Texto: Fernando Engenheiro
a cargo do construtor
civil mestre Serafim António Rodrigues, que foi residente em
Peniche, e que se destinava aos exercícios daquela corporação.
Para isso, mais uma vez tiveram o auxilio da autarquia, autorizando a
exploração de toda a pedia que necessitassem, no sitio da
“Gravanha’ propriedade do Município, adquirida havia pouco tempo
a Da Maria da Glória
Sobral Cervantes, que ficava perto do local de implantação daquele
imóvel,bem como de todo o madeiramento necessário, a obter do
pinhal municipal do Vale Grande, limite de Ferrel O local escolhido
era um terreno particular, pela qual a sua proprietária D Raquel
Monteiro Cabral Mateus Dias, exigia o pagamento mensal de 100$00 toda
a conveniência na criação daquele imóvel, cuja inauguração teve
lugar no dia do segundo aniversário da fundação daquela
colectividade. Com o incremento dado à criação do Corpo de
Bombeiros, a formação dos soldados da paz era também um importante
objectivo a prosseguir, verificando-se uma acentuada tendência para
a construção das chamadas - casas-escolas, onde era, e hoje ainda
é, com exercícios práticos, ministrada a instrução a nível
interna.
Em Abril do mesmo ano é
feita a encomenda de um carro de tracção braçal com escadas,
adquirido pela importância de 6.130$00 não incluindo o despacho em
caminho de ferro da cidade do Porto até a estação de São Mamede
(Oeste) na importância de 613$20. Este carro, tudo leva a crer ser o
que se encontra hoje exposto no espaço que. serve de museu no novo
edifício da corporação e outros que se seguiram também de tracção
braçal que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para
água” (caldeira) e outro transporte para diversos materiais de
incêndios.
Com a criação da Liga
dos Bombeiros Portugueses, em 18 de
Agosto de 1930, não tardou que, a 23 de Abril de 1932, fossem
aprovados pelo governador civil deste distrito, os estatutos da
Associação dos Bombeiros Voluntários de
Peniche, que comportam 46
artigos. Os novos
estatutos foram
apresentados a 8 de Setembro do mesmo ano, pela comissão
organizadora constituída por: José Júlio Cerdeira, José do
Nascimento Ginja, António Nunes Ribeiro, António Adelino Gomes da
Silva e Aires Henriques Bolas.
Para comemorar o segundo
aniversário da fundação dos Bombeiros Voluntários de Peniche e
prestar homenagem póstuma ao seu fundador, António Maria de
Oliveira, realizou-se no dia 21 de Julho de 1931, uma sessão solene
com a assistência da Comissão Administrativa, administrador do
concelho e mais entidades a quem foi dirigido convite. Foi descerrada
uma fotografia daquele ilustre fundador a perpetuar naquela sede a
sua presença, lembrando para sempre os seus mais nobres actos em
prol do seu semelhante.
A partir de Setembro de
1932, o Quartel do Corpo de Bombeiros fez a sua transferência para o
Largo D. Pedro V. Tratava-se de um armazém pertencente a um edifício
que o seu proprietário, António Andrade, industrial em Peniche,
tinha alugado para sede da Cooperativa Auxiliadora Penichense,
Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, constituída por
escritura em 2 de Setembro de 1919, cujos destinas eram dirigidos
pela próprio proprietário do imóvel e por Miguel Olavo Franco,
Mário José Gomes e José do Rosário Leitão. Com consentimento do
senhorio, foi aquele espaço subalugado à Associação dos Bombeiros
Voluntários de Peniche, cabendo a responsabilidade do aluguer àquela
cooperativa por 90$00 mensais. A Câmara Municipal, em Outubro de
1932, tomou conhecimento que estava desocupada a casa que então
serviu de Quartel do Corpo de Bombeiros, numa das dependências no
piso inferior do edifício dos Paços do Concelho, pais o quartel
havia sida transferido para o Largo D. Pedro V.
Só mais tarde, em
Setembro de 1946, já sendo proprietário o Dr. Jaime Silva Sardinha
Mata, residente em Baleizão
(genro de Antónia Andrade), foi feito o contrato de arrendamento,
par 120$00 mensais, a favor daquela corporação. Com a boa vontade
do inquilino foram dispensadas, a partir de 5 de Abri! de 1937, as
dependências da parte de três, que dava para a Rua Tenente
Valentim. Era naquele espaço que a cooperativa depositava a lenha
para distribuir em épocas de crises pelas mais necessitadas.
Mesma assim, lutava-se com
as escassos espaços na desempenha das funções daquela instituição,
pela aquisição de mais e mais material para o desempenho no serviço
contra os incêndios Em 1935, os Bombeiros Voluntários de Peniche já
possuíam três carros de braçal, que se distinguiam por “bomba
braçal com depósito para
água” (caldeira), “carro escada’ e “material diverso” e na
mesma ano entram em negociações com a firma Guérin, Lda, de
Lisboa, para a compra de uma camioneta de marca “Fargo’ com o fim
de aproveitar o chassis, adaptando-o a pronto-socorro. Por
deliberação camarária de 25 de Fevereiro de 1935, foram concedidos
plenos poderes ao vice-presidente da Câmara, António da Conceição
Bento, que também desempenhava as funções de tesoureiro daquela
corporação, para representar a Câmara junto da referida firma e da
Alfândega de Lisboa para a aquisição do veiculo. Ficou a despesa
por 20.500$00, sendo pagos pela autarquia 15.500$00 e ficando o
restante a cargo da corporação.
No mesmo ano, também a
Câmara Municipal se responsabilizou pelo pagamento de uma
moto-bomba, tipo “Liliput Magyrus fornecida pela firma H. Vaultier,
tom actividade em Lisboa, pela importância 22.500$00, sendo este
maquinismo para lançar a água na extinção de incêndios, pela
importância de 15.000$00 e o restante em utensílios para adaptar na
referida máquina. Foi na época uma aquisição de grande utilidade.
Ainda hoje são bombas aspirantes-prementes, accionadas sempre
mecanicamente que elevam a água de poços ou de tanques portáteis,
alimentados pelas bocas de incêndios dos prédios ou dos passeios
das ruas, em ligação com a rede de distribuição de água. Têm
estas bombas anexos compressores de ar, que o motor dos carros
acciona os quais comprimem a água até à pressão suficiente para
que, pelas mangueiras ligadas à bomba, possa a água jorrar à
altura precisa. Houve na época a grande necessidade de adquirir todo
este conjunto de material de modo a que a corporação tivesse mais
salvaguardada em futuros acidentes, pois não estava esquecido o
grande incêndio ocorrido a 6 de Setembro de 1932, no edifício onde
funcionava a drogaria de Luís do Patrocínio David Chave substituído
por um imóvel de três pisos onde ainda nos fins da década de 80 do
século passado funcionou a Estação dos Correios Telégrafos e
Telefones no Largo Dr. Figueiredo Fana em Peniche. Do edifício
ficaram apenas as paredes. O incêndio, que pareceu ter tido origem
num curto-circuito, ameaçou propagar-se aos prédios contíguos e
até as chamas estavam prestes a ultrapassar o largo para as outras
construções. Em face de todo este perigo, foram solicitados os
socorros dos bombeiros das Caldas da Rainha e Lourinhã, que pouco
puderam fazer com as suas tão desejáveis presenças. De salientar
que a grande falta de água foi o pior inimigo do sinistro. No começo
dos trabalhos de extinção, tornou-se necessário cortar a corrente
eléctrica, que toda ela era derivações aéreas. O povo alarmado,
precipitadamente supôs que toda a vila iria ser pasto das chamas. Os
habitantes abandonaram as suas residências, de súbito em trajos
menores, correndo a buscar paradeiro sem perigo, na praia e nas
rochas. Este ?acidente motivou prejuízos avaliados em 100 contos na
drogaria e no prédio destruído, e em algumas dezenas de milhares de
escudos nos edifícios contíguos.
À frente deste lutador
incêndio contra o homem, estava a comandar os trabalhos o primeiro
comandante-interino, desde a fundação da corporação, António
Adelino Gomes da Silva, natural da cidade do Porto e residente em
Peniche desde 1923, exercendo a profissão de mecânico numa das empresas de motores
ligadas à pesca. Não se sabe as razões que o levou pouco mais de
dois meses e meio após aquele pavoroso incêndio, a 27 de Novembro
de 1932, passar a exercer naquela instituição o desempenho de
segundo comandante, dando o lugar de primeiro comandante a favor do
tenente Rosa Mendes, com autorização superior do comandante-geral
da Guarda Fiscal.
(continua no próximo
número)
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