembro de 1949, chegou a Peniche a nova automaca para ser entregue
a esta associação, por deliberação da mesma entidade de 6 de
Novembro do mesmo ano, tendo sido convidadas as entidades oficiais, o
pároco os sócios e a população em geral.
Foi a partir do dealbar da
viragem do segundo quartel do século XX que a direcção constituída
por Alberto Monteiro de Proença (presidente), Aníbal dos Santos
(secretário), Aires Henriques Bolas (tesoureiro) e António da
Conceição Bento (vogal) quiseram honrar alguns dos seus soldados da
paz no dia do 21° aniversário daquela corporação acompanhado de
um beberete, conceder medalhas de prata, de bom comportamento, aos
seguintes bombeiros: Manual António Malheiros, com 21 anos de
serviço; António Belarmino Machado, vulgo António Serafim, com 16
anos de serviço; Inácio Luís Seia, com 21 anos de serviço; Luís
da Costa, vulgo Luís .Caseiro, com 18 anos de serviço; José Rosado
Rio, com 21 anos de serviço.
Depois de 30 anos de plena
actividade, em que estiveram no Comando dos Bombeiros Paulino
Pereira, segundo-comandante da Corporação dos Bombeiros Voluntários
de Torres Vedras e comandante-honorário da Corporação de Peniche,
António Adelino Gomes da Silva, Domingos Junqueira Fernandes Félix
Pilar, António Alves, Joaquim de Paiva, Alberto Monteiro de Proença
e Manuel António Malheiros, entrou ao serviço da corporação como
seu comandante, em Novembro de 1958, Luís Filipe Jordão Vidal de
Carvalho, funcionário corporativo, natural de Peniche, homem
dinâmico, com os seus 30 anos de idade, cheio de boa vontade de
servir e de acertar.
A corporação sentiu
desde logo o seu entusiasmo e a humanitária colectividade viveu um
salutar remoçamento, promessa dum regresso aos tempos em que os
voluntários de Peniche lograram um crédito que os guindou a
invejável altura, renovação que saltava aos olhos dos que de perto
acompanhavam a vida da instrução. O interesse de então não
somente se manteve mas foi avolumado, mercê de um querer forte,
secundado par toda a corporação. A 23 de Julho de 1961, na presença
do ministro das Obras Públicas, Arantes de Oliveira, bem como de um
representante do ministro do Interior (actual Ministério da
Administração Interna) e delegações de dez corporações deste
distrito, fossem benzidas, em frente da sumptuosa Igreja de São
Pedro, desta então vila de Peniche, três novas viaturas: um
auto-tanque pronto-socorro, uma ambulância e um “jeep’ Tiveram
como madrinhas dos respectivos veículos, respectivamente, Mariete
Monteiro Dias Bento (esposa de António da Conceição Bento), Dulce
Freire Vidal de Carvalho filha de Luís Filipe Jordão Vidal de
Carvalho, e Maria da Glória Salvador Henriques, esposa de Aires
Henriques Bolas. Também no mesmo dia foi inaugurada a Casa Escola no
logradouro do futuro quartel, nas imediações da Rua do Martinho Foi
dada aquela construção como pequeno reconhecimento o nome de
António da Conceição Bento, em actividade na presidência da
Câmara Municipal na época.
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