sexta-feira, novembro 29, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche IV

Texto: Fernando Engenheiro
No mesmo dia da inauguração da Casa Escola foi promovida pela direcção daquela associação uma homenagem ao senhor Aires Henriques Bolas, ex-presidente da direcção e um dos lídimos pilares robustecedores da vitalidade da prestigiosa e humanitária colectividade. O acto teve lugar no salão de recreio da referida associação, ao qual assistiram as individualidades de maior destaque da então vila de Peniche, nomeadamente o presidente da câmara, Vítor João Albino de Almeida Baltazar; o presidente da assembleia-geral, António da Conceição Bento; o presidente da direcção, Renato Pereira Fortes; o comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho; o vice-presidente da autarquia, José      Acúrcio Vidal de Carvalho; e, além de outras individualidades, os representantes da imprensa. Usou da palavra Renato Fortes, que explanou a significação do acto e agradeceu a presença de todas as entidades, inclusive a dos representantes da imprensa, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho fez a apologia da acção relevante de Aires Bolas, patenteada pelas seus 32 anos de ininterrupta e diligente actividade na respectiva associação e, finalmente, usou da palavra o homenageado que, comovidamente, agradeceu a sensibilizante festa que lhe tributaram. Seguidamente Aires Bolas recebeu das mãos do presidente da câmara uma salva de prata e das mãos do comandante da corporação um pergaminho contendo os nomes de todos os bombeiros que faziam parte do corpo da filantrópica associação. Seguiu-se um Porto de Honra.
Ainda na década de 60, o Instituto de Socorros a Náufragos fez uma consulta à Corporação dos Bombeiros para saber se estava interessada e capacitada para colaborar na área do salvamento marítimo. Como já era do conhecimento geral, sempre que havia problemas de náufragos, os Bombeiros Voluntários estavam de mãos dadas com a aquela entidade. Não faltaram boas informações. Desde Março de 1933 o Capitão do Porto de Pen pôs à disposição dos Bombeiros o carro porta cabos daquela organização marítima, equipamento desaparecido há já longos e de que foi dada baixa ao efectivo. Por tudo isto, a 17 de Maio de 1966, na Praça Jacob Rodrigues Pereira, foi entregue à corporação, pelo então comandante do Porto de Peniche, acumulando as funções de administrador do Instituto de Socorros a Náufragos com sede em Peniche, capitão tenente Munoz, na qualidade das suas funções naquele instituto, depois de benzida pelo Pe. António da Silva Almeida, natural de Salreu, capelão da Colónia Infantil de Nossa Senhora dos Remédios em Peniche, a viatura Land Rover ‘Porta Cabos material da maior utilidade para o salvamento de sinistrados no mar, permitindo o aumento das possibilidades de socorrer a quantos a tragédia batesse à porta.
Na mesma década, mais propriamente a 19 de Junho de 1962, por deliberação camarária naquela data, foi atribuído aos ‘soldados da paz’ que formam a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, pelas acções desenvolvidas a bem de Peniche e concelho, a medalha de ouro de recompensa da vila de Peniche, Também pela governador civil do distrito de Leiria foi dada conheciment à Associação dos Bombeiros Voluntários desta vila, de um louvor do ministro do Interior, às entidades que mais contribuíram para a prontidão e eficácia dos socorros prestados às vitimas do lamentável acidente ocorrido no dia 15 de Fevereiro de 1963, com o elevador que liga a vila da Nazaré ao Sítio. Nas referidas entidades, distinguiu o representante do Governo no nosso distrito, a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche pela sua activa participação nos referidos socorros.
Em 1964, nas comemorações do 350 aniversário da fundação daquele organismo de solidariedade humana, foi celebrada missa campal no Largo Bispo de Mariana por alma dos bombeiros falecidos e seus familiares, bem como uma romagem ao cemitério com colocação de flores aos membros falecidos que constituíra a instituição. Seguiu-se um simulacro de incêndios, com demonstrações de materiais de combate a incêndios.
Em 1967 foi oferecido um auto com capacidade para 6.000 litros de água e que se deve, sobretudo, a um gesto altruísta da firma Manuel Mamede, L.da, e ao espírito de colaboração da Câmara Municipal no que diz respeito às necessárias obras de modificação daquela viatura, e ao Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios que contribuiu com o subsídio de 20.000$00.
Impunha agora a construção de um novo quartel, pais já não era possível, com um corpo de bombeiros em plena forma e um grupo de 6 viaturas, sendo 4 para combate de incêndios, 1 para socorros a náufragos, com respectivo atrelado, uma outra para serviços de ambulância, 2 moto bombas para serviços de incêndios e outras tantas para serviço de esgotamento, manter-se a corporação num pobre e modestíssimo quartel, em edifício de renda, incapaz para acomodar todo o pessoal e material. Assim, em 1969, para obtenção do necessário terreno junto da Casa-Escola da Travessa do Matinho, foi adquirido um armazém a Emídio Barradas, por 350.000$00: (escritura de 16 de Dezembro de 1969, lavrada 110 Livro de Notas n°. 20 do Notário Privativo da Câmara Municipal de Peniche). Meses antes, em Junho do mesmo ano, num terreno municipal contíguo, havia já sido lançada a primeira pedra do novo quartel, na presença do inspector de incêndios da Zona Sul, coronel Rogério de Campos Cansado, acompanhado pelo então presidente à frente dos destinos do Município, Vítor João Albino da Almeida Baltazar. Aproveitando a cerimónia, foram benzidas pelo pároco das freguesias de Peniche, Pe. Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, as viaturas que tinham sido recentemente adquiridas: uma Citroen ID, a que foi dado o nome de ‘Vila de Peniche’,tendo sido madrinha que nos honrou com a sua presença, a esposa do presidente da Câmara Municipal, Helena Baltazar, e um carro de nevoeiro GMC, todo-o-terreno, baptizado com o nome do comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, tendo sido madrinha a sua esposa, que também nos honrou com a sua presença, Ruth Freire Vidal de Carvalho. No mesmo dia em acto solene, já em recinto fechado, foram distinguidos, durante as cerimónias, com a medalha de cobre que corresponde a mais de 5 e menos de 15 anos de actividade, o bombeiro de 2° classe n° 8 - Luís Moreira das Neves, bem como o bombeiro de 3° classe n°11 Jacinto dos Prazeres Santos. Com a medalha de prata, que corresponde a mais de 15 e menos de 25 anos de actividade subchefe Albertino Jesus da Silva, bombeiro de la Classe n°1 - Joaquim Miguel Eustáquio Souzinha; bombeiro de l° Classe n° 2 — Patrício dos Ramos; bombeiro de 2° Classe n°5 — Sebastião Maria das Neves, bombeiro de 2° Classe n° 6 - José Alexandre e bombeiro de 2 Classe n° 7 - Fernando Luís Malheiros Lopes. Com a medalha de ouro, que corresponde a 25 ou mais anos de actividade, foi distinguido o chefe do material — António da Graça e o Bombeiro de 2° Classe n° 4— Joaquim Rogério Adão.
Na mesma década, mais propriamente em 1969, dado o êxito, a duração da improvisada fanfarra, resolveu a direcção dos Bombeiros constituir cm definitivo uma fanfarra com o número mínimo de 14 elementos e para isso adquiriu os respectivos instrumentos: um bombo, duas caixas, dois tambores, oito clarins e dois baixos, lembrando que o seu começo foi constituído por José Matias, Joaquim Alves Bartolomeu e Renato Neves, figuras que destacamos em primeiro plano. A 3 de Julho de 1969 está em bom andamento a concretização do novo quartel na Travessa do Matinho, sendo apresentado por aquela associação humanitária um ante-protejo da obra, da autoria do ex-Pe. Alcides dos Santos Martins, filho que foi desta terra, e que se dignou ofertar todo o trabalho de gabinete técnico. Em Maio de 1969, durante a presidência de Américo de Deus Rodrigues Tomás, numa das deslocações a Peniche em visita oficial, a direcção e comando dos BVP recebendo o Chefe de Estado nos Paços do Concelho, quiseram dar conhecimento ao supremo da nação que, doravante, passaria a ser sócio daquela instituição humanitária, conforme relata um pergaminho que lhe foi entregue na altura e que recebeu com muita honra e agrado aquela distinção de uma instituição que faz parte do nosso país e que tanto tem contribuído para o bem-estar dos seus habitantes.
Decorria o ano de 1970, por altura do 41° aniversário encontrava-se de luto esta instituição, por ter falecido recentemente de morte si o seu ajudante do comando e um bombeiro em defesa da Pátria no Ultramar, foram por estes motivos encerradas quaisquer manifestações usuais no decorrer daquele ano. Tratou-se de João Francisco da Graça, nascido a 5 de Janeiro de 1913 e falecido aos 57 anos a 4 de Março de 1970. Deu entrada no Corpo de Bombeiros de Peniche a 19 de Junho de 1932, como aspirante; foi promovido em 1933 a bombeiro de 3a e em 1935 a 2° Classe. Em Dezembro de 1944 voltou a ser promovido, desta vez a bombeiro de 1° Classe. Dada a sua enorme dedicação e abnegação, em 9 de Junho de 1959 é elevado a subchefe da corporação. A sua ascensão não termina aqui, pois a 30 de Junho de 1960 é nomeado chefe de material e, por último, em 1968, por proposta do Comando e homologado pelo inspector dos Serviços de Incêndios, ascendeu a ajudante do Comando, O extinto era possuidor das medalhas de cobre (por relevantes serviços prestados à Associação dos Bombeiros); prata (por bom comportamento); e ouro (por 25 anos de serviço). Joaquim Francisco Rodrigues da Silva, natural de Peniche, onde nasceu a 20 de Agosto de 1947, faleceu em combate na Província de Moçambique a 30 de Outubro de 1970, alistou-se nesta corporação em Junho de 1966, tendo alcançado a promoção a bombeiro de 3° classe com a classificação de 18 valores, em Fevereiro de 1967. Antes de se fazer a deposição dos restos mortais do heróico soldado no fundo da campa, o presidente da Câmara, Francisco de Jesus Salvador, a pedido dos elementos directivos dos BVP fez oferta à mãe daquele defunto, duma medalha de prata, símbolo de gratidão e de homenagem da parte de quantos servem a mesma corporação. Lembro aqui também incluído no mesmo luto que afectou a corporação, António Delgado Miranda, vulgo António Correeiro, falecido com 62 anos de idade a 20 de Março de 1970, que foi membro por longos anos ao serviço da Corporação dos Bombeiros. Aquela instituição prestou-lhe a devida homenagem de manifestação e pesar acompanhando-o à sua última morada.
Com referência ao novo quartel para os Bombeiros Voluntários de Peniche, em 27 de Setembro de 1970, a edilidade aprova, por unanimidade, a alienação gratuita de terreno de 948 metros quadrados à Associação dos Bombeiros, para ali ser implantado o seu quartel/sede. Em aditamento àquela cedência, a Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, impõe algumas clausulas, de salientar a alínea b): “Se não for cumprido o prazo estipulado ou se o terreno cedido for dado destino diferente daquele que justifique a cedência gratuita, reverterá o mesmo para o Município, incluindo as benfeitorias nele efectuadas, sem direito a qualquer indemnização Também o Governo Civil do Distrito de Leiria se pronunciou sobre o assunto, concordando com as deliberações camarárias de 2 de Setembro de 1970, bem como as cláusulas propostas pela Direcção Geral de A.P.C. do Ministério do Interior. Todo este processo culminou com o despacho ministerial de aprovação em 12 de Julho de 1971.
Foi grande a luta para se conseguir alcançar o objectivo desejado. Toda a corporação se empenhou na construção do novo quartel, tendo a trabalhar ao lado do seu comandante Luís Filipe, o então presidente da direcção Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, também grande impulsionador desta importante obra para a época. Em fins de Outubro de 1972, está concluída a primeira fase das obras do novo quartel dos bombeiros, começando nesta data a ser utilizado o respectivo parque de viaturas. Surgem as primeiras bandeiras que representam aquela instituição a flutuar ao vento na fachada inacabada. Resolveu a direcção, com o acordo unânime do corpo activo, data este parque de viaturas o nome do seu comandante, mostrando assim o quanto reconhecem o seu esforço a uma causa de tanto interesse para o bem comum da nossa terra, ao mesmo tempo perpetuando o seu nome naquele espaço.
Procedeu-se à transferência das viaturas para a nova unidade e foi com uma ponta de saudade e comoção que se assistiu à passagem na zona principal de Peniche no seu trajecto da primeira viatura (carro braçal), que se destinava a pronto socorro dos Bombeiros Voluntários de Peniche, A viatura em causa foi conduzida pelos bombeiros daqueles primeiros tempos: Manuel António Malheiros, António Belarmino Rodrigues, vulgo António Serafim José do Rio e Luís da Costa, vulgo “Luís Caseiro”.



1 comentário:

Viajante disse...

Um bom trabalho de pesquisa histórica. Obrigado