sexta-feira, junho 18, 2010

A IMAGEM DO SANTO PADROEIRO DAS BERLENGAS FOI SALVA PELAS TROPAS LIBERAIS

Por: Fernando Engenheiro
Depois de longos 60 anos de domínio filipino (de 1580 a 1640) os espanhóis, a muito custo, foram dispensados de nos governarem.
Foi a partir do dia 1 de Dezembro de 1640, dia fatídico para alguns mas de extrema alegria para a maior parte dos portugueses (alguns não aderiram à revolução - “Ceuta” é disso exemplo!).
Apôs a aclamação como Rei de Portugal de D. João, Duque de Bragança - D. João IV, a quem foi dado o cognome de “Restaurador os portugueses, proclamada a independência de Portugal e terminado o domínio espanhol, tiveram pela frente uma árdua tarefa tendo em conta que os
espanhóis não aceitavam de bom grado a derrota nem o vexame sofrido.
Um dos primeiros cuidados do novo governo foi reequipar militarmente a Nação, na previsão de graves acontecimentos militares.
Peniche, atendendo à sua posição geográfica, não podia deixar de ser objecto de particular atenção pois era um dos pontos mais vulneráveis do reino para os ataques vindos do mar.
Como é sabido foram de grande monta as obras aqui realizadas para transformar Peniche numa das mais importes Praças Fortes do território nacional e, ao mesmo tempo, ordenou ó Soberano, a João Rodrigues de Sá, que fizesse levantar a planta de uma fortificação para a principal ilha do
arquipélago das Berlengas.
A zona escolhida para o efeito, pela sua magnifica posição, constituiria também um dos pontos mais importantes para a defesa da Praça de Peniche já que proporcionava, pelos fogos cruzados com o jà edificado Forte da Victoria, situado no extremo do Cabo Carvoeiro, a defesa de uma grande zona de navegação costeira.
Fazia parte da planta de construção uma pequena capela, espaço onde os seus militares pudessem encontrar conforto espiritual, nas horas de aflição perante as atribuições e responsabilidades que lhes estavam confiadas.
Em homenagem a el-rei D João IV foi escolhido para orago da referida capela SÃO JOÃO BAPTISTA’ incluído no calendário litúrgico a 24 de Junho de cada ano.
A sua presença naquele espaço sagrado como sentinela da toda a ilha prolongou-se por perto de dois séculos, o que lhe proporcionou testemunhar os diversos episódios ali vividos durante tão largo tempo.
Das diversas ocupações que ao longo dos tempos a ilha sofreu destaco a de 22 de Julho de 1833, quando foi aquele espaço ocupado por uma força de engajados liberais, em número de cento e cinquenta, tendo à sua frente o coronel Joaquim Pereira Marinho.
Ali estiveram em observação até que, no dia 25 do mesmo mês, a guarnição - fiel a D. Miguel - que se achava então na Praça de Peniche, uma força de quatro mil homens aproximadamente, abandonou a referida Praça. Era Governador o marechal de campo António Feliciano Teles de Castro Aparício que, com os seus homens se foi juntar a outras forças miguelistas.
O coronel Marinho, que foi previamente avisado deste abandono pelos pescadores Francisco Franco Antão e seus filhos, desembarcou em Peniche com aquele punha do de homens, fazendo flutuar em mais um ponto a bandeira dos liberais.
Ao abandonarem o Forte das Berlengas, então chama do “Forte de São João Baptista” - designação que chegou aos nossos dias - para evitarem qualquer destruição que fosse efectuada por futuros ocupantes, em boa hora, resolveram salvaguardar a Sagrada Imagem, bem como as restantes alfaias religiosas Assim as tropas liberais entraram em triunfo em Peniche com a referida imagem que colocaram na Capela da Fortaleza a Capela de Santa Barbara.
Embora nunca lhe tivesse sido destinado espaço próprio no corpo da referida Capela, foi a imagem colocada na sacristia que lhe ficava contígua, por cima do arcaz, com nicho próprio mandado construir para o efeito.
A imagem de São João Baptista do Forte da Berlenga, retirada do culto, faz hoje parte do espólio do Museu Municipal de Peniche onde se encontra devidamente conservada em armazém, esperando um lugar mais adequado à história que a envolve.

APONTAMENTOS DIVERSOS:
No decurso dos anos de 1951 a 1953 a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais procedeu a importantes obras de conservação e restauro do Forte de São João Baptista da ilha da Berlenga, tendo ali sido instalada uma das mais apreciadas Pousadas Nacionais criadas pelo Secretariado Nacional da Informação (SNI).
No espaço onde anteriormente foi a Capela do Forte houve o cuidado, durante o restauro, de conservar a “pia da água benta” junto à porta da entrada, respeitando o seu local original e testemunhando ter ali existido uma casa de oração. Este espaço foi adaptado para servir de sala de jantar da Pousada. Mais tarde a maldade de alguém, decerto com o auxílio de uma marreta, destruiu a única peça que testemunhava ter sido ah a Capela de São João Baptista.
Mantém-se no cimo da muralha que dá para o actual pátio central do Forte (antigo terreiro) o campanário, com posto por duas colunas, onde funcionava o sino. Tinha duas missões distintas o uso dos seus toques: Convidar o pessoal a participar nos actos religiosos que ah se celebraram e substituir a corneta nos alarmes e nos toques militares .
Actualmente o local onde funcionou a sala de jantar da Pousada serve para espaço de convívio. A sala de jantar do Forte passou a funcionar na antiga cisterna, depois de obras de adaptação.

sexta-feira, junho 11, 2010

A ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA MOCIDADE PORTUGUESA E A SUA PRESENÇA EM PENICHE

Por: Fernando Engenheiro
A Mocidade Portuguesa tinha uma ligação de directa dependência do Ministério da Educação Nacional. Instituída pelo Decreto-Lei n° 26 611, de 19 de Maio de 1936, em 4 de Dezembro do mesmo ano, pelo Decreto n. 27 301 foi aprovado o Regulamento da Organização Nacional Mocidade Portuguesa (MP).
O artigo 1. definia-a como “abrangendo toda a juventude, escolar ou não, e que tinha por fim estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter, a devoção à Pátria, o sentimento da ordem, no gosto da disciplina e no culto do de- ver militar. Entretanto, o parágrafo 2. do mesmo artigo prescrevia que a MP cultivaria nos seus filiados ‘a educação cristã tradicional do País e, em caso algum, admitiria nas suas fileiras um indivíduo sem religião.”
À Mocidade Portuguesa pertenciam obrigatoriamente os estudantes ou não, desde os sete aos catorze anos, assim como os que frequentavam o 1. ciclo do ensino secundário.
Consideravam-se quatro escalões, assim denominados: lusitos (7-10 anos), infantes (10-14 anos), vanguardistas (dos 14-17 anos) e cadetes ( com mais de 17 anos).
Quanto à Organização Nacional “Mocidade Portuguesa Feminina” (MPF) foi uma consequência da Obra das Mães pela Educação Nacional. Pretendia o Ministério estimular nas jovens em idade escolar, ‘a formação do carácter, o desenvolvimento da capacidade física, a cultura do espírito e a devoção ao serviço social, no amor de Deus, da Pátria e da Família.”
O Regulamento da Mocidade Portuguesa Feminina impunha como um dos grandes objectivos “definir e fixar a consciência do dever e da responsabilidade da mulher portuguesa na continuidade histórica da Nação.”
O agrupamento das filia das previa quatro escalões: lusitas (7-10 anos), infantas (10-14 anos), vanguardistas (14-17 anos) e lusas (a partir dessa idade). Em Peniche, recordo, nos primeiros anos da frequências da escola primária elementar, aos sábados de manhã, todos os alunos tinham no pátio da Escola Primária n. 1 aulas de “canto coral dadas pelo então professor Matoso. Quanto aos exercícios físicos estavam postos de parte, possivelmente tomando em consideração as grandes crises e a alimentação de grande percentagem dos alunos ser fraca.
Mas foi a partir do primeiro lustro da década de 50 do século passado que os alunos matriculados na Escola Industrial e Comercial de Peniche, então ainda a funcionar no antigo edifício escolar da Rua Marques de Pombal e sob a direcção do Dr. Alberto de Marta Louro, começaram a dar os seus primeiros passos na organização da Mocidade Portuguesa.
Fazia parte da matricula no ciclo preparatório, além da despesa de 50$00 como primeira prestação das propinas e de 2$00 para o seguro escolar, também o pagamento de 10$00 para a Mocidade Portuguesa.
Com a construção do novo edifício na antiga Avenida Doutor António de Oliveira Salazar ( actual avenida 25 de Abril) já a Mocidade Portuguesa em Peniche tinha numa sala o seu espaço próprio designado por Centro n. 3 da Mocidade Portuguesa.
Pelo Decreto-Lei n° 47 311 , de 12 de Novembro de 1966, o Governo, a título nacional, procedeu à reorganização da Mocidade Portuguesa, agora em Peniche a cargo da Directora da então Escola Industrial e Comercial, Dra. Rolanda de Barros, no que foi então denominada uma actualização no intuito de renovar a Organização, de a adaptar melhor às circunstâncias dos tempos então presentes e lhe permitir, assim rejuvenescida, servir cada vez melhor o alto ideal da formação da juventude à luz dos imperceptíveis princípios e valores da civilização cristã.
Para Subdelegado Regional foi convidado, quando ainda exercia a presidência camarária, António da Conceição Bento, cargo terá abandonado por motivos de saúde possivelmente em 1970.
Tinha a Mocidade Portuguesa para ambos os sexos as mais diversas actividades desportivas e seus representantes estavam presentes sempre que se verificavam visitas oficiais, bem como em outras cerimónias de relevo, com desfiles nas ruas principais de Peniche, em dias especiais, com destaque para o Primeiro de Dezembro (Dia da Restauração).
Aos jovens era vê-los, com muita alegria, a desfilar comandados pelo Comandante de Falange, pelo Comandante de Grupo, pelo Comandante de Castelo e pelo Chefe de Quina.
É de notar que a Mocidade Portuguesa, que nunca pretendeu ser uma organização paramilitar, procurava incutir na formação da Juventude um ideal nacionalista que a acompanhou até à sua extinção, por ordem da Junta de Salvação Nacional, pelo Decreto-Lei n° 171/74, de 25 de Abril.