Texto: Fernando Engenheiro
Em Portugal,
corria o ano de 1395 que a primeira carta régia sobre o assunto é
expedida pelo então soberano D. João I, “de Boa Memória”
assim chamado pelo que deixou no mundo de suas acções ilustres.
Nela se estipulava um sistema de vigilância nocturna e aviso às
populações, através dos pregoeiros, alertando para os cuidados a
ter com o lume em suas casas. Foram também definidas normas de
actuação para extinção de incêndios e vigilância contra os
roubos frequentes nestas ocasiões. Desde então e até aos nossos
dias foram várias as reformas e os melhoramentos introduzidos neste
serviço indispensável para o bem da humanidade. No entanto, o
caminho percorrido foi moroso e difícil. Nem sempre a existência de
meios era suficiente para fazer face às necessidades.
Em relação
a Capital do Reino, determinava que, em caso de incêndios, todos os
habitantes, homens e mulheres, tinham de correr em socorro, munidos
de machados, cântaros, potes e outros instrumentos que facilitassem
o combate ao fogo. É este documento considerado a primeira ordenação
que estabelece regras empíricas para apagar incêndios. Embora nele
se determine a colaboração da população, essa ordenação não é
mais do que um apelo ao voluntariado e à solidariedade que deve
estar presente nos momentos de tragédia. Só mais tarde, porém, já
na quarta dinastia, reinando o soberano D. João V, o rei cognominado
por “Magnânimo’ por lhe não parecer difícil nenhuma coisa, que
empreendia, e pela grandeza de suas acções, foi introduzido uma
prática de combates aos fogos, baseados em experiências realizadas
em França com resultados satisfatórios, com base na grande invenção
para a época, das bombas de incêndios, decorrida no ano de 1722.
Criada então a Companhia de Incêndios, transformada mais tarde em
Corpo de Bombeiros foi, no entanto, por iniciativa de Guilherme
Cossoul (1828-1880), que se instituiu a primeira associação de
bombeiros que no voluntariado tinha a sua razão de ser. Foi assim
que, de época para época, numa evolução permanente, com a força
de vontade de alguns e o espírito de servir de muitos, que se foram
criando os alicerces e consolidando as estruturas dessas heróicas
corporações de voluntários. Constituem hoje o fulcro, o dinamismo
e a força dessas altruísticas Associações de Bombeiros
Voluntários formadas por homens desinteressados e íntegros, que
sabem dar-se na protecção e defesa do semelhante.
Em Peniche,
não se sabe ao certo a data em que se criou uma instituição
visando a defesa dos haveres e vidas dos cidadãos em caso de fogo,
embora tomamos em consideração, tal acto de servir o povo de
Peniche, tivessem a cargo dos membros aquartelados na Fortaleza, na
defesa da Península, conforme documentos de uma época que comprovam
a sua actuação. “Documento lavrado em ata a 20 de Julho de
1873 que se refere a um oficio do Governador da Praça Conselheiro
Joaquim Ferreira Sarmento, nos seguintes termos: Pedindo à Câmara
lhe dispense, para guardar a Bomba de apagar incêndios, numa casa
que esta Câmara possui na Rua da Palha, por ser mais central e no
interior da povoação. A Câmara, em vista das ponderações feitas
pelo dito Governador, concedeu a casa pedida para o fim indicado’.’
Tratava-se
de uma dependência na actual Rua 13 de Infantaria, pertencente ao
Município, onde funcionou a antiga “Casa da Fanga” (celeiro
municipal), vendida pela Câmara Municipal a um particular, Emídio
Balbino, por escritura lavrada a seu favor em 1905. Passados 12 anos,
a 14 de Março de 1885, no impedimento do major da praça, Manuel
Ferreira Bret, o tenente-ajudante da mesma guarnição militar manda
à Câmara Municipal uma cópia daquele oficio, vinculando ou talvez
renovando a continuação daquela cedência a favor dos serviços
militares. Não se sabe quando deixaram de exercer estas funções,
assim como se desconhece também rigorosamente o seu começo.
Havia que tomar algumas
previdências para que se criasse um corpo de bombeiros pois os
incêndios eram frequentes. De salientar o incêndio deflagrado de 13
para 14 de Fevereiro de 1922, às 22h00, no armazém de redes das
Armações do Romina, construído em madeira e localizado no exterior
da muralha, no ângulo da muralha a norte, junto à entrada por
Peniche de Cima. Outro ocorrido, em 28 de Outubro de 1926, na
mercearia de José do Rosário, em Peniche de Cima, de que resultou
perda total do seu recheio. Havia assim a grande necessidade de criar
em Peniche, de apoio também ao seu concelho, uma corporação de
bombeiros, a exemplo das sedes de concelho vizinhas, que nos
auxiliavam bastante em casos de emergência. Nesse sentido, em sessão
camarária de 4 de Junho de 1929, presidida por António Maria de
Oliveira, tendo como colaboradores os vogais Joaquim Guilherme Fana
Júnior e Miguel Olavo Franco, foi tomada a seguinte deliberação:
“O Sr. Presidente lamenta que não exista em Peniche uma
corporação de bombeiros e reconhecendo também que a Câmara não
possui rendimentos que lhe bastem para criar uma corporação de
bombeiros municipais, propõe que a comissão Administrativa desta
Câmara tome a iniciativa da organização de tão útil quão
benemérita instituição de forma que ela seja um facto dentro de
pouco tempo. Propõe mais, que para esse fim a Comissão
Administrativa nomeie uma comissão Organizadora que ficara sob o seu
patrocínio a quem serão entregues as verbas que a Câmara for
metendo nos seus orçamentos ajudando assim a criação deste corpo
de bombeiros. Aprovado por unanimidade’.
Não tardou que naquele
mesmo mês, no dia 16, fosse criada oficialmente a Associação dos
Bombeiros Voluntários de Peniche, tomando em consideração os
poucos rendimentos que a Câmara Municipal possuía para formar uma
corporação de Bombeiros Municipais, o que acarretaria avultadas
despesas que não estavam ao alcance da autarquia. Foi a sua primeira
sede instalada no edifício dos Paços do Concelho, no rés-do-chão,
funcionando no andar superior o actual salão nobre. Foi a primeira
direcção constituída por António Maria de Oliveira (presidente),
Aires Henriques Bolas (secretário), José Júlio Cerdeira
(tesoureiro), António Adelino Gomes da Silva e António Nunes
Ribeiro (vogais). Entretanto, ingressou como comandante António
Adelino Gomes da Silva, que ficou a chefiar inicialmente os seguintes
bombeiros residentes na área da jurisdição da sede do concelho:
Manuel António Malheiros, Inácio Luís Ceia, José Rosado do Rio,
José Maria Cartaxo, António Martins, Casimiro da Costa, António
Diogo da Costa, Inácio Maria de Abreu, Mário Nobre Leitão, Joaquim
Rodrigues Tormenta, José Inácio Bandeira, Jacinto Inácio de Sousa,
Lino Filipe Franco, Rui Dias Loureiro, Reinaldo Gomes, Ângelo Gaspar
da Mata, Manuel dos Santos Correia, José de Carvalho e Silva, José
Maria das Neves, Joaquim Miguel Sousinha Júnior Quintino Augusto de
Lemos, José Maria de Abreu, Joaquim Leal Paulo, José Pedro Júnior.
Estes elementos desempenhavam as mais diversas profissões, tais
como: carpinteiros da construção civil e de machado pedreiros,
calafates, bem como empresários dos mesmos ramos, marceneiros, entre
outros.
A autarquia, logo no
começo da sua organização, foi solidária em tudo aquilo que lhe
foi possível e estava ao alcance das suas possibilidades
financeiras. Também o Comando Militar da Praça de Peniche pôs à
disposição as dependências da cidadela, bem como os terraços para
as instruções, formaturas e tudo o que estivesse ao abrigo da sua
competência militar. Não tardou que, a 16 de Julho de 1930, viram
partir da vida presente o grande impulsionador desta obra, a quem a
morte não deixou ver o êxito completo da sua nobre iniciativa,
motivado por uma tuberculose óssea, aos 45 anos de idade, falecendo
na sua residência, na Rua Dom Luís de Ataíde
em Peniche, António Maria de Oliveira, que tomou posse na Comissão
Administrativa da Câmara Municipal em 11 de Março de 1929, com
pouco espaço nas suas atribuições que duraram até 29 de Abril de
1930, acumulando as funções de presidente da Comissão Municipal de
Assistência. Figura de elevado carácter, nascido na então vila do
Barreiro na freguesia de Santa Cruz, a 12 de Janeiro de 1885, jaz
depositado no Cemitério Municipal de Santana em Peniche, em mausoléu
mandado edificar pela Câmara Municipal.
O seu substituto, para
poder desempenhar cabalmente e com eficiência a sua elevada missão,
havia que providenciar a aquisição de apetrechos, mas o dinheiro
era escasso. Assim, no primeiro ano e noutros que se seguiram, para
angariar receitas, realizaram-se quermesses e verbenas, no jardim
público principal, jogos de futebol, gincanas, bailes, cinema,
apresentaram-se grupos dramáticos organizaram-se festas diversas,
incluindo a da “Flor’ e até vacadas. Peniche e a Associação
dos Bombeiros Voluntários em 30 de Setembro de 1932, quis na
interessante festa que a Comissão “Pró Bombeiros” promoveu no
recinto do Jardim Público, na então vila de Peniche, nas noites de
11, 12, 13, 17, 18 e 19 de Setembro de 1932, agradecer a todos quanto
contribuíram para a realização de tais festividades, que só foi
possível com a grande colaboração dada pelas digníssimas
senhoras: Beatriz de Bellegard Bello, Maria Emília Belo Dias,
Adelaide Ferreira B de Carvalho Oliveira, Felicidade Rosa Mendes,
Heloisa Jordão Vidal de Carvalho, Beatriz Andrade, Clotilde Sampaio
Sena, Jovite Ângela de Abreu Trindade, Graziela da Fonseca Martins,
Berta da Fonseca Martins, Sofia da Fonseca Martins, Olga Reis, Maria
de Lourdes Bello, Maria Antónia Belo Dias, Maria Emília Santos
Conceição, Maria da Graça Henriques, Ricardina Amaral, Lídia
Andrade, Violeta Andrade, Maria Thereza Stichaner Roth, Lúcia
Parreira, Aura Figueiredo de Magalhães, Ruth Paúrcio
Vidal de Carvalho, António Nunes Ribeiro, José Júlio Cerdeira e
José do Nascimento Ginja. Com toda a boa vontade dos participantes
rendeu esta festa, 11.951$58, sendo um grande contributo para os
apetrechos de incêndios a favor daquela instituição. Também todas
as receitas em posse da Comissão Pró-Monumento
a Jacob Rodrigues Pereira, por ter sido posta de parte a ideia da sua
construção, reverteram a favor dos bombeiros (continua no próximo
número).
ssos e Maria Cristina Parreira. E, também, a Comissão Pró-Bombeiros, constituída pelos excelentíssimos senhores: Joaquim Fana Júnior, Armando Sampaio Sena, António Adelino Gomes da Silva, António Luiz Pereira Montez, Tenente Rosa Mendes, Alberto Monteiro de Proença, Doutor José Bonifácio da Silva, Carlos Henrique Tavares Freire de Andrade, Doutor Carlos Henrique Graça, Aires Henriques Bolas, José Lopes, João Couceiro, António Mateus Dias, José Ac
ssos e Maria Cristina Parreira. E, também, a Comissão Pró-Bombeiros, constituída pelos excelentíssimos senhores: Joaquim Fana Júnior, Armando Sampaio Sena, António Adelino Gomes da Silva, António Luiz Pereira Montez, Tenente Rosa Mendes, Alberto Monteiro de Proença, Doutor José Bonifácio da Silva, Carlos Henrique Tavares Freire de Andrade, Doutor Carlos Henrique Graça, Aires Henriques Bolas, José Lopes, João Couceiro, António Mateus Dias, José Ac
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